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CABRITOS NASCIDOS A TERMO E PREMATUROS

RESUMO- O objetivo do estudo foi avaliar os parâmetros hemogasométricos,

valores de cortisol, hemoglobina e volume globular, bem como os achados radiográficos de cabritos nascidos a termo e prematuros. Para tanto, foram utilizados 44 animais (20 cabras e 24 cabritos). Os valores de pH apresentaram diminuição logo ao nascimento, vindo a elevar-se nos momentos 24 e 48 horas de vida, em todos animais estudados, demonstrando discreta acidose transitória. O quadro de acidose mista se estabeleceu nos animais do presente trabalho, caracterizada pela diminuição do pH, decréscimo nos teores de HCO3 e aumento da pCO2. Em relação à análise do déficit de base (BE), os valores estavam dentro do intervalo de referência no cordão umbilical, com posterior diminuição nos momentos seguintes. Porém, às 24 e às 48 horas de vida, situavam-se novamente dentro dos limites de normalidade. Analisando-se os resultados referentes aos valores de pO2 e sO2 observou-se queda dos valores ao nascimento em comparação com os do cordão umbilical (Mcu), vindo a aumentar nos momentos 24 e 48 horas. Esses dados demonstram que os neonatos apresentam-se perfeitamente adaptados às 48 horas de vida. Em relação à análise dos níveis de cortisol, os valores aumentaram de forma significativa no (M0), com os maiores valores encontrados nos animais do grupo II. Esses valores decrescem às 48 horas após o nascimento nos cabritos avaliados. Os índices do volume globular e da hemoglobina mostraram-se com uma curva decrescente até o (M48), nos cabritos dos diferentes grupos. Os achados radiográficos apresentaram padrão pulmonar condizente com a idade e o tipo de parto.

CHAPTER 4 – BLOOD GAS, CORTISOL, HEMOGLOBIN AND PACKED CELL VOLUME ANALYSIS AND RADIOGRAPHIC FINDINGS OF FULL- TERM AND PREMATURE GOAT KIDS

ABSTRACT – The study aimed to evaluate blood gas parameters, cortisol,

hemoglobin and packed cell volume, as well as radiographic findings of full-term and premature goat kids. Forty-four animals (20 does and 24 kids). A decrease in pH values was observed shortly after birth in all animals, which then increased at 24 and 48 hours of life, indicating a subtle temporary acidosis. Mixed acidosis was observed in the animals studied, which was represented by a decrease in pH and HCO3, and an increase in pCO2. In the umbilical cord (Mcu), base deficit (BE) values were within reference range, which then decreased in the following intervals. However, BE values were within reference range again at 24 and 48 hours of life. With regards to pO2 and SO2 values, a decrease was observed at birth compared to Mcu, followed by an increase at intervals 24 and 48 hours. These data show that neonates in the present study were perfectly adapted at 48 hours after birth. Cortisol levels increased significantly at M0, with the highest values found in the animals from group II. These values decreased at 48 hours after birth in all animals studied. Pack cell volume and hemoglobin indices presented a decreasing trend up to M48. The radiographic findings showed that the animals presented a lung pattern consistent with age and type of delivery.

Introdução

As contrações uterinas que ocorrem durante o parto promovem a compressão da artéria uterina e umbilical que conduz à diminuição drástica no fluxo sanguíneo da placenta e do cordão umbilical (SIRISTATIDIS et al., 2003). Um período de rápida asfixia ocorre durante o trabalho de parto normal, a presença de hipercapnia transitória e acidemia pode ser verificada no recém-nascido (MASSIP, 1980). Após o parto, a hipoxia persiste, principalmente devido à troca gasosa inadequada como consequência do pulmão ou centro respiratório imaturo (BLEUL et al., 2007). A respiração atrasada e acidose metabólica são associadas com morbidade e mortalidade

neonatal. Em neonatologia humana, o pH do sangue,

e pCO2 são índices comuns para avaliação do grau de acidose. A medição de fatores metabólicos, tais como o excesso de base (EB) e o bicarbonato, permitem a identificação de neonatos com alto risco de desenvolverem complicações, por asfixia intra-uterina (ANDRES et al., 1999). Além disso, estas condições podem prever a necessidade de cuidados intensivos e correção imediata do desequilíbrio ácido-base (SIRISTATIDIS et al., 2003).No entanto, exames laboratoriais são incomuns em ruminantes neonatos, e valores de referências para essa espécie ainda são escassos (VANNUCCHI et al., 2012).

