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Evolução da duração via z-score suavizado

Trecho 4 Pré-intervenção

5.4.1 Análise estatística da distribuição de f0.

O teste estatístico selecionado para a análise do comportamento da frequência fundamental foi o Teste T para variáveis independentes (alfa 5%) e o Teste T pareado, que comparou os valores medidos da frequência fundamental em cada um dos trechos analisados. O funcionamento dos testes estatísticos escolhidos foi explicado na seção 4: Análise Estatística.

Tabela 3: Resultados obtidos para os dois sujeitos após comparação dos momentos pré e pós- intervenção. Valores da probabilidade de igualdade de médias no Teste T.

Suj 1 Suj 2 F0 Mín 0,427 0,638 F0 Máx 0,002* 0,002* F0 Média 0,629 4,8.10-5

Gama 0,003* 0,003* p<0,05

A partir da tabela acima podemos observar que os dois sujeitos tiveram desempenhos parecidos ao compararmos os dois momentos de análise. Os valores de f0 mínima e f0 média

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utilizados pelos dois sujeitos pré e pós-intervenção fonoaudiológica mantiveram-se semelhantes. Os valores de f0 máxima e gama tonal foram maiores na condição pós-intervenção.

O fato de o valor da freqüência fundamental máxima ser significativamente maior na condição pós-intervenção para os dois sujeitos poderia revelar alguma mudança nas narrações realizadas nesta condição, como o uso de ênfases, que utiliza como um dos mecanismos de sua produção o aumento do valor da freqüência fundamental (Hirschberg, 2000).

Para investigar se algum recurso estilístico poderia ser responsável pelo aumento da frequência fundamental na condição pós-intervenção, foi realizada análise estatística com o Teste T pareado, comparando trecho a trecho os valores de frequência fundamental máxima utilizado pelos dois sujeitos. Os resultados encontram-se na tabela 4, abaixo.

Tabela 4: Resultados obtidos após comparação de f0 máxima, trecho a trecho para os dois sujeitos, nas condições pré e pós-intervenção. Valores da probabilidade de igualdade de médias no Teste T.

F0 máx Trecho Suj 1 Suj 2

1 0,564 0,018 2 0,068 0,002 ** 3 0,039 0,11 4 0,014 0,037 5 2,2.10-7 ** 2,2.10-7 ** 6 0,042 0,0002 ** 7 0,048 0,066 8 0,487 0,022 p<0,006

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Após análise do parâmetro freqüência fundamental máxima utilizada por cada sujeito nos trechos avaliados, foi possível perceber que para o sujeito 1, o trecho em que a freqüência fundamental máxima utilizada foi significativamente maior na condição pós-intervenção foi o trecho 5. Já para o sujeito 2, os dados apontam para três trechos significativamente maiores no que diz respeito ao uso da freqüência fundamental máxima, que são os trecho 2, 5 e 6.

Os trechos significativamente maiores de cada sujeito foram analisados. Para o sujeito 1, observa-se, principalmente no trecho 5, na condição pós-intervenção, o uso de ênfase mais marcada na palavra exclusividade (“Ousadia nas peças criadas com exclusividade para São Paulo Fashion”), fato que contribuiu para o aumento da freqüência fundamental máxima.

O sujeito 2 apresenta três trechos estatisticamente maiores para o valor de f0 na condição pós-intervenção. Ele também utilizou o mesmo recurso da ênfase em determinadas palavras dos trechos, que ficaram mais marcadas quando se comparam os dois momentos. No trecho 2, a palavra que recebeu ênfase foi clima (Do lado de fora o Dj se prepara para dar um clima de festa ao desfile); no trecho 5, o sujeito 1 realizou a ênfase mais marcada no mesmo local que o sujeito 1, como descrito acima, na palavra exclusividade; finalmente no trecho 6, o sujeito 2 realizou ênfases ora em uma palavra, ora em outra.

O recurso de ênfase utilizado pelos sujeitos pode justificar o fato de a gama tonal ser significantemente maior na condição pós-intervenção. Segundo Hirschberg (2000), a ênfase pode ser realizada por meio de proeminências entoacionais e também de variação entoacional, fato que corrobora com os achados da presente pesquisa, visto que os parâmetros significantemente maiores na condição pós-intervenção foram a freqüência fundamental máxima e a variação de freqüência fundamental.

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A variação da frequência fundamental, parâmetro que apresentou mudança significativa no presente estudo, pode estar ligada à maior expressividade vocal, o que geraria no ouvinte sensação de proximidade com o narrador. Pode-se relacionar a variação de frequência utilizada pelos sujeitos como recurso expressivo no momento da leitura, principalmente com a utilização de sons mais agudos, o que ocasiona o aumento significativo da f0 máxima nos dois sujeitos.

