• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA ADAPTAÇÃO À LIBERDADE

3.1. O Problema de Investigação / Hipóteses

3.1.3. Análise dos questionários

Os itens do questionário (Anexo D) dividem-se em dois temas, do 1 ao 8 referem-se à análise da prevenção geral, considerada na hipótese 1 desta investigação. Os itens 9 ao 17, referem-se

à análise da prevenção especial, enquadrada na hipótese 2 deste estudo, como se verifica na figura 3.1 que ilustra os questionários nos formatos utilizados nos dois grupos.

Os gráficos de barras ilustram os resultados dos questionários obtidos pela análise efetuada através do SPSS e constam no Anexo H. Nos gráficos, as barras de cores verdes representam os resultados dos questionários do grupo experimental – verde mais escuro o condenado mais claro o técnico gestor do caso –, relativos aos condenados em período probatório de ALC, Figura 3.1 – Formulários do questionário aplicado aos grupos experimental e de controlo

Fonte: Anexo D

as barras azuis representam os resultados dos questionários do grupo de controlo – o azul mais escuro o condenado e o mais claro o técnico gestor do caso –, relativos aos condenados em período probatório de LC. O título do gráfico inclui a formulação e número do item do

67

questionário precedida de “P”. Os itens são iguais nos questionários dos dois grupos da amostra, no entanto, nos questionários do grupo experimental os itens são precedidos da frase “A execução da adaptação à liberdade condicional:” e nos questionários do grupo de controlo da frase “A execução da liberdade condicional:”.

No que concerne os itens 1 e 5, “favorece o processo de reinserção social” e “é indiferente ao processo de reinserção social” respetivamente, os gráficos evidenciam a existência de consonância nas respostas dos dois itens por ambos os grupos (Anexo H), 100% dos elementos concordam ou concordam totalmente no item 1 e 100% dos elementos discordam ou discordam totalmente no item 5, como se vê no gráfico 3.1 que se segue. Os resultados da análise dos itens 2, 3 e 7 são também idênticos (Anexo H), em ambos os grupos 100% dos elementos concordam ou concordam totalmente que os respetivos períodos probatórios “contribuem para a responsabilização pelas suas ações”, “facilitam a execução das regras/obrigações impostas na sentença” e “favorecem o cumprimento dos objetivos da sentença” como ilustra o gráfico 3.1.

Gráfico 3.1 – Resultados dos itens do questionário de análise da prevenção geral

Fonte: Anexo H (legenda: ct-concordo totalmente; c-concordo; dt-discordo totalmente; d-discordo)

Quanto aos resultados dos itens 4 e 6, regista-se menor consonância em ambos os grupos. Ainda que a maioria das respostas indiquem que concordam ou concordam totalmente que os respetivos períodos probatórios “impedem a prática de crime” e “impedem a reincidência”, 11% dos elementos, de ambos os grupos, discordam quanto ao item 4, e 18% dos elementos, discordam quanto ao item 6, mais do grupo de controlo que do grupo experimental (Anexo H).

0 5 10 15 20 25 30 35

Item 1 Item 5 Item 2 Item 3 Item 7 Item 4 Item 6

Prevenção geral

ALC-Condenado(ct+c) ALC-Técnico(ct+c) ALC-Condenado(dt+d) ALC-Técnico(dt+d) LC-Condenado(ct+c) LC-Técnico(ct+c) LC-Condenado(dt+d) LC-Técnico(dt+d)

68

Em síntese, o gráfico 3.1 resume os resultados dos itens do questionário, nos dois formatos, relativos à prevenção geral.

A análise do item 8, demonstra que o mesmo não se aplica no total de elementos de ambos os grupos, porque a nenhum dos condenados da amostra foi concedida liberdade condicional com regime de prova, que pressupõe a elaboração inicial de um “plano de reinserção social” e a respetiva monitorização durante o período probatório, como se confirmou através da pesquisa documental (sentenças constantes nos dossiês). A todos os condenados da amostra foi concedida liberdade condicional com regras de conduta, considerada no item 3, anteriormente analisado (Anexo H). Os itens 1 ao 8 são relativos aos pressupostos formais da sentença.