O cortisol, um hormônio corticosteróide, é sintetizado pelas glândulas supra-renais. Este hormônio é regulado pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), (CUNNINGHAM, 2004). A ativação do eixo hipotalâmico-pituitário- supra-renal é uma das mais importantes respostas do organismo doente ou estressado, estudos recentes parecem mostrar que o ACTH, os níveis de cortisol e a sua razão (A / C) são superiores em potros neonatais sépticos do que em potros saudáveis. Poucos dados disponíveis em relação à medicina veterinária estão disponíveis em relação aos níveis de cortisol para avaliação neonatal (SILVER et al., 1984). Lefcourt & Elsasser (1995) relataram que níveis mais altos que o normal de cortisol parecem estar intimamente relacionados com visíveis sinais de sofrimento fetal.

A avaliação hematológica neonatal representa um recurso diagnóstico de grande valia. Mohri et al. (2007) afirmam haver relação entre à disponibilidade de ferro para os neonatos e à concentração de hemoglobina e do hematócrito.

O exame radiológico simples de tórax representa um dos procedimentos mais efetivos para esclarecimento diagnóstico da síndrome do desconforto respiratório (SDR) em neonatos. A etiopatogenia da SDR está relacionada com a imaturidade pulmonar, e envolve o desenvolvimento estrutural incompleto do parênquima pulmonar e a alta complacência da caixa torácica do recém- nascido prematuro. A formação de atelectasias difusas nos pulmões causa diminuição na complacência pulmonar e consequente redução da relação ventilação/perfusão, shunt intrapulmonar, hipoxemia, hipercapnia e acidose (ALVARES et al., 2012). São escassos os trabalhos em medicina veterinária sobre os aspectos radiológicos de recém-nascidos, não observando-se estudos com a espécie caprina. Assim sendo, o objetivo do presente estudo foi avaliar o comprometimento respiratório em neonatos caprinos por meio da análise hemogasométrica, da hemoglobina, do volume globular, dos níveis de cortisol séricos, bem como pela avaliação dos achados radiográficos.

Materiais e Métodos

O presente estudo foi submetido à avaliação pelo comitê de ética animal da Faculdade de Medicina Veterinária, UNESP/Araçatuba (CEUA, 2014- 00473).

Animais - Foram utilizados cabritos cujas mães eram provenientes de

rebanho da região de Araçatuba/SP, distribuídos em três grupos experimentais, a saber: Grupo I: oito cabritos nascidos por meio de cesarianas realizadas aos

149 dias de gestação. Grupo II: oito cabritos nascidos por meio de cesarianas

realizadas aos 143 dias de gestação. Grupo III: oito cabritos nascidos por meio

mg (SMITH & SHERMAN, 2009) de dexametasona (Azium®, Schering-Plough), por via intramuscular, trinta e seis horas antes da cirurgia.

Os animais foram mantidos a pasto e suplementados com silagem e ração comercial, indicada para a espécie caprina. Próximo à data prevista da realização da cesariana, transferiu-se os animais para a baia, para facilitar o manejo.

O bode utilizado como reprodutor era marcado na região peitoral com tinta a cada 36 horas, sendo a sua cor alterada a intervalos de 15 dias. Com as datas de cobertura das cabras conhecidas, realizou-se exame ultrassonográfico (DP 2200 Vet, Mindray) abdominal para confirmação da gestação entre 45 e 60 dias após a última data de cobertura.

O procedimento anestésico adotado nas cirurgias cesarianas empregou a anestesia local com bloqueio paravertebral proximal nos ramos nervosos das vértebras T13, L1 e L2, utilizando-se cloridrato de lidocaína (Xylestesin® 2%, Cristália), no volume de 5 mL em cada ponto dorsal e ventral aos processos transversos. Associou-se a anestesia peridural lombossacra (L6- S1) com sulfato de morfina (Dimorf®, Cristália) na dose de 0,1 mg/kg diluída em 5 mL de solução fisiológica. Nos casos em que a anestesia paravertebral não foi eficiente, realizou-se bloqueio infiltrativo no local da incisão com cloridrato de lidocaína. As colheitas das amostras foram realizadas em cabritos nascidos por cirurgia cesariana.

