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CAPÍTULO 2 PERCURSO DA PESQUISA

2.3 SEGUNDA ETAPA: DIAGNÓSTICO DA REALIDADE PESQUISADA

2.3.2 Análise documental

Na consideração de alguns autores, a pesquisa documental é “uma etapa importante para reunir os conhecimentos e eleger os instrumentos necessários para o estudo de um problema relevante e atual, sem incidir em questões resolvidas, ou trilhar percursos já realizados” (CHIZZOTTI, 2005, p. 19). Com o objetivo de conhecer as recomendações desses documentos quanto à metodologia de ensino de língua portuguesa, nessa análise revisaram-se três documentos educacionais: os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNs), o Projeto Pedagógico (PEDAGÓGICO. 2010-201227) da escola e o planejamento anual da professora da turma experimental. Os dados coletados foram registrados na Ficha para Análise Documental criada pelos orientadores da pesquisa (Anexo 1).

Na análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNs) foi possível perceber que o documento demonstra coerência interna entre os objetivos, os

27 Os Projetos Pedagógicos das escolas municipais de Uberaba passam por reformulações a cada

biênio. Esclarece-se que no documento entregue à pesquisadora como fonte de análise consta biênio 2010/2012, pois segundo a equipe dirigente o P.P. do biênio 2013/2014 passava por reformulações.

conteúdos, os métodos e os recursos de ensino propostos. Os conteúdos de Língua Portuguesa estão organizados em dois eixos básicos: o uso da língua oral e escrita e análise e reflexão sobre a língua, que devem ser trabalhados de forma inter-relacionada, tendo em vista o desenvolvimento das habilidades previstas para cada ciclo. A respeito do tratamento didático dos conteúdos, é exposto o seguinte:

Parte-se da concepção de que determinados objetivos só podem ser conquistados se os conteúdos tiverem um tratamento didático específico, ou seja, há uma estreita relação entre o que e como ensinar. Mais do que isso: parte-se do pressuposto de que a própria definição dos conteúdos é uma questão didática que tem direta relação com os objetivos colocados (BRASIL/PCNs, 1997, p. 47.).

Neste sentido, foram condensadas algumas considerações sobre a prática de produção de texto e seu tratamento didático:

O trabalho com produção de textos tem como finalidade formar escritores competentes capazes de produzir textos coerentes, coesos e eficazes (BRASIL/PCNs, 1997, p. 65).

É [...] preciso ‘aprender a escrever, escrevendo’ (BRASIL/PCNs 1997, p. 66).

“Essa atividade só poderá ser realizada com a intervenção do professor, que deverá colocar-se na situação de principal parceiro, agrupar seus alunos de forma a favorecer a circulação de informações entre eles, procurar garantir que a heterogeneidade do grupo seja um instrumento a serviço da troca, da colaboração e, consequentemente, da própria aprendizagem, sobretudo em classes numerosas nas quais não é possível atender a todos os alunos da mesma forma e ao mesmo tempo. A heterogeneidade do grupo, se pedagogicamente bem explorada, desempenha a função adicional de permitir que o professor não seja o único informante da turma (BRASIL/PCNs, 1997, p. 56).

Como foi possível observar, os PCNs não trazem uma metodologia explícita para o primeiro ciclo, como uma receita a ser seguida, e sim cumprem seu papel norteador indicando elementos importantes que devem subsidiar uma metodologia consistente de ensino. Recomendam aos professores que partam do conhecimento prévio dos alunos, proponham desafios e dificuldades para serem vencidos por estes com a sua ajuda; sendo assim, um ensino estruturado, podemos inferir, de acordo com a zona de desenvolvimento imediato da criança.

O Projeto Pedagógico da Escola Municipal M. L. P. foi organizado em doze capítulos, nos quais se explica a estrutura organizacional da escola, define-se sua missão e mencionam-

se o conceito e a importância do Projeto Pedagógico, totalizando duzentas e oito páginas. A análise do documento mostrou que foram apresentados os objetivos gerais de ensino, mas não houve definição por ciclos, como recomendado nos PCNs. Também não se mencionaram os conteúdos, os procedimentos didáticos, os recursos e as formas de avaliação do processo ensino-aprendizagem para cada ciclo. Enfim, considera-se que o Projeto Pedagógico da escola aponta fragilidades no que se refere aos subsídios teóricos e práticos da relação ensino- aprendizagem dos gêneros do discurso a fim de nortear a prática educativa para o primeiro ciclo do ensino fundamental.

No plano anual da professora do segundo ano B, ano de 2013, da disciplina de Língua Portuguesa, constavam os seguintes itens: eixo temático; competências; conteúdos; habilidades; habilidades de alta ordem; materiais e recursos pedagógicos; avaliação do aluno. O Quadro 1 apresenta um fragmento (aproximadamente 40% do total do segundo semestre) do plano anual, da professora KA, referente ao segundo bimestre do ano letivo (maio e junho), na sequência estabelecida por ela no documento. O registro deste fragmento se deve ao fato de que nele a professora menciona os gêneros textuais como conteúdo de ensino.

Eixo

temático Competências Conteúdos Habilidades

“É preciso saber viver.”

Ler e escrever corretamente as palavras com os encontros consonantais em estudo.

Perceber que a retirada ou acréscimo das letras “r” e “l” ao interior de algumas palavras forma outras palavras.

Perceber que usar ou não o acento agudo sobre as vogais “a” e “e” modifica o sentido de algumas palavras. Análise e/ou produção de gêneros textuais. Escrita: ficcional, contos, mitos, lendas, fábulas, história em quadrinhos, adivinhas, parlendas, trava- línguas, poemas, canções, publicitários (anúncios, placas, avisos).

Perceber o uso dos sinais de pontuação em textos escritos.

Perceber que uma mesma frase pode mudar de sentido dependendo do sinal de pontuação usado.

Indicar, por meio de vírgula, as enumerações.

Entender a utilização dos dois pontos e o travessão em diálogos.

Empregar corretamente os dois pontos e o travessão em diálogos. Observação: o documento não menciona o método ou metodologia de ensino.

Quadro 1: Fragmento do plano anual da professora da turma experimental. Fonte: Secretaria da Escola.

No plano anual da professora, os dados apresentados, como evidencia o fragmento (QUADRO 1), não definem a metodologia de ensino que deveria ser utilizada e nem o descritor referente a cada período. Ao analisar a relação entre os conteúdos, as competências e as habilidades estabelecidas no documento, percebe-se que eles não possuem consonância

entre si. Isto é, o conteúdo não está entrelaçado às competências e as habilidades a serem desenvolvidas. A análise mostra que tais desencontros acontecem com certa frequência no documento, ou seja, o plano anual da professora, em grande parte, não apresenta coerência interna entre conteúdos, competências e habilidades a serem alcançadas pelos alunos da turma.

O cruzamento das informações dos documentos aponta que os PCNs da Língua Portuguesa, o Projeto Pedagógico e o Plano Anual da professora regente da turma de sete anos B não apresentam uma consonância entre si no que se refere aos aspectos metodológicos para o primeiro ciclo do ensino fundamental. Sob esse prisma, elaborou-se o Plano da Unidade Didática cuidando para que os conteúdos, os objetivos específicos, o desenvolvimento metodológico, a avaliação e os recursos a serem utilizados estabelecessem uma coerência entre si.