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Análise dos discursos

ATIVIDADE COMUNITÁRIA E PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

4. CONSCIÊNCIA PESSOAL

6.3. ANÁLISES DOS DADOS

6.3.1. Análise dos discursos

Tomamos, como unidade de análise do discurso, a conversação não-natural, estimulada e orientada por um dos participantes (entrevistadora). O que pretendíamos era saber se na conversação estavam presentes os seguintes elementos: a) o entendimento entre os participantes sobre o que conversavam (competência e coerência na interação entre ambos, entendimento na ação comunicativa); b) o significado pessoal do morador entrevistado (discurso principal) acerca de temas relativos à vida cotidiana de sua comunidade, à sociedade maior e, inclusive, a respeito de si mesmo, quer dizer, o sentido que tem para ele a atividade comunitária com relação a si mesmo e à comunidade, sua explicação de temas gerais e específicos, bem como, também, a maneira discursiva e o conteúdo do discurso ao relacionar três figuras em uma série de quatro; c) se esses elementos permitiam identificar características no discurso do morador (coerência discursiva) próprias de um tipo predominante de consciência, segundo o modelo de conscientização de Paulo Freire.

Para a análise dos discursos dos moradores adotamos um procedimento comum aos dois analistas: a) ler as transcrições e ouvir as conversações; b) selecionar elementos relevantes do discurso segundo o modelo de conscientização de Paulo Freire; c) reexaminar esses elementos para verificar se são suficientes e situá-los nas categorias consideradas para a análise da consciência (leitura do mundo, auto-análise e abstração/generalização); d) verificar a coerência do conjunto dos elementos relevantes e de toda a análise; e) identificar na coerência dos elementos relevantes o tipo de consciência (semi-intransitiva mágica, transitiva ingênua e transitiva crítica) predominante no discurso do morador.

O processo compreendeu os seguintes passos:

1. Solicitamos às duas pessoas em separado (um homem e uma mulher) que definissem ao acaso os tipos de consciência dos 102 moradores da amostra. Guardamos os resultados em um envelope.

2. Por outro lado, os analistas leram as transcrições e escutaram as fitas, com a finalidade de revisar os dados para garantir a clareza, suficiência e qualidade deles.

3. Verificada a eficácia do trabalho das entrevistadoras, o analista A e depois o analista B, em separado, realizaram a análise dos discursos dos moradores, com a finalidade

a) Ler as transcrições das entrevistas e registrar os elementos relevantes do discurso na Ficha de Análise da Entrevista. Depois, escutar a fita, realizando novamente registros na ficha mencionada. Tomar como referência as três

dimensões consideradas (leitura do mundo, auto-análise e

abstração/generalização) e os seguintes elementos de análise: relação entrevistadora-morador(a), sua compreensão das perguntas feitas pelo entrevistador, construção e tipos de frases do entrevistador e do entrevistado, universo vocabular do morador, interpretação dos fatos, elementos nucleares do discurso, tipos de exemplos ou relações que o morador faz para esclarecer suas idéias, sua lógica e fluxo de pensamento, objetividade do discurso, pausas diante das perguntas e tom da voz.

b. Analisar e integrar os registros feitos (PIC – plano de integração dos componentes) e estabelecer, a partir daí, o tipo de consciência pessoal predominante no discurso analisado (semi-intransitivo mágico e transitivo ingênuo ou crítico);

4. Com os resultados dos dois analistas, preenchemos o Quadro de Comparação dos Resultados, inclusive com os resultados obtidos ao acaso. Vejamos a convergência:

Comparação entre os resultados dos analistas e os do acaso Analistas e Acaso % de Convergência

Analistas A e B 79,4 Acaso 1 e 2 33,3 A - 1 33,3 A - 2 38,2 B - 1 37,2 B - 2 39,2

Para verificar a validade dos resultados da análise dos discursos dos moradores, analisamos as coincidências entre a classificação do Analista A e a do Analista B (79,4%). Para isso, aplicamos um teste binominal, onde a hipótese básica era de que a probabilidade de classificações semelhantes deve ser de 1/3, pois temos três possíveis classificações. Testamos a hipótese da não harmonia na classificação. Para isso utilizamos como probabilidade de coincidência (0) o valor de 1/3. Também analisamos, por intermédio de uma distribuição binominal, a possibilidade de verificar 81 coincidências em 102 classificações.