Para a realização da colheita de sangue foram utilizadas seringas de plástico, contendo heparina lítio cálcio (80 UI de heparina), para volume de 1,6 mL, acoplada à agulha hipodérmica 25 x 0,7 mm. Quando presentes, o ar residual e as bolhas eram desprezados, e as seringas mantidas seladas e armazenadas em recipiente térmico contendo água e gelo reciclável, até o seu processamento, sem contato direto, sendo as amostras processadas, invariavelmente, em até 15 minutos após a colheita, como recomendado por Lisboa et al. (2002). O sangue foi coletado da veia jugular dos cabritos. Efetuou-se a determinação dos valores de pH, pressão parcial de gás carbônico (pCO2), bicarbonato (HCO3) e excesso/déficit de base (BE) em analisador clínico eletrônico portátil (i-Stat® Portable Clinical Analyzer), utilizando-se cartuchos específicos (EG7+ Cartridge) de acordo com as recomendações do fabricante, sendo calibrado automaticamente antes do

processamento das amostras. Adicionalmente, como controle de qualidade, foi utilizado o simulador eletrônico (i-Stat® Electronic Simulator) para verificar o funcionamento correto do equipamento antes do processamento. Os valores de pH e pCO2 foram ajustados pelo aparelho, de acordo com a temperatura retal de cada animal, aferida com termômetro clínico digital.

O teor de hemoglobina foi mensurado em espectrofotômetro semiautomático (Labquest, Labtest, Belo Horizonte, Minas Gerais), empregando-se o reativo comercial de cianometahemoglobina. O volume globular foi obtido com a utilização de tubos capilares e centrífuga para microhematócrito, sendo as amostras de sangue com EDTA centrifugadas a 3.000 x G, durante cinco minutos.

Para a colheita das amostras (cortisol), realizou-se anti-sepsia do local, por punção da veia jugular, utilizando-se agulhas 25 x 0,7 mm acopladas a tubos com anticoagulante ácido etilenodiamino tetracético1 (EDTA), para volume de 5 mL, e tubos siliconizados sem anticoagulante, para volume de 10 mL. O sangue recolhido para obtenção do soro foi mantido em temperatura ambiente, ao abrigo da luz, até a coagulação e retração do coágulo. Em seguida, foi centrifugado a 3.000 r.p.m., durante cinco minutos, para melhor separação do soro, e transferido para eppendorfs apropriados, divididos em três alíquotas, com auxílio de pipeta automática, congelando-as imediatamente a -20o C, até o momento do seu processamento. A determinação dos níveis de cortisol sanguíneo foram realizadas pelo teste radioimunoenzimático.

Realizou- se o exame radiográfico pulmonar no momento do nascimento dos cordeiros (M0), às 24 e às 48 horas de vida (M24 e M48), por meio do aparelho de raio-X fixo, posicionando-se os animais em decúbito látero-lateral.

Análise Estatística - Inicialmente os dados foram avaliados quanto à

normalidade através do teste de Shapiro-Wilk e homogeneidade de variâncias pelo teste de Bartlett. Quando os dados preenchiam os pré-requisitos, distribuição normal e variâncias homogêneas, foi utilizado o ANOVA com pós- teste de Tukey para compartivos entre grupos, e a avaliação entre os momentos dentro de cada grupo, foi realizada utilizando o ANOVA de medidas repetidas no tempo, com pós-teste de Tukey. Nos casos em que não houve normalidade e homogeneidade de variâncias, foram utilizados testes estatísticos de Kruskall-Wallis seguido do pós-teste de Dunn para compartativo entre grupos e a avaliação entre os momentos dentro de cada grupo foi realizada utilizando o teste de Friedman seguido do pós-teste de Dunn. Os testes de comparação entre medias descritos acima foram realizados utilizando o programa GraphPad-Prism (versão 6.0 para Windows, GraphPad Software, San Diego Califórnia EUA). Todos os testes descritos foram realizados considerando estatisticamente diferentes as comparações com valores de p<0.05.

