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8. PERCURSO MÉTODOLÓGICO

8.6 Análise dos dados

Para responder aos objetivos específicos a, b e c desse estudo foi realizada análise temática, segundo orientação de Braun e Clarke (2006). Para as autoras, esta é uma ferramenta de pesquisa flexível e útil, devido a sua liberdade teórica, que pode potencialmente fornecer uma análise rica e detalhada dos dados. A análise temática é um método usado para construir, analisar e relatar temas dentro dos dados. Um tema, por sua vez, pode ser construído a partir de sentidos compartilhados no cotidiano das pessoas relacionados à questão de pesquisa. Os temas são definidos considerando se este é capaz de sintetizar algo importante referente à pergunta da pesquisa, não dependendo de medidas quantificáveis (Braun & Clarke, 2006). Assim, um tema tanto pode estar presente em várias entrevistas como também pode aparecer em apenas uma ou algumas entrevistas, desde que seja relevante dentro daquilo que está sendo investigado.

Braun e Clarke (2006) propuseram 6 fases que servem para guiar os pesquisadores na realização da análise temática. A figura abaixo ilustra este processo de análise:

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Figura 1. Fases da análise temática baseadas no estudo de Braun e Clarke (2006).

A primeira fase correspondeu a familiarização com os dados. Nesta fase, a pesquisadora fez a transcrição literal das entrevistas gravadas em áudio para documentos de texto no computador que integraram o corpus da análise, realizou leituras e releituras do corpus de forma ativa, ou seja, buscando sentidos e padrões e anotando ideias iniciais que surgiram a partir das leituras.

A segunda fase consistiu na codificação dos dados. Para isto foram usadas duas colunas. Na primeira colocou-se a entrevista na íntegra e na segunda organizaram-se os códigos elaborados, que consistiam na descrição de aspectos centrais ao objetivo, identificados nas entrevistas.

Na terceira fase foi realizada uma busca por temas. Esta foi realizada quando todos os dados foram inicialmente codificados e agrupados, envolvendo a classificação dos diferentes códigos em potenciais temas. Nesta fase, a pesquisadora analisou como diferentes códigos poderiam se combinar para formar um tema mais abrangente e construiu mapas temáticos para ajudar a alocar os códigos em temas de forma mais visual.

A quarta fase foi a revisão dos temas que envolveu o refinamento destes. Para esta fase foi necessária a leitura dos extratos atribuídos a cada tema e análise da coerência entre estes. Quando estes não eram coerentes, a pesquisadora analisou a necessidade de repensar o tema ou refletir se os extratos de dados pertenciam a outro tema ou se os extratos deveriam ser descartados. Segundo Braun e Clarke (2006) o processo de codificação de dados e geração de

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temas pode ser infinito, sendo importante parar quando seus refinamentos não estiverem adicionando algo importante.

Na quinta fase foram definidos e nomeados os temas. A pesquisadora definiu detalhadamente cada tema e observou como cada um se relacionava com a pergunta da pesquisa. No final dessa fase a pesquisadora conseguiu descrever seus temas em poucas frases.

Na última fase a pesquisadora elaborou esta dissertação relatando seus resultados da análise e demonstrando que os temas eram coerentes com os dados. Para isto a pesquisadora apresentou trechos das entrevistas que exemplificavam de forma clara a essência dos temas.

Para responder o objetivo especifico d foi realizada análise do discurso do corpus de análise que consistiu na transcrição completa de uma entrevista selecionada e nas notas de campo referentes a ela.

Dessa forma, a proposta de análise de discurso seguida por este estudo estava relacionada ao entendimento de que discurso constrói realidades. Considerando que a própria pesquisa que utiliza a análise de discurso sofre influências dos discursos compartilhados dentro do contexto histórico e cultural no qual está inserida. Por isso Iñiguez (2004) orienta que o pesquisador mantenha uma comunicação ativa com o leitor, tentando demonstrar como realizou a leitura do texto. Assim, a análise do discurso vai muito além da redação expositiva dos resultados, mas é um processo marcado pela negociação, convidando o leitor a construir outros discursos. A análise do discurso seria o estudo de como essas práticas linguísticas atuam no cotidiano, mantendo e promovendo essas interações (Iñiguez, 2004). Os discursos presentes nas nossas narrativas legitimam certas práticas e estruturas sociais. Muitos discursos dominantes estão tão naturalizados em uma comunidade que as pessoas tem dificuldade de desafiá-los (Nogueira, 2008). Entretanto, a análise do discurso oferece possibilidades de transformação social aos discursos que mantêm certas relações de poder a partir da identificação das práticas discursivas que sustentam estruturas sociais.

Para realizar este estudo foram feitas leituras exaustivas da entrevista transcrita e notas de campo com objetivo de familiarizar com o conteúdo da conversa. Em seguida, a pesquisadora preparou uma tabela, em arquivo de texto no computador, com duas colunas. A primeira consistiu na entrevista na íntegra e a segunda foi elaborada a partir de anotações a respeito dos discursos, posicionamentos e vozes identificados que estivessem relacionados a construção de narrativas sobre a experiência da participante enquanto mãe de um usuário de drogas e solicitante de internações involuntárias e compulsórias. Após essa análise inicial, a pesquisadora procurou observar que tipos de práticas e posições se tornaram possíveis por meio

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dos discursos identificados. Assim, foram observadas como certas posições convidava a participante a adotar certas práticas e restringir outras.

Utilizando os discursos e posicionamentos a respeito do seu filho como usuário de drogas presentes na entrevista, a pesquisadora escreveu uma narrativa sobre ele. A partir dos discursos, posicionamentos e vozes sobre ser mãe de uma pessoa que faz uso problemático de drogas foi escrita uma narrativa sobre a vida da participante. Em seguida, foi redigida uma última história sobre a participante a partir de um discurso alternativo, o discurso relacional, buscando desafiar os discursos hegemônicos. Na conversa com a participante, discursos hegemônicos estavam naturalizados e acabavam enfraquecendo narrativas que valorizassem os seus recursos e do seu filho para enfrentar o uso de drogas. Dessa forma, a construção de uma narrativa alternativa foi um exercício reflexivo para demonstrar ao leitor a possibilidade de transformação de discursos e posicionamentos a partir de outras narrativas.