Vistos os resultados, rejeitamos a hipótese de que seja de 1/3 a probabilidade de coincidência entre o Analista A e o Analista B na classificação dos tipos de consciência dos moradores entrevistados. Por tanto, existe uma harmonia na classificação (convergência significativa), muito superior à proporcionada pelo acaso.

5. Terminada a análise de convergência, os dois analistas buscaram definir um único resultado para os resultados divergentes (negociação e busca de consenso em 21/102 discursos);

Realizamos primeiramente a análise descritiva das variáveis, para que pudéssemos conhecer os grupos estudados. A análise se realizou por meio de tabelas e gráficos. Depois, comparamos cada uma das variáveis estruturais e das variáveis de participação com os tipos de consciência; em um terceiro momento, comparamos as variáveis estruturais com o ato de participar ou não de atividades comunitárias - AC e, finalmente, relacionamos, mediante a regressão logística, a consciência pessoal com o grupo das variáveis que apresentam, na análise bi-variante, uma relação significativa com ela (ato de participar ou não de AC, escolaridade e ocupação laboral). Pretendíamos verificar o impacto de cada uma das variáveis mencionadas, tomadas em conjunto sobre a consciência.

Tabela 1

Classe de idade Freqüência % % Acumulado

18 a 21 anos 10 9,8% 9,8% 22 a 25 anos 7 6,9% 16,7% 26 a 29 anos 11 10,8% 27,5% 30 a 33 anos 20 19,6% 47,1% 34 a 37 anos 10 9,8% 56,9% 38 a 41 anos 11 10,8% 67,6% 42 a 45 anos 5 4,9% 72,5% 46 a 49 anos 7 6,9% 79,4% 50 a 53 anos 8 7,8% 87,3% 54 a 57 anos 9 8,8% 96,1% 58 a 60 anos 4 3,9% 100% Total 102 100% ---

Idade média: 37 anos Desvio padrão: 11,70 anos

Gráfico 1

Os dados mostram uma média de idade baixa se a comparamos com a média na Europa. Porém, com relação à expectativa de vida da população do Nordeste, inclusive no Ceará, 56 anos, essa média corresponde à situação real. Em nossa terra, inclusive Caucaia, os estratos de idade constituem uma pirâmide onde a porcentagem de pessoas diminui claramente a partir dos 40 anos (Caucaia – 1 a 39 anos = 82% da população) e somente poucos (Ceará – 5,4 %; Caucaia 3,54%) chegam a ter mais de 65 anos de idade (IBGE, 1997). Se nos detemos somente nos dados da zona rural a situação é pior.

Por isto, e mais ainda, pela média de filhos (2,5), nossa população se caracteriza por ser jovem. Porém, os últimos dados da população já mostram que há uma tendência ao aumento da expectativa de vida, principalmente nas cidades maiores e mais ricas, e certamente aumentará a expectativa de vida de toda a população do país. Entretanto, a

0 5 10 15 20 18 a 21 22 a 25 26 a 29 30 a 33 34 a 37 38 a 41 42 a 45 46 a 49 50 a 53 54 a 57 58 a 60 idade (em anos)

2. Gênero

Tabela 2

Gênero Freqüência Porcentagem

Masculino 53 52%

Feminino 49 48%

Total 102 100%

Gráfico 2

O gênero constitui um dos estratos da mostra. As porcentagens de homem e mulher da mostra foram pré-estabelecidas a partir da identificação da população de Matões realizada anteriormente. As porcentagens mencionadas correspondem às da população de Matões (H-52% e M-48%) e se aproximam das da população do distrito de Guararu (H- 53% e M-47%). Estas são populações eminentemente rurais.

A amostra, também, coincide com as porcentagens da população rural de Caucaia (H-52% e M-48%, num total 20.411 pessoas).

