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Análise dos dados sobre a promoção e a receção das traduções

No presente capítulo, pretende-se averiguar variáveis como tiragens e vendas das traduções em apreço, o seu impacto na comunicação social, assim como as expetativas criadas em seu redor, i. e., fatores não abrangidos pelo modelo de Toury (1995/2012), mas considerados pertinentes para aferir a posição da literatura polaca traduzida na CC. Como em Portugal não é norma indicar na Ficha Técnica a tiragem dos livros, inquiriu-se junto de editores e tradutores acerca do número de exemplares da edição, dado que tal pode ser visto como indicador da expetativa da receção do livro no mercado português. Por conseguinte, de acordo com a informação facultada pelo tradutor Wódkowski (2015), a tiragem de Tommaso del Cavaliere foi de 2000 exemplares; à data, o livro encontra-se descatalogado. O tradutor Szymaniak (2015) desconhece as tiragens dos livros que traduziu e, quanto a vendas, é sabido que o espólio da editora Campo das Letras se encontra atualmente à venda na livraria Círculo das Letras, em Lisboa, onde as traduções de

32 A lista de tradutores de polaco-português-polaco, disponibilizada em linha pela Embaixada da Polónia, conta, à data, 28 nomes.

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Kapuściński ainda podem ser adquiridas. Em relação a O demónio do movimento, Madre Deus (2015) afirma: «Esta obra teve uma primeira tiragem, destinada ao mercado livreiro, de 1500 exemplares – com reduzido êxito comercial, e outra, privada, inteiramente comprada pela CP – Caminhos de Ferro Portugueses, S.A., de 2500 cópias, destinada a oferta a funcionários dessa empresa». Quanto a Alguns gostam de poesia, que teve uma tiragem de 1500 exemplares, o editor reconhece o fracasso comercial da tradução: «Saldámo-la e retirámo-la do mercado 10 anos depois» (Deus, 2015). Rodrigues (2015) transmitiu-nos que O diário de Rutka teve uma tiragem de 6000 exemplares dos quais, até agosto de 2015, se venderam apenas cerca de 1700. Os números são ilustrativos da alta expetativa do editor em relação à venda do livro que não correspondeu à sua procura. Não foi possível apurar a tiragem dos volumes poéticos publicados pela Relógio d’ Água, mas sabe-se que Paisagem com grão de areia e Instante não esgotaram e ainda podem ser adquiridos na página em linha da editora, a preços reduzidos.

A promoção das obras literárias é um fator crucial para o sucesso editorial, pelo que as perguntas seguintes do questionário pretendiam aferir, por um lado, os esforços envidados pelas editoras nesse sentido e, por outro, a repercussão das obras nos meios de comunicação social, bem como as expetativas literárias e financeiras criadas com a tradução. Apurou-se que todas as editoras nos seus catálogos e brochuras em suporte de papel fazem referência às obras publicadas, através de um resumo ou de uma citação de promoção e que as suas páginas em linha oferecem uma descrição das traduções.

A divulgação de O Diário de Rutka foi cuidadosamente preparada pela Sextante em parceria com a Embaixada de Israel, o Yad Vashem e personalidades públicas portuguesas. Conforme relata Rodrigues (2015), a editora fez «um esforço de marketing e comunicação forte com cartazes em livrarias e entrevistas». O lançamento do livro teve lugar na livraria Bulhosa de Entrecampos, em novembro de 2007, estando a apresentação da obra a cargo do Embaixador de Israel e da meia-irmã de Rutka, Zahava Scherz, cuja viagem foi patrocinada pelo Yad Vashem. O livro também foi divulgado na rádio, na televisão e na imprensa, onde mereceu uma atenção alargada com destaque para os artigos ilustrados, publicados no Público e Correio da Manhã, no Expresso e Sol, bem como nas revistas

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obra ficou aquém das expetativas literárias e financeiras do editor que esperava que o livro fosse não um best seller, mas um long seller, o que não aconteceu.

