• Nenhum resultado encontrado

GRUPOS(IIE) IDADE

4.5 Redução dos dados

5.1.2 Análise inferencial

Para a análise inferencial, os dados foram inicialmente testados em relação à normalidade, um dos pressupostos para a aplicação de testes estatísticos multivariados. Uma vez que a maioria dos blocos não apresentou normalidade, os dados foram ajustados usando a transformação arco seno. De acordo com HAIR JÚNIOR, ANDERSON, TATHAM e BLACK (2005) as transformações fornecem um meio para modificar as variáveis, seja para melhorar a relação entre elas, seja para corrigir as violações das suposições estatísticas inerentes às técnicas multivariadas. As transformações podem ser sustentadas por motivos teóricos (baseados na natureza dos dados) ou derivados dos dados (onde as transformações são sugeridas por um exame dos dados); algumas podem ser associadas com certos tipos de dados, sendo que as proporções são mais bem transformadas por arco seno (ARRUDA, 1971; HAIR JÚNIOR et al.; 2005; KIRK, 1968; SOKAL & ROHLF, 1969), operação que foi usada no presente trabalho. Novamente os dados foram testados e a suposição de normalidade foi atendida para a maioria dos grupos e blocos. Esse indicativo, associado ao tamanho da amostra de cada grupo (n = 20), considerado suficientemente grande (GREEN, SALKIND & AKEY, 2000; HAIR et al., 2005) para testar a significância estatística com um poder estatístico de 0,70 a 0,80, deu condições para a utilização dos testes descritos a seguir.

A MANOVA com medidas repetidas (6 grupos X 3 blocos) testou a hipótese de ausência do efeito dos Intervalos Inter-Estímulos (G1 = 300 ms, G2 = 400 ms, G3 = 500 ms, G4 = 600 ms, G5 = 700 ms e G6 = 800 ms) sobre a proporção de respostas omissas, erradas, corretas e antecipatórias (RO, RE, RC e RA, respectivamente), ao mesmo tempo que verificou a inexistência de diferenças na proporção dessas respostas ao longo dos blocos de tentativas. Os blocos de tentativas testados representam o início da prática (B1), 50% de prática (B5) e o momento final (B10). Foi utilizado o pacote estatístico SAS 9.1 e os resultados estão no ANEXO IV. No que diz respeito às respostas antecipatórias, o teste de Mauchly16

16

Mauchly é um teste de esfericidade que examina as correlações entre as variáveis dependentes, suposição básica para a utilização de análises para medidas repetidas.

aplicado para testar a esfericidade dos componentes ortogonais resultou em um valor de χ2 = 16,69721 (gl = 2, p = 0,0002), rejeitando a hipótese de validade de F para comparar o efeito dentro dos fatores. Assim, as probabilidades críticas para testar as hipóteses dentro dos fatores (interação grupos X blocos) utilizaram o valor corrigido 0,8792 que foi dado pelo ε de Greenhouse-Geisser17. Neste trabalho, sempre que o

teste de esfericidade rejeitar a hipótese de correlação entre os componentes ortogonais, será usado o valor crítico corrigido pelo ε de Greenhouse-Geisser, por ser uma medida mais conservadora (SAS/STAT, 1997). Assim foi feito para as respostas corretas (χ2 = 13,943029, gl = 2, p = 0,0009) utilizando o valor crítico ε de Greenhouse-Geisser 0,8960; para as respostas erradas o teste aplicado aos componentes ortogonais aceitou a hipótese de esfericidade (χ2 = 4,2511754, gl = 2, p = 0,1194); para as respostas omissas (χ2 = 7,6413158, gl = 2, p= 0,0219) o ε de Greenhouse-Geisser foi 0,9386. O nível de significância usado foi 0,05.

