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CAPÍTULO 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DA OBSERVAÇÃO

A observação da prática e de discursos dos professores subsidiou todas as etapas do trabalho de pesquisa. Não se tratava apenas das impressões ou representações do pesquisador e profissional (formador), mas sim daquilo que realmente acontecia durante as aulas de Ciências.

Constatou-se que o Currículo de Ciências, proveniente da SEE SP foi acatado pela grande maioria de professores. Apesar disso, as aulas eram incrementadas com inserção de textos e vídeos escolhidos por eles, especialmente os que foram discutidos nas Orientações Técnicas.

No decorrer do tempo, observou-se que inúmeros fatores permeiam as relações interpessoais e a intencionalidade pedagógica na sala de aula. Não se trata apenas de questões (in) disciplinares, mas de condições contextuais postas, que indicam a necessidade de planos de aula diversificados. A escola pública abarca uma diversidade imensa de crianças e jovens, que requerem diferentes métodos de ensino para construção do conhecimento. Não é incomum encontrar alunos deficientes ou cuja hipótese de escrita não é alfabética. É recorrente serem identificados alunos com dificuldades de aprendizagem (que muitas vezes extrapolam a dimensão didática) ou defasagem de conceitos necessários para o

desenvolvimento das habilidades propostas para a etapa. Sem falar do número de alunos por Essas condições requerem uma competência de ensinar que os docentes almejam, mas que nem todos praticam. Há ajustes necessários visualizados na exposição oral e/ou escrita no que se referem, por exemplo, ao conhecimento científico do professor ou mesmo à restrita capacidade de avaliar, que é imprescindível para identificar o que os alunos já sabem e como avançam.

Foi observado que existem dificuldades, por parte de muitos professores, em oferecer atividades diferenciadas que possam contribuir com a aprendizagem de alunos em diferentes níveis de conhecimento (a exemplo da deficiência intelectual, das altas habilidades etc.). Essa constatação, feita a partir do acompanhamento das aulas, decorre do fato de que elementos objetivos e subjetivos expressos em aula, como: a linguagem utilizada, instrumentos de avaliação, estratégias e recursos didáticos são generalizados, destinados à maioria, deixando de contemplar aqueles que estão fora da média.

Entende-se, portanto, que a formação continuada sistematizada, capaz de articular Currículo e contexto, considerando todas as suas nuances, expressas pelas necessidades, potencialidades e fragilidades dos sujeitos que compõe a comunidade escolar se torna imprescindível na educação contemporânea.

As orientações técnicas descentralizadas (OTD) realizadas nas escolas tiveram papel importante no entendimento dessa questão. A presença do PCNP, observando planos de ensino e acompanhando os trabalhos em sala de aula, contudo, jamais teriam sentido sem que houvesse intervenção pontual. Os profissionais presentes no dia da visita (professor e professor coordenador) participavam de um diálogo formativo ou reunião de trabalho para ouvir devolutivas, sugestões e orientações sobre a disciplina de Ciências. Assim, as OTD, apesar das limitações de tempo e periodicidade, se caracterizavam como espaços formativos.

Especificamente em ES, ao serem questionados sobre planos que promovem a prevenção, muitos professores se perdem nas respostas e não apresentam ideias claras sobre a relação das reais necessidades dos alunos com o currículo.

Durante as OTD, o diálogo entre PCNP e educadores revelou que há grande preocupação com a cultura familiar, as influências das mídias, da religião e, sobretudo, das próprias barreiras pessoais, como tabus, preconceitos e medos. Essas questões contribuem para que haja instabilidade das propostas de ensino, conforme Silva (2007):

Nesse sentido, ao invés da sexualidade ser compreendida como construção bio-psico-social e política, é compreendida em uma concepção restrita na qual valores familiares e valores religiosos impedem as pessoas de tratá-la como conhecimento. (...) a sexualidade marca as relações pessoais do(a)s professore(a)s de forma intrigante e perturbadora do equilíbrio escolar, além disso, afeta a dinâmica cotidiana que é desejada ou esperada por eles e limita parte das suas ações. (p. 173)

Já na OTC, em que oportunizou-se espaço de socialização, muitos professores se sentiram à vontade, outros ficaram um pouco acanhados ao exporem suas práticas. De uma forma ou de outra, era oportunidade para apresentarem ideias, sucessos, insucessos, dúvidas e potencialidades, mas também de revelarem, ainda que implicitamente, suas concepções acerca de ES.

De acordo com o Quadro 03, em que são apresentados os itens (temas, objetivos, justificativa, recursos didáticos, estratégias e avaliação) que norteavam a comanda para a realização da atividade, conclui-se que: a) diferentes temas foram explorados na socialização, como: gravidez, puberdade, DST/AIDS, métodos contraceptivos, aborto, anatomia e fisiologia do sistema reprodutor (feminino e masculino) entre outros; b) os objetivos e a justificativa refletiam as diretrizes do Currículo de Ciências, o que era esperado para um encontro no Núcleo Pedagógico, por ser ambiente formativo institucionalizado; c) os recursos e estratégias demonstrados condiziam, na grande maioria das vezes, com os objetivos e temas previamente propostos e foi alvo de grande interesse por parte dos professores, dando a impressão que a oferta de objetos digitais ou impressos, como: vídeos, imagens, atlas, animações, esquemas etc., funcionava ou, ao menos, denotava possibilidade real de criar situações de aprendizagem mais atrativas; d) a avaliação não foi bem elucidada nas apresentações, o que indica que os professores não apresentavam clareza nos instrumentos escolhidos para avaliar. Esses instrumentos podem ser provas escritas, relatórios de vídeos ou aulas expositivas, pesquisas,, entre outros, e servem para observar se as habilidades (expectativas de aprendizagem propostas no Currículo de Ciências) foram ou não atingidas.

A maioria das apresentações foi expositiva, com auxílio de slides montados em PowerPoint e projetados por meio do Datashow. Após cada apresentação, foram permitidas perguntas e breves apreciações. A mediação foi feita pela Professora Coordenadora do Núcleo Pedagógico (PCNP) de Ciências.

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