O município é predominante urbano (90% da população de 209.150 habitantes) e possui uma população maior de mulheres (51%). Por outro lado, um dado que nos chama a atenção é a escassa presença das mulheres no meio rural, o qual pode ser explicado pelo fato de que elas migram mais que os homens à sede do município, em busca de trabalho nas casas e de mais estudo, ficando os filhos homens, em geral, na zona rural para cuidar da pequena agricultura de subsistência, geralmente “em regime de meia com o proprietário da terra”. Os homens migram mais para as grandes cidades, próximas como Fortaleza, ou distantes como a cidade de São Paulo.

Masculino 52%

Feminino 48%

Escolaridade Freqüência Porcentagem Analfabeto 21 20,6% 1o grau menor 38 37,2% 1o grau maior 27 26,5% 2o grau 16 15,7% Total 102 100% Gráfico 3

Não há dados de nível superior porque não existem, nessa zona rural, estudantes universitários. Em geral a escolaridade é muito baixa, assim como é alta a porcentagem de analfabetos. Os dados confirmam a baixa escolaridade de Matões (predomínio do Ensino Fundamental 1) e o nível alto de analfabetos. Isso se explica devido a que as pessoas necessitam trabalhar desde pouca idade (crianças e jovens). Além disso, as escolas são poucas e as existentes são de Ensino Fundamental 1.

Para cursar o Ensino Fundamental 2 ou o Ensino Médio, as pessoas necessitam deslocar-se à sede do Distrito ou, em alguns casos, ir à sede do Município. Por outro lado, na zona rural, o nível de aspiração à escolarização se limita ao Ensino Fundamental 1. A grande maioria abandona os estudos para trabalhar, é imperiosa a necessidade de sobrevivência. Em Matões, como em toda zona rural do Nordeste, a sobrevivência não inclui a escolarização como algo tão importante. È comum prefeituras não cumprirem o que determina a Constituição Brasileira sobre o orçamento que devem adotar para a educação.

4. Estado Civil

Tabela 4

Estado civil Freqüência Porcentagem

Solteiro 17 16,7% Casado 75 73,5% Separado 7 6,9% Viúvo 3 2,9% Total 102 100% 2º grau 15,7% 1º grau maior 26,5% Analfabeto 20,6% 1º grau menor 37,2%

Há uma forte concentração de pessoas casadas, o que pode ser explicado, em parte, por uma exigência social de “formar família” muito cedo. A porcentagem de separados não é elevada, pois existe uma pressão social e econômica muito grande para que os casados não se divorciem.

A diferença entre porcentagem de solteiros e a de casados é acentuada. O que é evidente é que o solteiro, por ter mais autonomia, busca outros lugares para trabalhar ou estudar, seja na sede do Município de Caucaia ou fora dali, principalmente em Fortaleza. Fato que não se passa com os casados, salvo durante os graves períodos de seca.

Com relação ao baixo nível de viúvos, é possível que uma das razões seja a baixa expectativa de vida (menos de 56 anos) da região, além da baixa porcentagem de pessoas idosas com 65 anos, apenas 3,54 da população.

5. Ocupação Laboral

Tabela 5

Ocupação Freqüência Porcentagem

Dona-de-casa 28 27,5% Agricultor 26 25,5% Professor(a) 12 11,8% Serviços gerais 9 8,8% Construção civil 13 12,7% Comércio 14 13,7% Total 102 100% Viúvo 2,9% Separado 6,9% Solteiro 16,7% Casado 73,5%

Os dados confirmam as principais ocupações na zona rural – donas-de-casa e agricultores que, em geral, são analfabetos. As porcentagens revelam claramente a divisão de trabalho entre homens e mulheres na zona rural de Matões. A seguir, vêm aquelas ocupações relacionadas com o pequeno comércio de alimentos e as professoras de escolas rurais, que em geral têm apenas o Ensino Fundamental menor incompleto.

Há um dado que chama a atenção por ser novidade, porém é facilmente explicável. A porcentagem de ocupação na construção civil é elevada com relação ao que era antes, pois na zona rural há pouca construção, inclusive pequenas. Neste caso, se justifica pelo fato de que existe uma demanda considerável de mão-de-obra para a construção civil, como conseqüência da obra do complexo portuário e industrial do Pecém, no litoral bem próximo a Matões. Aqui é necessário ler e escrever.

