4 ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
4.5 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados foi desenvolvida sob a ótica da análise de conteúdo e da
abordagem estrutural das representações sociais, sendo empregadas duas técnicas de análise,
respectivamente, a análise de conteúdo do tipo categorial temática e a técnica do quadrado de
quatro casas, com a utilização do software Ensemble de Programmes Permettant l’Analyse
des Evocations (EVOC). (VERGÈS, 2005).
A análise de conteúdo proposta por Bardin propõe que tudo o que é dito ou escrito é
suscetível a ser submetido a uma análise de conteúdo. A análise de conteúdo:
É um conjunto de técnicas de análise de comunicação, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção destas mensagens. (BARDIN, 2004, p. 37).
Tal análise, segundo Maciel, Moreira e Gontiès (2005), vem a ser um dos objetivos
das representações sociais. A análise de conteúdo trabalha a palavra, a prática realizada por
emissões identificáveis. Essa análise leva em consideração as significações (conteúdo), sua
forma e a distribuição desses conteúdos e formas. Lida com mensagens (comunicação) e tem
como objetivo principal sua manipulação (conteúdo e expressão). (MARCONI, LAKATOS,
2001).
A análise de conteúdo pode envolver tanto a análise temática quanto a análise textual.
Na análise textual, ocorre um exame detalhado dos conteúdos léxicos e das estruturas
sintáticas, e usualmente usa a palavra como elemento básico a ser analisado. Na análise
temática, busca-se o reconhecimento de temas ou idéias, no texto, enquadrando-os em
determinadas categorias. (JOVCHELOVITCH, 2000). A análise temática consiste em
descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou freqüência
signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado. (MINAYO, 2000; BARDIN,
2004).
que emerge de um texto analisado, segundo critérios da teoria que fundamenta a leitura. O
texto pode ser recortado em idéias constituintes, em enunciados e em proposições com
significados. (BARDIN, 2004).
A categorização buscou a identificação das representações sociais dos familiares de
pessoas com DM sobre essa condição crônica, tendo como fundamentação teórica para a
análise a teoria das representações sociais.
Bardin (2004) apresenta três etapas metodológicas para a fase de análise de dados, que
são: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados – a inferência e a
interpretação.
1
aEtapa: Pré-análise
É a fase de organização, que iniciou com a transcrição das entrevistas, exatamente
como constam nas fitas gravadas pela pesquisadora, seguida pela leitura do material, para
tomar contato com a estrutura, descobrir orientações para análise e registrar impressões sobre
a mensagem.
2
aEtapa: Exploração do material
O material transcrito foi lido diversas vezes, para apreensão dos elementos contidos
nas falas. Iniciei agrupando os discursos por questões levantadas. Após estudo aprofundado,
relacionei as informações, marcando com cores distintas as falas com características comuns,
que se relacionavam entre si, criando as codificações. Fiz então um recorte das falas e as
reagrupei conforme as codificações criadas. Contei o número de participantes que se referiram
a cada codificação, para estabelecer a percentagem. O uso da percentagem foi importante,
para a identificação da saliência das enunciações, elemento que auxilia na aproximação com o
caráter de compartilhamento das representações sociais. Após, foi realizada a classificação
segundo as representações sociais, ou seja, estabelecido um conceito capaz de abranger os
elementos e idéias agrupadas, constituindo as categorias.
No estabelecimento de categorias, procurei seguir três princípios: o conjunto de
categorias deve ser estabelecido a partir de um único princípio de classificação; todas as
respostas devem ser incluídas em uma das categorias; uma resposta não pode ser incluída em
mais de uma categoria. (BARDIN, 2004).
3
aEtapa: Tratamento dos resultados obtidos e interpretação
Os resultados são tratados de maneira a serem significativos e válidos. (BARDIN,
2004). Os dados foram discutidos e interpretados à luz do referencial teórico. Nessa etapa,
tentamos desvendar o conteúdo subjacente ao que estava sendo manifesto, que foi discutido
na apresentação dos resultados.
A análise de conteúdo possibilitou a organização dos dados das entrevistas, que
sustentaram quatro grandes categorias do estudo, que são: contexto dos familiares; dimensão
informação/conhecimento; significados emocionais: dimensão afetiva e dimensão
comportamento/ação do familiar da pessoa com DM.
Os dados coletados através da evocação livre foram analisados com o auxílio do
software EVOC e resultaram na categoria dimensão campo das representações sociais do
DM: abordagem estrutural. O EVOC é um recurso informático e constitui um grande auxílio
no tratamento dos dados, principalmente na identificação de discrepâncias derivadas da
polissemia do material coletado e na realização dos cálculos das médias, para construção do
quadro de quatro casas. (OLIVEIRA et al., 2005).
