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Estudo da estruturação prosódica de repórteres da TV Universitária - Unicamp antes e após intervenção fonoadiológica

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Academic year: 2021

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ANA CAROLINA CONSTANTINI

ESTUDO DA ESTRUTURAÇÃO PROSÓDICA DE REPÓRTERES DA TV

UNIVERSITÁRIA – UNICAMP ANTES E APÓS INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA

Dissertação apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título Mestre em Linguística.

Orientador: Prof. Dr. Plinio Almeida Barbosa

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Aos meus pais, Soraia e Olaerte, e à minha irmã, Ana Claudia, pela luta constante de cada dia.

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MEUS AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Soraia e Olaerte, e à minha irmã, Ana Claudia, por sempre acreditarem em mim e por apoiarem minhas decisões.

Ao Felipe, por me fazer ver a vida de um jeito melhor, por sempre despertar em mim sentimentos bons e por ser o maior incentivador de minha trajetória acadêmica e profissional.

Ao Prof. Dr. Plinio Almeida Barbosa, orientador impecável, disposto a ajudar e a contribuir em todos os momentos e exemplo de educador a ser seguido. Agradeço a oportunidade de ter sido sua aluna e fazer parte de um grupo tão seleto. Espero que essa parceria perdure por muitos anos.

À Profª. Drª. Lucia Figueiredo Mourão, meu exemplo de profissional, mulher, amiga e mãe, por me dar oportunidades que jamais esquecerei e por depositar confiança em meu trabalho, muitas vezes até mais que eu.

À jornalista Patrícia Lauretti, por abrir as portas da TV Unicamp e permitir que esse trabalho tenha sido executado, por ser sempre solicita e ser grande defensora do trabalho fonoaudiológico.

Ao Grupo de Estudos de Prosódia da Fala, pela cumplicidade, amizade e grande troca de conhecimentos e experiências e por ser um grupo do qual me orgulho em fazer parte.

A tantos professores queridas do Curso de Fonoaudiologia que me ajudaram a construir essa trajetória e a todos os funcionários do CEPRE e IEL.

Aos amigos que deixei em Ibitinga: Rodolfo Pazian, Luiza Paez, Rafael Chies, Paulo Freitas, Leandro Mattiolli, Larissa Itao, Eduardo Razza, Nara Cosin e aos amigos que fiz em Campinas: Sabrina Kubota, Myrian Favaro, Julia Araujo, Mayla Monteiro, Aline Mara de Oliveira, Maria Isabel Amaral, Larissa Rinaldi e Patrícia Conrado, pelo apoio e pela companhia que já dura muitos anos.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro para a realização desta dissertação.

A banca examinadora, por aceitar o convite em participar e contribuir com este trabalho. A todas as pessoas que torcem por mim, especialmente minha prima Célia Constantino, pessoa importante em minha vida.

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“Nós não precisamos de muita coisa. Só precisamos uns dos outros.” (Carlito Maia)

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo principal estudar a estruturação rítmica de enunciados de repórteres da TV Universitária – Unicamp que passaram por intervenção fonoaudiológica para aprimoramento vocal. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FCM (CEP/FCM/UNICAMP 211/2005). O estudo da estruturação rítmica desses enunciados se deu pela análise da evolução dos picos de duração de unidades do tamanho da sílaba (doravante Unidades VV), que compreendem o segmento acústico que vai de um onset vocálico até onset imediatamente seguinte, incluindo as consoantes entre eles (Barbosa, 2006). As unidades VV revelam informações sobre a estruturação rítmica de enunciados (Barbosa, 1994; 1996), fato que justifica o estudo dessas unidades dentro de enunciados telejornalísticos com a finalidade de conhecer a organização rítmica deste tipo de narração.

A partir da análise da evolução da duração das Unidades VV no discurso telejornalístico, foram traçados outros objetivos, como a relação da duração com a curva entoacional da leitura do texto, para cuja notação utilizamos o sistema DaTo (Lucente, 2007;2008). Em seguida, foram aplicados testes perceptivos com a finalidade de investigar como as estratégias utilizadas pelos sujeitos estudados eram percebidas pelo ouvinte. Outro ponto estudado foi a relação entre sintaxe e prosódia, a partir da Gramática de Dependência (Tesnière, 1965) e seu uso em dados do português brasileiro (Barbosa 2006). Após a análise dos resultados mostramos que os sujeitos realizam mudanças consistentes em pontos específicos do texto narrado na condição pós-intervenção. As mudanças se caracterizam pelo aumento do valor da duração de unidades VV em posições específicas de acento frasal, aumento da variação da curva da frequência fundamental para realização de ênfases. Essas mesmas ênfases foram julgadas por ouvintes a fim de saber a repercussão das mudanças observadas na análise acústica. Em relação aos dados correlacionando a

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sintaxe e a prosódia, as marcas de dependência mais encontradas foram IDF (marcador entre fim de sentença e início da próxima sentença) e DfD (marcador encontrado entre governante, um nome, por exemplo, e e governado, por exemplo, um adjetivo posposto). Os resultados obtidos mostram que após o aprimoramento vocal, os sujeitos tornaram-se mais expressivos ao narrarem o texto, melhoraram o conhecimento em relação aos parâmetros prosódicos que podem ser utilizados em suas narrações para compor o fonoestilo que desejam incorporar.

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xiii ABSTRACT

The objective of this work was the study of the rhythmic organization of announcements of TV broadcast from the Unicamp Universitary TV. Two students of journalism passed by vocal training workshops with a speech therapist. The vocal training workshops intended to improve phonoarticulatory aspects involved in journalistic announcement. The study of the rhythmic organization of the announcements was done by analyzing the duration of Vowel-to-Vowel Units (VV units) throughout the utterances before and after the training. These units reveal the rhythmic organization of announcements in Brazilian Portuguese (henceforth BP) and they include the acoustic segments that start at a vowel onset to the next vowel onset (Barbosa, 1994;1996; 2006).

Besides duration, the relationship between the melodic contour and the duration of VV units (using the DaTo notation system by Lucente, 2007; 2008) was investigated too. Perceptual tests were applied to try to reveal how the strategies used by the subjects to read the announcement would be interpreted by the listeners. Another aspect studied was the relationship between prosody and syntax according to the Dependency Grammar (Tesnière, 1965) theory (DG theory) as used by (Barbosa, 2006) to investigate this relationship in BP.

Results showed that the duration of specific VV units related to emphatic expression were higher in the utterances produced after training. These changes were located in stressed syllable position where the fundamental frequency also varies more in the case of particular emphasis. As to the relation with syntax, the most common DG marks founded were IDF (between utterances) and DfD (between a head and its right dependent). Results showed that after training the subjects became more expressive to read the announcement and they improve their knowledge about prosodic aspects that are involved in journalistic phonostyle.