Ao testar se a proporção das respostas omissas, erradas, corretas e antecipatórias difere ao longo do tempo, ou seja, ao investigar o efeito da prática, os resultados da análise inferencial corroboraram a análise descritiva, pois houve diferença significativa para as respostas antecipatórias e corretas. O teste não apontou diferenças significativas para as proporções de respostas erradas e omissas ao longo dos blocos de tentativas (TABELA 3).

TABELA 3 – Resultados da Análise de Variância com medidas repetidas para hipótese de nenhum efeito do tempo (Experimento 1)

MANOVA e estatística F para hipótese de nenhum efeito do tempo H = Type III SSCP Matriz para tempo

E = Erro SSCP Matriz

Respostas gl Estatística Valor F P

ANT 2 Lambda de Wilks 0,66116774 28,95 <0,0001

COR 2 Lambda de Wilks 0,81747614 12,62 <0,0001

ERR 2 Lambda de Wilks 0,97211601 1,62 0,2023

OMI 2 Lambda de Wilks 0,97972253 1,17 0,3143

17 Se a significância é pequena e a suposição de esfericidade parece ser violada, um ajustamento dos

graus de liberdade do numerador e denominador pode ser feito para validar a estatística F e a correção εεεε de Greenhouse-Geisser é usada.

A seguir, foi realizado o teste de hipóteses para o efeito entre os fatores (grupos) e para o efeito dentro dos fatores (interações grupos X blocos). Entre os vários testes estatísticos a serem usados para avaliar as diferenças multivariadas, ao longo dos grupos, os quatro mais conhecidos são o GCR de Roy, Lambda de Wilks (também conhecido como estatística U), T de Hotelling e o critério de Pilai. De acordo com HAIR JÚNIOR et al (2005) o Lambda de Wilks é o mais utilizado se forem atendidas as suposições inerentes à MANOVA e se o tamanho das amostras for o mesmo para todos os grupos e razoavelmente grande como é o caso desse trabalho. Adicionalmente, após um teste F ter mostrado significância, o teste post hoc utilizado foi Ryan, Einot, Gabriel e Welsch (R-E-G-W). Este é um teste bastante robusto e recomendado se o tamanho das amostras é igual; esse teste controla a taxa de erro Tipo I (SAS/STAT, 1997).

TABELA 4 – Resultados da Análise de Variância com medidas repetidas para hipótese de nenhum efeito entre os grupos (Experimento 1)

Testes de hipóteses para o efeito entre os fatores (grupos) Respostas Antecipatórias

Fonte de variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P

Grupos (IIEs) 5 1,58023335 0,31604667 3,11 0,0113

Erro 114 11,57243293 0,10151257

Respostas Corretas

Fonte de variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P

Grupos (IIEs) 5 43,93928599 8,78785720 54,8 <0,0001

Erro 114 18,27880484 0,16034039

Respostas Erradas

Fonte de variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P

Grupos (IIEs) 5 19,10054739 3,82010948 69,79 <0,0001

Erro 114 6,239828203534 0,0547

Respostas Omissas

Fonte de variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P

Grupos (IIEs) 5 22,56561598 4,51312320 74,04 <0,0001

Erro 114 6,94928375 0,06095863

De acordo com o teste de hipóteses para o efeito entre fatores (IIEs de cada grupo) no desempenho dos sujeitos (TABELA 4), o resultado foi significativo para respostas antecipatórias (gl = 5; F = 3,11; p = 0,0113), assim como foram detectadas diferenças estatísticas significativas nas respostas corretas (gl = 5; F = 54,81, p < 0,0001), erradas (gl = 5, F = 69,797, p < 0,0001) e omissas (gl = 5, F =

74,04, p < 0,0001). Conforme era esperado, e também baseado na análise descritiva, o tratamento dado aos grupos (IIEs) provocou mudanças distintas e significativas no desempenho dos sujeitos

Ao testar se a proporção das respostas omissas, erradas, corretas e antecipatórias varia nos grupos ao longo dos blocos de tentativas, ou seja, se há efeito de interação entre os IIEs e a prática (interação grupos X blocos) (TABELA 5), pôde-se notar diferença significativa para as respostas antecipatórias, corretas, erradas e omissas. Esse resultado sustenta o que foi visto na análise descritiva.