Devido à difícil situação da agricultura em nossa terra, inclusive em Matões, e do emprego em geral, é possível que muitos dos agricultores que sabem ler e escrever decidam trabalhar na construção civil, assim como os de outras ocupações que não de agricultor, já que é algo mais seguro (salário mensal), melhor pago e oferece certas possibilidades de progresso na profissão e no emprego.

Com relação aos serviços gerais, a porcentagem corresponde ao nível habitual. São pequenas tarefas de vigilância e limpeza das escolas rurais, de preparação da merenda nas escolas e creches comunitárias, e de manutenção das pequenas estradas de terra. Para esses serviços é necessário minimamente ler e escrever.

6. Participação em ACs

Tabela 6

Participação Freqüência Porcentagem

Participa 51 50% Não participa 51 50% Total 102 100% Construção civil 12,7% Comércio 13,7% Serviços gerais 8,8% Professor(a) 1,8% Dona-de-casa 27,5% Agricultor 25,5%

Por constituir um agrupamento chave na pesquisa, buscamos previamente identificar as porcentagens de participação e de não participação em atividades comunitárias. Estas foram estabelecidas a partir da avaliação feita por assistentes sociais da Prefeitura de Caucaia, conjuntamente com os dois principais líderes comunitários da população estudada.

O grau de participação em atividades comunitárias varia de um lugar a outro, ou seja, encontramos lugares com muito pouca participação, passando por lugares com equivalência entre participação e não participação, como é o nosso caso.

A participação social implica em que a pessoa influenciada pelas condições e situações histórico-sociais que em geral lhe afetam materialmente e/ou existencialmente, decide participar de atividades socialmente significativas no lugar em que vivem.

7. Tipo de AC

Tabela 7

Tipo de Atividade Freqüência Porcentagem

Ócio/Ajuda funcional 17 33,3% Cooperação/produção 20 39,2% Política 14 27,5% Total 51 100% Sim 50% Não 50%

As atividades comunitárias em que os moradores entrevistados participam estão agrupadas em três categorias (lazer/ajuda funcional, cooperação/produção e política). A primeira categoria inclui as atividades de organização de festas importantes da comunidade, torneios esportivos, bailes comemorativos, passeios, visitas aos doentes, ajuda aos mais necessitados, coletas de roupas, medicamentos e alimentos, leitura em grupo da Bíblia, preparação das crianças para a primeira Eucaristia e sua alfabetização. A segunda compreende atividades econômicas, de produção em grupo ou em cooperativas comunitárias, tais como casa de farinha, fábrica de doce, horta comunitária, preparação da terra para o cultivo e colheita, venda de produtos agrícolas e outros. A terceira inclui as atividades de coordenação de associações comunitárias e de reuniões, comissões de mobilização e reivindicação, luta pela terra e negociação de projetos comunitários com o prefeito ou com agentes do Governo do Estado.

Os dados revelam a prioridade que tem a atividade produtiva sobre as restantes, enquanto a assistencial prevalece sobre a política.

De fato, a preocupação principal dos moradores é gerar renda imediata, já que a pobreza em Matões é muito grande, enquanto a atividade política se encontra em um segundo plano, possivelmente porque é uma atividade que não atende às necessidades imediatas dos moradores. Esta está dirigida a organizar os moradores na busca de soluções para seus problemas a médio e longo prazos, portanto, requer um tempo de maior dedicação ao coletivo, cujo retorno muitas vezes não existe, inclusive o econômico.

