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CAPÍTULO 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS

4.2.2 Escolha dos Conteúdos

4.2.2.5 Comportamento Sexual

Essa categoria visa expressar as menções que os professores fazem à parte social ou das interrelações entre os adolescentes e deles com o mundo, na tentativa de ajustar comportamentos e convicções de acordo com os parâmetros individuais dos professores ou de convenções socioculturais.

Silva Júnior (2011) diz que a ES ainda é um assunto muito polêmico e tabu no espaço escolar. É necessário que haja por parte da comunidade docente um entendimento mais denso sobre sexualidade, atrelando-a a intencionalidade do sujeito, já que está inscrita em sua esfera existencial, original e inventiva. Esse processo de construção (da sexualidade) é dinâmico e paradoxal, principalmente aberto a novos sentidos e formas de experimentação, não podendo ser restringido a um resíduo único e inerte. O autor preocupa-se com o fato de o ambiente escolar manter o tema sexualidade submetido à coerção, dúvidas, enigmas, temores, inquietações, que direciona o tratamento do tema a uma abordagem convencional, estereotipada, patriarcalista e machista.

Cabe indagar se as escolhas dos adolescentes estão sendo respeitadas e as práticas educativas limitadas às informações/orientações. As concepções são externadas por meio dos discursos dos professores, ainda que haja cuidado em zelar pela impessoalidade. Nas falas abaixo, os professores manifestam a intenção de influenciar a postura e o desenvolvimento de valores que respeitam suas próprias concepções.

ão é hora ainda, não pulem fases.

muitos que transam, não tem jeito; mas falo que não é para deixar o sexo vulgar. P2

as meninas: - São poucos os que terão o bom senso de deixar de ficar com uma menina, porque está namorando você. Com 14 anos, ele vai querer ficar com o maior número

de meninas possível - até pela fama deles - P6

Nota-se, nos discursos desses professores, uma abordagem moral-tradicionalista (FURLANI, 2011) em que se procura desencorajar os adolescentes de iniciar a vida sexual P1) e ignoram-se as expectativas que eles têm em estabelecer relações com parceiros (

P2). Além disso, propaga-se a ideia de que a educação deve Ficar não é o mesmo que namorar. A mulher e os

meninos têm que se valorizar - São poucos os que terão o bom

senso de deixar de ficar com uma menina, porque está namorando você. Com 14 anos, ele vai querer ficar com o maior número de meninas possível - até pela fama deles - enquanto que,

P6.

Todos os professores desempenham um papel, consciente ou não, no campo da ES (WEREBE apud FIGUEIRÓ, 2009); no entanto, muitos insistem numa mediação disciplinadora, de modo a reprimir ou inibir as intenções e/ou possíveis ações dos adolescentes (REIS, 2009). Não cabe ao professor, por exemplo, dizer se é correto ou não transar, por ser uma atitude repressora de querer inculcar os seus próprios valores morais (FIGUEIRÓ, 2009).

Quando se trata de lidar com as diferenças, é ainda mais complicado para os professores. Furlani (2003) lembra que a própria estrutura escolar, o currículo, materiais didáticos, linguagem e outros, são instâncias que produzem desigualdade de gênero e sexo, o que pode incentivar casos de preconceito e discriminação entre os diversos sujeitos. O relato abaixo se refere ao posicionamento da professora frente a um aluno homossexual, que passa por conflitos na construção da sua identidade:

Muitas vezes também fico confusa, apesar de bons anos de magistério, e troco ideias em casa, com meus filhos adolescentes, para ver qual a melhor maneira para aliviar o que o aluno está sentindo, porque quando o aluno se isola ou se mutila é porque está precisando de ajuda

Ao finalizar esse item, percebe-se a ausência de assuntos que poderiam aparecer nas entrevistas, como concepção, masturbação, virgindade, aborto, prostituição, violência sexual, orgasmo. A puberdade e suas características não foram lembradas nesse momento da entrevista.

4.2.3 - Relação Interpessoal (Professor X Aluno)

A relação Professor - Aluno reflete o valor que o professor atribui às inter-relações para aperfeiçoar os processos de ensino e aprendizagem. Foi perguntado se os professores consideram importante ter boa relação interpessoal com os alunos e, por unanimidade, declararam que sim.

