• Nenhum resultado encontrado

INVESTIMENTOS E ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL O desenvolvimento que se verifica nos dias de hoje e as novas exigências do mundo

7.3 Análise dos “Investimentos e estrutura do ensino”

É de competência do Ministério das Finanças dos PALOP o acompanhamento dos Planos Orçamentários Locais, ajustá-los mediante os limites propostos e submetê-los ao Parlamento, onde é aprovado o OGE – (Orçamento Geral do Estado) definitivo. Ademais, as diretrizes orçamentárias do Ministério das Finanças fazem uma análise detalhada da execução do orçamento em vigor (analisam e fixam os objetivos orçamentários para o ano econômico seguinte e definem critérios a serem utilizados no processo da elaboração do orçamento). No que concerne à evolução financeira educativa, tem havido melhorias ano após ano, mas, apesar dos esforços que têm sido envidados, ainda há um caminho longo a ser percorrido, uma vez que, na maioria das vezes, o orçamento estatal não é suficiente para atender demandas verificadas no ensino básico, havendo a necessidade de se recorrer a financiamentos externos. Este é realizado por doações com a finalidade de fortalecer programas em áreas específicas no sistema de ensino, devido às poucas possibilidades econômico-financeiras desses países. O fato acarreta vários problemas de gestão e a

incorreta aplicação dos recursos, tornando esses países agudamente vulneráveis.

Dessa forma, devido às doações, os governos ficam limitados demais para poderem fazer as suas próprias escolhas sobre o desenvolvimento e sobre os meios que devem ser utilizados para atender às necessidades mais urgentes desses países. Nesse contexto, as ações podem entra em conflito com a necessidade de uma educação voltada à difusão da cultura desses países, atentando-se para a condição humana e histórica.

Todavia, o ensino básico é o nível que mais se beneficia das despesas do Estado, uma vez que, neste nível, o ensino é obrigatório e gratuito, seu financiamento é quase garantido na totalidade pelo Estado, salvo por algumas contrapartidas realizadas pelas famílias e outras entidades. Contudo, acredita-se que o financiamento educacional deveria focar mais nos custos para o atendimento ao aluno, para que este possa receber um ensino de qualidade. A política orçamentária deve abrir novos horizontes para que se efetive a qualidade do ensino, uma vez que, para que se estabeleça o nível desejável, é necessário que os governos apliquem mais financiamento, seja em despesas correntes ou em despesas de capitais associados a políticas educativas efetivas, adequadas à realidade social de cada um dos países integrantes dos PALOP, de modo a alavancar o ensino.

A sustentabilidade do sistema educacional constitui um dos maiores desafios dos PALOP para promover a garantia do ensino básico para todos, combatendo o atraso científico que se enfrenta. Salienta-se que, para se estimar o nível compromisso de um determinado governo para com o Sistema Educacional de seu país, deve-se fazer a comparação das despesas com educação em relação ao PIB, como demonstra o gráfico a seguir.

Gráfico 12 -Financiamento da educação em relação ao PIB. Fonte: Unesco (2015). 0 2 4 6 8 10 12 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Angola Cabo Verde Guiné Bissau Moçambique Sao tomé

Verifica-se um aumento da alocação de verbas na educação em todos os PALOP, mas ele não é uniforme. Apresenta oscilações, tendo aumentado em determinado ano e diminuído em outro. Guiné-Bissau foi o país que apresentou menor investimento no setor educativo em relação ao PIB no ano de 1998. A percentagem destinada à educação correspondia a 1,35% PIB, passando para 2,36% em 2013, ou seja, aumentando aproximadamente 42,7% do valor inicial. O baixo investimento no setor educacional pode estar vinculado à situação político-social, uma vez que o país tem passado por conflitos armados, com períodos curtos de paz, desde a sua independência até 2012. São Tomé e Príncipe foi o país que apresentou maior despesa para o setor em relação ao PIB, em 2009 – apresentou um índice de 10,2% - seguido de Cabo Verde, com 8,5% em 2000; Moçambique, 6,72% em 2013, e Angola, 3,48% em 2010.

Todavia, não basta disponibilizar maiores recursos ao sistema educacional, sem que haja políticas a serem preconizadas de modo efetivo, de acordo com a realidade de cada país, a fim de se obterem os benefícios esperados. Muitas das políticas em vigor não satisfazem as demandas existentes, uma vez que, na maioria dos PALOP, as despesas correntes (mais de 85%) são destinadas aos salários de docentes, colocando em segundo plano os materiais didáticos, os custos financeiros para cada aluno, bem como as despesas capitais.

Passados 35 anos desde a independência política, os caminhos percorridos pelos cinco países mostram semelhanças e diferenças, mudanças e continuidades. Apesar do desenvolvimento em algumas áreas, muitas promessas ficaram por se cumprir, gerando esperanças frustradas de uma vida melhor para todos (SAMPAIO, 2013). Ademais, fatores como instabilidade política e social, aumento da pobreza, elevadas taxas de desemprego, reduzidos orçamentos e baixo desempenho dos governos quanto à Administração Pública continuam sendo considerados os principais obstáculos ao desenvolvimento dos PALOP (PNUD, 2008).