Resultado e Discussão

Observando os resultados obtidos (Tabela 1), referentes ao pH, verifica- se que houve diferença significativa entre os grupos apenas no (Mcu) em que os animais do grupo I diferiram dos animais do grupo III, apresentando os valores mais baixos de pH em relação aos demais cabritos do estudo, Grupo I (Md= 7,25), Grupo II (Md= 7,3) e Grupo III (Md= 7,33). Entre os momentos ocorreu diferença significativa em quase todos os momentos nos três grupos estudados. As amostras de sangue obtidas do cordão umbilical, bem como ao nascimento, 15, 30 e 60 minutos de vida dos cabritos, demonstraram a ocorrência de acidose, e que, às 24 e às 48 horas de vida, esses valores se encontravam próximos aos valores de referência, situados entre 7,35 e 7,45 (MEYER et al. 1995, THRALL, 2006). Os valores de pH encontrados no presente experimento, ao nascimento, estão mais baixos do que os relatados por Yanaka et al. (2012) que avaliaram cabritos recém-nascidos provenientes

de partos normais, e observaram logo após o nascimento, valores de 7,21 ± 0,06. Às 24 horas de vida, os valores de pH obtidos no presente estudo foram semelhantes aos descritos por Piccione et al. (2010) 7,36 ± 0,06 , e bem pró- ximos aos observados por Yanaka et al. (2012) 7,30 ± 0,05, às 48 horas de vida, permitindo supor que as variações mais acentuadas no equilíbrio ácido- básico ocorrem nas primeiras 24 horas após o nascimento. Vannucchii et al. (2012) também observaram acidose persistente nos primeiros 60 minutos de vida de cordeiros. Dados semelhantes foram observados por Yanaka et al. (2012), que constataram acidemia transitória, em caprinos recém-nascidos, já que às 48 horas de vida a mesma já se apresentava normalizada.

De acordo com a (Tabela 1) houve diferença significativa entre os momentos, nos três grupos estudados no presente trabalho, para os valores de pCO2, denotando aumento no pCo2 em todos os grupos ao nascimento em relação ao (Mcu); posteriormente constatou-se queda dos valores nos momentos seguintes, porém ainda acima dos valores de referência. Dados semelhantes foram encontrados por Camargo (2010), Yanaka et al. (2012) que relataram média de 66,5 ± 8,0mmHg, logo após o nascimento, e de 54,38 ± 6,96mmHg, às 48 horas de vida, em cabritos nascidos de parto normal. Piccione et al. (2010) demonstraram valores de 44,6 ± 5,1mmHg (Pco2) para cabritos ao final do primeiro dia. Às 24 e às 48 horas de vida, os cabritos do presente experimento apresentaram valores de Pco2 mais próximos aos valores de referência.

Em relação ao bicarbonato (Tabela 2), houve diferença significativa entre os grupos em relação ao momento 24 horas após o nascimento, em que o grupo III diferiu dos demais, demonstrando média de 30,19 (mmol/L) em comparação com 27,93 (mmol/L) e 25,71 (mmol/L) dos grupos I e II, respectivamente. Entre os momentos verificou-se decréscimo nos valores ao nascimento em relação ao (Mcu), que persiste até o M60, se tornando mais altos nos momentos 24 e 48 horas após o nascimento, possivelmente pela tentativa de compensar a acidose em que os cabritos se encontravam, promovendo, assim, o tamponamento químico do excesso de íons de hidrogênio (GUYTON e HALL, 2002). Os valores do presente trabalho se mostraram próximos aos valores de referência citado por Thrall (2006) de 24mmol/L. Yanaka et al. (2012) relataram média de 25,97 ± 2,44mmol/L em

cabritos recém-nascidos de parto normal, e Piccione et al. (2010) de 26,5 ± 2,1mmol/L, ao final do primeiro dia de vida. Padrão semelhante foi observado por Gasparelli. (2007) em estudo realizado com bezerros, que apresentaram acidose respiratória ao nascimento e valores dentro dos limites de normalidade para a espécie ao final das primeiras 24 horas de vida, demonstrando, desta forma, a estabilização do equilíbrio ácido-básico durante o referido período.