8. Tempo de Participação em ACs (em anos)

Tabela 8

Tempo em anos Freqüência Porcentagem % Acumulado

1 a 4 21 41,2% 41,2% 5 a 8 10 19,6% 60,8% 9 a 12 12 23,5% 84,3% 13 a 16 2 3,9% 88,2% 17 a 20 2 3,9% 92,2% 21 a 24 1 2,0% 94,1% 25 1 2,0% 96,1% Política 27,5% Ócio/ajuda funcional 33,3% Cooperação/ produção 39,2%

Tempo médio: 8 anos Desvio padrão: 7,38 años

Gráfico 8

Os dados mostram que a participação em atividades comunitárias diminui ao longo do tempo e que o tempo médio de permanência dos moradores em atividades comunitárias é de oito anos (60,8% da amostra). Uma porcentagem muito baixa, se considerarmos as enormes carências da comunidade e a importância que tem o desenvolvimento comunitário para a metade dos moradores. Chama a atenção, também, a grande diferença de porcentagem do primeiro intervalo (um a quatro anos) dos outros intervalos, bem como a queda brusca da participação a partir dos 13 anos.

Aqui, observamos que os moradores se dedicam às atividades comunitárias apenas por um certo período. Ao longo do tempo, a tensão entre o individual e o coletivo, além de outros fatores como a frustração e a “falta de tempo”, levam o morador a se afastar das atividades comunitárias, para dedicar-se somente a uma atividade que atenda a seus próprios interesses e necessidades pessoais e familiares.

No caso de Matões, isso não se dá de modo progressivo, mas o grau de participação diminui consideravelmente depois de quatro anos de participação, tendo outra queda importante depois de 12 anos de participação. É possível que as atividades comunitárias na área sejam causa de muita tensão, conflito e frustração, levando assim a muitos dos moradores afastar-se bruscamente delas em tão pouco tempo.

9. Freqüência mensal de participação em ACs (em dias)

Tabela 9

Tempo (dias) Freqüência Porcentagem % Acumulado

1 a 4 14 27,5 27,5 5 a 8 6 11,8 39,2 9 a 12 6 11,8 51,0 13 a 16 1 2,0 52,9 17 a 20 4 7,8 60,8 21 a 24 2 3,9 64,7 0 5 10 15 20 1 a 4 5 a 8 9 a 12 13 a 16 17 a 20 21 a 24 te mpo(e m anos)

Freqüência média: 16 dias Desvio padrão: 11,51 dias Gráfico 9

Os quadros mostram três situações distintas, uma de baixa disponibilidade para participar, outra que reflete uma variação na disponibilidade e uma terceira que apresenta grande disponibilidade para a participação.

A freqüência média é de 16 dias, porém se tirarmos o último grupo (30 dias) da amostra, o tempo de participação cai para uma média próxima a cinco ou seis dias.

Quando a atividade comunitária implica, também, a própria ocupação laboral do morador (ex. associação agrícola ou um grupo de produção artesanal), este tende a permanecer mais tempo, inclusive todos os dias do mês participando de sua realização. Quando não, permanece menos tempo, o qual pode variar em função da disponibilidade de tempo, do sentido que atribui à atividade e do compromisso com a comunidade entre outros fatores.

Em geral, quando a atividade comunitária não se relaciona diretamente com a ocupação laboral do morador, mesmo sendo uma atividade produtiva, a freqüência mensal da participação na zona rural é de cinco dias, ou seja, quatro dias para fins-de-semana e um dia a ser utilizado durante a semana.

10. Papel que exerce nas ACs

Tabela 10

Papel que exerce na atividade Freqüência Porcentagem

Somente participa de reuniões 7 13,7% Participa de reuniões e executa 20 39,2% Membro de coordenação de atividade 17 33,3%

Coordenador geral 7 13,7% Total 51 100% 0 3 6 9 12 15 1 a 4 5 a 8 9 a 12 13 a 16 17 a 20 21 a 24 tempo(em dias)

A atividade comunitária se realiza mediante papéis que os participantes assumem em função do grau de interesse, necessidade, compreensão da importância da atividade comunitária ou por serem escolhidos por outros participantes, e outros fatores.

Como temos visto, o mais freqüente é o papel de participante ativo (ação-reflexão), quer dizer, aquele que participa das reuniões e da execução da ação decidida pelo grupo ou o coletivo. Em seguida, vem o papel de membro de coordenação, que são aqueles que participam de uma coordenação de tarefa. Por último, temos o papel dos que são eleitos por seus pares para ser o coordenador geral (líder) e o papel dos que somente participam das reuniões e não da execução das decisões coletivas. Daí resultam três papéis: coordenador geral de toda a atividade; somente participa das reuniões; participa das reuniões e executa as decisões (inclui o papel de membro de coordenação colegiada da tarefa). No primeiro papel estão, principalmente, os líderes comunitários.

