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Análise dos efeitos do SAREM na gestão das escolas e no trabalho do professor

ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E EQUIPAMENTOS

4.2 Análise dos efeitos do SAREM na gestão das escolas e no trabalho do professor

A caracterização das escolas apresentada na seção anterior a partir de dados levantados nos PPPs e na plataforma do INEP de acordo com a metodologia de tratamento de dados do Censo Escolar da Prova Brasil, realizado em 2013, trouxe à discussão fatores que podem contribuir para o reconhecimento da realidade de cada unidade escolar analisada.

Tendo em vista os objetivos específicos desta pesquisa, buscaremos compreender as implicações do SAREM na gestão e no trabalho do professor através da análise dos PPPs, da entrevista realizada com o Diretor de gestão escolar e dos questionários realizados com os diretores e professores.

A princípio julgamos necessário conhecer o histórico dos resultados apresentados pela Escola A e pela Escola B no SAREM em todas as edições. Esses dados estão apresentados no gráfico a seguir:

Fonte: Elaborado pela autora com base nos documentos da SME referentes ao SAREM em todas as edições

Gráfico 2 - Gráfico comparado dos resultados das escolas em todas as edições do SAREM

Os dados do gráfico podem ser sintetizados da seguinte maneira:

1. Os resultados das escolas em todas as edições apresentam oscilações similares. Essa similaridade ocorre também em relação aos resultados observados entre as escolas e a média apresentada pelo sistema de ensino municipal.

2. A Escola A apresenta, em praticamente todas as edições da avaliação, resultados superiores à média do sistema municipal de ensino.

3. A Escola B apresenta, em praticamente todas as edições da avaliação, resultados abaixo da média do sistema de municipal de ensino.

Esses dados são bastante conclusivos a respeito do direcionamento das ações empreendidas pela SME de Marília, sobretudo, pela similaridade dos resultados. Mais do que uma questão pedagógica, os dados apontam para uma questão política. A similaridade dos resultados indica que a SME direciona as ações para as escolas de maneira homogênea.

Podemos constatar que a visão da gestão do sistema é sistêmica. Isto que dizer que a SME não direciona políticas específicas para as necessidades de cada unidade escolar, haja vista que a Escola B sempre apresenta resultados aquém da média do sistema. As escolas melhoram ou pioram seus indicadores na mesma proporção.

Outro fator que corrobora essa percepção de homogeneidade no sistema é o fato de a SME elaborar uma média que é utilizada como parâmetro de análise para as escolas. Na entrevista realizada com o Diretor de gestão escolar, o mesmo afirma que as escolas devem considerar a média do sistema na gestão de suas escolas.

Eu penso o seguinte sobre a medida: eu acho que é mais uma questão de conscientização e posicionamento. A minha escola está desta forma, qual a atitude que eu tomo daqui pra frente? É uma forma de clarificar, a coisa não estava legal nisso aqui, em relação à média da Secretaria, por exemplo, em Língua Portuguesa. O que eu tenho que fazer? Então existe um desequilíbrio para encontrar o caminho, mexe com a escola, coordenadores e professores. Qual atitude, a partir disso, no nosso resultado, temos que tomar para o ano seguinte ou imediatamente?

(DIRETOR DE GESTÃO ESCOLAR, 2014).

Conforme os resultados aparecerem, definimos a orientação. Se eu tenho três ou quatro escolas abaixo da média da Secretaria a equipe vai ter que ir lá e investir nisso (DIRETOR DE GESTÃO ESCOLAR, 2014).

O posicionamento do Diretor revela o quanto a gestão do sistema utiliza os resultados do SAREM no direcionamento da gestão das escolas e no trabalho do professor. Em outra passagem da entrevista, o Diretor afirma que as metas da escola devem ser pensadas a partir dos resultados do SAREM devendo incidir sobre as metas traçadas a serem traçadas no PPP.

