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4.3 O DÉFICIT DE ACCOUNTABILITY NA DRU E SUA INFLUÊNCIA NA

4.3.1 Análise gráfica

Nesta seção, são expostos os resultados da análise gráfica da pesquisa, desenvolvida em três etapas, de acordo com o estilo de visualização dos dados: (1) valores deflacionados e agregados por mês, (2) valores deflacionados e agregados por mês sob o PIB e (3) valores deflacionados e agregados por mês, escalonados pela população.

A Figura 31, a seguir, apresenta a evolução, em frequência mensal, dos recursos alocados na saúde [RSUS], no período de 2000 até 2017.

Figura 31 - Série de RSUS (deflacionado e agregado mensalmente).

Os dados apresentados na Figura 31 permitem observar que os recursos alocados na política pública de saúde foram crescentes até 2012, quando, no mês de dezembro, atingem mais de R$ 68 bilhões. Após esse período, a série apresenta relativa estabilidade. A partir de 2004, existe uma sazonalidade nos RSUS, com picos nos meses de dezembro de cada ano, que será levada em conta na análise de regressão com séries temporais.

Embora a análise com dados agregados permita a visualização da evolução dos RSUS ao longo do tempo, é necessário considerar o crescimento do PIB per capita nacional, que está associado com o montante obtido com a política tributária do país.

A Figura 32, na sequência, apresenta a mesma série exposta na Figura 31, porém com valores escalonados em relação ao PIB per capita (𝑅𝑆𝑈𝑆/𝑃𝐼𝐵), ambas ao mês.

Com base na Figura 32, percebe-se, novamente, que é mantida a sazonalidade dos meses de dezembro. Em relação aos recursos alocados na política pública de saúde, os picos de RSUS cresceram, consistentemente, em relação ao PIB per capita durante os exercícios financeiros de 2000 até 2008, saindo de, aproximadamente, 2% em setembro/outubro de 2000 para, aproximadamente, 12% em dezembro de 2007.

No período de 2008 até 2017, a série de picos apresenta estabilização em torno de 9%, com picos maiores em dezembro de 2008, 2012 e 2016.

Por sua vez, a Figura 33 apresenta os dados agregados dos valores do RSUS mensal em relação às estimativas da população brasileira (𝑅𝑆𝑈𝑆/𝑃𝑂𝑃). A série do PIB per capita foi mantida para permitir a comparação com a Figura 32, anterior.

Figura 33 - Séries históricas de RSUS/POP em valores mensais.

Na Figura 33, notam-se, na série RSUS mensal escalonada pela população, sazonalidades nos meses de novembro e de dezembro de cada ano, porém a série apresenta alguns padrões diferentes daqueles observados na análise do 𝑅𝑆𝑈𝑆/𝑃𝐼𝐵 . Enquanto a estabilidade dos picos de 𝑅𝑆𝑈𝑆/𝑃𝐼𝐵 foi visualizada a partir de 2008, a série de 𝑅𝑆𝑈𝑆/𝑃𝑂𝑃 continua apresentando elevações até o final de 2012, quando, também, ocorre a estabilização do PIB brasileiro.

Os valores da série RSUS mensal saltam de, aproximadamente, R$ 40,00 por habitante, em dezembro de 2000, para pouco mais de R$ 350,00 por habitante, em dezembro de 2012, a partir do que os valores dos picos oscilaram entre R$ 300,00 e pouco mais de R$ 350,00 por habitante.

Destaque-se que as sazonalidades apresentadas nos meses de novembro e de dezembro distorcem os gráficos que tratam dos recursos alocados na política pública de saúde (𝑅𝑆𝑈𝑆).

Logo, para melhorar a comparação, as Figuras 34, 35 e 36 apresentam as mesmas variáveis expostas nas Figuras 31, 32 e 33, em valores anuais.

Figura 34 - Série de RSUS (deflacionado e agregado anualmente).

A Figura 34 apresenta os valores anuais dos recursos alocados na política pública de saúde (RSUS), em que se nota que a série é crescente até 2012, ao alcançar, aproximadamente, 78 bilhões de reais, mas seu maior pico se realiza em 2014, com, aproximadamente, 79 bilhões de reais alocados na política pública de saúde (RSUS). A partir de 2015, o cenário apresenta declínio até 2017, quando alcança, aproximadamente, 71 bilhões de reais, valor equivalente ao da alocação do exercício financeiro de 2010.

