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SUMÁRIO

6 CONCLUSÕES 191 REFERÊNCIAS

5.1 TRATAMENTO DOS ANIMAIS E DOSAGEM DE F

5.1.4 Análise de F incorporado no esmalte

Além das diferenças no metabolismo e na concentração de F nos tecidos (CARVALHO et al., 2013; CARVALHO et al., 2009; EVERETT, 2011; EVERETT et al., 2011; VIEIRA et al., 2005a; YAN et al., 2011), resultados clínicos e de fluorescência quantitativa (QLF) têm confirmado que os dentes dos animais da linhagem 129P3/J são mais resistentes aos efeitos do F (EVERETT et al., 2002). No entanto, os mecanismos envolvidos nesta resistência e susceptibilidade, em especial os genes candidatos e suas respectivas proteínas, ainda não foram determinados.

Estudos prévios mostraram pouca correlação entre a concentração de F nos dentes e o grau de severidade da fluorose dentária (RICHARDS; FEJERSKOV; BAELUM, 1989; RICHARDS et al., 1992; VIEIRA et al., 2005a). Além disso, em terceiros molares inclusos de

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pessoas residentes em cidades com níveis ótimos e sub-ótimos de F na água de beber (0,2 – 1,0 mg/L de F), não foi observada correlação entre a concentração de F do esmalte e a severidade da fluorose dentária, além de ter sido relatada uma fraca correlação entre a concentração de F na dentina e o grau de severidade da fluorose (VIEIRA et al., 2004). Mesmo quando uma correlação estava presente, a concentração de F no dente explicava pouco a severidade da fluorose. Em adição, estudos epidemiológicos têm mostrado que certos grupos étnicos são mais susceptíveis à fluorose dentária do que outros (BUTLER; SEGRETO; COLLINS, 1985; RUSSELL, 1962; WILLIAMS; ZWEMER, 1990) sugerindo-se assim, uma influência não somente do ambiente mas também um envolvimento genético na severidade da fluorose dentária.

Nesse sentido, Vieira et al. (2005a) investigaram a correlação entre a concentração de F no dente e a severidade da fluorose dentária e as propriedades mecânicas do dente (microdureza) em camundongos com diferentes susceptibilidade genética à fluorose dentária (A/J e 129P3/J). Para tanto, os camundongos foram expostos às variadas concentrações de F (0, 25, 50 e 100 mg/L de F) na água de beber, por 6 semanas. Mesmo para o grupo controle (0 mg/L de F na água), foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre as linhagens, ou seja, o esmalte dos camundongos 129P3/J apresentou valores de microdureza maiores (aproximadamente 22%) quando comparado ao esmalte da linhagem A/J, o que é condizente com os resultados de Everett et al (2009), que observaram, em cortes histológicos, um maior conteúdo proteico no esmalte do estágio de maturação dos animais da linhagem A/J, quando comparados àqueles da linhagem 129P3/J, mesmo sem tratamento com F. Estes resultados obtidos sem tratamento com F indicam que a dureza do esmalte é geneticamente determinada (VIEIRA et al., 2005a). Quando avaliados nos grupos que receberam 50 mg/L de F, foi verificada uma maior perda de microdureza na linhagem A/J (redução da microdureza de 71%) comparada a linhagem 129P3/J (redução de 15%), o que também é compatível com os cortes histológicos do trabalho de Everett et al. (2009), que revelaram extensa retenção de proteínas no esmalte em maturação dos animais da linhagem A/J tratados com 50 mg/L de F, o que levaria a uma grande redução na microdureza, como relatado por Vieira et al. (2005a). Os autores concluíram que tantos fatores genéticos (severidade da fluorose dentária) quanto ambientais (concentração de F no esmalte dentário) têm efeito similar nas propriedades biomecânicas dos dentes.

Diante disso, no intuito de confirmar tanto a influência genética (linhagens com diferentes susceptibilidades à fluorose dentária), como ambiental (exposição ao F), foi

Resultados e Discussão 119 avaliada, além da concentração plasmática de F, também a concentração de F nos incisivos dos respectivos camundongos. No presente estudo, a figura 14 mostra a concentração de F presente no esmalte dos incisivos (n=15) dos camundongos das linhagens A/J e 129P3/J, após o tratamento com F. A concentração média (±DP) de F incorporado no esmalte dos incisivos dos camundongos foi de 471,4±215,8 mg/kg, 151,7±58,8 mg/kg para os animais do grupo controle das linhagens 129P3/J e A/J, respectivamente, e de 2711,2±1019,2 mg/kg, 1756,9±921,6 mg/kg para os animais das linhagens 129P3/J e A/J, respectivamente, tratados com água contendo 50 mg/L de F. A ANOVA a 2 critérios encontrou diferença significativa entre as linhagens (F=11,36, p=0,0016) e entre os tratamentos (F=103,50, p<0,0001), sem interação significativa entre ambos (F=2,82, p=0,1004). O tratamento com F levou a um aumento significativo na concentração deste íon nos incisivos dos camundongos para ambas as linhagens. Os animais da linhagem 129P3/J tiveram uma concentração de F nos incisivos maior que aquela encontrada nos animais da linhagem A/J, mas a diferença só foi significativa para o grupo tratado, refletindo os resultados observados para o plasma.

Figura 14. Concentração média de F (mgF/Kg) em incisivos superiores dos animais das linhagens A/J e 129P3/J que ingeriram ou não F (50 mg/L de F) através da água de beber. Letras maiúsculas e minúsculas indicam diferença significativa entre as linhagens e tratamentos, respectivamente. Barras indicam desvio-padrão. n=15 (ANOVA a 2 critérios e teste de Bonferroni, p<0,05).

Uma vez que as condições experimentais foram estritamente controladas nesse estudo e a ingestão de F pelos animais de ambas as linhagens foi semelhante, pode-se concluir que as diferenças nas concentrações de F no plasma e nos incisivos são devidas ao ´background”

Aa Aa Ab Bb Aa Aa Ab Bb m gF /k g 129P3/J 50 mg/L de F

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genético dos animais, como já tinha sido observado por Carvalho et al. (2009) para o plasma e fêmur destes animais. Entretanto, no estudo de Everett et al. (2002), que avaliou o acúmulo de F nos fêmures e nos incisivos como indicador da exposição ao F, os animais de ambas as linhagens acumularam quantidades similares de F nos fêmures e nos incisivos. Esse fato levou os autores a sugerirem que a eliminação do F pelo organismo não seria uma explicação suficiente para a resistência à fluorose dentária. Entretanto, no estudo de Everett et al. (2002), os autores não fizeram o ajuste na concentração de F na água administrada para os animais da linhagem A/J, que, portanto, ingeriram uma quantidade maior de F ao longo do experimento, fazendo com que as concentrações de F nos seus fêmures e incisivos fossem semelhantes aos animais da linhagem 129P3/J. Posteriormente, foi comprovado em um estudo metabólico (no qual as concentrações de F na água dos animais da linhagem A/J foram reduzidas, de forma a garantir a mesma ingestão de F para ambas as linhagens) que, contrariamente ao que era esperado, os animais da linhagem 129P3/J retêm mais F no organismo, o que faz seus níveis de F no fêmur e plasma serem maiores que aqueles encontrados nos animais da linhagem A/J. Esse achado é surpreendente, uma vez que a despeito dos maiores níveis circulantes de F, os animais da linhagem 129P3/J mostraram-se resistentes à fluorose dentária, que não se manifestou mesmo com a ingestão de água contendo 50 mg/L de F (CARVALHO et al., 2009).