As metas que eles traçam é pelo projeto pedagógico, por exemplo: se o SAREM apresentou pra eles que os alunos têm uma dificuldade de Língua Portuguesa, eles têm que considerar isso. A avaliação que nós damos são para traçar as metas para aquele ano, dentro do PPP, não pensando apenas na questão numérica (DIRETOR DE GESTÃO ESCOLAR, 2014).

O questionário aplicado às diretoras confirma a utilização dos resultados do SAREM na determinação de metas no projeto político-pedagógico. Quando questionadas se retomam os resultados do SAREM na proposição das metas e na elaboração dos conteúdos curriculares, a diretora da escola A afirma que "sim,

sempre” e que o SAREM auxilia sua prática “norteando e mostrando os pontos positivos e negativos da prática docente”. A diretora coloca que o SAREM “direciona a prática docente e a gestão participa disso” (DIRETORA DA ESCOLA A).

Confirmando essa afirmação, a diretora da Escola B, responde a mesma pergunta afirmativamente e acrescenta que estipula “metas com base nos resultados das avaliações internas e externas” e sobre o SAREM, complementa:

Ele sinaliza os avanços das crianças e as dificuldades que ainda precisam ser sanadas. Analisamos em equipe (professores e a equipe gestora) as questões, as prováveis causas das dificuldades apresentadas e traçamos novas metas e novos objetivos. Dessa forma, é um dos instrumentos que contribui com o direcionamento do trabalho (DIRETORA DA ESCOLA B).

A entrevista realizada com os professores confirma essa afirmação. Quando questionados sobre a influencia do SAREM na gestão da escola quanto a definição de metas e a proposição de projetos, 87,5% dos professores percebem o SAREM como indicador que subsidia a formulação do projeto político-pedagógico incidindo, principalmente, sobre a definição de metas.

Considerando ser esta uma pergunta bastante reveladora acerca dos objetivos da pesquisa, reproduzimos todas as respostas apresentadas pelos professores. Nas respostas fica evidente a preocupação dos professores em

atingir/manter metas estabelecidas e podemos inferir também que há uma cobrança externa na manutenção/melhoria dos resultados apresentados.

Quadro 9 - Posicionamento dos professores acerca da influência do SAREM na gestão das escolas municipais de Marília

Em sua opinião, o SAREM tem influenciado a gestão da escola na definição de metas e na proposição de projetos? Por quê? Como?

Nos projetos não, porém, na definição de metas sim, pois estabelecemos, queremos sempre manter um bom padrão nas notas, como nossa escola sempre vai bem, não queremos cair e batalhamos muito para isso (P2-ESCOLA A).

Sim, construindo nosso padrão pedagógico (P3-ESCOLA A).

Sim, porque após a análise dos resultados do Sarem, as decisões são tomadas de acordo com os resultados obtidos (P4-ESCOLA B).

Sim, porque essa análise de dados dos resultados do Sarem auxiliam na tomada de

decisão e apontam um “norte”. Desse modo, as atividades, projetos e metas são

direcionados com o mesmo propósito (P5-ESCOLA B).

Sim, pois temos o compromisso com nossa boa atuação na avaliação (P6-ESCOLA B). A gestão de modo isolado não, mas pessoalmente sempre espero superar as metas, então busco a cada ano melhorar metodologia, buscando atividades mais reflexivas ou aliar outros recursos para uma melhor aprendizagem (P7-ESCOLA B).

Tudo acrescenta, não podemos descartar. O que der para ser feito em benefício da melhoria do ensino devemos acolher e pensar sobre (P8-ESCOLA B).

Fonte: Elaborado pela autora tendo por base os questionários aplicados aos professores.

Os relatos dos professores confirmam que entre os propósitos da avaliação nos sistemas de ensino, estão os de fornecer resultados para a gestão da educação, a fim de subsidiar o aperfeiçoamento dos projetos políticos-pedagógicos das escolas.

Em análise documental esse fato foi confirmado. A seguir apresentamos recorte dos PPPs que trazem essa informação:

Quadro 10 - Objetivos e metas da escola A em função do SAREM