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xv LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Duração bruta das unidades VV (em milissegundos) de um trecho selecionado da

condição pós-intervenção do sujeito 1 _____________________________________________ 20

Gráfico 2 – Valores de z- score (unidades de desvio-padrão) de trecho selecionado da condição

pós-intervenção do sujeito 1_____________________________________________________ 21

Gráfico 3 - Valores de z-score suavizado (unidades de desvio-padrão) de trecho selecionado da

condição pós-intervenção do sujeito 1 _____________________________________________21

Gráfico 4: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho 1;

pré e pós-intervenção; sujeito 1 __________________________________________________ 30

Gráfico 5: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho 1,

pré e pós-intervenção; sujeito 2 __________________________________________________31

Gráfico 6: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho 4,

pré e pós-intervenção; sujeito 1 __________________________________________________33

Gráfico 7: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho 4,

pré e pós-intervenção ; sujeito 2 __________________________________________________33

Gráfico 8: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho 9,

pré e pós-intervenção; sujeito 1 __________________________________________________ 34

Gráfico 9: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho 9,

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Gráfico 10: Histograma da evolução das Unidades VV em posição de fronteira prosódica forte, em

todos os trechos narrados, na condição pré-intervenção, para o sujeito 1 _________________ 36

Gráfico 11: Histograma da evolução das Unidades VV em posição de fronteira, em todos os

trechos narrados, na condição pós-intervenção, para o sujeito 1 _________________________37

Gráfico 12: Histograma da evolução das Unidades VV em posição de fronteira prosódica forte, em

todos os trechos narrados, na condição pré-intervenção, para o sujeito 2 __________________ 38

Gráfico 13: Histograma da evolução das Unidades VV em posição de fronteira prosódica forte, em

todos os trechos narrados, na condição pós-intervenção, para o sujeito 2 _________________ 39

Gráfico 14: Evolução dos grupos acentuais. Sujeito 1, pré-intervenção ___________________ 40

Gráfico 15: Evolução dos grupos acentuais. Sujeito 1, pós-intervenção ___________________ 41

Gráfico 16: Evolução dos grupos acentuais. Sujeito 2, pré-intervenção ___________________ 43

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xvii LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Porcentagem de votos nas três opções __________________________________ 57

Tabela 2- Média e desvio-padrão das respostas para cada sentença ___________________ 58

Tabela 3: Resultados obtidos para os dois sujeitos após comparação dos momentos pré e

pós-intervenção ________________________________________________________________ 66

Tabela 4: Resultados obtidos após comparação de f0 máxima, trecho a trecho para os dois

sujeitos, nas condições pré e pós-intervenção ______________________________________67

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xix LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Exemplo de espectrograma segmentado em unidades VV do trecho “Na passarela as

tendências da moda” ________________________________________________________ 18

Figura 2: Layout da tela do teste perceptivo-auditivo _______________________________ 25

Figura 3: Curva de f0 referente ao trecho 2: “as tendências da moda outono-inverno”. Condição

pré-intervenção do sujeito 1 ___________________________________________________ 45

Figura 4: Curva de f0 referente ao trecho 2: “as tendências da moda outono-inverno”. Condição

pós-intervenção do sujeito 1 ___________________________________________________ 46

Figura 5: Curva de f0 referente ao trecho 1, “do lado de fora”. Condição pré-intervenção, sujeito

1 _________________________________________________________________________ 49

Figura 6: Curva de f0 referente ao trecho 1, “do lado de fora”. Condição pós-intervenção, sujeito

1__________________________________________________________________________ 49

Figura 7: Curva de f0 referente ao trecho 2: “as tendências da moda outono-inverno”. Condição

pré-intervenção do sujeito 1 ____________________________________________________50

Figura 8: Curva de f0 referente ao trecho 2: “as tendências da moda outono-inverno”. Condição

pós-intervenção do sujeito 1 ____________________________________________________ 50

Figura 9: Curva de f0 referente ao trecho 3 : “e foi para a passarela brincando”. Condição

pré-intervenção, sujeito 1 __________________________________________________________ 51

Figura 10: Curva de f0 referente ao trecho 3 : “e foi para a passarela brincando”. Condição

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Figura 11: Curva de f0 referente ao trecho 1 : “do lado de fora”. Condição pré-intervenção,

sujeito 2 ___________________________________________________________________ 52

Figura 12: Curva de f0 referente ao trecho 1 : “do lado de fora”. Condição pós-intervenção,

sujeito 2 ___________________________________________________________________52

Figura 13: Curva de f0 referente ao trecho 2: “as tendências da moda outono-inverno”. Condição

pré-intervenção, sujeito 2 _____________________________________________________ 53

Figura 14: Curva de f0 referente ao trecho 2: “as tendências da moda outono-inverno”. Condição

pós-intervenção, sujeito 2 _____________________________________________________ 53

Figura 15: Curva de f0 referente ao trecho 3: “e foi para passarela brincando”. Condição

pré-intervenção, sujeito 2 _________________________________________________________54

Figura 16: Curva de f0 referente ao trecho 3: “e foi para passarela brincando”. Condição pós-

intervenção, sujeito 2 _________________________________________________________54

Figura 17: Curva de f0 da sentença 6 na condição pré-intervenção. A seta indica o trecho de f0

durante a palavra “clima” ____________________________________________________ 61

Figura 18: Curva de f0 da sentença 2 na condição pós-intervenção. A seta indica o trecho de f0

durante a palavra “clima” ____________________________________________________ 61

Figura 19: Curva de f0 da sentença 2 na condição pré-intervenção ____________________ 63

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xxi LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Valores de f0 nas condições pré e pós-intervenção para a sentença 6 durante a palavra

focada clima _______________________________________________________________ 62

Quadro 2: Valores de f0 nas condições pré e pós-intervenção para a sentença 2 para a palavra

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xxiii SUMÁRIO 1 Introdução ___________________________________________________________ 1 1.1 A Prosódia da fala __________________________________________________ 4 1.2 Fonoestilística ______________________________________________________4 1.3 Fonoestilística no telejornalismo _______________________________________ 6 1.4 A intervenção fonoaudiológica: Aprimoramento vocal _____________________ 8 2 Objetivos ___________________________________________________________ 11 3 Metodologia _________________________________________________________ 13

3.1 - Sujeitos _________________________________________________________ 13

3.2 - Programa de Intervenção Fonoaudiológica _____________________________ 14

3.3 - Corpus _________________________________________________________ 16

3.4 - Medidas efetuadas e softwares empregados ____________________________ 17

3.4.1-Evolução da duração das unidades VV _________________________ 17

3.5 - Testes perceptivos auditivos ________________________________________ 24

3.5.2 – Material e software para o teste ______________________________ 24

4 Análise estatística ______________________________________________________ 27

5 Resultados ____________________________________________________________ 29

5.1 - Estudo da produção (duração) ________________________________ 29

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5.3 – Testes perceptivo-auditivos ___________________________________56

5.4 – Distribuição da frequência fundamental _________________________ 65

5.4.1 Análise estatística da distribuição de f0____________________ 66

5.5-Análise dos marcadores sintáticos: Relação Sintaxe – Prosódia_________70

6 Discussão ____________________________________________________________ 77

7 Conclusão ____________________________________________________________83

8 Referências Bibliográficas_________________________________________________85

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1. INTRODUÇÃO

O ser humano tem na linguagem falada a sua principal forma de comunicação, que também pode ser complementada por outros tipos de informações e recursos. Além da troca de informações entre os sujeitos, e não menos importante, a comunicação possibilita a transmissão de pensamentos, envolve a emoção e tem importante função social e organizadora.

A fonoestilística diz respeito a essa função social e organizadora, pois trata das diferenças fonéticas perceptíveis ao indivíduo (que é o receptor de determinada mensagem), que são usadas com finalidade de transmitir diversos tipos de informação durante a comunicação, e adquirem geralmente um caráter expressivo.

O estilo está intimamente ligado com um “sistema de distinção”. O estilo, segundo Irvine (2001), pode caracterizar um indivíduo ou uma camada social e interage com a estética e com ideologias construídas. As características de um estilo não podem ser explicadas independentemente de outros estilos e de acordo com a autora a atenção dos estudos nessa área deve ser focada na caracterização da relação entre os estilos, o que inclui seus contrastes, seus limites e suas semelhanças.