O bicarbonato é usualmente determinado pela mensuração do Tco2, sendo que ele corresponde por, aproximadamente, 95% do total deste parâmetro (CARLSON e BRUSS, 2008). Os valores de TCO2 obtidos no presente estudo (Tabela 1) apresentaram-se mais baixos aos 60 minutos após o nascimento do que a referência (25,6 – 29,6 mmol/L - KANEKO et al., 2008), sendo que, às 24 e às 48 horas de vida, situaram-se dentro do intervalo de referência, exceto para os animais pertencentes ao grupo II. Essa adequação nos valores sugere, portanto, a estabilização do quadro metabólico. Dados semelhantes foram observados por Gasparelli (2007) em estudo realizado com bezerros, onde os mesmos apresentavam acidose respiratória ao nascimento e valores dentro dos limites de normalidade para a espécie ao final das primeiras 24 horas de vida, caracterizando, desta forma, a estabilização do equilíbrio ácido-básico durante o referido período.

Em relação ao déficit de base (BE) houve diferença significativa entre os grupos no (M24), diferindo os animais do grupo II em relação aos demais (Tabela 1). Entre os momentos, fica evidenciado que os valores estavam dentro do intervalo de referência no cordão umbilical e que o déficit de base (BE) no sangue dos cabritos apresentou diminuição nos momentos seguintes. Porém, às 24 e às 48 horas de vida, esses valores situavam-se novamente dentro dos limites de normalidade, de - 4 a + 4mmol/L (HASKINS, 1977), pela estabilização do quadro metabólico e do equilíbrio ácido-básico.

Analisando-se os resultados referentes aos valores de pO2 e sO2 (Tabela 1) observou-se queda dos valores ao nascimento em comparação com o (Mcu), vindo a aumentar nos momentos 24 e 48 horas, devido à melhora na capacidade respiratória dos animais, principalmente após as 24 horas de vida. Porém, a pO2 e sO2 mensuradas no sangue venoso não fornecem informações a respeito da capacidade dos pulmões em oxigenar o sangue (HASKINS, 1977), pois são influenciadas por outros fatores, tais como a

variação do consumo de oxigênio nos diversos tecidos, a qual, por sua vez, é dependente da atividade dos mesmos.

Diante do apresentado no presente trabalho e se adotadas as considerações descritas por Thrall (2006), que considerou como valores de referencia 7,4, 40 mmHg e 24 mmol/L, para pH, pCO2 e HCO3, respectivamente, os baixos valores de pH observados ao nascimento, associados ao aumento dos valores de pCO2 e decréscimo nos teores de HCO3, permitiu concluir que os cabritos do presente estudo apresentaram o quadro de acidose compesatória.

Em bezerros é descrito que o desequilíbrio ácido-básico fisiológico logo após o nascimento é solucionado em torno de duas horas no caso da acidose metabólica, e por volta de 24 a 48 horas, na acidose respiratória (VARGA et al., 2001; UYSTEPRUYST, 2006). Tal condição pode ser devida à reversão fisiológica da acidemia sofrida durante o parto, em virtude do início da atividade respiratória e do mecanismo de filtração renal, obedecendo ao novo padrão circulatório e respiratório estabelecido pelo organismo (HASKINS, 1977; BENESI, 1993). Os cabritos do presente estudo apresentaram o quadro de acidose mista logo após o nascimento, vindo a regularizar esses parâmetros já nas primeiras 24 horas de vida, demostrando que animais nascidos por cirurgia cesariana tendem a desenvolver o quadro de acidose mais acentuado do que os nascidos por parto normal, porém com total adaptação no primeiro dia de vida. Os cabritos prematuros nascidos com 143 dias de gestação apresentaram-se de forma semelhantes aos animais nascidos com 149 dias, adaptando-se de modo geral da mesma forma, e sendo perfeitamente viáveis. Tabela 1 – Mediana (Md), Mínimo (min) e Máximo (máx) dos valores do potencial hidrogeniônico (pH), pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2), pressão parcial de oxigênio

(pO2), total de dióxido de carbono (pCO2), saturação de oxigênio (sO2) e excesso/déficit de

base do sangue venoso de cabritos nascidos por cesariana aos 149 dias (Grupo I), cesariana prematura aos 143 dias (Grupo II), e cesariana prematura aos 143 dias após administração de dexametasona materna (Grupo III), nas primeiras 48 horas de vida.