TABELA 5 – Resultados da Análise de Variância com medidas repetidas para hipótese de nenhum efeito de interação entre os grupos e blocos (Experimento 1)

Teste de hipóteses para o efeito dentro dos fatores (interação grupos X blocos)

Respostas Antecipatórias Fonte de variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P Blocos 2 2,56581765 1,28290883 35,64 <0,0001 Blocos X Grupos 10 1,38661223 0,13866122 3,85 <0,0001 Erro (bloco) 228 8,20787493 0,03599945 Respostas Corretas Fonte de

variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P

Blocos 2 1,42723880 0,71361940 16,77 <0,0001

Blocos X Grupos 10 3,47692166 0,34769217 8,17 <0,0001

Erro (bloco) 228 9,70019442 0,04254471

Respostas Erradas Fonte de

variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P

Blocos 2 0,03567231 0,01783616 1,38 0,2546

Blocos X Grupos 10 0,47964241 0,04796424 3,70 0,0001

Erro (bloco) 228 2,95517791 0,01296131

Respostas Omissas Fonte de

variação gl Soma de quadrados (Type III) Quadrado médio F P

Blocos 2 0,03761369 0,01880684 0,94 0,3920

Blocos X Grupos 10 0,49289819 0,04928982 2,46 0,0081

Adicionalmente, para saber em quais grupos e em qual momento da prática essas diferenças foram significativas foi usado o teste post hoc Ryan, Einot, Gabriel e Welsch (R-E-G-W), conforme justificado anteriormente.

TABELA 6 – Resultados do teste post hoc Ryan, Einot, Gabriel e Welsch (R-E-G-W) para as respostas antecipatórias

Respostas antecipatórias (médias) Blocos

Grupos (IIE ) Bloco 1 Bloco 5 Bloco 10

G1 (300 ms) 0,13830 a 0,17205 ab 0,1951 b G2 (400 ms) 0,08645 ab 0,13606 b 0,1334 b G3 (500 ms) 0,07606 ab 0,18292 ab 0,2839 ab G4 (600 ms) 0,01573 b 0,12944 b 0,1760 b G5 (700 ms) 0,03560 b 0,17921 ab 0,3083 ab G6 (800 ms) 0,03595 b 0,38302 a 0,5139 a

Obs. 1 = médias com as mesmas letras não são significativamente diferentes Obs. 2 = este teste controla a taxa de erro Tipo I

Nas respostas antecipatórias, no bloco inicial, o G1 apresenta a maior média e tal valor foi estatisticamente diferente dos grupos G4, G5 e G6, mas esse desempenho não é o mesmo nos outros blocos testados (TABELA 6). Nesse caso, o intervalo de 300 ms no início do processo de aprendizagem só permitiu ao sistema reagir ao estímulo luminoso, mas não apreender a seqüência. Após 50% de prática (B5) o G6 apresenta a maior média de respostas antecipatórias e ele difere significativamente dos grupos G2 e G4, os quais têm as menores médias. Vale ressaltar que o G3 aparece em seguida com a segunda maior média, mas ela não é significativamente diferente dos demais grupos. No final da prática (B10) o G6 ainda mostra maior média de respostas antecipatórias e permanece a diferença significativa para os grupos G1, G2 e G4. O G4 (IIE = 600 ms) é aquele cuja média de respostas antecipatórias sempre foi a menor ou a segunda menor ao longo dos blocos testados.

No que diz respeito às respostas corretas o teste post hoc R-E-G-W (TABELA 7) evidenciou que, no início da prática, os IIEs de 700 ms e 800 ms dos grupos G5 e G6, respectivamente, provocaram respostas de mesma magnitude no desempenho dos sujeitos, e essa média de respostas corretas foi significativamente maior do que aquelas apresentadas pelos sujeitos nos grupos G1, G2 e G3, o que

corrobora a análise descritiva. Ainda no início da prática, o G3 diferiu de todos os outros, apresentando uma magnitude de respostas corretas maior do que as dos grupos G1 e G2, mas menor do que as dos grupos G4, G5 e G6.