Quando se analisa o cenário educacional não só de um país, mas de todos, pode-se ter a ideia de como tem sido balizada a estrutura de ensino de um e de outro, quais políticas têm sido adotadas e suas repercussões no nível de ensino. Esse fato é importante, uma vez que a educação é e será sempre um tema fundamental para a melhoria das sociedades, visto que está interligada com a formação dos cidadãos e a transmissão de valores. De qualquer maneira, estas análises não têm como finalidade a importação de modelos ou copiar o que é feito em um país e implantar em outro. Serve, porém, para compreender as causas e os

determinantes implícitos e explícitos dos sistemas de ensino, de modo a considerar aspectos e dimensões que merecem a devida atenção.

O sistema educacional nos PALOP carece de inúmeras mudanças, tanto estruturais como funcionais, para melhorar sua qualidade. Os países devem seguir o exemplo das práticas que Cabo Verde tem implementado. O que se propôs não é copiar modelos, mas sim implementar alguns aspectos que garantem sucesso e que poderiam ser absorvidos pelo restante dos PALOP. Porém, os governos podem melhorar o sistema de ensino mediante a continuidade do fornecimento do ensino de modo obrigatório e gratuito. Além disso, podem-se evidenciar políticas de modo a fornecer subsídios para as famílias de baixa renda, a fim de condicionar a permanência das crianças nas escolas, sem que estas queiram trocá-la pelo trabalho infantil, em procura de renda. A seguir, observam-se alguns fatores que têm limitado o sistema de ensino nos PALOP.

Limitação no Orçamento Geral do Estado (OGE)

Degradação das Êxodo de docentes

infraestruturas qualificados

Falta de meios Retenção de

DidáticosMeninas para Tarefas domésticas

Baixa taxa de

aproveitamento escolar

Figura 7 - Fatores limitantes a qualidade do ensino

Fonte: Elaborado pelo autor (2015) adaptado a Liberato (2014).

O sistema educacional vem atravessando momentos marcados por avanços e retrocessos, condicionando o progresso regional e suas afirmações no cenário mundial.

Apesar dos avanços observados, foi possível perceber que existem ainda várias deficiências estruturais e funcionais no sistema de ensino, o que nos leva a perceber a dificuldade de aplicação das políticas educativas, o que afeta a qualidade do ensino. Há,

Limitações do sistema de ensino

por exemplo, dificuldades de contratação de professores com qualidade desejada para o exercício das suas funções, altas taxas de alunos/turma, carência de materiais didáticos, não cumprimento efetivo dos programas traçados e pouco financiamento disponibilizado, o que é observado na maioria dos PALOP.

Acredita-se que todas essas deficiências, associadas às diretrizes internacionais e ao contexto em questão, ocasionaram mudanças na agenda de governo nesses países. Nesse sentido, observa-se, a seguir, como as três categorias influenciaram na mudança de agenda nos PALOP.

Figura n. 8 – Influência das três categorias na formação da agenda Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

Após a independência, a educação foi considerada um problema público, devido às baixas taxas de escolaridade que se verificavam àquela altura, quando apenas 15% da população dos PALOP eram consideradas alfabetizadas, criando um quadro desfavorável no contexto social e econômico. De acordo com Kingdon (1995) os problemas podem ser evidenciados através dos indicadores de uma determinada realidade. Assim, a situação nada satisfatória chamou a atenção dos governantes, tendo como foco majoritário a universalização do ensino.

Com o passar dos anos, nas décadas de 1990 e 2000, devido à realidade educacional insatisfatória, as diretrizes internacionais sobre a “Educação para Todos” permitiram que se chamasse a atenção da sociedade e dos governantes, impulsionando mudanças na agenda política dos países. Como afirma Kingdon (1993), um determinado problema pode passar a fazer parte da agenda de políticas através do feedback das ações governamentais. Assim, por mais que o sistema educacional já fosse considerado um problema público pelos indicadores que se verificavam e através da própria construção social em torno da problemática, havia a necessidade de implementação de novos planos, para que se garantisse a contínua massificação do ensino.

Até então, os PALOP tinham ratificado planos e implementado outros novos. Como destaca Sechi (2013), quando determinado problema chama a atenção da sociedade e dos

Mu dan ças na age nda Diretrizesinternacionai s Investimentos e estruturade ensino Contexto

governantes, passando a fazer parte da agenda, ele transforma-se em um plano orçamentário ou estatuto partidário. Assim, por mais que novos planos tenham sido implementados, verificam-se ainda altas taxas de analfabetos e indivíduos fora do sistema de ensino.

Tomando-se como base o Modelo de Múltiplos Fluxos de Kingdon, os PALOP tinham uma conjuntura que permitia mudanças na agenda governamental, entre elas o contexto desfavorável, as diretrizes internacionais, as políticas e soluções, buscando a satisfação das necessidades básicas de ensino e aprendizagem para todos.

Todavia, quanto aos investimentos e à estrutura do sistema de ensino, os governos dos PALOP têm enfrentado vários sobressaltos, uma vez que o financiamento alocado para o sistema educativo não tem sido suficiente para responder às demandas, tanto em infraestruturas quanto em materiais didáticos. Assim, mudanças na agenda política ainda são necessárias, evidenciando que tais questões precisam ser objeto de atenção pública.