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4. REVISÃO DE LITERATURA

4.5. Análise energética

A valoração da energia de um recurso (seja um bem ou um serviço, seja da natureza ou da economia humana), nas diversas etapas da cadeia de transformação necessária à produção, constitui-se numa ferramenta analítica que auxilia a gestão das empresas, principalmente quando a economia globalizada incentiva os processos ecologicamente corretos. A análise energética também é importante economicamente, uma vez que possibilita detectar as fontes de energia associadas aos seus respectivos custos.

Se em cada etapa de conversão há um gasto energético, o produto final representa todas as energias disponíveis gastas na sua obtenção. Em comparação com este valor integral, que se pode denominar de "energia agregada", o valor calórico do produto pode ou não ser, comparativamente, pequeno. A relação entre ambos fornece uma idéia da eficiência sistêmica da sua produção (energia do produto/ total de energia empregada na produção).

O balanço energético é utilizado por alguns pesquisadores de formação agronômica e de ciências agrárias em geral. Esta análise leva em conta a energia dos insumos materiais gastos no processo de produção e o produto obtido (Pimentel, 1982; Fluck & Baird, 1992).

O cálculo dos rendimentos possíveis para cada cultura, dentro de um determinado padrão tecnológico, foi baseado nas hipóteses levantadas pelo CNEEMA (1975), citadas por Castanho Filho & Chabaribery (1983). Conforme essas hipóteses, para a produção de uma caloria final vegetal, são necessárias de 2 a 4 calorias efetivamente aproveitáveis, o que reduz a eficiência fotossintética para 1%, em relação ao fluxo solar total.

Castanho Filho & Chabaribery (1983), apoiando-se em diversas pesquisas relativas ao potencial de produção energética de várias culturas, sob a ótica do balanço energético, traçaram o perfil energético da agricultura paulista, com a intenção de verificar se o que se produzia de energia ultrapassava, ou não, o que se gastava para produzi-la. Esse trabalho tornou-se uma referência obrigatória para esse tipo de estudo.

Conforme Carmo et al. (1992), nos processos agrícolas, existem pontos de estrangulamento não facilmente perceptíveis em análises econômicas, mas que se tornam nítidos dentro de uma análise energética. É o caso do uso racional dos recursos naturais e do aproveitamento de resíduos. No bojo do processo de modernização da agricultura, onde altos índices de energização estão sendo atingidos, torna-se importante a melhoria nos rendimentos

energéticos, notadamente em países subdesenvolvidos, onde costuma ser maior o custo da energia não gratuita acrescentada à produção.

A evolução na demanda de combustíveis fósseis e de insumos químico- mecânicos na agricultura, principalmente após o desencadeamento da “Revolução Verde”, tem motivado os estudos em relação aos balanços energéticos agropecuários. Nesses estudos têm-se estabelecido metodologias capazes de contabilizar as energias produzidas (output) e as energias consumidas (input) num dado sistema de produção. Contabilizações energéticas dessa natureza possibilitam o cálculo de “eficiência” do uso calórico dos produtos agrícolas, ou seja, o índice expressa quantas unidades de energia são produzidas para cada unidade de energia investida no processo produtivo (Quessada et al., 1993).

Além dos aspectos relacionados à eficiência energética, sob o ponto de vista da economicidade da energia fóssil, cabe ressaltar a importância dessas pesquisas na avaliação da energia produzida pela agricultura, como calorias alimentares necessárias para cobrir os requisitos nutricionais da população. Com o agravamento da situação energética em todo mundo, além da política cartelista de recursos naturais não-renováveis, como o petróleo, as questões relacionadas ao suprimento calórico/protéico, tecnologia empregada e saldos ou déficits de energia vêm ganhando notada relevância.

Em relação ao consumo protéico, a conferência da FAO/OMS (1971), citada por Castanho Filho & Chabaribery (1983), estabeleceu os requisitos mínimos diários de proteínas por pessoa, em função dos seus pesos corporais, ou seja, 0,57g de proteína por grama de peso corporal, sendo que 50% devem ser de origem vegetal e 50% de origem animal.

Conforme a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (USP, 2001), pode-se calcular a composição centesimal da energia total metabolizável, valendo-se da energia procedente dos nutrientes. Para tanto, consideram-se os fatores de conversão de Atwater: kcal=(4 x g de proteína) + (4 x g carboidratos) + (9 x g lipídios) + (7 x g etanol) - (carboidratos totais- fibra alimentar). Essas relações auxiliam a obtenção calórica dos produtos altamente protéicos, como é o caso dos cogumelos.

O mundo enfrenta o dilema de escolher entre uma "Nova Revolução Verde", baseada na biotecnologia e em energia de combustíveis fósseis, agudizando os problemas ambientais, econômicos e sociais, ou caminhar na direção da "Agricultura Sustentável", com métodos orgânicos ou biológicos, para obter gradualmente a independência

das fontes não-renováveis. O esgotamento de fontes preciosas de energia de muito lenta reposição (o solo e a biodiversidade) parece indicar que as técnicas agroecológicas poderão constituir o eixo principal da economia no futuro (Campbell, 1997; Constanza et al. 1997; Odum, 1998; Brown, 1998).

4.5.1. Eficiência energética

Conforme Carvalho (1980), citado por Comitre (1993), o rendimento, a eficiência ou ainda o balanço energético de um sistema é expresso pela relação entre a produção bruta de energia e o conjunto de entradas de energia. O numerador representa a soma da produção utilizada e da não-utilizada pelo homem, e o denominador, as energias gratuitas somadas àquelas não-disponíveis na natureza ou cujo estado bruto natural foi economicamente apropriado pelo homem (energias não-gratuitas). Do cômputo do conjunto de energias, pode-se obter os rendimentos calóricos da produção, por intermédio da energia que sai do sistema, e aquelas consumidas em trabalho humano, animal, em insumos e no restante do dispêndio energético.

A matriz de exigência física (fatores de produção) e a produção de uma determinada mercadoria podem ser então transformadas em equivalentes energéticos, empregando-se os coeficientes de transformação calórica. O produto das matrizes dos coeficientes físicos e dos coeficientes energéticos resulta na matriz de contabilização total dos dispêndios calóricos. A quantidade calórica produzida é o resultado da multiplicação do produto físico pelo respectivo índice de conversão, indicando o total da produção de calorias (Comitre, 1993).