O estilo de fala pode ser ajustado pelos falantes de acordo com a situação comunicativa e, segundo Léon (1993), determinadas profissões são associadas a um estilo de fala. Nesses casos, o estilo adquire um importante papel de distinção social e profissional.

Os estilos de fala, ou estilo de elocução, aqui chamados de fonoestilos, têm variações que ocorrem tanto intra-sujeito, quanto intra-grupo e para Irvine (2001), tais variações envolvem a forma como se fala.

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Em nossas relações diárias, a fala costuma ser espontânea, mas em determinadas atividades, como no Jornalismo, a fala precisa ser preparada, e segundo Panico (2005) construída com objetivos específicos, relativos à profissão e ao veículo de transmissão, fazendo com que a fala jornalística tenha envolvimento direto com a fonoestilística.

O fonoestilo de um determinado tipo de narração (cabe destacar que o termo narração utilizado neste trabalho diz respeito à narração utilizada no contexto do Jornalismo) pode revelar aspectos prosódicos utilizados para compor o estilo em questão. Segundo Barbosa (2006) a prosódia influencia o estilo de elocução e permite que o narrador chame a atenção do ouvinte para trechos importantes em seu discurso no momento de veicular a mensagem.

No presente trabalho, o fonoestilo estudado é o utilizado pelo Jornalismo, mais especificamente o jornalismo televisivo, ou telejornalismo. De acordo com Panico (2005), parâmetros relacionados à expressividade dos telejornalistas precisam ser utilizados de forma adequada durante a transmissão da mensagem ao telespectador, e, para que o objetivo da comunicação seja atingido, o ouvinte/telespectador precisa decifrar corretamente a mensagem.

Por ser um fonoestilo em que a fala precisa ser preparada, o telejornalismo tem sido um campo de estudo da Fonoaudiologia desde a década de 1980. O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para intervir junto à telejornalistas para possibilitar que a transmissão da mensagem seja mais eficiente e consciente.

Historicamente, na década de 1980, os profissionais do telejornalismo buscavam atendimento fonoaudiológico visando à solução de queixas e dúvidas sobre problemas vocais durante o uso profissional da voz. A partir da década de 1990, a Fonoaudiologia passou a preocupar-se com uma “habilitação” específica para o tratamento profissional da voz (Kyrillos,

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2004). Podemos dizer, grosso modo, que a grande maioria dos profissionais dessa população utiliza a voz profissionalmente de modo intuitivo e baseado na imitação de outros profissionais consagrados, fato que reflete no estilo de elocução adotado por cada profissional.

Sendo assim, o presente estudo toma como temática a interface entre a Fonoaudiologia e as Ciências da Fala, no que toca seus aspectos prosódicos.

1.1 A Prosódia da fala

A prosódia é um componente da fala, uma informação fônica, que está além do nível do segmento, e permite a estruturação e a organização dos enunciados nas diversas línguas.

Segundo Barbosa (1999), ao falarmos de prosódia precisamos distinguir seus aspectos de produção e seus aspectos de percepção. Os aspectos de produção são identificados por três parâmetros fonético-acústicos clássico: a duração (representada pela diferença de tempo entre dois eventos), a variação da frequência fundamental e a variação da intensidade. Os aspectos de percepção são identificados pelas noções de duração percebida, altura e volume. Para Barbosa (1999), para que a sensação da duração ocorra, é necessário que os parâmetros prosódicos citados atuem conjuntamente.

A atuação dos parâmetros prosódicos que são descritos acima por Barbosa (1999) possibilita que a prosódia assuma diferentes funções que contribuem diretamente na comunicação sendo que essas funções e todos os parâmetros prosódicos podem interagir e se sobrepor. Vieira (2007) cita em seu trabalho as seis funções essenciais da prosódia: 1) função modal: permite identificação da frase como declarativa, interrogativa ou exclamativa; 2) função estrutural: organiza a fala por meio da segmentação, encadeamento e proeminência interagindo com a sintaxe; 3) função pragmática: relaciona a mensagem a um contexto; 4) função atitudinal: quando reporta

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às informações dos objetivos do ato de fala e relação locutor/ouvinte; 5) função emotiva: expressa emoções como alegria, raiva, medo; 6) função identificadora: caracteriza o locutor, suas origens sociais, geográfica, idade e sexo.

O parâmetro duração tem relação direta com o ritmo, visto que, de acordo com Barbosa (2006) o ritmo pode ser definido como a variação a longo termo da duração percebida. Além disso, a duração tem papel fundamental para o ouvinte na tarefa de interpretar foneticamente a mensagem que escuta. (Duez, 1987).

Segundo Woodrow (1951), no que diz respeito à percepção do parâmetro acústico ritmo, a duração percebida a longo termo condiciona a nossa percepção de regularidade e de estruturação de um enunciado.

Os aspectos prosódicos estudados neste trabalho dizem respeito primeira e principalmente ao parâmetro duração. O parâmetro frequência fundamental também foi abordado em alguns pontos do estudo de forma complementar as análises que já haviam sido realizadas na tentativa de buscar mais informações sobre o fonoestilo estudado. O parâmetro intensidade não foi objeto de estudo deste trabalho, visto que, não foi devidamente controlado para permitir análises mais aprofundadas.

1.2 Fonoestilística

A fonoestilística, ou os estilos de fala, de diversas profissões vêm sendo estudados no que tange seus aspectos prosódicos no sentido de identificar como tais aspectos se comportam nos diferentes estilos. A comparação entre diferentes fonoestilos também é uma área estudada visto que, a partir de estudos de Léon (1993), que, ao notar a relação entre a prosódia e as características de diversos fonoestilos, reflete que mesmo com uma possível retirada do conteúdo semântico de

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estilos de fala de certas profissões ainda é possível que o ouvinte seja capaz de reconhecer a profissão a que pertence o estilo avaliado. Para Léon (1993), certas profissões, como o jornalismo, bem como certos indivíduos são mais fáceis de serem caracterizadas que outros.

As questões propostas por Léon podem ser vinculadas às reflexões trazidas por Irvine (2001) ao falar sobre as influências intra-sujeito e intra-grupo. Essas influências certamente contribuem para a construção de diversos fonoestilos e, mesmo que exista uma variação individual entre os sujeitos que utilizam determinados fonoestilos, eles ainda possam ser reconhecidos como pertencentes a uma classe profissional.

A comparação entre diferentes fonoestilos contribui para a definição de um determinado fonoestilo e pensando nisso, Castro (2008) em sua tese de Doutorado, estudou diferentes fonoestilos: jornalismo, situação de entrevista, fala do entrevistado e político. A autora concluiu, com base em particularidades dos parâmetros prosódicos de cada fonoestilo, que o ouvinte é capaz de ter pistas acústicas suficientes para diferenciar cada um dos fonoestilos estudados sem conteúdo semântico. Os ouvintes foram capazes de diferenciar os diferentes fonoestilos com uma faixa de 86% a 96% de acurácia.

No que diz respeito aos parâmetros prosódicos mais estudados quando falamos de fonoestilística, encontramos os aspectos relacionados à duração, incluindo duração de pausas, duração de sequências silábicas e taxa de elocução e aspectos relacionados à frequência fundamental, como média da frequência fundamental, desvio-padrão e porcentagens de diferentes tipos de contornos de f0. (Castro et. al.2010)

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1.3 Fonoestilística no Telejornalismo

Como já dito anteriormente, os parâmetros prosódicos podem ser usados na narração telejornalística como um indicador e criador de estilo. Em relação aos seus correlatos lingüísticos, a fonoestilística do telejornalismo é um terreno pouco estudado.