VARIÁVEL MOMENTOS GRUPOS I n Md Min- Max n Md Min- Max n Md Min- Max pH Mcu 8 7,25Aa 7,18- 7,36 8 7,3 ABa 7,25- 7,37 8 7,33 Ba 7,28- 7,4 M0 8 7,12bc 6,81- 7,23 8 7,14 bc 7,06- 7,21 8 7,18 bc 6,88- 7,25

M15 8 7,17c 6,89- 7,24 8 7,18 c 7,03- 7,23 8 7,22 bce 6,85- 7,29 M30 8 7,18ce 7,04- 7,23 8 7,21 ce 7,02- 7,25 8 7,26 6,99- 7,33 M60 8 7,18 6,91- 7,25 8 7,24 6,95- 7,28 8 7,255 7,07- 7,34 M24 8 7,32d 7,31- 7,39 8 7,32 de 7,16- 7,43 8 7,36 d 7,25- 7,4 M48 8 7,33de 7,28- 7,38 8 7,35 d 7,28- 7,39 8 7,30 de 7,2- 738 pCO2 (mmHg) Mcu 8 53,95a 42,1- 66,1 8 47,9 a 45,1- 53,7 8 47,25 a 42,7- 58,7 M0 8 72,5bc 61,8- 110,6 8 67,4 bc 63,8- 76,5 8 64,3 b 60,5- 130 M15 8 62,15 54,2- 84,1 8 60,45 ce 53,1- 69,1 8 62,35 b 55,2- 79,5 M30 8 60,35 48,2- 64,7 8 56,95 48,8- 66,8 8 54,75 50,3- 66,5 M60 8 63,25 46,5-70 8 55,9ce 48,3- 75,6 8 55,35 50,5- 64,3 M24 8 51,95d 48,5- 56,6 8 46,2 de 41,8- 68,7 8 55,1 46,3- 69,7 M48 8 52,7d 43,7- 69,4 8 47,6 d 40,9- 59,6 8 55,55 46- 64,1 pO2 (mmHg) Mcu 8 32,5ac 14-41,3 8 45,95 21,3- 125 8 44,5 22,6- 69,1 M0 8 23 12,10- 99 8 25,4 14,8- 31,3 8 34,6 15,1- 167,8 M15 8 18,25A 12-42 8 31,35B 20,9- 49,6 8 27,05 AB 12,9- 37,9 M30 8 15,35Ab 11-20,4 8 25,55B 13,7- 41,6 8 22 B 17,7- 162,1 M60 8 17,5A 13-24 8 25,35B 17,5- 36,5 8 22,8 AB 16,7- 30,4 M24 8 28,5 20-36 8 25,8 20- 48,5 8 28,45 21,7- 36 M48 8 29,35c 26-39,5 8 25,7 12- 35,2 8 28,4 24,1- 59,2 tCO2 (%) Mcu 8 24,5 20,9-27 8 22,2 19,3- 23,3 8 22,7 a 19,9- 25,4 M0 8 23,45 20-28 8 22,85 18,6- 24,5 8 22,4 a 17,2- 26,5 M15 8 23,95ª 18-26 8 21,3a 17,9- 23 8 22,75 13,8- 27,2 M30 8 25ª 19-26,6 8 22,25 18,5- 48,8 8 22,7 13- 28,7 M60 8 24,6ª 16-29 8 23,05 18,7- 46,8 8 23,35 21- 31,4