Em relação à obra de Kapuściński, Szymaniak (2015) frisa que os livros foram promovidos com anúncios na imprensa e no catálogo da editora Campo das Letras. No tocante a artigos publicados na imprensa, o tradutor sabe da existência de «alguns, mas não muitos». Não sabendo precisar o seu número, recorda, porém, um artigo muito crítico no Público, em 2006, sobre Império (Szymaniak, 2015). No que respeita às expetativas literárias do editor, Szymaniak (2015) considera que as obras não corresponderam às expetativas criadas devido ao pouco interesse dos leitores; quanto às expetativas financeiras tem razões para crer que as mesmas saíram goradas, contribuindo para a insolvência da editora e para o facto de os tradutores nunca terem recebido os honorários na íntegra.

Quanto aos dois livros da editora Cavalo de Ferro, O demónio do movimento e Alguns

gostam de poesia, Madre Deus (2015) recorda-se apenas que o segundo teve lançamento

público, não sabendo precisar o seu local. Ambas as obras mereceram a atenção da imprensa, mas o editor não dispõe de dados sobre o número de recensões críticas publicadas. Quanto às expetativas literárias, o editor considerou que ambas as obras corresponderam às expetativas literárias, a primeira porque «foi bem recebida junto da crítica, a qualidade de um autor até então desconhecido, apreciada e (re)confirmada» e a segunda porque «a qualidade da obra mereceu o apreço da crítica e do público-leitor ajudando a uma maior divulgação e conhecimento em Portugal destes dois importantes escritores» (Deus, 2015). No que toca às expetativas financeiras face a O demónio do

movimento, a resposta é afirmativa «porque, neste caso, foi alvo de uma edição privada,

financiada pelos Caminhos de Ferro Portugueses» (Deus, 2015); Alguns gostam de poesia não correspondeu de modo algum às expetativas financeiras devido a «público insuficiente, vendas insuficientes» (Deus, 2015). Em 2008, a editora retirou do catálogo as duas traduções, atendendo ao desinteresse comercial.

No que diz respeito a Tommaso del Cavaliere, o tradutor Wódkowski não sabe se o livro foi alvo de lançamento público, porque entretanto deixou Portugal. Pelo que se lê num folheto da editora Livros Cotovia, o livro terá tido uma repercussão positiva, pois nele cita-

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-se um excerto elogioso de um artigo publicado no Diário Popular da pena de Maria Teresa Horta. O livro já não consta do catálogo em linha de Livros Cotovia.

Em relação à editora Relógio d’Água, não foi possível saber se os livros de Szymborska foram lançados publicamente, nem quais as expetativas literárias e financeiras do editor. Sabe-se que Paisagem com grão de areia mereceu duas recensões que apresentam reservas quanto à tradução [Swiatkiewicz (1998) e Bastos (1998) apud Valdez (2009)]. A receção da literatura traduzida poderá beneficiar com a presença de paratextos (positivos), mediadores entre o livro e o leitor. As traduções em foco contêm resumos ou citações sobre as obras que, nas contracapas ou badanas dos livros, convidam à leitura, mas somente duas incluem prefácios (O diário de Rutka e Alguns gostam de poesia) e uma encerra com epílogo (O demónio do movimento). Constatou-se ainda que as editoras em foco não recorreram à Embaixada da Polónia em Lisboa para lançar as traduções publicamente. Por último, a informação recolhida demonstra que a campanha de promoção de O diário de Rutka por parte da editora Sextante foi superior aos esforços empreendidos pelas restantes editoras no mercado português. Tal, porém, não impediu que o livro não sobrevivesse à campanha.

Tendo em consideração o exposto, não se pode concluir que a literatura polaca seja marginalizada ou ignorada na imprensa; muito pelo contrário, verificou-se que existe fortuna crítica sobre as traduções literárias polacas. O que talvez possa ser inferido dos dados reunidos é que se trata de uma receção de memória curta ou a curto prazo, já que os livros não tendem a ser long sellers e as circunstâncias não proporcionam a publicação de segundas edições.