O fonoestilo do telejornalismo é descrito por Castro (2008) como um fonoestilo que combina simultaneamente traços de leitura oral e de fala espontânea, pois em seu discurso, o profissional telejornalista conta com apoio visual da leitura, mas busca uma produção com características de fala espontânea.

Ao tentarem criar seu próprio estilo de elocução, muitas vezes os profissionais do telejornalismo acabam buscando inspiração em profissionais com estilos já consagrados. Tal fato é algo recorrente quando falamos de estilo, pois, de acordo com Irvine (2001) o estilo adotado tem influências do próprio sujeito e do grupo no qual o sujeito está inserido, o que a autora chama de influência intra-grupo.

As influências intra-grupo na caracterização de um estilo individual são tão marcantes que Fónagy (1976) discorre sobre a existência de determinados grupos profissionais que têm características expressivas marcantes na elocução. Essas características expressivas fazem com que os ouvintes consigam reconhecer a qual grupo profissional o falante pertence. Fónagy (1976) ainda destaca que o fonoestilo telejornalístico apresenta características tão particulares que o tornam interessante para estudos dos correlatos prosódicos.

O uso dos parâmetros prosódicos na criação de um estilo, bem como os locais específicos que esses recursos são empregados e o uso efetivo dos parâmetros são escolhas inconscientes ou

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não, segundo Castro (2008). Para Castro, todas as escolhas citadas acima dependem do objetivo da comunicação e do efeito estilístico que se busca.

Apesar de o fonoestilo do telejornalismo ser facilmente reconhecido pelos ouvintes, alguns autores já citados, como Castro (2008) e Kyrillos (2004) destacam o fato do uso, muitas vezes inconsciente, de parâmetros prosódicos e expressivos em suas falas, o que resulta em um estilo de elocução mais empírico, principalmente no começo da profissão. A utilização dos parâmetros prosódicos compõe o fonoestilo jornalístico e podem variar de acordo com a organização da produção da fala, do estilo da notícia, da importância e conteúdo da notícia conforme as crenças, intenções, sexo e idade do apresentador.

Dentro dos trabalhos que buscam compreender o uso de parâmetros prosódicos no fonoestilo do telejornalismo, está o trabalho de Reis (2005). O autor destaca que os principais parâmetros fonéticos responsáveis pela estruturação prosódica desse fonoestilo são a frequência fundamental, a duração e a intensidade (além disso, o autor aponta para a importância do uso da espectrografia para os estudos acústicos que podem ser realizados com esse tipo de fonoestilo).

Quando pensamos na preparação de futuros telejornalistas, o cuidado com as escolhas no momento de narrar um texto e a percepção dos recursos possíveis em uma elocução é pequeno. Em um dos estudos pioneiros com estudantes de jornalismo, Servilha (2002) teve como objetivo assessorar, ainda no período de formação, alunos de um curso de Jornalismo, quanto à educação vocal, e também como conhecer sua comunicação e aprimorá-la para uso profissional. O projeto foi intitulado “Oficina de Voz”, que incluiu um questionário respondido pelos alunos sobre questões relacionadas a hábitos vocais, consciência vocal, videogravações em estúdio que tinham como tema o início da Oficina de Voz. Para a autora, à medida que os encontros foram se

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sucedendo, pequenas, mas consistentes mudanças na postura e comunicação do grupo foram sendo observadas. As qualidades de voz que eram alteradas, gritadas, com altura da voz agudizada e ressonância laríngea foram substituídas por vozes mais graves e projetadas, a articulação se tornou mais precisa e aberta, contribuindo para uma comunicação fácil e segura.

A preparação e a assessoria a alunos de cursos de Jornalismo ainda é algo pouco comum no Brasil, visto que poucos cursos de Jornalismo abordam essa questão.

Atualmente, com a recente entrada da televisão digital, algumas mudanças começam a ser notadas também no formato de telejornais, como a apresentação sem uso de bancada e sem uso de teleprompter1. Por conta disso, muito provavelmente os recursos estilísticos usados pelos profissionais do telejornalismo devem se adaptar a esse novo formato.

1.4 A intervenção fonoaudiológica: Aprimoramento Vocal

Visto que o fonoaudiólogo é o profissional capacitado para trabalhar com aspectos relacionados ao aprimoramento da comunicação e no caso dos telejornalistas, no aprimoramento do estilo de elocução, a literatura destaca vários tipos de programas de treinamento para profissionais da voz com diferentes tipos de metodologia.

Repórteres e apresentadores de uma emissora de televisão participaram de uma Oficina de Narração, em que discutiam possibilidades de narração de textos, liam textos redigidos pelos colegas e ouviam seu texto ser lido por outros profissionais (Stier e Costa Neto, 2005). Os autores relatam que todos os parâmetros envolvidos na fala devem ser compreendidos pelos repórteres, para que assim, correções possam ser feitas no momento da narrativa. A metodologia utilizada por esse trabalho ressalta um fator importante para obtenção de bons resultados após o treinamento

1 Teleprompter é um equipamento acoplado em frente às câmeras filmadoras que exibe o texto a ser lido pelo

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vocal: a auto-percepção dos sujeitos sobre as diferentes possibilidades de produção vocal a serem utilizadas no momento de narrar o texto.

Em um trabalho que buscou testar a efetividade de um programa de treinamento vocal em futuros profissionais da voz, Timmermans et. al. (2005) destacam que é sabido que profissionais da voz precisam de bom funcionamento vocal, ressonância vocal adequada e uma voz considerada bonita. Segundo os autores espera-se que esses profissionais da voz recebam treinamento vocal, mas nem sempre isso acontece, por isso, pesquisas científicas que visam saber o efeito desses treinamentos na população são raras. Os pesquisadores realizaram um programa de treinamento vocal com 23 sujeitos que eram futuros profissionais da voz (atores e diretores de rádio). O treinamento vocal durou 18 meses e os sujeitos foram gravados três vezes ao longo desse tempo para permitir a comparação dos resultados: início do treinamento, após nove meses de treinamento e ao final do treinamento. Os sujeitos da pesquisa receberam orientações quanto à saúde vocal, treinamentos com leituras, workshops técnicos e aconselhamento vocal. Os autores concluíram que o programa foi efetivo após os primeiros nove meses de treinamento e que o programa já poderia ser consolidado após esse tempo. Após análise de questionários, avaliações da qualidade vocal e realização de medidas acústicas como frequência fundamental máxima, intensidade mínima e jitter, os autores relatam que houve uma significante melhora na qualidade vocal adotada pelos futuros profissionais da voz. Não existem relatos sobre uso dos parâmetros prosódicos que poderiam melhorar também as tarefas de leitura e narração, pois provavelmente, estas análises não eram o objetivo principal do programa.

Pensando na metodologia utilizada no decorrer da intervenção ou treinamento, outro estudo de Timmermans et. al.(2002) buscou na literatura as diferenças dos tipos de treinamento vocal aplicados em profissionais da voz. Os autores analisaram nove trabalhos com o mesmo foco e

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concluíram que não há uniformidade metodológica no momento de aplicar o treinamento. Além disso, os autores relatam a diversidade de parâmetros analisados nas pesquisas. Apesar da grande diversidade metodológica é consenso dos autores que os treinamentos vocais geram mudanças consistentes tanto em padrões vocais, como melhor uso da voz, redução de situações de risco que causariam problemas vocais, quanto no que diz respeito à eficiência da comunicação.