Relativamente aos itens referentes à análise da prevenção especial, os 9, 10 e 11 incidem no enquadramento familiar, os itens 12, 13, 14 e 15 relacionam-se com a autonomização e os itens 16 e 17 abordam os problemas aditivos que interferem no processo de reinserção social. Os resultados dos itens 9, 10 e 11, de acordo com o gráfico 3.2, demonstram quase total concordância dos grupos experimental e de controlo (Anexo H). No item 9, concordam ou concordam totalmente que o período probatório “favorece o relacionamento com os coabitantes”, especificamente 95% dos elementos, não se aplicando em 3% que vivem sózinhos e 2% dos elementos do grupo de controlo discordam, como evidencia o gráfico 3.2. O item 10 não se aplica em 23% dos elementos do grupo de controlo e em 30% dos elementos do grupo experimental, por não terem atualmente cônjuge/parceiro” (Anexo F). Em ambos os grupos verifica-se ligeira discrepância nas respostas do condenado e técnico, num condenado em que o item 10 não se aplica, porque os técnicos gestores de caso, não obtêm conhecimento no mesmo momento que os próprios, da existência ou inexistência da relação conjugal dos respetivos condenados (Anexo H). O item 11 não se aplica em 37% dos elementos do grupo de controlo e em 15% dos elementos do grupo experimental, por não terem filhos (Anexo F).

A análise dos itens 12 e 14 (Anexo H), evidência que os períodos probatórios de ALC e LC “favorece a capacidade de encontrar emprego” e “favorece a capacidade de manter o emprego” no grupo experimental, 85% e 83% dos elementos, respetivamente, concorda e concorda totalmente e 90% dos elementos do grupo de controlo, em ambos os itens, concorda e concorda totalmente, de acordo com o gráfico 3.2. Realça-se que 7% e 9% dos elementos do grupo experimental discordam nos itens 12 e 14, respetivamente, e apenas 3% dos elementos do grupo de controlo discordam em ambos os itens, como se verifica no gráfico 3.2. Os dois grupos registam que em 7% dos elementos os itens não se aplicam, por reforma, por desemprego de longa duração ou por desemprego sem procura ativa de emprego (Anexo F).

69

capacidade de manter a formação (assiduidade e aproveitamento) ” respetivamente, ilucidam que em 59% dos elementos do grupo experimental e em 93% dos elementos do grupo de controlo, os itens não se aplicam (Anexo H). Quanto aos restantes elementos, com exceção de 6% do grupo experimental que discorda em ambos os itens, os outros elementos de ambos os grupos concordam ou concordam totalmente, como regista o gráfico 3.2.

Gráfico 3.2 - Resultados dos itens do questionário de análise da prevenção especial

Fonte: Anexo H (legenda: ct-concordo totalmente; c-concordo; dt-discordo totalmente; d-discordo)

Os resultados dos itens 16 e 17, “favorece a adesão ao tratamento (doença aditiva) ” e “aumenta o compromisso com a prevenção da recaída” respetivamente, demonstram que em 48% dos elementos do grupo experimental e em 80% dos elementos do grupo de controlo os itens não se aplicam (Anexo H), por não registarem problemas aditivos (Anexo F). Dos condenados do grupo de controlo, 7% discordam em ambos os itens e os restantes elementos de ambos os grupos concorda ou concordam totalmente, de acordo com o gráfico 3.2. Assim, os resultados dos itens do questionário que analisam a prevenção especial, encontram-se sintetisados no gráfico 3.2.