M24 8 27,05AB 23-32 8 23,6A 21,5- 27,1 8 28,9 Bb 25,4- 33,1 M48 8 26,95b 22,9-38 8 24,9b 21,4- 27,3 8 25,3 22,1- 28 sO2 (%) Mcu 8 41,5 9-87 8 67,5a 23,7- 97,4 8 62,45 20,6- 90,3 M0 8 22 8-88 8 22,1b 12,3- 28,3 8 27,85 4,4-59 M15 8 21A 9-51 8 37,6B 23,7- 73,1 8 30,3 AB 7,5- 81,5 M30 8 14,5Aa 9-20 8 33,3B 11,5- 68,3 8 24,95 AB 14,3- 96,9 M60 8 18Aa 9-27 8 30,25B 18,9- 51,1 8 30,1 AB 17- 46,7 M24 8 46b 38-59 8 39 25,1- 72,3 8 45,9 33,2- 54,5 M48 8 46,5b 38-59 8 42,95 10-58 8 42,65 31,9- 73 BE (mmol/L) Mcu 8 -3,55 -6-(-1) 8 -2,65 -5,3-(- 0,4) 8 -0,65 -4,1- 2,8 M0 8 -4,7a -16-(-3) 8 -6,25a -10,7- (-3) 8 -5,45 a -23,9- (0,1) M15 8 -5,45ac -16-(- 2,8) 8 -5,7 a -12,1- (-3,4) 8 -4,4 ac -21,2- 0,8 M30 8 -5ac -14- (3,6) 8 -5,05 ac -13,1- (-2,8) 8 -3,95 -18,5- 3,1 M60 8 -5a -19-(-2) 8 -3,65 -11,6- (15) 8 -4,35 -13,6-7 M24 8 1,1ABb -4-(6) 8 -1,6Abc -5,9- 3,5 8 3,4 Bb 1,4-8,8 M48 8 2,05bc -1,9-(6) 8 1,1b -3,3- 4,3 8 -0,55 bc -3-2,9 As medianas seguidas de letras diferentes, maiúscula na linha e minúscula na coluna, diferem entre si pelo teste de Kruskal-Wallis e teste de Friedman, seguido pelo pós-teste de Dunn (p<0,05). A ausência de letras implica que não há diferença estatística.

Tabela 2- Média (𝑥) e desvio-padrão (S) dos valores do bicarbonato (HCO3) do sangue venoso

de cabritos nascidos por cesariana aos 149 dias (Grupo I), cesariana prematura aos 143 dias (Grupo II), e cesariana prematura aos 143 dias após administração de dexametasona materna (Grupo III), nas primeiras 48 horas de vida.

VARIÁVEL MOMENTOS GRUPOS I II III n 𝒙 ± S n 𝒙 ± S n 𝒙 ± S HCO3 (mmol/L) Mcu 8 23,34±1,38a 8 23,01±1,51 8 24,6±2,29a M0 8 22,51±3,39a 8 22,36±2,29 8 22,69±4,14 M15 8 22,23±3,51a 8 21,65±1,91 8 22,93±5,12 M30 8 21,85±2,95a 8 21,66±2,82 8 23,21±5,49 M60 8 22,25±4,19ac 8 23,25±5,1 8 24,04±5,38

M24 8 27,93±2,46ABbc 8 25,71±1,77A 8 30,19±2,58Bb

M48 8 27,99±3,23b 8 26,15±3,06 8 26,48±1,89 As médias seguidas de letras diferentes, maiúscula na linha e minúscula na coluna, diferem entre si pelo ANOVA e ANOVA de medidas repetidas no tempo, seguido pelo pós-teste de Tukey (p<0,05). A ausência de letras implica que não há diferença estatística.

O cortisol atua em praticamente todas as células do organismo, com importantes funções no sistema imune, sistema cardiovascular e nos processos cognitivos (KUDIELKA & KIRSCHBAUM, 2005).

Observando os resultados obtidos na (Tabela 3), evidencia-se que houve diferença estatística entre os grupos e entre a maioria dos momentos estudados. Os níveis de cortisol aumentaram de forma significativa no (M0), com os maiores valores encontrados nos animais do grupo II. Esses valores decresceram às 48 horas após o nascimento em todos animais estudados no presente trabalho. Estando abaixo dos encontrados por Camargo (2010), 17,89 µg/dL (M0); 16,13 µg/dL (M15) e 6,47 µg/dL (M24), ficando mais próximos dos resultados encontrados por Kaneko et al.(2008).

Tabela 3 – Mediana (med), mínimo (min) e máximo (máx) dos valores de cortisol (em nmol/L), de cabritos que nasceram com 149 dias de gestação (Grupo I), de cesariana com 143 dias de gestação (Grupo II), cesariana aos 143 dias de gestação após administração de dexametasona materna (Grupo III), nas primeiras 48 horas de vida,

MOMENTOS

GRUPOS

I II III

n Md Min - Máx n Md Min - Máx n Md Min – Máx

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