TABELA 7 – Resultados do teste post hoc Ryan, Einot, Gabriel e Welsch (R-E-G-W) para as respostas corretas (Experimento 1)

Respostas corretas (médias) Blocos

Grupos Bloco 1 Bloco 5 Bloco 10

G1 (300 ms) 0,20800 d 0,25668 c 0,3271b G2 (400 ms) 0,28084 d 0,40708 c 0,4185bc G3 (500 ms) 0,71323 c 0,73446 b 0,5981bc G4 (600 ms) 1,16197 b 1,00641 a 0,9843 a G5 (700 ms) 1,37344 a 1,20653 a 0,9552a G6 (800 ms) 1,25541 ab 1,01330 a 0,7904ab

Obs. 1 = médias com as mesmas letras não são significativamente diferentes Obs. 2 = este teste controla a taxa de erro Tipo I

Após 50% de prática, no quinto bloco, o G3 continua se diferenciando dos demais e mantendo uma média maior do que as dos grupos G1 e G2 e média menor do que as dos grupos G4, G5 e G6, sendo esses últimos iguais entre si em termos da magnitude das respostas corretas. Finalmente, no décimo bloco de prática, os grupos de menores IIEs (Grupos G1, G2 e G3) se diferenciam do G4 e G5 apresentando as menores médias, e o grupo de menor IIE – G1, cujo IIE é de 300 ms – apresenta a menor média significativa, o que também havia sido evidenciado na análise descritiva; os grupos G4 e G5, no final da prática (B10), apresentam médias maiores e significativamente diferentes dos grupos G1, G2 e G3.

Com relação às respostas erradas (TABELA 8), no início da prática (B1), os grupos G4, G5 e G6 apresentam as menores médias, cuja magnitude não difere estatisticamente entre eles, mas difere dos outros três grupos (G1, G2 e G3), o que mais uma vez corrobora a análise descritiva. Confirma-se assim que, desde o início da prática, os IIEs de 600, 700 e 800 ms são menos exigentes para o sistema. Ainda no bloco B1 fica confirmado estatisticamente que o grupo que tem maior proporção de respostas erradas é o G2, seguido pelo G1 e pelo G3.

TABELA 8 – Resultados do teste post hoc Ryan, Einot, Gabriel e Welsch (R-E-G-W) para as respostas erradas

Respostas erradas (médias) Blocos

Grupos Bloco 1 Bloco 5 Bloco 10

G1 (300 ms) 0,57230 b 0,57918 a 0,52645 ab G2 (400 ms) 0,74516 a 0,63094 a 0,61699 a G3 (500 ms) 0,37709 c 0,37121 b 0,39114 b G4 (600 ms) 0,13780 d 0,15722 c 0,18701 c G5 (700 ms) 0,02588 d 0,07720 c 0,16594 c G6 (800 ms) 0,07557 d 0,03622 c 0,11038 c

Obs. 1 = médias com as mesmas letras não são significativamente diferentes Obs. 2 = este teste controla a taxa de erro Tipo I

Após ter praticado 50% do total de tentativas previsto para esse experimento, os grupos G4, G5 e G6 continuam se diferenciando significativamente dos demais, mas não entre si; o G3 se diferencia significativamente dos demais ao apresentar uma média menor de respostas erradas quando comparado aos grupos G1 e G2, e maior do que as dos grupos G4, G5 e G6.

