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ATIVIDADE COMUNITÁRIA E PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

4. CONSCIÊNCIA PESSOAL

6.2. COLETA DE DADOS

Escolhemos a entrevista dirigida ou orientada por adequar-se tanto ao desenho metodológico como ao que pretendemos estudar. Resolvemos estruturá-la de um modo que permitiu a coleta de dados a respeito de determinadas características da atividade comunitária de determinada área rural e dos tipos de consciência pessoal de seus moradores, os quais são analfabetos ou têm escolaridade que vai até o segundo grau.

Com relação ao procedimento de coleta de dados, buscamos estruturá-lo do modo mais adequado e eficiente no sentido de atender aos objetivos da pesquisa, às exigências próprias da entrevista dirigida e da amostra.

6.2.1. Entrevista Dirigida

Tipo de entrevista formada por perguntas utilizadas para coletar dados relativos a aspectos previamente determinados. Segundo Richardson (1985), as perguntas dependem do entrevistador e o entrevistado tem a liberdade de expressar-se como quiser, orientado

(considerar na conversação: modo de vida, história, relações entre as pessoas, suas necessidades e festas). É importante que as perguntas sejam diretas, claras e que não induzam o entrevistado a uma resposta. Em vez de fazer a pergunta: “Sua comunidade não poderia ser melhor?”, fazer assim: “Como você vê a sua comunidade?” Outro aspecto a considerar é a seqüência das perguntas, que vai da mais simples a mais complexa ou íntima. A entrevista orientada que adotamos compreende uma parte de perguntas e respostas curtas e outra de perguntas de partida que orientam uma conversação. A primeira parte compreende: a) identificação; b) variáveis estruturais; c) variáveis de participação; a segunda, de conversação, abrange os tipos de consciência.

. Variáveis estruturais: idade, gênero, escolaridade, estado civil, ocupação laboral,

participação ou não em atividades comunitárias. Foram escolhidas por compor um leque de informações importantes acerca da relação entre atividade comunitária e consciência pessoal. Idade, gênero, escolaridade, estado civil e ocupação laboral são variáveis estruturais clássicas, presentes em grande parte das pesquisas com sujeitos adultos. A variável “participação” é importante em nossa pesquisa por delimitar os dois campos básicos das práticas dos moradores e sua relação com a consciência pessoal.

. Variáveis de participação: envolvem aspectos da atividade comunitária,

importantes para a análise. Entre eles, estabelecemos os seguintes: tempo (em anos) de participação; tipo de atividade comunitária em que participa; freqüência (mensal) da participação; papel que exerce na atividade comunitária (apenas como participante de reuniões; participante das reuniões e da execução das decisões do grupo; membro de coordenação de tarefa; coordenador da atividade comunitária); e modo de participar da atividade comunitária (participa calado; pergunta pouco só para se esclarecer do tema; debate as idéias em discussão; debate as idéias e propõe medidas de ação).

. Tipos de Consciência: a análise do discurso do morador permite situá-lo quanto ao

seu tipo de consciência, mediante o sentido (significado pessoal) que êle atribui às categorias da consciência consideradas no estudo: a) leitura do mundo (com relação à atividade comunitária, à vida da comunidade e a situações sociais e tecnológicas); b) auto- análise (como me percebo e o que quero mudar em mim); c) abstração/generalização. Para constituir essas categorias de análise da consciência, retiramos de Freire (1994a, 1983) a categoria “leitura do mundo” e de Luria (1987, 1990) as categorias “auto-análise” e “abstração/generalização”.

