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Análise dos contextos

No documento Adventismo e Reforma Protestante (páginas 116-119)

As regras de interpretação

2) Análise dos contextos

Podemos tratar essa regra como uma regra só ou como um agru-pamento de regras que se relacionam. Seja como for, o sentido é o mesmo: é preciso analisar cada contexto. Essas regras são univer-sais, servindo para avaliar os textos de White e quaisquer outros. Vejamos uma breve descrição de cada contexto.

O primeiro e mais simples é sempre o contexto temático, também chamado de literário ou imediato. É aquilo que vem antes e depois do trecho lido. Geralmente, atentar-se a esse contexto já é suficiente para resolver pelo menos metade das dificuldades interpretativas de textos bíblicos e de textos de Ellen White.

O contexto temático é feito de círculos concêntricos. No círculo menor, avaliamos o tema central do conjunto de linhas ou parágrafos em torno do trecho lido. Num nível mais amplo, nós avaliamos o tema central do conjunto de ses-sões ou capítulos em torno do texto que queremos entender. Ampliando mais, vamos ao tema central do livro como um todo. Avançando, a avaliação se estende aos diversos livros e escritos do mesmo autor, os quais sempre lançam luz sobre os demais. Finalmente, é possível avaliar as relações da obra geral do autor com os demais autores que o influenciaram (em espe-cial, os contemporâneos).

Em seguida, vem a análise do contexto histórico, que con-siste em averiguar o máximo possível de informações da época e do lugar em que foi escrito o texto. Qual é a história de vida do autor do texto? Onde ele nasceu? Onde morava? De qual nação e cidade escreveu? Em qual período? Quais eram as pessoas mais

próximas a ele. Para quem ele escreveu? Como eram a política e a economia da época e dos lugares em questão? Quais eram os grandes problemas sociais? Qual a relação do autor com quem era o destinatário do texto? Como essas informações se refletem no e influenciam o texto do autor? Essas são algumas das per-guntas que a análise do contexto histórico suscita.

Na sequência, vem a análise do contexto estilístico, que é o estilo ou gênero literário em que se encontra inserido o texto. É uma poesia? Uma descrição histórica? Uma profecia? Um conto ou parábola? Uma carta pastoral? Uma carta pessoal? A depen-der do gênero literário, os conteúdos podem ser entendidos de modos distintos.

Após isso vem a análise do contexto idiomático, que trata do idioma em que o texto foi escrito. Essa análise inclui per-guntas como: o idioma é antigo? Possui expressões próprias da época e do lugar? A tradução foi bem feita? Um termo, expres-são, frase ou conceito que para nós tem um sentido, tinha o mesmo sentido para o autor, o seu público e as pessoas daquela época e lugar específicos? O autor realmente está dizendo o que achamos que ele está dizendo? Há outros materiais daquele idioma e contexto temporal que podem nos ajudar a entender a obra do autor?

Um quinto contexto que deve ser avaliado, no caso de textos religiosos, é o teológico. Aqui devemos entender quais eram as crenças teológicas do autor, do tempo e do lugar em que ele estava inserido; dos autores que o influenciavam; das pessoas à sua volta; e dos destinatários do seu escrito. A partir daí, podemos compreender o sentido de algumas expressões e conceitos.

Nem sempre os textos que precisamos interpretar serão tão complexos a ponto de termos de nos demorar muito nessas aná-lises. Textos mais simples podem ser compreendidos com uma

LIÇÃO 14: cOmO Interpretar Os escrItOs de eLLen whIte 117

avaliação muito rápida em cada um dos contextos. Esse é o caso do conselho de Ellen White sobre as bicicletas, mencionado no outro tópico. Uma breve observação do contexto temático e do contexto histórico já indicam as razões do conselho: (a) o custo das bicicletas era muito alto à época (algo como um automóvel hoje) e (b) a motivação dos irmãos para comprá-las era apenas estar na moda e disputar com os outros.

Hoje as bicicletas possuem valores muito mais acessíveis e geralmente quem as compra apenas deseja se locomover para lugares mais distantes, não gastar com condução e/ou praticar exercícios. O que se pode concluir disso é que White não impôs uma doutrina, mas apenas aplicou alguns princípios bíblicos a uma situação específica de sua época e lugar. A Bíblia nos ensina a administrar bem o que Deus nos dá (inclusive o dinheiro) e não nutrir sentimentos de ostentação, vaidade e egocentrismo (Fl 2:3; Is 23:9; Lc 12:15; Mt 25:14-30). Ao ver que o desejo daque-les irmãos de comprar bicicletas estava ferindo tais princípios, White os aconselhou a desistirem do projeto.

A aplicação específica que White fez à sua época não nos serve mais hoje. Mas os princípios por trás permanecem bíbli-cos e podem, inclusive, se aplicar à compra de outros produtos, como celulares, videogames e carros. A essência do conselho é avaliar se as motivações para comprar algo são boas, em espe-cial quando o valor é alto. E isso é perfeitamente bíblico.

Notemos que como doutrina, a repreensão à compra de bicicletas não seria coerente com o Sola Scriptura. Mas como uma aplicação de princípios bíblicos a um contexto especí-fico, o conselho é louvável. E como descobrimos a natureza do conselho de Ellen White? Avaliando os contextos. Portanto, o simples uso das regras de interpretação pode determinar cor-retamente se um conselho de Ellen White é uma heresia ou um ensino válido.

No documento Adventismo e Reforma Protestante (páginas 116-119)