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3.3 Análises dos dados

3.3.1. Análise Estrutural

A Análise Estrutural foi desenvolvida pelo nosso grupo de pesquisa (Silva Jr, Romano Jr & Correia, 2010). A ideia dessa análise é que a forma que o mapa conceitual assume pode guardar relação com o nível de aprendizagem que o aluno apresenta. Segundo o trabalho de Kinchin, Hay e Adams (2000) haveria uma relação entre os tipos de estrutura de mapas conceituais e o nível de aprendizagem (Figura 3.5).

Pode-se observar que quanto maior o nível de integração dos conceitos dentro de um mapa conceitual, maior será o nível de aprendizagem. O mapa conceitual do tipo radial seria um momento inicial da aprendizagem, no qual o aluno apreende o significado do termo central. No mapa conceitual tipo linear haveria já um processo de encadeamento de raciocínio, porém de forma sequencial, sem interconexões. Já no mapa conceitual tipo rede haveria tanto o encadeamento de raciocínio como a relação interna entre os conceitos.

Figura 3.4 Relação entre integração da rede proposicional (formas canônicas) com a aprendizagem.

Os Cn representam os conceitos e os TLs os termos de ligação. A estrutura representada em 1 é do tipo radial, em 2 do tipo linear e em 3 do tipo em rede. Figura baseada no trabalho Silva Jr, Romano Jr e Correia (2010).

A ideia básica dessa análise é que existem três tipos de estruturas fundamentais de conceitos (Figura 3.5), aqueles que apenas iniciam proposições (J), aqueles que apenas finalizam proposições (K) e aqueles que iniciam e finalizam proposições ao mesmo tempo (L). Além disso, cada conceito possui duas variáveis fundamentais, p e q, que representam, respectivamente, o número de proposições iniciadas com aquele conceito e o número de proposições finalizadas com aquele conceito.

Figura 3.5 Blocos fundamentais que compõem um mapa conceitual.

A partir das estruturas fundamentais mostradas na Figura 3.5 podemos construir categorias de análise que classificam os conceitos em um mapa conceitual segundo sua função (Tabela 3.3). Esse sistema de classificação tem por objetivo identificar a função dos conceitos em inicializar e/ou finalizar proposições e no papel dos conceitos de iniciarem/finalizarem várias proposições ao mesmo tempo. Esses parâmetros se tornam importante, pois permitem obter uma descrição completa da estrutura da rede proposicional do mapa.

Tabela 3.3 Parâmetros absolutos da análise estrutural. Esses parâmetros podem ser obtidos pela

relação com os blocos fundamentais assim como pela contagem direta feita no mapa conceitual.

Parâmetro Descrição Correspondência

com blocos estruturais fundamentais

Conceitos (Ct) Número total de conceitos presentes em um

mapa conceitual.

J + K + L

Proposição (P)7 Número total de setas presentes em um mapa

conceitual. -

Conceitos exclusivamente iniciais (SóCi)

Apresentam pelo menos uma seta saindo da caixa do conceito, sem apresentar setas chegando à caixa do conceito.

J

Conceitos exclusivamente finais (SóCf)

Apresentam pelo menos uma seta chegando à caixa do conceito, sem apresentar setas saindo da caixa do conceito.

K

Conceitos iniciais

e finais (CiCf) Apresentam pelo menos uma seta saindo e pelo menos uma seta chegando à caixa do

conceito.

L

Conceitos iniciais

(Ci) Apresentam pelo menos uma seta saindo da caixa do conceito, podendo apresentar setas

chegando à caixa do conceito.

J + L

Conceitos iniciais

múltiplos (Cim) Apresentam mais de uma seta saindo da caixa do conceito, podendo apresentar setas

chegando à caixa do conceito.

J + L, para todo p≥2

Conceitos finais

(Cf) Apresentam pelo menos uma seta chegando à caixa do conceito, podendo apresentar setas

saindo da caixa do conceito.

K + L

Conceitos finais

múltiplos (Cfm) Apresentam mais de uma seta chegando à caixa do conceito, podendo apresentar setas

saindo da caixa do conceito.

K + L, para todo q≥2

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Vale destacar que o conceito de proposição utilizado aqui difere do conceito de proposição apresentado anteriormente. Nesta análise setas sem termo de ligação ou termos de ligação sem verbos são consideradas proposições, mas não podem ser consideradas proposições no sentido estrito uma vez que não transmitem uma relação semântica entre os dois conceitos.

Os valores obtidos na Tabela 3.3 são absolutos, pois podem ser obtidos através da contagem direta no mapa conceitual. Entretanto, para a comparação de mapas conceituais de diferentes tamanhos torna-se essencial a utilização de valores relativos que são obtidos pela divisão dos valores obtidos pela Tabela 3.3 pelo número total de conceitos que o mapa conceitual possui (Tabela 3.4).

Tabela 3.4 Parâmetros relativos da análise estrutural. Esses parâmetros são obtidos pela divisão dos

valores absolutos pelo número total de conceitos que um mapa conceitual apresenta. Com esses valores relativos torna-se possível comparar mapas conceituais com números totais de conceitos diferentes (tamanhos diferentes).