O fato de a frequência fundamental média ser semelhante nas duas condições pode nos mostrar que tal parâmetro é particular a cada sujeito e provavelmente não mudaria com o treinamento vocal. Quando especificamente trabalhada, no caso de desvios encontrados, a f0 média poderia apresentar mudanças significativas ao compararmos pré e pós-intervenção. No presente estudo, os sujeitos não apresentaram desvios em relação à f0 média de suas vozes.

Os achados da análise da distribuição de f0 pré e pós-intervenção fonoaudiológica contribuem para melhorar a atuação fonoaudiológica com o fonoestilo estudado, visto que durante a atuação sugere-se que o recurso de ênfase seja trabalhado por meio da variação de f0 com a finalidade de aprimorar a locução e ampliar a expressividade dos sujeitos como forma de aproximação do ouvinte.

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5.5- Análise dos marcadores sintáticos: Relação Sintaxe – Prosódia

Marcadores sintáticos também foram analisados no presente trabalho, buscando entender a relação entre sintaxe e prosódia no texto em questão.

Para Barbosa (2006), a propriedade da localidade sintática é um dos elementos que contribuem para gerar a organização prosódica dos enunciados em português brasileiro (PB). Assim, buscando entender o papel da relação sintaxe-prosódia em uma narração telejornalística, utilizamos em nossa análise a Gramática de Dependência, que conta com algumas propriedades formais segundo a formulação original, no modelo de Tesnière (1965), citadas por Järvinen e Tapanainen (1998). São elas: (1) o elemento primitivo de qualquer descrição sintática é o núcleo, papel desempenhado pelo termo regente da frase que podem ser todas as palavras lexicais, com função de nome, verbo principal, adjetivo e advérbio; (2) uma estrutura sintática consiste de conexões entre núcleos; (3) cada conexão é feita de relações entre o termo superior, chamado de

regente e o termo inferior, chamado de dependente; (4) cada núcleo é um nó da árvore sintática e

tem um regente; (6) o regente mais elevado é o no central da frase, e é sempre um verbo.

Para o PB, Barbosa (2006) propõe 11 marcadores sintáticos que são obtidos a partir das relações de dependência e são utilizados na presente pesquisa para identificar as localidades sintáticas em que fronteiras prosódicas podem ocorrer. Os marcadores sintáticos, em seu conjunto, indicam todas as fronteiras possíveis de ocorrência, visto que há sempre uma marca entre duas palavras fonológicas quaisquer. A gramática de dependência proíbe apenas os marcadores entre clíticos e as palavras em que estes se apóiam que são as hospedeiras. Isso significa que, no caso do telejornalismo, mesmo pausas indicadoras de fronteira prosódica entre objeto e adjunto, por exemplo, são possíveis.

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Os marcadores sintáticos utilizados são apresentados a seguir e de acordo com Barbosa (2006, p. 226), a numeração indica a força decrescente de coesão entre constituintes sintáticos imediatos:

1. Dependência fraca à esquerda ( DfE): Quando o elemento dependente está à esquerda do núcleo, não sendo esse último um verbo. Exemplo: O belo (DfE) cão;

2. Interdependência fraca (ITf): Quando os elementos da relação dependem de um único núcleo, que não é um verbo. Exemplo: O belo (ITf) e tranqüilo cão;

3. Dependência fraca à direita (DfD): Quando o elemento dependente está à direita do núcleo, não sendo esse último um verbo. Exemplo: O menino (DfD) sapeca;

4. Dependência forte à direita (DFD): Quando o elemento dependente está à direita do núcleo, sendo esse último um verbo. Exemplo: O moço ganhou (DFD) uma maçã;

5. Dependência forte à esquerda (DFE): Quando o elemento dependente está à esquerda do núcleo, sendo esse último um verbo. Exemplo: O moço (DFE) ganhou uma maça;

6. Interdependência forte (ITF): Quando os elementos da relação dependem de um único regente, que é um verbo. Exemplo: Os moços e as moças (ITF) cantam na praça;

7. Independência fraca (IDf): Quando os elementos contíguos não estão ligados ao mesmo núcleo, numa mesma oração. Exemplo: O moço gentil (IDf) canta no bar;

8. Dependência subordinada (DSUB): Quando o segundo elemento contíguo é uma subordinada que segue diretamente o núcleo a que a conjunção se refere. Exemplo: Não fiz (DSUB) porque não deu;

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9. Independência subordinada à direita (IDSUB): Quando o segundo elemento contíguo é uma subordinada que não segue diretamente o núcleo a que a conjunção se refere. Exemplo: Não fiz isso (IDSUB) porque não deu.

