• Nenhum resultado encontrado

A análise dos dados foi realizada mediante utilização do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 18.0. Esse tamanho de amostra suporta uma diferença mínima entre grupos de 20%, com poder de 85% e nível de significância de 5%. As variáveis contínuas foram descritas com utilização de média e desvio-padrão e as variáveis categóricas, por meio de frequências absolutas e relativas.

Para avaliar a associação entre as variáveis categóricas, foi aplicado o teste qui-quadrado de Pearson. Para as variáveis contínuas ou ordinais, empregou-se o teste da correlação de Spearman.

O nível de significância estatística considerado foi de 5% (p ≤ 0,05).

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - ISCMPA, com o número 70375.

RESULTADOS

Das 250 biópsias analisadas, 200 (80%) eram de mulheres, e 50 (20%) de homens, com uma média de idade de 36,8 ± 10,2 anos. O índice de massa corporal (IMC) médio foi de 43,6 ± 5,2 Kg/m2.

A esteatose esteve presente em 226 (90,4%) amostras. Com relação à intensidade desta, foi observado que 76 (30,4%) se classificaram como leve; 71 (28,4%), moderada e 79 (31,6%), intensa (Figura 1).

Ausente Leve Moderada Intensa

Figura 1 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da esteatose.

Em 176 (70,4%) casos, foi diagnosticado EHNA. O grau leve foi encontrado em 120 (48,4%) casos; o moderado, em 50 (20%) dos casos e, o acentuado em 6 (2,4%) casos (Figura 2).

Ausente Leve Moderada Intensa

Figura 2 – Distribuição da amostra quanto à presença e intensidade da esteato-hepatite não alcoólica (EHNA).

A presença de fibrose foi referida em 108 (43,2%) biópsias, das quais 95 (38%) eram leve; 2 (0,8%), moderada; 7, intensa (2,8%) e, em 4 (1,6%) casos, foi feito o diagnóstico de cirrose (Figura 3).

Ausente Leve Moderada Intensa Cirrose

Observou-se tanto uma correlação moderada entre o grau de esteatose com o nível de atividade necroinflamatória/balonização (rs=0,460; p < 0,001), como também uma correlação regular entre o grau de atividade e o grau de fibrose (rs=0,583; p < 0,001) (Figuras 4 e 5).

Figura 4 – Associação entre a intensidade da esteatose e EHNA medida pelo coeficiente de correlação de Spearman (rs=0,460; p < 0,001).

Figura 5 – Associação entre a intensidade da esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) e fibrose medida pelo coeficiente de correlação de Spearman (rs=0,583; p < 0,001).

Em 13 (5,2%) amostras foram encontrados depósitos de Fe de forma leve, sendo que, em 9 o Fe se localizava nas células de Kupffer e em 7 nos hepatócitos.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo mostram uma prevalência de 90,4% de DHGNA nos pacientes com OM que realizaram CB. Tal resultado está em consonância com a literatura que relata uma prevalência de 84 e 96% de DHGNA, nesses pacientes [16].

A DHGNA apresenta um amplo espectro de alterações que vão desde a ES até a fibrose com desarranjo estrutural da histologia hepática. Dentro dessas alterações, esta análise demonstra que o grau de esteatose foi distribuído quase que uniformemente nas amostras (30,4%, 28,4% e 31,6%), para grau leve, moderado e severo, respectivamente. Concomitante, encontrou-se EHNA em, aproximadamente, 70% da amostra, havendo uma correlação moderada com o grau de esteatose. Este achado vai ao encontro da fisiopatologia da DHGNA, em que o excesso de gordura no hepatócito desencadeia o processo inflamatório, levando à EHNA, que pode culminar em fibrose [17]. Entretanto, tal correlação não foi forte, já que alguns casos apresentaram intenso grau de esteatose com leve ou nenhuma inflamação, fato que demonstra que a biópsia hepática, antes de fornecer um diagnóstico definitivo, reflete, principalmente, um estágio evolutivo da DHGNA.