Hazzlet et. al. (2010), fizeram uma pesquisa sistemática em bases de dados na tentativa de listar trabalhos que incluíam treinamento vocal em profissionais da voz. Os treinamentos vocais com profissionais da voz descritos na literatura são diretos (dão orientações) ou indiretos (com realização de exercícios e atividades práticas). Os 10 estudos foram analisados quanto a: desenho de cada estudo, os sujeitos participantes, tipo de intervenção e medidas realizadas. Após a análise dos dados conclui-se que os sujeitos foram beneficiados pelo treinamento vocal, com melhora da qualidade vocal e aquisição de conhecimento sobre os recursos da fala. Todos os trabalhos listados eram da última década, o que pode indicar que o treinamento vocal em profissionais da voz é uma área nova e em crescimento.

Para execução do presente trabalho foi realizado um programa de intervenção fonoaudiológica, com metodologia utilizada a ser explicada no capítulo Metodologia. Norteados por essa intervenção, tivemos por objetivo analisar parâmetros prosódicos que pudessem revelar mudanças no estilo de elocução dos sujeitos estudados.

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2. OBJETIVOS

O objetivo principal do trabalho foi analisar acusticamente mudanças no estilo de elocução de dois sujeitos estudantes de jornalismo que passaram por um programa de intervenção fonoaudiológica. O parâmetro acústico que foi objeto de análise inicial foi a duração das Unidades Vogal-Vogal (doravante unidades VV), por meio da comparação da evolução de sua duração nos enunciados pré e pós-intervenção fonoaudiológica.

Objetivos secundários do trabalho foram traçados a partir da análise inicial da duração das unidades VV. Dentre os objetivos secundários estão:

 Analisar a curva entoacional de pontos estratégicos da narração telejornalística, pré e pós-intervenção fonoaudiológica;

 Analisar os valores de frequência fundamental média, mínima, máxima e de variação de frequência fundamental pré e pós-intervenção fonoaudiológica;

 Realizar testes de percepção auditiva para saber qual a repercussão que as mudanças encontradas nas análises anteriores têm no ouvinte;

 Investigar a relação sintaxe-prosódia na elocução telejornalística utilizando marcadores sintáticos que podem ser úteis para revelar o papel da sintaxe na organização prosódica no português brasileiro.

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3. METODOLOGIA

O presente capítulo apresenta características dos sujeitos estudados, do corpus coletado e faz descrição de como foi realizado o Programa de Intervenção Fonoaudiológica. Além disso, são apresentadas as etapas realizadas na análise dos dados obtidos de acordo com o surgimento da demanda e da necessidade de buscar descritores para fenômenos encontrados durante a etapa de análise de dados. O projeto inicial desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FCM (CEP/FCM/UNICAMP 211/2005).

3.1- Sujeitos

Os dois sujeitos estudados tinham a mesma idade (21 anos) e eram do sexo feminino, estudantes de curso superior de Jornalismo e estagiários da TV Universitária da Unicamp. Os sujeitos não tinham histórico de problemas fonoarticulatórios e auditivos e receberam intervenção fonoaudiológica por um período de seis meses, semanalmente, com encontros que duraram 1 hora e 30 minutos. O fato de os dois sujeitos estudados serem do sexo feminino foi circunstancial, visto que eram os sujeitos que realizavam o estágio na TV Universitária na época do estudo. Ao mesmo tempo, a similaridade da faixa etária, escolaridade e tempo de experiência no estágio poderiam facilitar eventuais comparações de resultados após a intervenção fonoaudiológica.

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3.2- Programa de Intervenção Fonoaudiológica

O programa de intervenção fonoaudiológica, que ocorreu sob forma de aprimoramento vocal, incluiu o trabalho com diversos parâmetros fonoarticulatórios, como: pausas, ênfases, articulação, entoação, ressonância e taxa de elocução.

O programa de intervenção era divido em duas partes durante os encontros. Na primeira parte eram realizados exercícios de aquecimento vocal. A articulação, por exemplo, foi trabalhada com auxílio de técnicas e exercícios da terapia fonoaudiológica, como a leitura com sobrearticulação, ou hiperarticulação, que objetivam facilitar e aprimorar a articulação no momento de narrar o texto, ao guiarem o sujeito, pelos exercícios, a deixar a articulação mais precisa. Outro parâmetro trabalhado durante os encontros, a ressonância, também contou com auxílio de técnicas e exercícios da terapia fonoaudiológica que tinham como objetivo deixar a ressonância, a amplificação dos sons no trato vocal, oralizada e dessa forma, eliminar ressonâncias posteriores, ou com foco nasal, que poderiam deixar o texto telejornalístico menos claro para o ouvinte.

A segunda parte dos encontros foi dedicada à leitura de textos jornalísticos produzidos pelos próprios sujeitos, que já haviam sido gravados para veiculação nos programas da TV Universitária. Os parâmetros fonoarticulatórios como pausas, ênfases, taxa de elocução, entoação e articulação, foram trabalhados durante a leitura dos textos. Para melhor assimilação, os parâmetros eram exemplificados de forma simples e metalinguisticamente durante a intervenção e a leitura de um texto, com a finalidade de desenvolver a percepção e aprimorar esses parâmetros durante as narrações. Dessa forma, esperava-se que os sujeitos pudessem criar seus próprios estilos de elocução na narração.

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Os textos utilizados durante os encontros eram dos mais diversos estilos jornalísticos: cultura, comportamento, policial e político. A variedade dos estilos de textos jornalísticos permitiu que os sujeitos pudessem realizar mudanças nos parâmetros trabalhados dependendo do texto jornalístico a ser lido, fato que também contribui para o aprendizado e assimilação desses parâmetros.

Durante os encontros, foi possível perceber que os sujeitos puderam assimilar os conhecimentos que foram passados e as instruções que foram dadas. A percepção dos próprios sujeitos no momento de narrar o texto também melhorou consideravelmente, visto que os sujeitos começaram a ter domínio do uso de ênfases, fato que não acontecia no início dos encontros. Também puderam realizar maior modulação, com diferentes tipos de entoação, para deixar a leitura mais expressiva e mais interessante para o ouvinte.

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3.3- Corpus

Para o fim deste trabalho de mestrado, foi solicitado que os dois sujeitos lessem um mesmo texto em dois momentos: pré e pós-intervenção fonoaudiológica, com 10 repetições da leitura em cada momento. A gravação das leituras em cada momento foi divida em dois dias para que não houvesse fadiga vocal, ou cansaço dos sujeitos. Os participantes escolheram suas estratégias para a narração do texto de acordo com a assimilação pessoal dos parâmetros trabalhados durante o aprimoramento vocal, a partir dos efeitos provocados pela sua enunciação durante as sessões, sem instrução explícita. Dessa forma, as escolhas enunciativas feitas pelos sujeitos no momento de narrar o texto analisado emergiram do trabalho realizado nas oficinas, visto que os sujeitos foram informados durante o trabalho de aprimoramento vocal sobre quais eram os parâmetros e quais suas funções. Para leitura do texto analisado, nada foi dito sobre qual parâmetro deveria ser utilizado ou em qual circunstância. O texto lido foi retirado do artigo de Stier e Costa Neto (2005) e encontra-se a seguir numerado em segmentos para melhor visualização dos gráficos que seguem.

