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DIMENSÃO CAMPO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO DM: ABORDAGEM

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

5.2. DIMENSÃO CAMPO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO DM: ABORDAGEM

Nesta categoria, serão apresentados os resultados da técnica de evocação livre de

palavras, por meio da qual, procurou-se acessar alguns elementos semânticos atribuídos ao

DM. A aproximação da dimensão campo das representações sociais foi feita através do

diagnóstico da estrutura da representação social do DM para os filhos e netos de pessoas com

essa doença crônica.

Freqüência Ordem média menor que 2,9 Ordem média maior ou igual a 2,9 Alimentação/Dieta* 57 2,754 Cuidado* 32 3,375

Remédio 24 2,667 Doença 16 3,688

Cegueira 17 2,824 Atividade física 14 3,214

Triste* 15 2,667 Insulina 12 3,417 Incurável* 14 2,571 Mudança na vida* 11 3,182 Maior ou igual a 11 Hereditário/de família/genético* 11 2,727 Açúcar 9 2,330 Morte 11 3,091 Sofrimento 9 2,556 Controla 10 3,000 Obesidade 7 1,857 Difícil 8 3,571 Hipertensão 7 2,857 Sede 8 3,125 Médico 7 2,857 Fome 7 3,571 Medo 6 2,833 Exames 7 4,000 Tratamento 6 2,857 Dor 6 3,667 Mal-estar 6 2,667 Fraqueza 6 3,833

Problema nos pés 6 2,833 Emagrece 5 3,200

Açúcar elevado 5 2,400 Sangue 5 3,000

Menor que 11

Derrame 5 2,400 Amputação 5 3,000

Quadro 13 - Diagrama das palavras evocadas a partir da expressão indutora Diabetes Mellitus, segundo a

freqüência e ordem média de evocação.

A partir dessa análise lexicográfica, observei, conforme o quadro 13, que a

representação social do DM do grupo estudado era possivelmente formada pelos elementos

que se encontram no quadrante superior esquerdo: alimentação/dieta, cegueira, hereditário/de

família/genético, incurável, remédio e triste.

O diagrama de quadrantes indica os elementos que mais provavelmente fazem parte do

núcleo central da representação, por seu caráter prototípico. A medida da freqüência possui

natureza essencialmente coletiva e a ordem em que os sujeitos evocam as mais freqüentes é de

origem individualizada. Isso contribui para que os elementos identificados tenham mais

probabilidade de serem as cognições centrais. (SÁ, 1996).

Para que os elementos centrais da representação social sejam validados, como tendo

maior possibilidade de pertencerem ao núcleo central, é necessária a realização do teste

confirmatório. No presente estudo, o teste confirmatório do núcleo central foi feito a partir da

marcação das duas palavras que os familiares de pessoas com DM consideraram as mais

importantes. Após, somou-se o total de marcações de cada palavra e comparou-se com o total

de vezes que ela foi evocada. A provável confirmação de centralidade foi feita para as

palavras com no mínimo 40% de marcações do seu total geral. (CAMARGO, BARBARÁ,

BERTOLDO, 2007). A definição dessa percentagem está relacionada com a teoria da

probabilidade, pois ao escolher duas entre cinco palavras a chance seria de 40% para as

escolhidas. Assim, quase todas as palavras do quadrante superior esquerdo foram

confirmadas quanto à centralidade, excetuando-se as palavras remédio e cegueira. Além

desses elementos, foi confirmada a centralidade de elementos que aparecem como

provavelmente situados no sistema periférico, por estarem no quadrante superior direito,

sendo tratados no estudo como compondo o núcleo central, são as palavras: cuidado e

mudança na vida.

Com base nesses dados, pode-se pensar que a representação social do DM tem como

núcleo central elementos ligados ao cuidado – alimentação/dieta e cuidado, ao fator genético

– hereditário/de família/genético, à falta de cura – incurável, às mudanças na vida, e ao

aspecto emocional – tristeza. Então o DM surge como doença de caráter genético, que não

tem cura, muda a vida da pessoa, abala seu estado emocional e requer cuidados.

Os elementos centrais foram interpretados como compondo quatro categorias na

representação social do DM: doença de cuidado, doença hereditária, doença incurável que

traz mudanças e doença que abala o emocional. Esses elementos, conforme a teoria do

núcleo central (ABRIC, 2003), constituiriam a base comum e consensual da representação

social do DM, resultante da memória coletiva e do sistema de normas ao qual o grupo social

se refere.

O núcleo central determina o significado da representação, sua consistência e

permanência, sendo resistente a mudanças. Qualquer mudança nesse núcleo levaria a uma

mudança de representação. Ele é determinado pela natureza do objeto, pelo tipo de relação

que o grupo tem com ele e pelo sistema de valores e normas sociais. Articulado ao núcleo

central, encontra-se o sistema periférico, ele é a parte mais leve e flexível da representação.

(ABRIC, 2003). Os elementos que compõem o sistema periférico estão na primeira periferia

(quadrante superior direito) e na segunda periferia (quadrante inferior esquerdo), sendo

importantes ao sistematizar e adaptar os conceitos centrais e ligá-los ao cotidiano dos filhos e

netos de pessoas com DM.