Não se verificaram diferenças nos resultados obtidos nos dois grupos, ao nível dos itens relacionados com a prevenção geral (itens 1 a 7). Quanto aos itens relacionados com a prevenção especial que se referem aos pressupostos materiais da sentença, designadamente aos itens 12 e 14, os períodos probatórios de ALC e LC “favorece a capacidade de encontrar emprego” e “favorece a capacidade de manter o emprego”, respetivamente, e aos itens 13 e 15, os períodos probatórios de ALC e LC “favorece a capacidade de integrar formação” e “favorece

0 5 10 15 20 25 30 35

Item 9 Item 10 Item 11 Item 12 Item 14 Item 13 Item 15 Item 16 Item 17

Prevenção especial

ALC-Condenado(ct+c) ALC-Técnico(ct+c) ALC-Condenado(dt+d) ALC-Técnico(dt+d) LC-Condenado(ct+c) LC-Técnico(ct+c) LC-Condenado(dt+d) LC-Técnico(dt+d)

70

a capacidade de manter a formação (assiduidade e aproveitamento)”, respetivamente, verificam-se ligeiras diferenças entre os dois grupos.

No que respeita aos itens 12 e 14, a maioria dos condenados do grupo de controlo estão integrados em atividade laboral (Anexo F). O período probatório de LC está sujeito à intervenção da DGRSP, no entanto o controlo do quotidiano é indireto (faz-se habitualmente através da verificação de documentos) o que facilita a integração dos condenados em atividades laborais permitindo, ainda, a omissão da ligação ao sistema de justiça penal junto da entidade laboral. No grupo experimental, na maioria dos condenados da amostra os itens não se aplicam. Apesar de se inscreverem no serviço de emprego e efetuarem procura ativa de emprego, por ausência de autorização judicial para o efeito e/ou por rejeição das entidades laborais quando tomam conhecimento da ligação ao sistema de justiça penal, os condenados não integram atividade laboral (Anexo F). Não obstante, os resutados dos questionários não o demonstram, verificando-se a concordância de elevado número de condenados do grupo experimental. Ainda assim, a maior percentagem de discordância verifica-se neste grupo, sendo mais do dobro da do grupo de controlo.

No que concerne os itens 13 e 15, os resultados evidenciam que não se aplicam num elevado número de condenados de ambos os grupos. Ainda assim, no grupo experimental regista-se maior número de elementos que frequentam formação (Anexo F). Existe maior probabilidade, durante o período probatório de ALC, que seja autorizada judicialmente a integração em formação do que em trabalho, por ser uma atividade controlável por decorrer em espaço fixo e sob supervisão, não sendo a integração prejudicada pela ligação ao sistema de justiça penal. A ALC é continuamente controlada nos períodos de confinamento habitacional, sendo as ausências da habitação controladas de forma direta, indireta e intermitente, através de meios humanos e tecnológicos.

Os resultados dos itens 16 e 17, registam também um elevado número de condenados de ambos os grupos, maior no grupo de controlo, em que estes itens não se aplicam. O grupo experimental apresenta mais condenados com registo de problemática aditiva (Anexo F). Estes beneficiam, invariavelmente, de autorizações judiciais por motivos de tratamento, durante o período probatório de ALC, sendo estas ausências da habitação diretamente controladas, por meios humanos e tecnológicos, enquadramento que fomenta a adesão dos condenados ao tratamento e o compromisso com a prevenção (Anexo H). Estes itens não apresentam, no grupo experimental, nenhum valor de discordância.

Desta forma, a análise dos questionários reflete as opiniões dos condenados e respetivos técnicos gestores que consideram o período probatório de ALC favorável ao processo de

71

reinserção social, a nível da prevenção geral e da prevenção especial. Realça-se o impacto que o mencionado período tem a nível dos pressupostos materiais, designadamente os referentes aos constantes nos itens 12 a 17, áreas em que a permanência em ALC pode acrescentar valor, quer pela integração do condenado no seu ambiente natural quer pela intervenção da DGRSP e das instituições da comunidade.