“No camarim ansiedade e corre-corre. Do lado de fora, [Trecho 1] o DJ se prepara para dar um clima de festa ao desfile. [Trecho 2] Na passarela, [Trecho 3] as tendências da moda outono-inverno [Trecho 4] apresentadas por grifes de Campinas. Muita sensualidade nas transparências, [Trecho 5] ousadia nas peças criadas com exclusividade para a São Paulo Fashion. [Trecho 6] Peças inspiradas nos anos 70 vieram com tecidos leves e muita renda. [Trecho 7] Para os homens cores fortes, marcantes. Esta marca abusou [Trecho 8] das sobreposições e foi para a passarela brincando de “Alice no país das maravilhas”.” [Trecho 9]

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3.4- Medidas efetuadas e softwares empregados

3.4.1- Evolução da duração das unidades VV

Foram realizadas análises da evolução da duração das Unidades VV ao longo dos enunciados gravados, bem como média e desvio-padrão dessas durações para os dois sujeitos estudados nas duas condições. As Unidades VV compreendem o segmento acústico que vai de um

onset vocálico até onset imediatamente seguinte, incluindo as consoantes entre eles e também as

pausas silenciosas (Barbosa, 2006) e podem ser visualizadas na figura 1. A variação das durações como o aumento e a diminuição da duração das unidades foram estudados, assim como os picos de duração das unidades para os dois sujeitos. O estudo da evolução da duração das unidades VV pôde revelar as escolhas que os sujeitos fizeram no momento de narrar o enunciado.

Para as análises em questão foi utilizado o software PRAAT (Boersma & Weenink, 2007). O software permitiu a segmentação e etiquetagem das unidades VV, que foram realizadas manualmente, bem como executar programas que permitiram a obtenção de medidas normalizadas de duração e de frequência fundamental.

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Figura 1 – Exemplo de espectrograma segmentado em unidades VV do trecho “Na passarela as tendências da moda”. Transcrição com o Alfabeto Fonético Internacional.

Na figura acima podemos observar como a segmentação dos dados é feita. Observe que na unidade ɐ] temos o ditongo ɐque não é separado na segmentação das unidades VV. A transcrição da figura acima foi feita com os símbolos do IPA, porém, nos gráficos abaixo, que ilustram o cálculo de z-score e a evolução da duração das Unidades Vogal-Vogal, foi usada uma transcrição mais larga, em que o [é representado pelo [eh] e o [ é representado pelo [R], entre outros.

O script SG Detector, desenvolvido por Barbosa (2006, p. 170) foi utilizado para calcular a duração normalizada das unidades em questão utilizando um procedimento básico em estatística, que consiste em encontrar o valor de z-score, valor que especifica o afastamento do valor medido em relação a uma média, em unidades de desvio-padrão. A normalização das durações das unidades VV pelo cálculo de z-score segue a fórmula abaixo:

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Em que dur é a duração da unidade VV em milisegundos, e são respectivamente a média e a variância de cada fone que compõe a unidade VV, tomados de uma tabela montada a partir do cálculo desses dois descritores estatísticos de um corpus com os fones em todos os contextos fônicos que a fonotaxe da língua admite (Barbosa et al., 1999).

O cálculo do z-score suavizado, que foi utilizado no presente trabalho, é feito pela seguinte fórmula:

Na fórmula acima, é o valor de z-score atual (o z da fórmula anterior).

Segundo Barbosa (2006, p. 170), a suavização permite atenuar variações locais advindas da queda da duração nas unidades VV pós-tônicas ressaltando os aspectos prosódicos superiores à palavra fonológica no enunciado, além de atenuar durações de fones muito distintos da relação de durações dos fones do português brasileiro (PB).

Quando o afastamento do valor medido está à esquerda da média, os valores de z-score são negativos e quando o afastamento for à direita da média o valor é positivo. Para melhor exemplificar, usaremos o valor de z-score de unidades VV utilizadas no presente estudo.

A seguir são apresentados os gráficos de um mesmo trecho comparando a duração bruta das unidades VV, em milissegundos, os valores de z-score e de z-score suavizado. O trecho utilizado é: “criadas com exclusividade para São Paulo Fashion”.

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Gráfico 1 – Duração bruta das unidades VV (em milissegundos) do trecho “criadas com exclusividade para São Paulo Fashion”da condição pós-intervenção do sujeito 1.

No gráfico da duração bruta das Unidades VV do trecho estudado, observamos a presença de quatro picos de proeminência de duração dessas Unidades. Os picos observados no trecho acima coincidem com pequenas ênfases que o sujeito realizou nas Unidades VV do trecho, nas palavras “com exclusividade” e “Fashion”.

0 100 200 300 400 500 600 700

Evolução da duração via duração Bruta (ms)

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Gráfico 2 – Valores de z- score (unidades de desvio-padrão) do trecho “criadas com exclusividade para São Paulo Fashion” da condição pós-intervenção do sujeito 1.

Com o cálculo de z-score observamos ainda a presença de quatro picos, que encontram-se mais suavizados.

Gráfico 3 - Valores de z-score suavizado (unidades de desvio-padrão) do trecho “criadas com exclusividade para São Paulo Fashion”da condição pós-intervenção do sujeito 1.

-5 0 5 10 15 20

Evolução da duração via z-score

Z score -2 0 2 4 6 8 10

Evolução da duração via z-score suavizado

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No gráfico 3, de z-score suavizado, observarmos a presença de dois picos de proeminência. Os dois picos de proeminência observados no gráfico do z-score suavizado são as proeminências que mais se destacam, ou seja, as proeminências com maior probabilidade de serem percebidas auditivamente no trecho em questão.

Medidas de duração normalizada foram utilizadas, visto que estes valores estão mais correlacionados com a percepção da proeminência do que os valores brutos das unidades VV (Barbosa, 2006).

Cabe ressaltar que para o sujeito 1 cada texto narrado foi segmentado em 162 unidades VV, já o mesmo texto, narrado pelo sujeito 2 foi segmentado em 167 unidades VV. A diferença entre a quantidade de unidades VV para os dois sujeitos se deve ao fato de que, acusticamente, alguns trechos que contém ditongos, por exemplo, por conta da coarticulação, não são possíveis de serem segmentados. Para que a análise das unidades VV fosse realizada com mais rigor, quando um trecho não podia ser segmentado em unidades VV em alguma das narrações, todos os outros trechos correspondentes nas outras leituras foram segmentados da mesma maneira.

A unidade VV [awl] que está no segmento “São Paulo Fashion” tem como média de z-score suavizado -0,36 na condição pré-intervenção e -0,73 na pós-intervenção para o sujeito 1. Tais valores mostram que a unidade em questão está afastada em direção à esquerda da média, em unidades de desvio-padrão e que se afastou ainda mais após a intervenção. Em outro trecho analisado (não representado nos gráficos acima), referente à sentença “apresentadas por grifes”, a unidade [ɐsp] tem como valor médio na condição pré-intervenção 0,70 e na condição pós-intervenção -0,271, significando que na condição pré-pós-intervenção o valor médio de z-score está à

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direita da média e na pós-intervenção está à esquerda da média (valor negativo de z-score). E, portanto, que a duração normalizada é maior antes da intervenção.

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3.5 Testes perceptivo-auditivos

Testes perceptivo-auditivos foram montados e aplicados com a finalidade de saber como as estratégias utilizadas pelos repórteres após a intervenção fonoaudiológica têm repercussão no ouvinte. Estratégias adotadas pelos sujeitos poderiam aumentar a expressividade no momento de narrar o texto e o presente teste teve como parâmetro de análise a ênfase.

3.5.1 Material e software para o teste

Para aplicação do teste foram selecionadas 40 amostras de fala, incluindo amostras dos dois sujeitos. Dezoito amostras (45%) pertenciam ao sujeito 1 e 22 amostras (55%) pertencentes ao sujeito 2. Do total das 40 amostras utilizadas, 20 trechos pertencem à pré-intervenção fonoaudiológica e os outros 20 trechos correspondentes a estes, pertencem ao momento da pós-intervenção.