Aqui, a participação ativa (participa de reuniões e executa, membro de coordenação colegiada de tarefa e coordenador geral de toda a atividade) é evidente nas atividades comunitárias de Matões. Os moradores que somente vão às reuniões, sem comprometer-se com a execução, estão em minoria. O principal é que os moradores de Matões, ao participar em atividades comunitárias, assumem o compromisso de assistir às reuniões e de participar na execução das decisões tomadas pelo coletivo (ação-reflexão).

11. Modo de Participar em ACs

Tabela 11

Modo de participar Freqüência Porcentagem

Calado 12 23,5 Perguntando pouco 9 17,6 Só debatendo 5 9,8 Debatendo e propondo 25 49,1 Total 51 100% Coordenador geral 13,7% Membro de coordenação 33,3% Somente participa 13,7% Participa e executa 39,2%

Nos quadros anteriores, vemos como os moradores participam das atividades comunitárias mediante o debate e propostas de ação. O mais evidente é o compromisso que eles têm com o diálogo-problematizador, no qual a palavra circula e o intercâmbio de idéias se constitui como o eixo da prática comunitária (49,1%). Assim mesmo, temos de considerar que as porcentagens de moradores que participam calados (sem debater) e dos que perguntam pouco sobre a atividade comunitária são até certo ponto elevadas (23,5% +17,6% = 41,1%). Algo que reflete uma situação de dependência, comum na zona rural.

Se agruparmos o modo de participar em dois grupos básicos (calado/perguntando pouco; só debatendo/debatendo e atuando), temos as respectivas porcentagens 41,1% e 58,9%, isoto é, continua predominando o diálogo-ação, porém a passividade e a pouca contribuição são aspectos que também devem ser considerados.

Os dados mostram o que de fato ocorre na participação comunitária em Matões, ou seja, uma parte dos participantes contribuindo bastante na definição e realização da atividade e outra esperando passivamente que lhe expliquem a atividade, sem dar algo de seu, tal como perguntas, idéias, sugestões, para que a atividade comunitária possa ser bem pensada e realizada.

12. Tipo de Consciência Tabela 12

Tipo de consciência Freqüência Porcentagem

Mágico 45 44,1 Ingênuo 49 48,1 Crítico 8 7,8 Total 102 100% propondo 49,1% Debatendo 9,8% Calado 23,5% Perguntando pouco 17,6%

Podemos observar no gráfico 12 que a consciência crítica se apresenta muito baixa com relação às outras. Há mais consciência mágica e consciência ingênua, e entre estas duas a diferença é muito pouca.

A consciência semi-intransitiva mágica e a consciência transitiva ingênua são predominantes entre os moradores de Matões. Compreende-se aqui a presença da consciência semi-intransitiva mágica pela existência de condições histórico-culturais de miséria, fome, analfabetismo, desemprego, desesperança, paternalismo e coronelismo. Por outro lado, a presença da consciência transitiva (ingênua e crítica) ocorre devido ao pequeno desenvolvimento da atividade econômica na região, à escolarização básica e à existência de práticas sociais e comunitárias estimuladas, algumas pela Prefeitura e outras pela Igreja e por movimentos sociais.

Não obstante, temos de ver a presença da consciência transitiva (mais ingênua e muito pouca crítica) como um indicador de que a consciência pessoal e o meio rural estão mudando, pois a transitividade denota a existência de um maior fluxo entre o morador e seu mundo, quer dizer, maior interação social, trabalho, escolarização, participação social, intercâmbio, diálogo, problematização da realidade em grupo, reflexão e contrastes de idéias. Ainda falta muito para que a consciência transitiva crítica predomine entre os moradores, como se observa nos resultados.

b. Relação da consciência com as demais variáveis

13. Consciência x Idade

Tabela 13

Tipo de Consciência Idade média Desvio Padrão