10. Independência de uma conjunção coordenada (COORD). Exemplo: Eu cantei (COORD) e declamei;

11. Independência forte (IDF): Quando os elementos contíguos não estão ligados a um mesmo núcleo, em orações distintas. Exemplo: O moço cantou. IDF E eu declamei.

Levando em conta as unidades VV já estudadas anteriormente, a tabela abaixo pretende apresentar os marcadores sintáticos que aparecem em Unidades VV cujas durações foram estatisticamente diferentes ao comparamos os momentos pré-intervenção e pós-intervenção.

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Tabela 5 – Marcadores sintáticos relacionados a diferenças significativas de duração das Unidades VV após intervenção

Para ilustração, temos como exemplo do marcador sintático DfD no texto estudado: “Para os homens [DfD] cores fortes, marcantes.”

De acordo com os dados analisados, para o sujeito 1, os marcadores sintáticos mais freqüentes nos picos de duração das unidades VV são o DfD (Dependência fraca à direita) e o IDF (Independência forte), que é associado ao final de um enunciado e início de outro. O sujeito 2, por sua vez, tem a maioria dos marcadores sintáticos nos picos de duração das unidades VV em

Marcador sintático

Nº de ocorrências no texto lido

Frequência

Relativa Força de coesão

Suj 1 DfD 5 26% 3 DFD 3 15% 4 DFE 1 5% 5 ITF 1 5% 6 IDf 4 21% 7 IDF 5 26% 11 Suj 2 ITf 1 5% 2 DfD 4 23% 3 DFD 3 17% 4 IDf 3 17% 7 IDF 6 35% 11

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posição IDF. A segunda maior freqüência de aparecimento dos marcadores nas posições de pico de duração é do marcador DfD, o que mostra semelhança entre os dois sujeitos, visto que tais marcadores foram os mais freqüentes.

Barbosa (2006) agrupou os marcadores sintáticos em termos de valores de duração normalizada (o cálculo de z-score) e com isso, o marcador DfD é rotulado como fronteira fraca, pois pelo método de análise de clusters, com enunciados lidos de locutores paulistas, foram formados de três grupos que diferenciam os marcadores: fracos, médios e fortes, de acordo com o valor de z-score na unidade VV que antecede a fronteira.

O marcador DfD é fronteira freqüente entre nome e adjetivo, ou seja, quando temos um regente nominal e um dependente como complemento, como em: “O menino (DfD) sapeca”, em que o regente (menino) é seguido pelo seu complemento (sapeca), caracterizando a dependência fraca de “sapeca” em relação ao “menino”. O marcador IDF, independência forte é rotulado em termos de duração normalizada nas fronteiras fortes e é um marcador típico de final de frase, quando os elementos que se seguem não são contíguos a um mesmo núcleo, como em: “O moço cantou. (IDF) Eu declamei.”

Nos casos em que o marcador sintático IDF ocorreu juntamente com pico de duração da unidade VV o mecanismo de produção foi uma pausa silenciosa entre os elementos do texto, como em “Do lado de fora (IDF) o Dj se prepara”. Em “...tecidos leves e muita renda. (IDF) Para os homens...” o marcador IDF ocorreu entre final e início de sentença com inclusão de pausa silenciosa esperada para esse local.

O marcador sintático DfD encontrado juntamente com picos de duração da unidade VV foi relacionado a aumento da duração da unidade VV antes da fronteira, como em: “...Alice no país

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(DfD) das Maravilhas.” . Dessa forma, podemos concluir que a maior duração das unidades VV pós-intervenção ocorreu em um contexto sintático específico, que foi a dependência fraca à direita (DfD).

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6. DISCUSSÃO

Devido ao grande número de resultados que mostraram mudanças pontuais na produção de fala dos sujeitos estudados, muitas das discussões referentes a esses trechos se encontram na seção Resultados desta dissertação de Mestrado. As análises foram sendo realizadas de acordo com a necessidade de complementar e conhecer mais sobre os dados e sobre os resultados já obtidos em cada momento.

O estudo feito de forma sistemática, abordando vários aspectos prosódicos da narração telejornalística e as mudanças após a intervenção fonoaudiológica foram importantes para caracterizar e definir o fonoestilo estudado.