No último bloco de tentativas, o G3 mantém maior média significativa nessas respostas erradas com relação aos grupos G4, G5 e G6, mas se difere do G2 por apresentar uma média significativamente menor; os grupos G4, G5 e G6, por sua vez, são significativamente diferentes dos demais, apresentando baixa magnitude de respostas erradas no final da prática, mas não apresentam diferenças entre si. Em suma, ao longo da prática, as respostas erradas aparecem sempre em menor proporção nos grupos de maiores IIEs, e em maior proporção nos grupos de menores IIEs. Como foi apontado anteriormente (TABELA 5), essa proporção não variou em função dos blocos.

Para as respostas omissas (TABELA 9), no início da prática o G1 apresenta a maior proporção dessas respostas, significativamente diferente dos demais e isso permanece no B5; ao longo da prática (B5 e B10) vai ficando evidente que os grupos com IIEs menores (G1, G2 e G3) se diferenciam daqueles com IIEs maiores (G4, G5 e G6); destaque deve ser dado ao G1 que, apesar de manter a mais alta proporção dessas respostas, no último bloco de prática seu desempenho se aproxima daquele do G2; o G3, por sua vez, que inicialmente (B1) apresentava um

desempenho idêntico aos dos grupos de IIEs menores, ao longo da prática (B5 e B10) passa a ter um comportamento único, diferente de quaisquer outros.

TABELA 9 – Resultados do teste post hoc Ryan, Einot, Gabriel e Welsch (R-E-G-W) para as respostas omissas

Respostas omissas (médias) Blocos

Grupos Bloco 1 Bloco 5 Bloco 10

G1 (300 ms) 0,88595 a 0,83597 a 0,80577 a G2 (400 ms) 0,67674 b 0,68740 b 0,68787 a G3 (500 ms) 0,58518 b 0,49448 c 0,50489 b G4 (600 ms) 0,28952 c 0,34703 d 0,30215 c G5 (700 ms) 0,11253 d 0,13952 e 0,25858 c G6 (800 ms) 0,20021 cd 0,14828 e 0,24118 c

Obs. 1 = médias com as mesmas letras não são significativamente diferentes Obs. 2 = este teste controla a taxa de erro Tipo I

O objetivo do Experimento 1 foi conhecer o nível de exigência de cada IIE, sendo que esse nível está associado à análise da incerteza que deve estar presente no sistema, assim como da análise dos recursos que o sistema tem para suplantar tal incerteza, o que o capacitaria a progredir para estados mais complexos. Os dois primeiros Intervalos Inter-Estímulos (G1 e G2) deram pouca oportunidade para suplantar a incerteza que eles geravam. Podem ser considerados intervalos muito exigentes. Os dois últimos intervalos (G5 e G6), por sua vez, permitiram desde o início da prática que o sistema utilizasse todos os tipos de resposta, optando pelas respostas que mais atendiam à meta de aprender a ordem da seqüência ao responder correta e antecipadamente. Podem ser considerados intervalos de menor magnitude em termos de exigência para o sistema. Poder-se-ia esperar, então, que os intervalos intermediários atendessem ao paradoxo incerteza/certeza de modo a desafiar o sistema para que ele progredisse das respostas omissas e erradas para as respostas corretas e antecipatórias. O IIE de 600 ms do G4 pareceu ter gerado pouco desafio levando à manutenção do nível alto de respostas corretas do início ao fim da prática e não modificou os outros tipos de respostas; o IIE de 500 ms do G3 pareceu ser aquele cuja duração proporciona um desempenho adequado, provocando incerteza suficiente para desafiar o sistema a não se fixar a um único tipo de resposta e necessariamente procurar por outra que melhor atenda à meta de

apreender a seqüência, inicialmente rastreando e depois antecipando o acendimento de luzes.

A tarefa de rastreamento de um padrão seriado requer que se reconheça o padrão de regularidades imposto pelos estímulos luminosos e as respostas antecipatórias evidenciam que o sistema passou da compreensão das partes (respostas corretas) para a compreensão da seqüência como um todo e mais: o estado de respostas antecipatórias indica que o sistema alcançou certa redundância, condição que dá flexibilidade para o sistema lidar com perturbações, sempre com vistas ao alcance da meta. A variabilidade aumentada em respostas antecipatórias no G3 quando comparado com o G1 e G2, principalmente nos blocos finais da prática (FIGURA 13 e ANEXO III), também pode ser considerada outro indício de que o sistema está explorando novas formas de comportamento para alcançar a meta. De acordo com BENDA (2001), um dos indicativos de redundância é a maior variabilidade de resposta.

