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6 1 O que dizem os jovens?

Um passeio por suas histórias, através dos seus olhares sobre o cotidiano. A concepção para a elaboração de um vídeo segue, geralmente, a seguinte etapa: ideia, elaboração do roteiro, produção, gravação e edição. No entanto, antes de sair gravando é importante ter noção de alguns elementos para o processo de gravação.

No roteiro, organizamos as nossas ideias. Planejamos o que vamos gravar e como gravar, definindo o formato do vídeo se é uma ficção, um documentário, uma reportagem etc. Afinal, para cada um deles há uma concepção diferente e exigirá elementos diferentes na abordagem do vídeo.

É neste processo de criação do roteiro que os tipos de planos e ângulos são definidos, assim como os tipos de imagens, se serão gravadas em estúdio (interna) ou em ambiente externo, se o vídeo terá um narrador, ou um apresentador ou até mesmo alguém que vá ―costurando‖ a estória, com sua aparição na tela.

A prática comum entre os cineastas e produtores é, em geral, após uma ideia na cabeça e roteiro pronto é hora de gravar, ou nas palavras de Jullier; Marie (2009, p. 21) ―a cena deve ser antes construída do que registrada‖. Claro que em alguns momentos, o que se idealizou, pensou enquanto imagem para se gravar não acontece. Quando isso ocorre, é hora de pensar em outras possibilidades que vá suprir o que se tinha pensando antes. O contrário também ocorre, de pensar numa determinada cena e o que se apresenta é infinitamente melhor.

Em cena, é hora de colocar em prática também os tipos de planos e o que cada um desses significa, representam e sua intencionalidade. Tomamos como tipos de planos aqueles que dizem respeito ao enquadramento de cena, ou seja, que imagem está sendo escolhida para que o espectador veja a partir do campo de observação de quem grava. Partindo desta premissa, temos: plano geral, plano médio, plano americano, close-up, plano de conjunto, plano detalhe.

Se na hora de gravar fazemos escolhas, na edição não é diferente. No momento da edição, na escolha das imagens é quando fazemos um recorte do que pretendemos contar e como contar. Diríamos que editamos com o nosso olhar, as nossas escolhas. Apesar de acreditarmos que não existe neutralidade, imparcialidade tão propagada no jornalismo e confrontada na academia, precisamos ter ética, respeito e comprometimento social com as escolhas, com o outro, com a notícia quando editamos seja pelas imagens ou os textos para publicação. Na construção da história do vídeo imagens e áudios se entrelaçam, técnica e conteúdos se fazem presentes para que a ideia ganhe forma e seja reproduzida.

É reconstruindo esse roteiro com os elementos técnicos acima, que partimos para a análise dos vídeos produzidos pelos jovens participantes das oficinas do Proi-Digital.

A análise dos vídeos ocorreu em duas etapas. A primeira referendada pela análise fílmica foi mais descritiva, constando das fases e situações técnicas e das cenas apresentadas nos vídeos, em um processo ancorado no que postula Vanoye & Goliot-Lété (1994) descrita como decomposição e interpretação. A segunda diz respeito a análise textual discursiva, com a identificação das unidades de sentido, através das frases e ou imagens, as expressões e enquadramentos para definição das categorias, para montagem de um quadro único para a construção dos metatextos, no intuito de identificar os tipos de mensagens dos jovens.

Autores como Aumont (2012), Vanoye e Goliot-Lété (1994), Penafria (2009) que se debruçam sobre análise fílmica são unânimes ao afirmar que não há uma metodologia universalmente aceita para análise de um filme. No entanto, há entendimentos acerca de alguns procedimentos. Para Vanoye e Goliot-Lété (1994) são passíveis de aceitação duas etapas: a decomposição, ou seja, desconstrução, descrever as cenas e a outra é a interpretação, como afirmam Vanoye e Goliot-Lété (1994, p.15) ―estabelecer elos entre esses elementos isolados, compreender como eles se associam e se tornam cúmplices para fazer surgir um todo significante‖. Para Penafria (2009, p.02) ―trata-se de fazer uma reconstrução para perceber de que modo esses

elementos foram associados num determinado filme‖. Esta atividade de separar, desunir os elementos, é uma forma de perceber a articulação entre eles, de reconstruí-lo criticamente, mas na perspectiva do analista.