É importante ressaltar que dentre os 20 pares de sentenças apresentadas aos ouvintes, seis pares de sentenças eram do tipo distratoras, ou seja, não fazem parte da análise final. Sendo assim, são analisados nas tabelas abaixo os resultados para 14 pares de sentenças. Cada par de sentenças foi apresentado seguindo duas ordens diferentes: pré-intervenção seguida de pós-intervenção e pós-intervenção seguida de pré-intervenção.

A seleção dos trechos a serem avaliados foi feita a partir da análise das durações das unidades VV, visto que muitas posições estatisticamente significativas incluem durações de palavras inteiras que são mais longas no trecho na condição pós-intervenção. A maior duração das palavras na condição pós-intervenção poderia estar relacionada com o recurso de ênfase utilizado pelos sujeitos, provocando uma mudança na curva melódica do enunciado. Assim julgamos necessário saber o que o aumento dessas durações provocaria no ouvinte. As palavras escolhidas

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para a realização do teste perceptivo são chamadas de palavras-alvo. Os pares de estímulos foram apresentados de forma aleatória de dois tipos, tanto em relação aos sujeitos (com amostras de fala dos dois sujeitos) e em relação à ordem de apresentação dos estímulos.

O teste de percepção foi montado utilizando o software PRAAT, com experimentos de percepção do tipo Multiple Forced Choice (MFC). Na figura 4 podemos observar o layout da tela de aplicação do teste.

Figura 2: Layout da tela do teste perceptivo-auditivo.

O teste foi aplicado em 20 sujeitos, selecionados de forma que não tivessem conhecimento aprofundado sobre a questão a ser julgada, sendo que fonoaudiólogos e lingüísticas não responderam ao teste. Os sujeitos foram instruídos a julgar se, na segunda sentença apresentada, a palavra-alvo era mais ou menos enfática que na primeira sentença apresentada. Os sujeitos poderiam julgar a segunda sentença como a) menos enfática; b) igual; e c) mais enfática. Para facilitar a realização das tarefas pelos ouvintes, o texto referente à sentença apresentada foi

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inserido na tela juntamente com as sentenças. A palavra-alvo a ser julgada como mais, menos ou igualmente enfática foi apresentada em letras maiúsculas. O tempo de intervalo entre a apresentação dos estímulos foi de 0,5 segundo.

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4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

O total de Unidades VV etiquetadas e medidas para o sujeito 1 pré e pós-intervenção foi de 3240 unidades e para o sujeito 2 foram medidas e etiquetada 3340 unidades VV. Para a análise dos dados obtidos após a análise das unidades VV pré e pós-intervenção foram aplicados os seguintes testes estatísticos: a) Teste T para variáveis independentes para os valores de duração normalizada para toda leitura, que foi não significativo para α = 5% e b) Teste T pareado, que foi realizado considerando posições específicas ao longo do texto. Em algumas dessas posições foram observadas diferenças estatisticamente significativas para locais de proeminência.

O primeiro teste estatístico realizado, Teste T para variáveis independentes, teve como objetivo avaliar as médias dos valores de duração normalizada de todo o texto narrado, comparando os momentos pré e pós-intervenção. A hipótese nula para esse tipo de teste é que as médias dos dois grupos são iguais (Dowdy, et. al. 2004). Após a realização do teste para os dados dos dois sujeitos estudados, adotou-se α = 5% e conclui-se que não houve diferença entre os valores normalizados (z-score suavizado) entre pré e pós-intervenção fonoaudiológica. Isso significa que, globalmente, considerando as leituras como um todo, as durações são estatisticamente indiferenciadas. Isso não impede diferenças em trechos específicos.

Na tentativa de verificar mudanças dentro do texto que poderiam ser realizadas pelos sujeitos no momento de narrar o texto em cada situação de análise, foi realizado o segundo teste estatístico (Teste T pareado). Percebeu-se que existem muitas situações em pontos específicos do texto para as quais os sujeitos realizam mudanças da condição pré-intervenção para a condição pós-intervenção. Sendo assim, o teste T pareado foi realizado comparando um ponto pré-intervenção com o mesmo ponto correspondente na pós-pré-intervenção. O α adotado para o teste foi de 5% e as posições estatisticamente significantes ocorreram em sua grande maioria em posições

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de proeminência. Em alguns pontos das narrações foi observado que as posições de duração normalizada que eram significativas ocorriam em sequência, ou seja, ocorriam em alguns trechos inteiros como em “corre-corre” para o sujeito 1. Quando esse fato ocorria, o α adotado para significância foi menor, sendo o cálculo para o novo α a divisão de 0,05 pelo número de unidades VV comparadas. Para exemplificar, no trecho “corre-corre” existem cinco unidades VV e todas essas unidades se incluem no valor adotado de α = 0,05. Para dizermos que o trecho todo (“corre-corre”) é significante, a conta feita foi:

α = 0,05÷5 = 0,01

Assim, ao dividirmos o valor de α (0,05) pelo número de unidades VV no trecho (5) obtemos um novo valor de α = 0,01, que deve ser adotado para dizermos que o trecho inteiro é estatisticamente significante na condição pós-intervenção.

É importante ressaltar que, mesmo que o Teste T pareado tenha revelado diferenças significativas ao longo do texto, comparando as durações ponto a ponto nas duas condições, não podemos dizer que a duração normalizada (z-score) para toda a leitura foi significativo, visto que o primeiro teste realizado, Teste T para variáveis independentes não foi significativo para α = 5%. Essa diferença se dá pelo contributo dos trechos não proeminentes, que são majoritários e, nos quais, não há diferença significativa em termos de duração normalizada. Ou seja, os dois sujeitos mudaram suas estratégias duracionais em pontos específicos do texto.

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5. RESULTADOS

5.1- Estudo de produção (duração)

Com a aplicação do Teste de Student pareado que foi globalmente não significativo para alfa = 5%, observamos que as diferenças estatisticamente significativas ocorrem em sua grande maioria em posições de acento frasal. Pode-se observar, no Gráfico 4, que as posições de acento frasal são aquelas que correspondem aos locais de pico de duração.

Nessas posições específicas as unidades VV pertencem a palavras cujas durações de cada unidade VV, como um todo, são maiores na condição pós-intervenção, para os dois sujeitos estudados.

Para melhor visualização dos resultados obtidos foram construídos gráficos que comparam os valores das médias e desvio padrão de z-score nas condições pré e pós-intervenção fonoaudiológica para os participantes estudados.

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Gráfico 4: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho “No camarim, ansiedade e corre-corre. Do lado de fora”; pré e pós-intervenção; sujeito 1. S representado no gráfico diz respeito a pausas silenciosas. Picos são representados pelas setas em “camarim”,“corre-corre”e“fora”.

O trecho 1 do sujeito 1 corresponde à sentença “no camarim, ansiedade e corre-corre. Do lado de fora...”. O gráfico nos mostra dois pontos em que o valor de z-score é negativo, o que significa estar à esquerda da média, nas duas primeiras unidades: [uk] e [am]. Pelo gráfico, podemos observar três locais de proeminência, que são marcados por picos no gráfico e apontados pelas setas, nas sílabas finais de camarim, corre-corre e fora. Após as três palavras houve realização de pausa silenciosa nas duas condições estudadas. As mesmas posições de proeminência seguidas de pausas silenciosas (nas duas condições estudadas) em corre-corre e fora, podem ser visualizadas no gráfico seguinte, no mesmo trecho analisado para o sujeito 2.