O IIE de 500 ms foi considerado o intervalo de tempo que melhor atendeu aos propósitos do pesquisador em ser o ideal, nessa tarefa, para o início do processo de aprendizagem. Além de permitir que as respostas funcionais à meta da tarefa (corretas e antecipatórias) sofram alteração com a prática, esse parece ser um intervalo intermediário em termos de incerteza, e permite a combinação com os outros IIEs de forma crescente e decrescente ao longo de dois ciclos consecutivos Instabilidade-Estabilidade-Instabilidade (I-E-I). O IIE de 300 ms foi considerado o intervalo mais exigente e os IIEs de 700 e 800 ms parecem ser iguais em termos de exigência.

5.2 Experimento 2

Para a definição das combinações dos Intervalos Inter-Estímulos (IIEs) no Experimento 2 foram utilizados os resultados do Experimento 1, associando o aumento e a diminuição da exigência dos IIEs ao longo de dois ciclos de Instabilidade-Estabilidade-Instabilidade (I-E-I). O propósito do segundo experimento foi investigar o que acontece com o sistema ao passar por ciclos sucessivos de I-E-I,

à medida que ele é levado a responder a diferentes níveis de exigências impostos pelos IIEs.

Em síntese, a questão principal do Experimento 2 é: qual o efeito dos ciclos no comportamento dos sujeitos?

Inicialmente foi feita uma análise descritiva para que se pudesse ter um panorama geral do comportamento dos grupos. Para tanto foram usados gráficos com as proporções das diferentes respostas (omissas, erradas, corretas, antecipatórias) com o objetivo de se conhecer a quantidade relativa de cada resposta, e gráficos de linha, para se reconhecer as mudanças no tempo dessas respostas e as interações com os tratamentos. A seguir foi feita a análise inferencial, na qual foram selecionados os blocos que retratam os momentos de instabilidade e estabilidade do ciclo, o que será detalhado oportunamente, com o objetivo de testar o efeito dos IIEs nas respostas do sistema, o efeito dos blocos de tentativas práticas nessas respostas e a interação entre a combinação dos IIEs e a prática ao longo de dois ciclos I-E-I. A apresentação dos resultados e a discussão foram feitas por tipos de resposta, comparando o desempenho dos grupos no primeiro e no segundo ciclo I-E-I (análise entre grupos); em seguida os resultados de cada grupo foram discutidos detalhadamente (análise intragrupo).

Dando prosseguimento à análise, foi feito um reagrupamento dos dados com o objetivo de separar os sujeitos que precocemente alcançaram critérios de desempenho, por entender que isso pode se constituir uma característica que retrata a redundância no sistema, em relação àqueles que alcançaram tal critério tardiamente. Assim, foram reunidos os sujeitos que tiveram os mesmos tratamentos de IIEs nas fases de Estabilização e Adaptação I e, dentre eles, foram discriminados os precoces e os tardios, o que resultou em quatro novos grupos. A FIGURA 14 ilustra os grupos originais e o novo agrupamento do Experimento 2. Nesse reagrupamento, a análise comparativa dos grupos que alcançaram o critério precocemente com os que alcançaram tardiamente ou não o alcançaram tem o propósito de investigar pontualmente se a redundância inicial do sistema tem efeito ao longo dos ciclos.

FIGURA 14 – Esquema ilustrativo dos grupos originais e os reagrupamentos do Experimento 2

5.2.1 Análise descritiva

Na análise descritiva, os gráficos de colunas 100% empilhadas (Excel 2003) (FIGURAS 15, 16, 17, 18, 19 e 20) mostram, para cada grupo, a proporção dos quatro tipos de respostas ao longo da prática; a fase de Estabilização vai do B1 ao B10; a Adaptação I vai do B11 ao B20 e a Adaptação II vai do B21 ao B22.