A análise dos vídeos ocorreu em duas etapas. A primeira referendada pela análise fílmica foi mais descritiva, constando das fases e situações técnicas e das cenas apresentadas nos vídeos, em um processo ancorado no que postula Vanoye & Goliot-Lété (1994) descrita como decomposição e interpretação. A segunda diz respeito a análise textual discursiva, com a identificação das unidades de sentido, através das frases e ou imagens, as expressões e enquadramentos para definição das categorias, para montagem de um quadro único para a construção dos metatextos, no intuito de identificar os tipos de mensagens dos jovens.

É adequado considerar essas nuances, bem como a clareza das técnicas escolhidas para o processo de análise dos vídeos. Quem evidencia esse cuidado é Rose (2008, p. 345) ao comentar que ―Em vez de procurar uma perfeição impossível, necessitamos ser muito explícitos sobre as técnicas que nós empregamos para selecionar, transcrever e analisar os dados‖. Ainda de acordo com a autora ―deve ficar teórica e empiricamente explícita a razão de certas escolhas terem sido feitas e não outras‖.

Para a autora este processo de análise do material audiovisual implica em decisões e escolhas e estas precisam estar explícitas, bom como fundamentada teoricamente. Afinal, ―diferentes orientações teóricas levarão diferentes escolhas sobre como selecionar para transcrição (...)‖. (ROSE, 2008, p. 344).

A seguir, expomos nossas análises em relação aos vídeos produzidos pelos jovens.

6.2 Análise Fílmica dos vídeos

Para a análise dos vídeos, conforme explicitamos inicialmente faremos no primeiro momento a análise fílmica e em seguida a análise textual

discursiva. O detalhamento das informações técnicas dos vídeos e das cenas podem ser encontradas nos Apêndices.

6 3 Vídeo 1 – Nossa Escola

Nossa escola (2012) – O vídeo trata do cotidiano escolar e das suas dificuldades diárias. Os alunos entrevistam a gestão da escola e questionam a demora da entrega da quadra; uma promessa que já tem mais de 10 anos. Sua produção tem um cunho jornalístico com entrevistas, na perspectiva do que postula o jornalismo de sempre ouvir os dois lados da notícia. Nesse caso as fontes diversas têm como objetivo a isenção e neutralidade do profissional. No entanto, sabe-se que não é bem assim: as escolhas já são um recorte de quem o faz, de quem concebe o texto, neste caso o vídeo.

Figura 3| Vídeo 1 – Nossa escola

Quadro 10 Vídeo 1 – Análise das cenas

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

6.4.1 Análise do vídeo Nossa Escola Cena 1

P - Kátia, o que você acha da escola?

R- Bem a escola não é aquela maravilha toda, mas dá para se viver, né? P- O que você acha da quadra?

R- A quadra já devia estar pronta há muito tempo. Mas, como a gente não pode fazer nada, né? O jeito é esperar.

O questionamento da aluna coloca uma questão importante não só para ela, mas para todos da escola. Trata-se do ambiente escolar, assim como do espaço de lazer, no caso a construção de uma quadra, prometida há dez anos. O que denota a relevância da abordagem, do questionamento. A resposta da aluna é contundente: ―A quadra já devia estar pronta há muito tempo. Mas, como a gente não pode fazer nada, né? O jeito é esperar”. Revela a

CENA DESCRIÇAO ANÁLISE DA CENA Critérios de análise crítica

Newman, Webb e Cochrane

CENA 1 Aluna entrevista a colega