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INVESTIMENTOS E ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL O desenvolvimento que se verifica nos dias de hoje e as novas exigências do mundo

6.1 Gestão do Sistema Educacional nos PALOP

A educação pode ser vista como um processo organizado, funcional, sistemático e, ao mesmo tempo, complexo, dinâmico e evolutivo, quando busca responder a determinada demanda estrutural (LUK, 2009).

A gestão do sistema educativo está vinculada ao planejamento, à organização, à liderança, à orientação, à mediação, à coordenação, ao monitoramento e à avaliação dos processos de ensino e aprendizagem, para que se concretizem as ações educativas (LUK, 2009). Além disso, a gestão escolar consubstancia-se por meio da realização dos princípios, diretrizes e objetivos educativos direcionados à garantia do acesso e à qualidade de ensino, de forma a atender a toda a população de maneira igualitária, promovendo a construção do conhecimento, de modo que o educando posicione-se criticamente frente aos desafios de tornar-se um elemento atuante e transformador da realidade sociocultural e econômica vigente, e ainda dar continuidade aos estudos. Porém, para que se obtenha tal efeito, é imprescindível que a comunidade participe e conte com o apoio dos pais, dos educadores e das diversas organizações, de modo a efetivar as modalidades do sistema de ensino com rigor e com a qualidade necessária.

A gestão do sistema educacional angolano é atualmente balizada na Lei de Diretrizes e Bases (2001), e o seu art. 58 estabelece a delimitação e articulação de competências entre os diferentes níveis de administração e gestão. É de incumbência dos órgãos da Administração Central do Estado, como ocorre com os demais PALOP:3

a) conceber, definir, dirigir, coordenar, controlar e avaliar o sistema de educação; b) planificar e dirigir normativa e metodologicamente a atividade da investigação pedagógica (LEI DE BASES E DIRETRIZES DO SISTEMA EDUCATIVO DE ANGOLA, 2001, p. 43).

Nos governos provinciais, como em Angola, existem direções provinciais que atuam como serviços executivos diretos de âmbito local, assegurando a execução de atribuições e competências do governo da província mediante o Decreto Lei nº 17/1999, de 29 de outubro de 1999, que estabelece a organização dos governos provinciais e das administrações municipais e comunais, visando a descentralização do poder (GOVERNO DE ANGOLA, 2001).

3 Tem-se, a título de exemplo, Angola, para não se tornar repetitivo, uma vez que o fato

As Direções Provinciais de Educação e Cultura dependem da organização administrativa e funcional do Governo da Província e respondem por todas as questões em termos de execução relacionadas com o Ensino de Base do 1° e 2° níveis. A gestão dos estabelecimentos de Ensino de Base do 1° e 2° níveis é também de competência do Governo das Províncias (GOVERNO DE ANGOLA, 2001, p.64).

Nesse contexto, a gestão do sistema educacional no âmbito provincial depende das metas e ações elaboradas em nível central, sendo de responsabilidade local a sua aplicação. Há de se considerar que, conforme Oliveira et al (Sd) ressaltam, reside no Sistema Educacional a transformação que se espera dos países que foram submetidos a um sistema de governo autoritário, a começar pelas condições de participação:

A participação só será efetiva se os cidadãos, os agentes que compõem a comunidade escolar, conhecerem as leis que a regem, as políticas governamentais propostas para a educação, as concepções que norteiam essas políticas e, principalmente, se estiverem engajados na defesa de uma escola democrática, que tenha entre seus objetivos a construção de um projeto de transformação do sistema autoritário vigente (OLIVEIRA et al, Sd, p. 10).

Nesse contexto, o direito à participação cidadã, por mais que esteja contemplado nas Leis de Bases e Diretrizes dos PALOP, não vem sendo exercido, pois a população encontra-se às margens das ações que têm sido implementadas, uma vez que não se tem criado abertura para a efetivação da participação da sociedade, devido ao desprezo pelos direitos humanos que ainda se verificam nesses países (OLIVEIRA et al, Sd).

6.2 Angola

As despesas relacionadas com a educação são de responsabilidade majoritária do Estado, através do Ministério das Finanças, que concede o financiamento orçamentário anual.

“O financiamento da educação é garantido pelo Orçamento Geral do Estado, principal instrumento da política econômica e financeira do Estado Angolano para o setor educativo. O orçamento é destinado ao Ministério da Educação, que assume a natureza de Unidade Orçamental” (PAXE, 2014, p. 161).

Assim, o Orçamento Geral do Estado (OGE) é a principal fonte de financiamento do ensino público. O Ministério da Educação, além de outras funções que lhe competem, é ainda responsável por coordenar, gerir, distribuir e controlar os créditos orçamentários e os recursos financeiros destinados a todos os órgãos dependentes e/ou sob sua jurisdição (PAXE, 2014).

O modelo de financiamento da educação em Angola é centralizado, tendo o governo central a responsabilidade de gerar os fundos para o setor, além do dever de orientar a contratação e o pagamento do pessoal docente, bem como o controle dos fundos da educação (PAXE, 2014). A seguir, observa-se a evolução dos gastos em educação ao longo de aproximadamente 3 décadas.

Gráfico 1 - Financiamento em educação

Fonte: Ministério da Educação (2014) e UNESCO (2015)

O gráfico acima faz referência às despesas financeiras no setor educativo em relação ao orçamento da educação, em percentagem do Orçamento Geral do Estado (OGE) e em relação ao PIB. Pode-se constatar a existência de oscilações na alocação dos recursos. Quanto ao PIB, verifica-se que existe uma descida brusca nas décadas de 1980 e 1990. Tal fato pode estar relacionado à guerra civil que se desencadeou na década de 1990, afetando, dessa maneira, o PIB. O ano de 2004 apresentou o maior valor em relação ao percentual orçamental. Embora não se tenham buscado relações, acredita-se que isso pode estar relacionado ao Marco de Dakar, o qual permitiu que se fizesse uma reflexão sobre os investimentos que eram consentidos para o sistema de ensino, como aconteceu com o acordo de paz alcançado em 2002 e a reforma educativa implementada em 2004, que permitiram a alocação de maior quantidade de recursos. Porém, esse valor diminuiu nos anos subsequentes, correspondendo a 3,82% do PIB em 2006, valor muito abaixo da média dos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). No entanto, o ano de 2004 foi de maior bonança (MED DE ANGOLA, 2014).