Mudanças em pontos específicos da narração telejornalística foram encontradas, no que diz respeito à evolução da duração das unidades VV. Embora não fossem encontradas mudanças globais, ao compararmos todas as unidades VV da condição pré-intervenção com a condição pós- intervenção, houveram pontos específicos em que mudanças ocorreram como conseqüência do uso de novas estratégias utilizadas pelos sujeitos. Possivelmente o uso das estratégias aconteceu como tentativa de deixar o texto mais expressivo.

Pode-se dizer que a estruturação rítmica do texto, estudada aqui por meio da duração das Unidades VV não se modificou como um todo, mas os pontos específicos em que mudanças ocorreram foram encontrados aumento da duração das Unidades VV (como tentativa de realizar ênfase) e inclusão de pausas silenciosas.

É possível observar por meio da apresentação dos resultados obtidos que a intervenção fonoaudiológica desempenhou um papel importante no aprimoramento do estilo de elocução dos sujeitos estudados, além de contribuir para que os sujeitos desenvolvessem seus próprios estilos de

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narração. Muitos trabalhos relatam mudanças consistentes após treinamento vocal em sujeitos que fazem uso da voz profissionalmente, em diversos fonoestilos estudados (Timmermans et. al., 2002; Hazzlet et. al, 2010; Timmermans, et. al.; 2005).

A intervenção fonoaudiológica realizada, como forma de aprimoramento vocal e com ênfase na leitura de textos jornalísticos é uma grande vantagem do treinamento realizado com os sujeitos do presente estudo. Sem dúvida, o trabalho mais aplicado ao uso e ao aprimoramento do fonoestilo estudado trouxe muitos benefícios aos sujeitos, que vivenciaram em todos os encontros a prática da narração. Grande parte dos trabalhos, como os de Timmermans et. al. (2002; 2005) e Hazzlet et. al. (2010) relatam em suas pesquisas grande preocupação com a qualidade vocal, no sentido de prevenir lesões de prega vocal e na aquisição de hábitos de saúde vocal por parte dos sujeitos dos estudos.

O grande diferencial de nosso trabalho é a junção de duas fontes importantes de aprimoramento vocal: o cuidado com a saúde vocal, que foi realizado por meio de orientações, informações sobre saúde vocal, realização de exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal e a preocupação em aprimorar o fonoestilo telejornalístico, visto que os sujeitos desta pesquisa eram estudantes de Jornalismo, e estavam em período de formação.

Em todos os aspectos analisados puderam ser observadas mudanças consistentes no estilo de elocução, como a inclusão de pausas silenciosas, o aumento da duração de unidades VV e maior variação da curva melódica. Todas as mudanças citadas, que ocorreram no momento de análise pós-intervenção fonoaudiológica tiveram algum impacto na percepção do ouvinte, de acordo com os testes perceptivo-auditivos realizados. Além disso, todas as mudanças parecem ter a intenção de aprimorar os recursos expressivos e estilísticos presentes em um fonoestilo jornalístico, como a

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inclusão de pausas silenciosas, que pode criar situação de suspense e ênfase, além de servir principalmente às funções de planejamento do discurso. (Madureira, 1992). O recurso estilístico da ênfase parece ser o mais presente nas narrações após o aprimoramento vocal, e foi realizado por meio do aumento da duração de unidades VV e aumento da variação da frequência fundamental.

A consistência dos grupos acentuais, das fronteiras prosódicas e do cálculo de z-score apresentados durantes as análises na condição pós-intervenção também pode revelar a internalização de conceitos trabalhados durante o aprimoramento vocal. Com isso, podemos dizer que os sujeitos, após a intervenção fonoaudiológica já haviam adotado uma estratégia de narração para aquele texto, diferentemente do momento pré-intervenção fonoaudiológica, em que muitas vezes percebeu-se que os sujeitos experimentavam novos tipos de produção, ora mais rápido, ora mais lento, com pausa silenciosa, sem pausa silenciosa. Os fatos citados acima refletem diretamente no momento inicial da construção de um estilo de elocução.

A análise dos dados nos mostra que o trabalho com os recursos prosódicos dos fonoestilos são importantes. As mudanças que foram encontradas na forma dos sujeitos narrarem o texto jornalístico após a intervenção fonoaudiológica foram decorrentes do trabalho com os recursos prosódicos e fonoarticulatórios que ocorreram durante os encontros semanais.

