CAPÍTULO 3 Desvelando o Percurso Metodológico
3.6. Análise dos Dados
A perspectiva de análise aqui adotada pauta-se nas práticas discursivas de Spink (2004), segundo a qual a linguagem, a história e a pessoa servem como a base de trabalho nesta concepção. Assim, as práticas discursivas são compreendidas a partir da linguagem em ação, ou seja, a maneira pela qual as pessoas produzem sentidos e se
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posicionam em relações sociais cotidianas (Spink & Medrado, 2004). Assim, as práticas discursivas remetem-se ao sentido dado ao cotidiano, à prática social, às críticas produzidas, aos questionamentos, às justificativas e ao posicionamento.
Os contextos dos sentidos se dão a partir da dimensão histórica das práticas discursivas sabendo que ali se encontra o diálogo entre sentidos novos e antigos. O tempo é fundamental para se compreender essa dimensão histórica, assim as práticas trabalham com três tempos: o tempo longo, o tempo vivido e o tempo curto. O tempo longo diz respeito ao espaço dos conhecimentos produzidos por diferentes domínios de saber; o tempo vivido diz respeito às experiências de vida, à ressignificação dos conteúdos históricos; e o tempo curto diz respeito à dinâmica da produção de sentido.
A utilização do termo práticas discursivas refere-se ao foco nas regularidades da linguagem, à linguagem institucionalizada nos discursos, tendendo à permanência no tempo dos discursos. Assim, o foco se dá na singularidade, já que os fenômenos sociais adquirem sentido no cotidiano da linguagem em uso.
As práticas discursivas são compostas por três elementos: os enunciados, os
speech genres e os repertórios interpretativos. Os enunciados referem-se à prática social
enquanto prática dialógica, estabelecendo-se entre dois ou mais interlocutores, vêm como expressões utilizadas em ações contextualizadas que, ao se ligar à ideia de vozes, adquirem status social.
Vale ressaltar então o papel das vozes, que se situam como diálogos travados entre vários significados possíveis e disponíveis para a produção de um enunciado. Assim, para se produzir um enunciado, o sujeito usa um sistema de enunciados já existente, colocando-se em determinada posição em relação ao mesmo.
Os speech genres são formas relativamente estáveis de enunciado, são os gêneros da fala que buscam coerência com o contexto, o tempo e os interlocutores.
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Estes se ligam mais especificamente às regularidades linguísticas que orientam as práticas do cotidiano das pessoas, ou seja, focalizam no habitual gerado pelos processos de institucionalização.
Os repertórios interpretativos referem-se às unidades de construção das práticas discursivas (Spink & Medrado, 2004), sãoum conjunto de termos, descrições, figuras de linguagem, em que se localizam as formas e possibilidades das construções discursivas e compreensão das ações num contexto específico. Estes ajudam a compreender as regularidades e as singularidades dos discursos, permitindo apreender os repertórios dos diversos discursos e as formas com estes se articulam para produzir formas pouco usuais, gerando argumentos específicos e contradições.
A dimensão de pessoa vem como uma contestação à dicotomia sujeito-objeto tradicional da ciência, pressupondo que o homem situa-se no diálogo, na relação, negando as posturas empiristas, idealistas e interacionistas, inserindo o homem na relação com um mundo e com o outro (Spink, 2004).
Trabalhou-se nesta dissertação a identificação e compreensão dos repertórios interpretativos para analisar junto aos entrevistados suas vivências em relação à experiência no Projeto Integrado. Considerando tais elementos, faz-se necessária a utilização de técnicas de análise que possibilitem o uso dos conteúdos das práticas discursivas, sendo assim foram utilizados nesta dissertação os mapas de associação de ideias por Spink (2004). A interpretação dos diálogos travados emerge como um elemento intrínseco ao processo de pesquisa. Assim, durante todo o percurso da pesquisa o diálogo está imerso no processo de interpretação.
Os mapas de associação de ideias objetivam sistematizar o processo de análise das práticas discursivas, buscando os repertórios utilizados pelos participantes e a dialogia que inerente à construção de sentidos. Primeiramente é preciso: definir as
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categorias gerais, que são guiadas pelo objetivo da pesquisa; sistematizar os conteúdos a partir dessas categorias, preservando a sequência das falas e identificar o movimento da interanimação dialógica a partir da disposição das falas, que são deslocadas para as colunas com as categorias pré-definidas, sem fragmentá-las (Spink e Lima, 2004).
Na presente dissertação, a composição dos mapas se deu da seguinte forma: Inicialmente foi realizada a transcrição das entrevistas, salientando elementos que emergiram nos atos de fala, como risos, choros, pausas;
Posteriormente foi realizada a leitura das entrevistas, para que pudesse ser tomado conhecimento de suas totalidades;
As categorias empíricas foram definidas, com base nos objetivos e no que emergiu a partir das práticas discursivas. Essas categorias empíricas não foram pré-definidas no campo de pesquisa, foram opções definidas ao longo da leitura das entrevistas.
Em seguida, os mapas de associação foram construídos em forma de quadros. Cada coluna foi nomeada com as categorias empíricas definidas anteriormente, e o conteúdo dos atos de falas foi disposto na coluna correspondente à categoria empírica a qual representava.
As intervenções da pesquisadora são consideradas na construção do mapa, já que fazem parte da dialogia que compõe o processo das práticas discursivas. Os repertórios interpretativos podem ser verificados na leitura vertical das colunas; já a dialogia aparece na leitura horizontal. (Apêndice).
Os repertórios interpretativos foram agregados em três mapas: 1) Formação; 2) Vivências; 3) Projeto de Vida. Os mapas foram
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organizados com a finalidade de contemplar os objetivos da presente investigação e abordam presente, passado e futuro dos jovens.
Com a finalização da construção dos mapas, a interpretação dos repertórios que emergiram dos atos de fala foi iniciada, a partir das categorias empíricas e dos referenciais teóricos adotados (Apêndice).
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