a) Leitura do mundo: é a compreensão que o morador tem da realidade em que vive. Esta se objetiva no ato de o indivíduo explicar e expressar-se no mundo (FREIRE,1994). Significa o entendimento que o morador tem das atividades comunitárias de sua comunidade, da vida de sua comunidade e de algumas situações sociais e tecnológicas (o por quê da existência de ricos e pobres no Brasil; o que significa uma “pessoa de boa família”; e o que pensa o morador sobre o homem/mulher viajar pelo céu, para a lua, enviar foguete a Marte e a outros lugares do universo). Significa, também, as explicações que dá acerca de

b) Auto-análise: é a capacidade do morador de conectar-se com seu mundo interior, isolando características psicológicas em si mesmo. Segundo Luria (1990, 1993), significa saber se “nossos sujeitos eram capazes de conduzir sua própria vida interior de forma geral, (..), de analisar seu mundo interior e de avaliar suas qualidades intrínsecas”. Centra-se em como o morador percebe seu próprio mundo interno e o que ele gostaria de mudar em si mesmo.

c) Abstração/generalização: é a propriedade da consciência que permite ao indivíduo classificar objetos segundo suas características essenciais; implica um pensamento verbal e lógico para selecionar e classificar atributos dos objetos em categorias adequadas. Por outro lado, quando os indivíduos não separam os objetos por categorias lógicas, estamos diante de outro tipo de pensamento, que se baseia nas necessidades concretas do cotidiano da pessoa. Para Luria (1990, 1987), a categorização de objetos pelos sujeitos adultos difere segundo o tipo predominante de atividade da sociedade (tarefas mais teóricas ou mais práticas) e o grau de escolarização do sujeito. A categorização vai de um tipo mais gráfico-funcional, que é situacional e está ligado às necessidades e atividades concretas do dia-a-dia, a um tipo categorial no qual predomina o pensamento abstrato. Nesta categoria estudada, buscamos levar o morador entrevistado a reagir a cada uma das cinco séries compostas por quatro figuras cada uma e os nomes correspondentes. Solicita-se que escolha três figuras mais semelhantes das quatro apresentadas a ele, ou seja, que tenham mais características comuns entre elas; que explique o por que dessa escolha e que atribua um nome para esse grupo das três figuras escolhidas por ele. Para as outras séries de figuras adota-se o mesmo procedimento.

Vejamos as séries:

Série 1

vaso pote mesa garrafa

Série 2

Sandalia bolsa cabelo chapéu

Série 4

martelo madeira serrote machado

Série 5

árvore flor banana pássaro

6.2.2. Realização da entrevista

As entrevistadoras foram ambientadas na área pelos líderes comunitários que nos apoiavam desde o início dos trabalhos de identificação dos moradores de Matões; assim se ambientaram, conheceram a população e puderam conviver mais de perto com os moradores.

O calendário de visitas de cada entrevistadora foi organizado a partir da negociação com os líderes comunitários e moradores com relação aos dias e horários mais adequados, para que os indivíduos pudessem ser entrevistados mais tranqüilamente, sem interrupções ou pressa.

O apoio dos líderes comunitários, especialmente o líder de nome Acário, foi fundamental para que as entrevistadoras tivessem êxito nessa tarefa, pois os moradores moram dispersos, muitas vezes longe um dos outros, em locais de difícil acesso. Em compensação, sempre foram hospitaleiros.

Para preservar a tranqüilidade dos moradores, as entrevistas foram realizadas em suas casas, evitando as interrupções e os ruídos. Muitas vezes contaram com a presença de familiares e vizinhos, os quais, em silêncio, davam apoio ao entrevistado.

Cada entrevistadora foi apresentada a seu primeiro entrevistado pelo Sr. Acário; logo a pessoa entrevistada apresentava a entrevistadora ao próximo morador a ser entrevistado, e assim sucessivamente até o último. Quando um morador entrevistado não conhecia bem o seguinte, a entrevistadora perguntava a ele se sabia de alguém que conhecia o próximo entrevistado.

comunitário). A cada morador entrevistado foi explicado o motivo da entrevista, o por que e como tinha sido escolhido para participar da entrevista. Explicava-se a ele o caráter anônimo e confidencial da entrevista.