-2 0 2 4 6 8 10

Trecho 1

Pré-Intervenção Desv Pad Pré Pós -intervenção Desv pad pós S S S

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Gráfico 5: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho “No camarim, ansiedade e corre-corre. Do lado de fora”; pré e pós-intervenção; sujeito 2. A letra S representada no gráfico diz respeito à pausas silenciosas. Picos são representados pelas setas em “camarim”,“corre-corre”e“fora”.

Podemos perceber com a análise dos gráficos 4 e 5, pertencentes ao primeiro trecho estudado, que no gráfico 4, referente aos dados do sujeito 1, ocorre ligeira diminuição na duração das unidades VV no momento pós-intervenção em grande parte do trecho, enquanto que no gráfico 5, referente ao sujeito 2, observa-se aumento significativo (resultados estatísticos informados antes)da duração das unidades VV. Nos gráficos 4 e 5 podemos perceber que os picos de duração existentes ocorrem na proximidade das sílabas tônicas na condição pós-intervenção e, nesses locais, ocorre também aumento do desvio-padrão, fato que demonstra que os sujeitos variaram bastante a produção das sílabas tônicas no discurso. A maior duração das pós-tônicas em “corre-corre” e “fora” é devida às pausas silenciosas que as seguem, fato que indica fronteira prosódica forte. Segundo Barbosa (2006) diferentemente das sílabas tônicas, as sílabas átonas funcionam

-4 -2 0 2 4 6 8 10

uk am aR iN aNs ied ad ik ohr Ik ohr Id ul ad Ud if ohR A

Trecho 1

Pré-Intervenção Desv Pad Pré Pós-intervenção Desv Pad Pós S S S

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como um marca-passo, sem grandes variações duracionais, fato que também podemos observar nos gráficos nas curvas de desvio-padrão.

A partir da análise dos dados podemos perceber que os sujeitos dispõem de estratégias semelhantes no momento pós-intervenção que não são utilizadas no momento pré-intervenção, como o prolongamento de sílabas. Nos gráficos, o prolongamento das sílabas é observado quando a duração das unidades VV aumenta de uma condição para a outra.

As marcações com a letra S nos gráficos representam o uso de pausas silenciosas que foram adotadas como estratégia pelos sujeitos na condição pós-intervenção. Em determinados trechos do enunciado, como podemos ver no gráfico 5, as pausas silenciosas ocorrem nos picos de duração das unidades VV mostrados pelas setas. Pausas silenciosas também ocorrem na condição pré-intervenção, realizadas pelos dois sujeitos, porém, as pausas silenciosas nesta condição são as que ocorrem entre final e início de frase. Nos gráficos 4 e 5, observamos que os sujeitos realizam uma pausa silenciosa na condição pós-intervenção entre as palavras “camarim” e “ansiedade”, e nesse caso, a pausa silenciosa foi utilizada como uma estratégia de narração. Para o ouvinte as pausas silenciosas podem causar a sensação de expectativa para o que o narrador irá dizer depois, além de servirem como tempo para que o ouvinte possa interpretar a mensagem já passada pelo narrador.

O trecho 4 corresponde à sentença “tendências da moda outono-inverno apresentadas” e apresenta proeminência na palavra inverno, tanto no gráfico 6, correspondente ao sujeito 1, como no gráfico 7, correspondente ao sujeito 2.

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Gráfico 6: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho “tendências da moda outono-inverno”, pré e pós-intervenção; sujeito 1

Gráfico 7: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho “tendências da moda outono-inverno”, pré e pós-intervenção ; sujeito 2

No gráfico 6 percebemos diferença entre as duas condições (pré e pós-intervenção) desde o início do trecho estudado, porém esta diferença se torna estatisticamente significativa ao final do

-2 -1 0 1 2 3 4

eNd eNs IASd am ohd oUt on iNv ehRn UapR

Trecho 4

Pré-intervenção Desvpad pré Pós-intervenção Desvpad pós -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

eNs IASd am ohd oUt on U iNv ehRn UapR (u)

Trecho 4

Pré-intervenção Pré-desvpad Pós-intervenção Pós-desvpad

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trecho, na palavra “inverno”, sendo que a condição pós-intervenção apresenta valores médios de duração maiores que a pré-intervenção. Essa diferença, perceptivamente, pode causar sensação de fala mais lentificada e maior clareza na condição pós-intervenção. No gráfico 7, podemos ver que a palavra inverno é proeminente na condição pós-intervenção, fato que pode revelar uma estratégia adotada pelo sujeito, que consistiu na inclusão de uma pausa silenciosa ao final do trecho. Ainda no gráfico 7, nos outros pontos do trecho estudado o sujeito 2 não realizou mudanças significativas, de acordo com o teste T pareado, na duração das unidades VV em relação às duas condições estudadas.

Nos gráficos 8 e 9 comparamos entre os dois sujeitos os trechos de número 9 referente ao segmento “das sobreposições e foi para a passarela brincando de “Alice no país das maravilhas”.”.

Gráfico 8: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho “das sobreposições e foi para a passarela brincando de “Alice no país das maravilhas”.; pré e pós-intervenção; sujeito 1 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 if o Ip aR Ap aS aR ehl Ab R iN k aN d

Ud ial is In up aiS aSm aR av ilh

Trecho 9

Pré-intervenção Desvpad pré Pós-intervenção Desvpad pós

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Gráfico 9: Comparação dos valores médios de z-score normalizado e desvio-padrão no trecho “das sobreposições e foi para a passarela brincando de “Alice no país das maravilhas”.; pré e pós-intervenção; sujeito 2. Proeminências marcadas pelas setas em “posições” e “passarela”

Ao compararmos os dois trechos analisados pelos gráficos 8 e 9, podemos ver que o sujeito 2 foi mais constante nas duas condições visto que as curvas de desvio padrão se encontram mais estáveis, mostrando que o sujeito não variou muito a duração das unidades VV nas duas condições. É possível observar que o sujeito 2 realiza maior número de proeminências (marcadas pelas setas) em um mesmo trecho do que o sujeito 1. Além disso, o sujeito 2 parece realizar proeminências mais marcadas dentro do trecho pois os valores da duração das unidades desses pontos são consideravelmente maiores que nos outros pontos, fato que podemos constatar ao observamos a altura dos picos das proeminências em comparação ao restante do trecho.

Nos gráficos 10 e 11 estão representados gráficos referentes à duração das unidades VV em posição de fronteira prosódica forte para o sujeito 1, considerando todas as repetições. A ocorrência de fronteiras prosódicas fortes é identificada pelo script SG Detector, ao agrupar os

-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

Trecho 9

Pré-Intevenção Pré-desvpad Pós-intervenção Pós-desvpad

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marcadores sintáticos2 possíveis de serem encontrados em uma sentença, em termos de valores de duração normalizada (o cálculo de z-score). Utilizando análise de clusters, com enunciado de locutores paulistas, Barbosa (2006) formou três grupos que diferenciam os marcadores sintáticos: fracos, médios e fortes. Os marcadores foram separados de acordo com o valor de z - score na unidade VV que antecede a fronteira.

Gráfico 10: Evolução do z-score suavizado das Unidades VV em posição de fronteira prosódica forte, em todos os trechos narrados, na condição pré-intervenção, para o sujeito 1, considerando as dez repetições (barras verticais individuais). Marcações com S referem-se à unidades VV que contém pausa silenciosa após.

2

A relação entre os marcadores sintáticos e a organização prosódica do enunciado telejornalismo serão explicados em capítulo posterior. -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 iN Ik Id o h r Ad if in ehl ohd eh Rn u RgR ASm adIn IAS ehs ad ONp ad eN t eh v Ap o h Rt IS oN IS ehl is aiSd

Unidades VV em Fronteira

Pré-intervenção

S S S S S S

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