Parâmetro Cálculo

Densidade Proposicional (DP) P / Ct

Conceitos exclusivamente iniciais relativo (SóCir) SóCi/ Ct

Conceitos exclusivamente finais relativo (SóCfr) SóCf / Ct

Conceitos iniciais e finais relativo (CiCfr) CiCf / Ct

Conceitos iniciais relativo (Cir) Ci / Ct

Conceitos iniciais múltiplos relativo (Cimr) Cim / Ct

Conceitos finais relativo (Cfr) Cf / Ct

Conceitos finais múltiplos relativo (Cfmr) Cfm / Ct

Considerando as três formas canônicas de mapas conceituais de 9 conceitos (Figura 3.4), podemos obter os valores relativos da análise estrutural (Tabela 3.5). Assume-se que a variação do comportamento da estrutura radial para a estrutura em rede corresponde a um ganho de aprendizagem do aluno. Com essas estruturas canônicas e seus respectivos valores da análise estrutural podemos descrever as alterações de valores com:

1. O aumento da densidade proposicional (DP) é um indicativo da formação da estrutura do tipo rede que corresponde a um maior ganho de aprendizagem do aluno, pois ele consegue fazer mais proposições com o mesmo número de conceitos;

2. A quantidade de conceitos apenas iniciadores de proposições (SóCir) mantêm-se constante durante os três casos, pois o procedimento de iniciar qualquer estrutura dos mapas conceituais é a mesma: escolhe-se o conceito mais relevante e a partir dele começa a elaboração de proposições. Devido a essa característica, em geral, todos os mapas conceituais devem apresentar somente um conceito apenas iniciador de proposição;

3. A diminuição drástica da quantidade de conceitos apenas finalizadores de proposições (SóCfr) com o aumento do percentual de conceitos iniciadores e finalizadores (CiCfr) é um indicativo de transformação de um tipo de conceito

em outro. Essa transformação permite uma maior ligação interna, pois passa a se ter menos conceitos que apenas finalizam e que passam a se reintegrar a rede conceitual realizando mais ligações e consequentemente demonstram um maior domínio conceitual do aluno;

4. A quantidade de conceitos iniciais (Cir) segue a mesma tendência apresentada no ponto anterior: há uma mudança dos conceitos que apenas iniciam proposições (SóCir) para conceitos que iniciam e finalizam proposições (CiCfr) o que faz ocorrer um aumento significativo do tipo de conceito que inicia qualquer proposição;

5. A quantidade de conceitos finais (Cfr) se mantém constante em todos os três casos, pois ele é resultado da soma daqueles que apenas finalizam (SóCfr) com aqueles iniciam e finalizam(CiCfr). É importante notar que mesmo a quantidade de conceitos finais sendo constante, seus constituintes se modificam muito como mostrado no terceiro ponto;

6. Por fim há um aumento expressivo do número de conceitos múltiplos (Cimr e Cfmr) comparado as estruturas radial e em rede. Esse é um dos fatores mais contudentes para mostrar a configuração de uma estrutura do tipo rede, pois indica que um mesmo conceito pode se ligar com vários conceitos. Partindo do pressuposto de quanto mais proposições maior o domínio do aluno sobre o conteúdo, temos que o aumento desses parâmetros indicam um maior grau de aprendizagem.

Tabela 3.5 Parâmetros da análise estrutural realizada para as três formas canônicas. É importante

observar as tendências das alterações dos valores entre os três casos (Figura 3.4), pois a partir dele podemos identificar tendências dos mapas conceituais dos alunos que apresentam uma complexidade maior ou menor.

Estruturas

Radial Linear Rede

DP 0,89 0,89 1,56 SóCir 0,11 0,11 0,11 SóCfr 0,89 0,11 0,11 CiFr 0 0,78 0,78 Cir 0,11 0,89 0,89 Cimr 0,11 0 0,56 Cfr 0,89 0,89 0,89 Cfmr 0 0 0,56

Para analisar estes dados foi feita uma tabela com 19 colunas das quais:

• a primeira correspondia ao código do aluno;

• a segunda à situação de elaboração (1. MC-PREP; 2. MC-AVAL de alunos que fizeram MC-PREP; 3. MC-AVAL de alunos que não fizeram MC-PREP); • a terceira à décima primeira aos valores absolutos da Tabela 3.3;

• a décima segunda à décima oitava aos valores relativos da Tabela 3.4.

A análise foi feita para cada mapa conceitual individualmente, gerando um total de 113 linhas (49 na situação 1, 49 na situação 2, 15 na situação 3). Nosso grupo de pesquisa desenvolveu um software específico para desenvolver esses cálculos. Posteriormente foram feitas as médias e os desvios-padrão para cada grupo de análise de interesse. De posse dos valores médios e desvios-padrão de cada variável, segundo cada agrupamento de interesse, foi feito o teste-t para verificar igualdades ou diferenças entre os grupos. O teste-t foi feito utilizando o software SPSS versão 22 (IBM, New York, EUA).