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CAPÍTULO 1 PERCURSO DO ESTADO E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.2. Origem da Administração Pública

1.2.5. Nova Administração Pública

De acordo com Peters (2009), a gestão pública e a reforma da AP incluem para além de questões de economia, eficiência e eficácia, outras relacionadas com a legitimidade dos instrumentos e das estruturas de organização pública. O cerne da questão consiste em ter uma melhor AP para servir os objetivos do sistema político democrático baseado na cidadania.

A nova gestão pública, nos Estados Unidos, foi o modelo que reinventou o governo, mas este não inclui a participação, deliberação, liderança, expertise, responsabilidade, justiça, equidade,

47 O Decreto-Lei n.º 319/82, de 11 de agosto, Lei Orgânica que cria o Instituto de Reinserção Social.

48 Lei n.º 122/99, de 20 de agosto, regula a vigilância electrónica para fiscalização do cumprimento da obrigação de permanência na habitação. O n.º 2 do artigo 9.º desta Lei, prevê “A prestação de serviços por entidades privadas, nos termos do n.º 3 do artigo 5.º, é incluída nos contratos de aquisição de equipamento a que houver lugar”.

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nem mesmo "cidadãos" ou "cidadania". Segundo Denhardt e Denhardt, num mundo de cidadania ativa, os trabalhadores em funções públicas desempenharão cada vez mais um papel de prestação de serviços, conciliador, mediador ou mesmo adjudicante. Esses novos papéis exigirão novas habilidades de tributação, negociação e resolução de conflitos.

As questões-chave para o futuro do governo e do serviço público são a capacidade de resposta e a integridade. O modelo da nova administração pública ou New Public Service alicerça-se nas “teorias da cidadania, em modelos da comunidade e da sociedade civil, na organização humanista, sustentada nos seguintes princípios do novo serviço público:

✓ o papel principal do trabalhador em funções públicas é ajudar os cidadãos a articular e a satisfazer os seus interesses partilhados ao invés de tentar controlar ou dirigir a sociedade em novas direções;

✓ os administradores públicos devem tornar primordial a criação de uma noção coletiva e partilhada de interesse público. O objetivo não é encontrar soluções rápidas orientadas por escolhas individuais, mas sim criar interesses partilhados e responsabilidade partilhada; ✓ políticas públicas e programas que atendem às necessidades públicas podem ser alcançados de

forma mais eficaz e responsável através de esforços coletivos e processos colaborativos; ✓ o interesse público é o resultado de um diálogo sobre valores partilhados e não a agregação de

interesse próprio individual, pelo que os trabalhadores em funções públicas não devem apenas responder às demandas dos "clientes", mas também concentrar-se na construção de relações de confiança e colaboração com e entre os cidadãos;

✓ os trabalhadores em funções públicas devem estar atentos a mais do que o mercado, também devem atender ao direito estatutário e constitucional, valores comunitários, normas políticas, padrões profissionais e interesses dos cidadãos;

✓ as organizações públicas e as redes em que participam são mais propensas a serem bem sucedidas a longo prazo, se forem operadas por meio de processos de colaboração e liderança partilhada com base no respeito a todas as pessoas;

✓ o interesse público é melhor conseguido por trabalhadores em funções públicas e cidadãos empenhados em fazer contribuições significativas para a sociedade, do que por gerentes empreendedores que atuam como se o dinheiro público fosse pessoal” (Denhardt, 2003:9-10). As novas formas de orientar a sociedade exigem que se considerem os novos padrões de prestação de contas e transparência ou accountability, de avaliação do desempenho administrativo, incluindo padrões legais e políticas tradicionais associados à antiga AP, os critérios de mercado e económicos associados à nova gestão pública e também as políticas democráticas e critérios sociais associados ao novo serviço público. Embora seja importante ter

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uma preocupação com padrões legais e políticos e critérios económicos, é imperativo que se coloque no centro do trabalho da AP um conceito de serviço público baseado e totalmente integrado no discurso do cidadão e do interesse público, que se coloque a democracia em primeiro lugar.

A AP em Portugal delineou-se conforme os princípios que definem o New Public Service, nos primeiros anos do atual milénio, na vigência do qual foi implementado o PRACE49 no XVII GC. Esta influência foi sentida na estrutura do Instituto de Reinserção Social, com a implementação do Sistema Integrado de Avaliação do Desempenho da Administração Pública (SIADAP) 50 de forma experimental, em 2005, que se efetivou por toda a estrutura orgânica após a sua alteração para Direção-Geral de Reinserção Social51, em 2007. Este formato orgânico caracterizou-se pela perda de autonomia administrativa e financeira da reinserção social. A vigilância eletrónica constitui um dos serviços desta estrutura orgânica, cujas especificidades de organização dos serviços estão estabelecidas em portaria. O diploma legal que criou esta nova estrutura orgânica, reflete a influência do modelo da nova administração pública ao realçar o recentramento na sua atividade e o aumento da operacionalidade, eficácia e redução de custos, mencionado que “esta reforma administrativa, porventura a mais importante, após a Revolução de 1974, coincide com a maturidade alcançada pelos serviços ao longo dos seus 25 anos de existência é consubstanciada no seu recentramento e no reconhecimento da sua acrescida importância, com a necessidade de homogeneidade e convergência das diversas estruturas organizativas do Estado administração. (…) A necessidade de garantir, no âmbito da reinserção social, um modelo adequado e consolidado de intervenção em matéria de justiça juvenil e de justiça penal, desenvolvida ao longo dos anos com a participação da administração, do sistema judicial, de profissionais e entidades ligadas aos sectores da educação, saúde e solidariedade social, assegurando o apoio técnico aos tribunais na tomada de decisão em processos de natureza tutelar educativa e penal, bem como a necessidade de garantir a gestão dos centros educativos e a execução de medidas ou penas alternativas, determina que a estrutura básica da DGRS obedeça a critérios de funcionalidade de forma a alcançar maior nível de especialização, maior nível de operacionalidade e de eficácia e maior redução de custos, eliminando estruturas intermédias redundantes e redefinindo a rede de unidades operativas dos diversos serviços de reinserção social.” (DL n.º 126/2007, 27 Abril: 2631).

49 Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE) - RCM n.º 124/2005, de 4 de Agosto. 50 A Lei n.º 10/2004, de 22 de março, cria enquadrado na Modernização Administrativa o SIADAP, reformulado em 2007, pela Lei n.º 66-B/2007, de 28 de Dezembro.

51 Decreto-Lei n.º 126/2007, de 27 de abril – Aprova a Lei orgânica da Direção-Geral de Reinserção Social (DGRS).

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