• Nenhum resultado encontrado

Demandas de Água na Bacia do Rio dos Sinos 32

V – ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1. – Análise de Indicadores

Inicialmente, de acordo com a concepção metodológica adotada, foram recuperadas informações históricas do SAG desde 1973, data do início de sua utilização para o abastecimento público no município de Ivoti - RS. Estes dados subsidiaram a construção de índices ambientais e operacionais, os quais, devido ao seu caráter quantitativo, permitiram uma avaliação temporal da dinâmica do sistema aqüífero em face de extração a que este encontra-se submetido desde aquela data.

Visando obter uma percepção ampla do fenômeno em questão, foram também utilizados índices integradores, de forma a associar a demanda social, a pressão econômica e a conseqüente variação da disponibilidade hídrica subterrânea. A utilização destes índices, aqui denominados socioeconômico e ambientais, atendendo a expectativa dos órgãos gestores, visa à identificação e o monitoramento de distintas situações de disponibilidade hídrica x demanda sócioeconômica, bem como a indicação de necessidades de gestão para o uso sustentável das águas subterrâneas.

De forma geral, o conjunto de índices utilizados, daqui em diante denominados indicadores, deveria permitir detectar situações de desequilíbrio entre a disponibilidade e a demanda hídrica, assim como identificar tendências de sustentabilidade ou não sustentabilidade do uso do aqüífero. Estes resultados, em seu conjunto, devem indicar a necessidade da adoção de medidas de gestão ambiental e/ou operacional das águas subterrâneas. Com este enfoque, são a seguir analisados indicadores ambientais, operacionais e socioeconômico e ambientais para o SAG em Ivoti - RS.

5.1.1.- Indicadores Ambientais

Como indicadores ambientais foram considerados índices relativos aos fenômenos de depleção da superfície potenciométrica, variações das reservas hídricas subterrâneas e das características hidroquímicas, bem como os reflexos destas variações no ecossistema.

5.1.1.1. – Variação das Reservas Subterrâneas

A dinâmica das reservas subterrâneas, as quais variam inicialmente sob o efeito das recargas e descargas naturais, passa a caracterizar-se por variações de armazenamento em decorrência do início dos bombeamentos Kalf & Woolley (2005). Com vistas a avaliar a magnitude e a tendência de possíveis processos de depleção, recuperação ou estabilidade das reservas permanentes e reguladoras, uma primeira aproximação pode ser obtida pela estimativa das taxas anuais de bombeamento (Bc) em Ivoti - RS, conforme apresentado no Quadro 5.1.1.

POÇOS

!"#$ %# # & &&'

TOTAL ('

(*) Vazões de operação em Novembro / 2007 (17 poços tubulares)

(**) Vazão de referência do cadastro da CPRM + CORSAN com operação de 10h/dia (95 poços tubulares) (***) 42 poços unifamiliares não constantes do cadastro oficial, com vazão estimada de 0,5 m3/dia.poço e

operação.

Quadro 5.1.1.- Estimativa da vazão total anual (Bc) extraída do SAG em Ivoti.

Estes dados permitem estimar uma vazão total anual (Bc) de 4,16 x 106 m3/ano, a qual resulta principalmente de alguns poucos poços da CORSAN com vazões significativas (17 poços), bem como inúmeros outros poços cadastrados pela CPRM e CORSAN (95 poços), Anexo V, distribuídos na área de estudo. Os poços cadastrados para abastecimento doméstico

representam uma parcela pouco expressiva do bombeamento total anual, há, entretanto a possibilidade da existência de um grande número de outros poços, os quais não foram ainda cadastrados. Portanto, provavelmente, o bombeamento total anual deve ser significativamente maior do que o até aqui estimado.

As reservas ativas (Ra), também denominadas como reguladoras, correspondentes à recarga anual do sistema aqüífero, foram estimadas em 6,56 x 106 hm3, tendo-se utilizado para esta avaliação uma área de abrangência do aqüífero da ordem de 51.611.280 m2 e uma recarga efetiva correspondente a 15% da precipitação anual média. Por sua vez, conforme proposição de Boscardin & Borghetti et al., (2004), considerando a mesma área anterior, uma porosidade efetiva média de 17%, e a espessura saturada média de 89m, as reservas permanentes (Rp) foram estimadas em 780,88 hm3.

A partir destes dados iniciais, pode-se começar a discutir qual seria a taxa de bombeamento sustentável do sistema aqüífero, a qual é aceita tradicionalmente como uma parcela da reserva ativa (Ra), portanto dependente das precipitações e da recarga anual. Há alguma divergência sobre isto, pois (Rebouças, 1992) citado em ANA (2001), admite que o bombeamento sustentável deva corresponder a 25% a 50% da reserva ativa, enquanto Kalf & Woolley (2005), sugerem valores de 30%, por sua vez Rocha (1997), admite valores da ordem de 25%.

Utilizando o critério mais conservador, conforme Rocha (1997), um panorama geral das reservas e respectivas taxas de bombeamento do sistema aqüífero podem ser obtidos. Quadro 5.1.2.

Rp 780,88 hm3

Ra 6,56 hm³

Bc 4,16 hm3

R25 /ano 1,64 hm³

Quadro 5.1.2.- Reservas hídricas e taxas de bombeamento do SAG em Ivoti. (Rp=permanente, Ra=ativa, Bc=bombeamento anual, R25=bombeamento anual sustentável)

Os dados estimativos do Quadro 5.1.2. mostram que a taxa de bombeamento total anual (Bc = 4,16 hm3) é atualmente mais de 2,5 vezes superior ao bombeamento sustentável (R25 =1,64 hm3). Esta situação pode implicar na redução das descargas básicas (Drs), afetando o

suprimento das nascentes e o próprio o equilíbrio do ecossistema superficial. Ainda, se a taxa de bombeamento anual (Bc) e as descargas básicas (Drs), em seu conjunto, superarem as reservas ativas (Ra), poderá ocorrer redução das reservas permanentes (Rp) e a conseqüente depleção da superfície potenciométrica.