Ao se analisar o grau de fibrose das amostras desta investigação, observou-se que, em 48,3% delas, já havia fibrose; destas, 38% eram de grau leve e apenas 4,4% (11 casos) foram considerados de grau intenso. Nos últimos anos, a CB tornou-se uma importante opção terapêutica para a OM. Alguns estudos documentam uma redução significativa da fibrose em biópsias hepáticas realizadas durante a cirurgia e após a perda de peso nesses pacientes [10, 11, 18, 19]. Entretanto, os mesmos trabalhos relatam que, se o grau de fibrose é avançado, as chances de regressão diminuem, mais ainda, existe um aumento da morbimortalidade pós CB em pacientes com fibrose avançada.

Até o presente momento não existe um marcador laboratorial de diagnóstico e gravidade da EHNA. Neste sentido, a biópsia hepática talvez deva ser indicada, em casos selecionados, na avaliação pré-operatória de pacientes com OM e indicação de CB. Embora no último consenso da American Association for Study of Liver Diseases essa indicação já esteja descrita, para pacientes com DHGNA e com fatores de risco para EHNA, é importante que protocolos com delineamentos específicos, visando elucidar tal controvérsia, sejam desenvolvidos [4].

Alguns autores sustentam que a presença de Fe no tecido hepático é um possível fator envolvido na gênese da inflamação [8]. O excesso de Fe não ligado à transferrina é retirado da circulação pelo hepatócito mediante atuação de um peptídeo chamado hepcidina, que regula a

homeostase do Fe [20]. As células de Kupffer (CK) também exercem um importante papel na depuração do Fe, visto que acumulam esse íon, quando os hepatócitos se encontram saturados. É possível que as CK, quando também saturadas de Fe, percam o controle sobre outras agressões sofridas pelo fígado (vírus, álcool etc...), o que favorece a progressão da fibrose [8]. Na casuística deste estudo, foram encontrados leves depósitos de Fe em apenas 10 casos (4%), sem predomínio em hepatócitos ou em CK. Não parece, portanto, que o Fe tenha um papel importante na fisiopatogenia da EHNA. Corroborando nossos resultados, o estudo de Zamin et al. (2006), não estabeleceu correlação entre a mutação do gene C282Y e H63D (mutação envolvida na gênese da hemocromatose), em 20 pacientes com EHNA. Isso reforça a não participação dos depósitos de Fe na fisiopatologia da EHNA [21].

Em conclusão, os achados da presente investigação confirmam uma prevalência elevada de ES e de EHNA nos pacientes com OM. A correlação de EHNA e fibrose reforçam a indicação da CB no tratamento da OM e a importância da biópsia hepática na avaliação pré-operatória de alguns pacientes. Mais ainda, a baixa prevalência de depósitos de Fe nas amostras aqui analisadas torna muito questionável a participação do Fe na fisiopatogenia da DHGNA.

REFERÊNCIAS

[1] Marquezine GF, Oliveira CM, Pereira AC, Krieger JE, Mill JG. Metabolic syndrome determinants in an urban population from Brazil: social class and gender-specific interaction. Int J Cardiol. 2008 Sep 26;129(2):259-65.

[2] Misra A, Khurana L. Obesity and the metabolic syndrome in developing countries. J Clin Endocrinol Metab. 2008 Nov;93(11 Suppl 1):S9-30.

[3] White DL, Kanwal F, El-Serag HB. Association Between Nonalcoholic Fatty Liver Disease and Risk for Hepatocellular Cancer, Based on Systematic Review. Clin Gastroenterol Hepatol 2012 Dec;10(12):1342-59 e2.

[4] Chalasani N, Younossi Z, Lavine JE, Diehl AM, Brunt EM, Cusi K, et al. The diagnosis and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice Guideline by the American Association for the Study of Liver Diseases, American College of Gastroenterology, and the American Gastroenterological Association. Hepatology 2012 Baltimore, Md. Jun;55(6):2005-23.