G1 (500/400/300 ms) 0% 25% 50% 75% 100% B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15 B16 B17 B18 B19 B20 B21 B22

Omissas Erradas Corretas Antecip.

FIGURA 15 – Proporção de respostas omissas, erradas, corretas e antecipatórias no G1, por blocos de tentativas

G1 - 500/400/300

Grupos originais do Experimento 2

1º reagrupamento do Experimento 2 G2 - 500/400/500 G3 - 500/400/600 G4 - 500/600/400 G5 - 500/600/500 G6 - 500/600/700 GA - precoces do G1, G2 e G3 GB - tardios do G1, G2 e G3 GC - precoces do G4, G5 e G6 GD - tardios do G4, G5 e G6

G2 (500/400/500 ms) 0% 25% 50% 75% 100% B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15 B16 B17 B18 B19 B20 B21 B22

Omissas Erradas Corretas Antecip.

FIGURA 16 – Proporção de respostas omissas, erradas, corretas e antecipatórias no G2, por blocos de tentativas

G3 (500/400/600 ms) 0% 25% 50% 75% 100% B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15 B16 B17 B18 B19 B20 B21 B22

Omissas Erradas Corretas Antecip.

FIGURA 17 – Proporção de respostas omissas, erradas, corretas e antecipatórias no G3, por blocos de tentativas

Observando os gráficos dos grupos G1, G2 e G3, como era de esperar, para os grupos que têm o mesmo tratamento inicial na Estabilização e Adaptação I (500/400 ms), a proporção dos quatro tipos de respostas nessas fases é a mesma. Nesses grupos as respostas omissas na Estabilização variam de 21,7% a 28,4% (ANEXO V) do total; após a primeira perturbação (B11) imposta pelo IIE de 400 ms essa proporção aumenta isso é visível nos três grupos: G1 = 32,37%, G2 = 31,71% e G3 = 35,41% (ANEXO V). Ao longo dos blocos da fase de Adaptação I essas respostas omissas oscilam um pouco em sua proporção, mas ficam na faixa dos 30% em relação ao total de respostas. A modificação imposta pela diminuição de 100 ms da fase de Estabilização para a fase de Adaptação I gerou uma perturbação tal que

parece ter provocado no sistema um nível de incerteza que permaneceu durante toda a nova fase.

Já as respostas erradas sempre apareceram em proporção menor do que as omissas na fase de Estabilização e, após sofrerem a primeira perturbação (B11), essa proporção também aumentou e assim permaneceu ao longo de todos os blocos de tentativas da fase de Adaptação I.

As respostas corretas foram as que o sistema mais lançou mão na fase de Estabilização, quando comparadas com todas as outras respostas dessa fase e, mais uma vez, isso foi igual para os grupos G1, G2 e G3; observa-se, no entanto, que nos blocos finais essa proporção diminui, dando lugar a um aumento de respostas antecipatórias.

Quando sofre a primeira modificação no IIE (B11), os grupos G1, G2 e G3 passam a diminuir a proporção de respostas corretas, mas preservam a proporção de respostas antecipatórias, e aumentam a de respostas omissas e erradas. Isso sugere que o IIE de 500 ms na Estabilização foi suficiente para o sistema conseguir responder num nível qualitativamente adequado, construindo uma estrutura hierárquica de respostas, mas quando sofre uma diminuição de 100 ms no IIE, o sistema aparentemente sacrifica apenas um dos níveis de respostas – as corretas. Será que a primeira perturbação impôs ao sistema um transtorno de tal forma que ele não teve que abrir mão das respostas antecipatórias, levando a pensar que há uma quebra na hierarquia qualitativa de respostas? Ou poder-se-ia pensar que essa foi

Documentos relacionados