Para detecção do fenômeno de depleção potenciométrica utilizaram-se dados multitemporais dos níveis estáticos da água subterrânea. Foram comparados os níveis determinados durante a perfuração dos poços da CORSAN (1973 – 1997) com os níveis reavaliados em 2003 Heine et al., (2005). As superfícies potenciométricas obtidas estão apresentadas nas (Figura 5.1.1 e Figura 5.1.2).

Figura 5.1.1.- Superfície potenciométrica do SAG em Ivoti, dados relativos ao período 1973-1997. Heine et al., (2005)

Figura 5.1.2- Superfície potenciométrica do SAG em Ivoti dados relativos ao ano 2003. Heine et al., (2005).

A avaliação multitemporal mostra um sentido geral de fluxo subterrâneo de sudoeste para nordeste, o qual permanece inalterado no período analisado. Declividades da ordem de 2% da superfície potenciométrica (Figura 5.1.2). Uma exceção a este comportamento está na região central de Ivoti proximidade do poço COR IV 4 (Figura 5.1.1), com declividades de até 10%, denotando localizadamente uma alta taxa de bombeamento.

Como esperado, uma vez que a taxa de bombeamento estimado (Bc) é provavelmente excessivo, constatou-se uma significativa depleção da superfície potenciométrica. A magnitude deste fenômeno varia desde 5 m a sudoeste até 30 m no setor nordeste. Depleções ainda maiores ocorreram na área de influência dos poços mais antigos (COR IV 4 e COR IV 6), como se observa na (Figura 5.1.3). Estas variações acentuadas, segundo Morris et al., (2003), podem ocasionar inversão local do fluxo subterrâneo, o que realmente ocorreu na área de influência do poço COR IV 4 (Figura 5.1.1 e Figura 5.1.2).

Figura 5.1.3. - Depleção da superfície potenciométrica do SAG em Ivoti. Heine et al., (2005).

A variação das reservas permanentes (Rp) foi avaliada conforme a proposição de Boscardin Borghetti et al., (2004), utilizando-se para isto as superfícies potenciométricas obtidas para os períodos 1973-1997 (Rp1) e 2003 (Rp2). Utilizou-se uma área-teste de 9.173.241 m2, considerando-se uma porosidade efetiva de 17% e uma espessura saturada média estimada em 106m (1973-1997) e 62,6 m (2003). Os valores obtidos (Quadro 5.1.3) indicam, para a área-teste, uma redução de mais de 40% da reserva permanente em um período de 30 anos.

Rp1 165,30 hm3

Rp2 97,62 hm³

Rp2- Rp1 - 67,68 hm3

100 (Rp2- Rp1) / Rp1 - 40,9 %

Quadro 5.1.3.- Variação das reservas hídricas permanentes em uma área de referência do SAG em Ivoti. (Rp1=período 1973-1997, Rp2 = 2003, Rp2- Rp1= variação das reservas)

Estes indicadores mostram que há, sem dúvida, uma exploração excessiva do aqüífero, do que resultam uma significativa depleção potenciométrica e a redução progressiva das

reservas hídricas subterrâneas. Apesar destas indicações, a questão da sustentabilidade permanece em aberto, pois não pode ser descartada a hipótese de que o uso atual venha a atingir um estágio futuro de sustentabilidade, mesmo com reserva permanente extremamente reduzida e superfície potenciométrica deplecionada. Esta questão remete a análise a modelos geológicos mais complexos, os quais considerem a geometria e heterogeneidades do aqüífero, bem como permitam simulações numéricas do seu comportamento dinâmico, face às recargas naturais ou induzidas e as taxas atuais e futuras de extração.

Seguindo na análise de indicadores, uma estimativa preliminar do bombeamento sustentável pode ser feita a partir dos poços mais antigos. Os poços COR IV 2, COR IV 3, COR IV 4 e COR IV 6, com mais de 18 anos de operação, mostram as maiores depleções e um volume de bombeamento acumulado superior a 7,61hm3. Estes mesmos poços estão entre os de maiores taxas anuais de bombeamento, com vazões iguais ou superiores a 100.000 m3/ano (COR IV 3, COR IV 4, COR IV 6, COR IV 14, e COR IV 15) sendo que os poços COR IV 14 e COR IV 15 têm período operacional igual ou inferior a 15 anos. Este comportamento sugere que as maiores depleções potenciométricas podem estar associadas às taxas de bombeamento superiores a 100.000 m3/ano durante períodos operacionais superiores há 15 anos (Figura 5.1.4, Figura 5.1.5 e Figura 5.1.6), o que pode ser um limite de sustentabilidade do aqüífero. Para os poços não cadastrados não há como averiguar este efeito, ou quanto podem também contribuir para a depleção da potenciometria.

Figura 5.1.4.- Período de bombeamento e vazão acumulada de 15 poços. Fonte CORSAN, período 1997-2007. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 IV 2 IV 3 IV 4 IV 5 IV 6 IV 8 IV10 IV 13 IV 14 IV 15 IV 18 IV 19 IV 23 IV 24 IV 26 - 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50