[5] Brunt EM, Janney CG, Di Bisceglie AM, Neuschwander-Tetri BA, Bacon BR. Nonalcoholic steatohepatitis: a proposal for grading and staging the histological lesions. The American Journal of Gastroenterology. 1999 Sep;94(9):2467-74.

[6] Harrison SA, Kadakia S, Lang KA, Schenker S. Nonalcoholic steatohepatitis: what we know in the new millennium. The American Journal of Gastroenterology. 2002 Nov;97(11):2714-24.

[7] Yamauchi T, Kamon J, Waki H, Terauchi Y, Kubota N, Hara K, et al. The fat-derived hormone adiponectin reverses insulin resistance associated with both lipoatrophy and obesity. Nat Med. 2001 Aug;7(8):941-6.

[8] Pietrangelo A. Iron in NASH, chronic liver diseases and HCC: how much iron is too much? Journal of Hepatology. 2009 Feb;50(2):249-51.

[9] Mendler MH, Turlin B, Moirand R, Jouanolle AM, Sapey T, Guyader D, et al. Insulin resistance-associated hepatic iron overload. Gastroenterology. 1999 Nov;117(5):1155-63.

[10] Mathurin P, Hollebecque A, Arnalsteen L, Buob D, Leteurtre E, Caiazzo R, et al. Prospective study of the long-term effects of bariatric surgery on liver injury in patients without advanced disease. Gastroenterology. 2009 Aug;137(2):532-40.

[11] Moretto M, Kupski C, da Silva VD, Padoin AV, Mottin CC. Effect of bariatric surgery on liver fibrosis. Obesity Surgery 2012.Jul;22(7):1044-9.

[12] Vyberg M, Ravn V, Andersen B. Pattern of progression in liver injury following jejunoileal bypass for morbid obesity. Liver. 1987 Oct;7(5):271-6.

[13] Mosko JD, Nguyen GC. Increased perioperative mortality following bariatric surgery among patients with cirrhosis. Clin Gastroenterol Hepatol 2011.Oct;9(10):897-901.

[14] Brunt EM. Nonalcoholic steatohepatitis. Semin Liver Dis. 2004 Feb;24(1):3-20.

[15] Sebastiani G, Vario A, Ferrari A, Pistis R, Noventa F, Alberti A. Hepatic iron, liver steatosis and viral genotypes in patients with chronic hepatitis C. Journal of Viral Hepatitis. 2006 Mar;13(3):199-205.

[16] Clark JM. The epidemiology of nonalcoholic fatty liver disease in adults. Journal of Clinical Gastroenterology. 2006 Mar;40 Suppl 1:S5-10.

[17] Zangar RC, Novak RF. Effects of fatty acids and ketone bodies on cytochromes P450 2B, 4A, and 2E1 expression in primary cultured rat hepatocytes. Arch Biochem Biophys. 1997 Jan 15;337(2):217-24.

[18] de Andrade AR, Cotrim HP, Alves E, Soares D, Rocha R, Almeida A, et al. Nonalcoholic fatty liver disease in severely obese individuals: the influence of bariatric surgery. Ann Hepatol. 2008 Oct-Dec;7(4):364-8.

[19] Mummadi RR, Kasturi KS, Chennareddygari S, Sood GK. Effect of bariatric surgery on nonalcoholic fatty liver disease: systematic review and meta-analysis. Clin Gastroenterol Hepatol. 2008 Dec;6(12):1396-402.

[20] Fleming RE, Ponka P. Iron overload in human disease. The New England Journal of Medicine 2012 Jan 26;366(4):348-59.

[21] Zamin I, Jr., Mattos AA, Mattos AZ, Migon E, Bica C, Alexandre CO. Prevalence of the hemochromatosis gene mutation in patients with nonalcoholic steatohepatitis and correlation with degree of liver fibrosis. Arquivos de Gastroenterologia. 2006 Jul-Sep;43(3):224-8.                                            

Documentos relacionados