No quadrante superior direito, como elementos da primeira periferia, encontramos os

termos atividade física, doença e insulina. No quadrante inferior esquerdo, como elementos

de contraste estão: açúcar, açúcar elevado, derrame, hipertensão, mal-estar, medo, médico,

obesidade, problema nos pés, sofrimento e tratamento. Considerar esses elementos como

periféricos é afirmar que eles são organizados pelo núcleo central da representação, segundo o

princípio gerador. (FLAMENT, 2001). Esses elementos se articulam com o núcleo central

protegendo-o, permitindo a integração das experiências e histórias individuais, suportando a

heterogeneidade do grupo, suportando contradições. Eles promovem uma interface entre a

realidade concreta e o sistema central, atualizam e contextualizam constantemente as

determinações normativas e de outra forma consensuais deste último, daí resultando a

mobilidade, a flexibilidade e a expressão individualizada, que igualmente caracterizam as

representações sociais. O sistema periférico permite à representação ancorar-se na realidade

do momento. (SÁ, 1996).

Os esquemas periféricos asseguram o funcionamento quase instantâneo da

representação como grade de decodificação de uma situação: indicam, às vezes de modo

muito específico, o que é normal (e, por contraste, o que não é) e o que é necessário fazer para

compreender ou memorizar. Eles permitem à representação funcionar sem ser necessário

analisar a situação em relação ao principio organizador, que é o núcleo central. (FLAMENT,

2001).

Dessa forma, articulei os elementos periféricos às categorias centrais, com as quais se

relacionam. Assim, busquei um termo para a representação que tivesse ligação com núcleo

central e com os sistemas periféricos manifestados pelos participantes.

1. Doença de cuidado: fortemente marcada pela alimentação/dieta e cuidado, como

sendo o núcleo central da representação. Articulam-se na periferia aos elementos: remédio,

insulina, atividade física, médico e tratamento.

2. Doença hereditária: com centralidade na doença de família e genética.

3. Doença incurável que traz mudanças: com os elementos centrais incurável e

mudança na vida, relacionam-se às alterações e às complicações, como mudanças possíveis

decorrentes da doença que não tem cura. Articulam-se aos elementos: cegueira (possível

elemento do núcleo central, mas sem confirmação de centralidade pelos participantes), açúcar

elevado, açúcar no sangue, mal-estar, obesidade, derrame, hipertensão e problemas nos pés

(elementos da periferia).

4. Doença que abala o emocional: evidenciada pelo sentimento de tristeza, no núcleo

central. Articulou-se na periferia aos elementos: medo e sofrimento.

Os elementos da segunda periferia (longínqua), presentes no quadrante inferior direito,

aparecem como menos freqüentes, mas considerados importantes por quem os referiu. Estes

também reforçam as categorias anteriores articulando cuidados, alterações/complicações e

sentimentos, evocados como: controlar, amputação, difícil, dor, emagrece, exames, fome,

fraqueza, sangue e sede.

As quatro categorias referidas estão inter-relacionadas. As representações sociais do

DM como hereditário, cuidado, incurável/mudanças e emocional estão imbricadas, tanto na

presença da doença no familiar quanto na sua própria situação. Como doença percebida por

sua influência genética, por filhos e netos de pessoas com DM, estes se colocam na situação

de vulnerabilidade, articulando o cuidado na prevenção e na doença. As mudanças na vida

percebidas na pessoa que possui DM, com a qual convive, os riscos de complicações e a falta

de cura formam uma imagem de doença difícil de enfrentar. Essas representações negativas

repercutem em atitudes também negativas para com o DM, abalando o estado emocional

dessas pessoas. A consideração da afetividade e dos seus fundamentos na energética social é

essencial para compreender como se opera a construção de sua realidade pelos membros de

um grupo social. É essencial para elaborar uma autêntica teoria do conhecimento social.

(JODELET, 2005).

A centralidade de doença hereditária (54%) e de doença incurável (57%) com

mudanças (54%) apresentou percentual levemente superior, quanto à referência de

importância pelos participantes, quando comparada com cuidado e estado emocional (50%

cada). Essa diferença entre os elementos centrais, apesar de pequena, pode sugerir uma

hierarquia entre eles. Para Abric (2003), o núcleo central é uma entidade constituída de um

número restrito de elementos, sendo alguns normativos e outros funcionais, alguns principais

e outros adjuntos. Os elementos não são equivalentes entre si, alguns são mais importantes

que outros. O principal é aquele com valência mais elevada, sob condição que o seu valor

difira significativamente das valências dos outros elementos constitutivos do núcleo.

Na representação social do DM, foi dada maior ênfase à natureza do objeto, como

doença incurável e hereditária. O cuidado e os aspectos emocionais podem permear e se

articular a essa representação e, ao mesmo tempo, serem eles próprios representações da

doença. Esses diferentes elementos da representação podem ser ativados ou não, dependendo

do contexto e situação vivenciada pela pessoa. Abric (2003) afirma que alguns elementos do

núcleo central vão ser mais utilizados que outros, na definição do significado do objeto ou das

práticas que lhe são associadas, sendo suscetíveis de serem ativados diferentemente, segundo

o contexto social. Quanto mais ativado o elemento, mais ele tem um papel importante,

portanto um elemento principal é mais ativado que em elemento adjunto. O que vai depender

da finalidade da situação, da distância do objeto e do contexto de enunciação.

5.3 Relações entre a contribuição da técnica de entrevista e a contribuição do teste de