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4. REVISÃO DE LITERATURA

4.2. Os fungos

4.2.5. O cogumelo Agaricus blazei e sua história

Agaricus é o nome genérico de algumas das diversas espécies de cogumelos existentes na natureza. Países como o Japão utilizam popularmente este termo – Agaricus – quando se referem à espécie Agaricus blazei.

Esse cogumelo foi identificado como uma nova espécie há mais de 50 anos pelo micologista americano, Dr. W. A. Murril, mediante coleta de amostras na propriedade

rural do Sr. R. W. Blaze, em Gainsville, na Flórida. Entretanto, existem relatos de que sua finalidade terapêutica foi descrita há 121 anos, no tratado científico Botânica Brasileira, de Joaquim Monteiro Caminhoá, um pesquisador da Faculdade de Zoologia e Botânica Médica do Rio de Janeiro.

Na década de 1950, esse cogumelo foi encontrado por imigrantes japoneses da região de Piedade, Estado de São Paulo; e por lembrar muito o matsutake (Tricholoma matsutake), um cogumelo popularmente consumido no Japão, passou a fazer parte do hábito alimentar dos imigrantes japoneses radicados na região.

Existem registros de que, em meados dos anos 60, um grupo de pesquisadores, liderados pelo Dr. W.J. Cinden, da Universidade do Estado da Pensilvânia, chegou na região de Piedade-SP, motivado pela longevidade da população local. Depois de alguns meses de estudos, eles confirmaram, em diversas conferências, que o consumo regular desse tipo de cogumelo era comum os nativos, sendo um dos fatores que contribuía para o aumento da longevidade.

Em 1965, o Sr. Takehisa Furumoto, um agricultor da região, enviou algumas amostras desse cogumelo, encontradas em sua propriedade, para o Iwaide Fungology Institute, no Japão, sob a responsabilidade do Dr. Inosuke Iwaide (professor da Tokyo University e Mie University). Essa instituição foi o ponto de partida para a evolução das pesquisas, tanto sob o aspecto medicinal, quanto produtivo desse cogumelo.

Paralelamente às pesquisas na área medicinal, os esporos do Agaricus blazei foram cultivados no Iwaide Institute, e iniciada a sua produção artificial. Amostras foram enviadas para a Bélgica, onde sua identificação foi realizada pelo micologista, Dr. Heineman, que o classificou como Agaricus blazei, da seguinte maneira:

Reino: Fungi Divisão: Basidiomycota Sub-divisão: Homobasidiomycetidade Ordem: Agaricales Família: Agaricaceae Gênero: Agaricus Espécie: Agaricus blazei

O cultivo comercial foi iniciado no Iwade Institute, e os primeiros êxitos se deram em 1978. Quanto às linhagens, existem catalogadas oficialmente no Japão duas linhagens de Agaricus blazei, a Murril e a JUN-17, sendo esta última, a décima sétima linhagem selecionada em um trabalho de melhoramento genético. O pesquisador Junya Okubo registrou-a na instituição denominada Japan United Nature (J.U.N.), daí o seu nome. No Brasil, somente a Fazenda Guirra detém a licença para divulgar e vender as sementes dessa linhagem.

De acordo com as pesquisas medicinais, em 1980, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Mie, coordenado pelo professor Hitoshi Itoh, apresentou a conclusão do primeiro estudo sobre as propriedades anticancerígenas do Agaricus blazei, no “39th General Meeting of Japanese Cancer Academy”, que teve início em 1972, com o trabalho denominado “Antitumor activity of Basidiomycetes” (Ito, 1972).

Depois disso, cientistas da Universidade de Mie e Universidade de Shizuoka, pesquisaram e descobriram que um polissacarídeo (notadamente, ß-glucana) atuava como substância anti-tumoral. Quando esse resultado foi divulgado, houve um “boom” no consumo desse cogumelo, principalmente no Japão. Seus efeitos farmacológicos estão sendo reconhecidos gradativamente. As pesquisas dos cientistas japoneses revelaram que o polissacarídeo ß-glucana atua no organismo humano aumentando as funções imunológicas, acarretando o aumento de macrófagos, “Natural Killer Cells” (NKC), células T, células B e células complementares, evitando a regeneração e a metástase do câncer.

As glucanas são componentes químicos que fazem parte dos carboidratos. Estes são conhecidos mais comumente como açúcares, como a glucose e a frutose. O cogumelo Agaricus blazei tem uma alta concentração de glucanas (em média, 38%). Estas têm uma forma especial que os pesquisadores classificam com a letra do alfabeto grego “β“ (beta). A capacidade que elas têm de estimular o sistema imunológico, ou seja, o sistema de defesa dos organismos, chamada “imuno-estimulante”, tem sido muito efetiva na diminuição de tumores em camundongos. Embora os estudos farmacológicos em seres humanos não tenham sido completados, o cogumelo Agaricus blazei apresenta-se como uma nova arma e uma nova esperança frente ao tratamento do câncer, sendo, para isso, incentivado o seu consumo habitual pelo seu alto valor alimentar e pelas suas propriedades medicinais. Ademais, a indústria farmacêutica mundial tem investido em muitos testes clínicos para transformar as β-glucanas do Agaricus blazei em medicamento para o tratamento do câncer.

Alguns pesquisadores, nos Estados Unidos, têm obtido resultados satisfatórios com esses cogumelos no Instituto de Otorrinolaringologia da Universidade da Califórnia (UCLA). Eles observaram que o polissacarídeo presente no cogumelo aumentava a quantidade de células imunológicas. Na Universidade da Carolina do Norte, pesquisadores afirmaram que os extratos do cogumelo apresentaram alta toxicidade sobre as células cancerosas e também sobre o HIV.

No Brasil, o cultivo, a comercialização e a popularização do Agaricus blazei, são atribuídos aos imigrantes japoneses da região de Piedade-SP e Mogi das Cruzes-SP. Eles foram os pioneiros no domínio da tecnologia de produção em grande escala desse cogumelo, que é conhecido por uma variedade de nomes: Cogumelo de Deus, Sun Agaricus, Himematsutake, Cogumelo Princesa, Cogumelo da Vida, Kawariharatake e, também, como Cogumelo do Sol. Este último, apesar do domínio público, não pode ser amplamente utilizado pois uma empresa requereu os direitos legais sobre seu uso, patenteando-o como marca registrada.