A seu turno, a Figura 35, a seguir, apresenta os valores dos recursos alocados na política pública de saúde (RSUS) (eixo da esquerda) em relação ao PIB (eixo da direita).

A série apresentada na Figura 35 permite observar que o PIB apresenta queda após 2014, enquanto a relação RSUS/PIB decai desde 2007, saindo da média de 1,2% do PIB para pouco menos de 1% em 2017.

A Figura 36 apresenta os valores dos recursos alocados na política pública de saúde (RSUS) em relação às estimativas para a população brasileira (𝑅𝑆𝑈𝑆/𝑃𝑂𝑃), comparados ao PIB.

Figura 36 - Séries históricas de RSUS/POP em valores anuais.

Na série demonstrada na Figura 36, similar ao observado na Figura 35, a relação 𝑅𝑆𝑈𝑆/𝑃𝑂𝑃 decai anualmente desde 2014.

No Brasil, o SUS, de acesso universal, gratuito e financiado exclusivamente com recursos públicos (impostos e contribuições sociais), está em patamar mediano em comparação à média internacional, mas relativamente inferior ao volume de recursos empregados nos sistemas de saúde universais de países europeus, como Reino Unido e Suécia, que apresentam boa qualidade (STN, 2018).

Giovanella e Stegmuller (2014) analisaram tendências de reformas de saúde na Espanha, na Alemanha e na Inglaterra, em contexto de forte pressão financeira, resultante da crise econômica mundial iniciada em 2008. Com modelos de proteção em saúde, institucionalidade e constelação de atores setoriais diversos, e posição dos países muito diferenciada na crise financeira e na economia europeias, condicionaram as repercussões das políticas restritivas e elas afetaram a universalidade. A “amplitude” da população coberta é afetada na Espanha. A “abrangência” da cesta de serviços cobertos é atingida, de forma indireta, nos três países, com maior controle da incorporação de novos procedimentos e restrições na prestação. Ocorre

reduçãode gastos públicos per capita na Espanha e na Inglaterra. Nos três países, em conjunto, mais de 74% dos gastos em saúde permanecem públicos.

Ressalte-se que o subfinanciamento da saúde pública e o excesso de incentivos governamentais para o mercado privado de saúde contribuem para que a participação do setor público no gasto total com saúde seja menor que a do setor privado, transformando o Brasil no único país com sistema universal de saúde onde o gasto privado supera o gasto público. Além disso, a distribuição regional do gasto público em saúde é bastante desigual entre as macrorregiões brasileiras (Piola, Servo, Sá, & Paiva, 2013).

Através da análise gráfica, observam-se dois cenários inseridos em um mesmo período: um a partir da EC n.º 29/2000 e outro com a publicação da LC n.º 141/2012, que regulamentou a referida emenda. O primeiro, de fato, revelou-se positivamente crescente, alcançando o melhor resultado em 2012, com, aproximadamente, 78 bilhões de reais alocados na saúde, ao passo que, a partir da mencionada lei até 2017, último período em análise neste estudo, os resultados apresentaram-se decrescentes, alcançando, aproximadamente, 71 bilhões de reais de alocação de recursos na política pública de saúde, correspondentes ao mesmo montante de recursos alocado em 2010. A esse respeito, saliente-se que, no meio do período de 2012 até 2017, a economia do Brasil entrou em recessão, o que corrobora esse comportamento.

De acordo com Piola, Servo, Sá e Paiva (2013), os resultados posteriores à EC n.º 29/2000 poderiam ter sido melhores, porque, ao mesmo tempo que ocorria um aumento na alocação dos recursos para a saúde pública, o Governo Federal não só manteve como também aumentou as isenções fiscais, principalmente as relacionadas ao Imposto de Renda na saúde privada, o que é contraditório com o comprometimento exclusivo que deveria ter com o sistema de saúde público e universal.

De modo geral, a participação da União vem decrescendo em relação aos recursos alocados na política pública de saúde. O reflexo da política desonerativa do governo torna-se determinante no subfinanciamento do SUS. No entanto, o agravamento da crise econômica e as dificuldades políticas de ajuste fiscal comprometem, também, essa conjuntura.