Com base na lista de palavras evocadas, o software organiza os dados em ordem
alfabética, com cálculos estatísticos da análise: quantas vezes cada palavra apareceu em cada
colocação (de primeira a quinta, na ordem de evocação); a freqüência total de cada palavra; o
cálculo da média ponderada da ordem de evocações do conjunto dos termos estudados,
propondo uma lista com sugestões de categorias que possibilitam o agrupamento dos termos.
A freqüência indica o grau de compartilhamento da palavra entre os entrevistados, e a ordem
média, a sua saliência ou importância para esse grupo. O pesquisador define então o ponto de
corte para a freqüência mínima a ser considerada, a partir do qual comporá as quatro casas.
Com base no instrumento contendo as palavras evocadas, digitei em formato Word
todas as evocações na sua forma bruta, seguindo a ordem de evocação, colocando um
asterisco nas duas referidas pelos participantes como sendo as mais importantes.
Fundamentada em Oliveira et al., (2005) procedeu-se uma padronização das palavras e termos
evocados, tentando agrupar palavras com significados muito próximos sob a mesma
designação, garantindo que o sentido final expresso por elas ficasse contemplado e que o
software as processasse como sinônimos, por exemplo, as palavras dieta, alimentação e
comida foram agrupadas no termo alimentação/dieta.
Esses dados serviram de base para alimentação do programa EVOC. Colocados os dados
no software, este realizou a análise estatística, com necessidade de interferência do pesquisador
em alguns momentos, para definir parâmetros. Os primeiros passos consistem no Lexique e o
Trievoc, que preparam o arquivo para a fase seguinte, o Nettoie. (OLIVEIRA et al., 2005).
O Rangmot abre espaço para o pesquisador colocar a freqüência mínima das palavras
que deseja que os dados sejam rodados, em nossa pesquisa a freqüência foi cinco. No final,
aparece uma listagem das palavras evocadas por freqüência e número de vezes que
apareceram em cada colocação, com o cálculo da ordem média. Das 500 evocações feitas, 111
eram palavras diferentes. Calculou-se, então, a média, dividindo o total de evocações (500)
entre as palavras diferentes (111), chegando-se a média de 4,5.
Para estabelecer o ponto de corte, decidiu-se a freqüência mínima, que no estudo foi
cinco, considerando a manutenção de no mínimo 75% das ocorrências, assim, foram mantidas
todas as palavras com freqüência de citação maior ou igual a cinco (75,8%). Excluíram-se 77
palavras diferentes e 121 do total.
A partir desse cálculo, fizeram parte da análise 34 palavras diferentes, com freqüência
de evocação igual ou superior a cinco, totalizando 379 palavras. Ao dividir a somatória (379)
pelo número total de palavras (34), recalculou-se a média da freqüência, que foi de 11. A
média da ordem média foi obtida dividindo a soma das médias das ordens médias de cada
uma das 34 palavras (101,49) por 34, com resultado de 2,9. Após esses cálculos, foi colocado
no programa EVOC (Rangfrg) a freqüência média (11), a freqüência mínima (5) e a média
das ordens médias (2,9), o que organizou as informações em um diagrama de quadrantes.
O programa deu-me uma visualização do diagrama dos quatro quadrantes, com seus
elementos separados segundo a freqüência e ordem de evocação, o grupo do quadrante
superior esquerdo como sendo o dos prováveis elementos centrais, com maior freqüência e
menor ordem média de evocação. Então, associei os dados da anotação feita pelos
participantes para as duas palavras mais importantes, como elemento que indicasse com maior
certeza os componentes do núcleo central. Segui com a somatória de vezes que cada uma
dessas palavras foi citada como importante e a centralidade foi confirmada para aquelas cuja
somatória de referência atingiram pelo menos 40% das citações do seu total de evocações.
Os dados foram distribuídos no diagrama de quatro quadrantes, divididos pelo eixo
horizontal e eixo vertical. O eixo horizontal apresenta a ordem média de evocação, com valo-
res crescentes para o lado esquerdo, e o vertical, a freqüência de evocação, com valores cres-
centes para a parte superior. Portanto, no quadrante superior esquerdo, ficam as palavras com
maior freqüência e mais próximas da primeira ordem de evocação, formando o provável
núcleo central da representação. (OLIVEIRA et al., 2005). No quadrante superior direito,
ficam os elementos da primeira periferia (são os elementos periféricos mais importantes). No
quadrante inferior esquerdo, os elementos de contraste (são elementos com baixa freqüência,
mas considerados importantes pelos sujeitos, podendo revelar elementos que reforçam as
noções presentes na primeira periferia ou a existência de um subgrupo minoritário portador de
uma representação diferente). E aqueles localizados no quadrante inferior direito pertencem à
segunda periferia, são elementos menos freqüentes e menos importantes. (CAMARGO,
BARBARÁ, BERTOLDO, 2007).
No documento
Representações sociais de familiares de pessoas com diabetes mellitus sobre essa condição crônica
(páginas 70-74)