Outro ponto abordado neste trabalho foi a relação entre sintaxe e prosódia.. Barbosa (2006) em sua definição de prosódia escreve que “a prosódia resulta do acoplamento de restrições do sistema de produção de fala e também de restrições em níveis lingüísticos superiores, como a sintaxe.”. Após as análises realizadas observou-se que as fronteiras prosódicas ocorreram em sua maioria em determinadas localidades sintáticas (DfD e IDF). Tais localidades podem favorecer o surgimento de fronteiras prosódicas em textos jornalísticos para permitir a realização de ênfases

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(marcador DfD) e pausas silenciosas (marcador IDF). Os resultados corroboram assim com a definição proposta por Barbosa (2006), mostrando a relação de níveis lingüísticos superiores, no caso a sintaxe, atuando nos aspectos prosódicos.

Em relação aos achados encontrados após a análise da curva melódica de determinados trechos do enunciado, utilizando o sistema de notação DaTo, observou-se que os contornos encontrados nos pontos analisados são do tipo ascendente. Ohala (1994) ao propor a existência de um código de frequência, argumenta que a expressividade refere-se a um nível de informação na comunicação, criando assim um vínculo entre som e sentido, que pode estar nas vogais, nas consoantes e na entoação. Podemos considerar que no texto telejornalístico o uso das variações da curva entoacional e, no enunciado estudado, os contornos ascendentes encontrados tem como objetivo aumentar a expressividade durante a narração, se tornando um recurso estilístico que permite principalmente a comunicação da notícia com mais eficiência para o ouvinte.

Visto que ocorreram mudanças com o trabalho focado em parâmetros prosódicos é necessário que ocorra uma exploração individual de recursos prosódicos, principalmente quando os sujeitos encontram-se em fase de formação. O fonoaudiólogo é parte importante na exploração desses recursos durante sua intervenção. Sugere-se também, para melhor aproveitamento da intervenção fonoaudiológica, o monitoramento dos parâmetros trabalhados ao longo do aprimoramento, como atividade complementar, para avaliação e análise do trabalho a ser desenvolvido.

A vivência da narração dos textos e a estimulação da percepção dos parâmetros prosódicos a serem trabalhados é fator importante para o aprimoramento do estilo. O treinamento da percepção auditiva na atuação fonoaudiológica é sugerido por Panico (2005) como estratégia de

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trabalho visto que, para a autora, a intervenção fonoaudiológica deve prezar pelo uso de pausas e ênfases coerentes com o sentido do texto, e por conta disso, a percepção auditiva é um importante coadjuvante na intervenção.

É importante ressaltar que o presente estudo tem por essência caracterizar o fonoestilo dos dois sujeitos que participaram do aprimoramento vocal realizado. Muitas análises foram realizadas e após as análises (inclusive a partir do resultado dos testes estatísticos realizados) percebemos mudanças em pontos específicos ao longo da locução. São esses pequenos traços de distintividade, de mudanças singulares, entre o momento pré e o momento pós-intervenção que caracterizam a fonoestilística.

De acordo com Fónagy (1976), o fonoestilo telejornalístico dá margem para poucas flutuações individuais devido às imposições feitas por um estilo oral mais estruturado que a conversação espontânea. Ao longo das análises realizadas observamos que, as poucas flutuações individuais que os sujeitos realizaram após o aprimoramento vocal são constituintes do estilo que foi sendo moldado e que usa referências do telejornalismo, pois, conforme discutido anteriormente, segundo Irvine (2001), as influências de um grupo contribuem para a composição do estilo.

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7. CONCLUSÃO

A partir das análises realizadas, observou-se em relação aos estudos de produção, desenvolvidos por meio da evolução das unidades VV, que tais unidades revelaram diferenças em pontos específicos do texto, como em posições de acento frasal, e com o aumento da duração das unidades em pontos que culminaram com a introdução de pausas silenciosas (escolhidas e pensadas pelos sujeitos) em determinados trechos. Apesar das mudanças específicas ao longo do enunciado, os valores de z-score comparando todo o enunciado não foram significativos para α = 5%, por conta da duração das unidades não proeminentes. Assim, pode-se dizer que não houve mudança na estruturação rítmica do texto como um todo, mas as mudanças que ocorreram em pontos específicos mostraram estratégias importantes utilizadas pelos sujeitos na tentativa de deixar a narração mais expressiva.

O aumento da variação da frequência fundamental parece ser um recurso muito utilizado pelos sujeitos para realizar ênfase, e se associa com o uso de pausa silenciosa e aumento da duração das unidades VV.Os testes perceptivo-auditivos realizados comprovam que nas sentenças em que os sujeitos realizaram maior variação de f0, os ouvintes têm maior tendência em julgar essas sentenças como mais enfáticas.

A análise da relação sintaxe-prosódia do enunciado nos mostrou que, os marcadores

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