O P6 mencionou a importância de os professores de Ciências e Biologia estabelecerem um tipo de relação mais aberta, pelo fato de tratarem de assuntos relacionados com o corpo.

Os depoimentos retratam que os professores entendem que cultivar um bom relacionamento permite construir vínculos de amizade e confiança, que geram liberdade para ouvir dúvidas e, dessa forma, atingi-los:

Tem que ter contato com o aluno. Tudo tem limite, mas tem que ter confiança e se o aluno confia em você, isso é bom

Aí eu consigo atingi-los. Uma das coisas que permitem um bom trabalho aqui nessa escola é o meu relacionamento com os alunos (...). Nós somos parceiros. Um aprendendo com o outro. Busco sempre esse relacionamento

Eu me abriria com um professor se ele fosse diferente, se fosse alguém que pudesse confiar P4

Apesar do fato de valorizarem a boa relação interpessoal com o aluno, há

manifestações de que é important Tudo tem

O bom relacionamento é importante sim, mas sempre que trato desse assunto eu não falo de mim, nem do aluno. É impessoal

4.2.4 - Profissional responsável pela abordagem da temática

Uma das etapas da entrevista teve como objetivo levantar informações acerca dos profissionais que abordam ES na escola, para identifica-los e conhecer o perfil que, no entendimento do entrevistado, seria adequado para tratamento da temática.

professores de Ciências e Biologia desenvolviam a temática.

Assim como dito anteriormente, os discursos dos professores enfatizam a ideia de que tomam para si a responsabilidade do tema:

O professor de Ciências e Biologia. Não vejo quem poderia tratar de ES senão esses . P2

P4

Se está no currículo tem que estar apto. Não vejo relação com outras disciplinas Não. Estruturado como Ciências e Biologia, eu desconheço

Essa questão revelou que apenas os professores de Ciências e Biologia desenvolvem ES nas escolas. Com a finalidade de constatar essa afirmação, foi perguntado se alguém mais, no ambiente escolar, poderia abarcar essa responsabilidade. Os professores resistiram em nomear quem quer que fosse, e ao final, seis deles mantiveram a posição categórica de que esses professores deveriam ser mesmo os de Ciências e Biologia, sendo que quatro deles disseram que, em última instância, a figura do profissional da saúde ou outro professor, desde que tivesse afinidade com os alunos, poderia substituí-lo. Um dos entrevistados entende que qualquer professor poderia abordar ES se tivesse interesse em se aperfeiçoar e contasse com a ajuda do PCNP.

Esses relatos indicam uma abordagem biológica-higienista de ES, haja vista a convicção de que os conteúdos de Ciências e Biologia são, por si, suficientes para construção dos conhecimentos e promoção da saúde. (FURLANI, 2011).

a) Conhecimento técnico-científico: cinco professores defendem a ideia de que o profissional deve ter domínio dos conteúdos e habilidades, que são específicos para as Ciências da Natureza, como se observa nas falas a seguir:

Deve estar dentro do currículo dele. A não ser que seja questionado sobre o assunto, ele só vai falar do assunto se o aluno perguntar, por que ele, por conta própria, não trabalha

lógico da sexualidade; por isso, acho importante que P6

b) Relação interpessoal: quatro professores consideram importante ter boa relação interpessoal com os alunos e seria pré-requisito para que a ES fosse promissora:

Tem que ter afinidade com os alunos. Gosto dos alunos sempre próximos, para que eu possa atuar

Tem que ter um relacionamento bom. Professor grosso, que não consegue ser dócil... Como P5

c) Impessoalidade: dois professores destacaram a impessoalidade como fator essencial para que os trabalhos fluam bem na sala de aula:

Acho que tem que ter mente aberta, pensar que quando se fala em sexualidade não está P6

Tem que ser impessoal, ter objetivo. Tem que se preparar e ter coragem para enfrentar a P7

O fato de esses professores se posicionarem de forma a tomar para si a atribuição de desenvolver ES na escola e desacreditarem que outros profissionais possam colaborar em espaços de discussão, restringe os alunos de conhecerem outros pontos de vista, pelos quais, segundo Furlani (2011), poderiam contribuir para que o currículo não seja reducionista e limitado; para o acesso às divergências, rupturas culturais, discordâncias teóricas e políticas ou mesmo articulações e convergências.

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