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2 A MATRIZ INSUMO-PRODUTO REGIONAL BRASILEIRA

2.1 ANÁLISE INSUMO-PRODUTO REGIONAL

Originalmente concebido para aplicações nacionais, os modelos de insumo- produto (Input-Output Models) têm sido aplicados a unidades geográficas subnacionais desde a segunda metade do século passado. Segundo Miller e Blair (2009), existem duas características específicas associadas à dimensão regional que tornam a distinção evidente e necessária entre modelos nacionais e regionais de insumo-produto. Primeiro, a tecnologia de produção de cada região é específica e pode ser próxima ou, pelo contrário, muito diferente daquela registrada na tabela nacional de insumo-produto; por exemplo, a idade das indústrias regionais, as características dos mercados de insumos ou o nível de educação da força de trabalho são fatores importantes que podem influenciar a tecnologia de produção regional para se desviar da nacional. Segundo, quanto menor a economia em estudo, mais ela depende do mundo exterior, tornando mais relevantes os componentes de demanda e oferta exportados e importados, respectivamente. Note-se que esses componentes correspondem não apenas ao comércio internacional, mas também ao comércio entre a região e o restante do país.

Para Isard et al. (1998), a grande vantagem dos modelos inter-regionais é considerar os transbordamentos (spillover effects), através dos quais podem se verificar as consequências do aumento na demanda de uma dada região sobre as demais regiões consideradas, bem como o feedback na própria região onde houve o incremento inicial. Esses modelos foram classificados por Sargento (2009) de acordo com os seguintes critérios: i) número de regiões consideradas; ii) reconhecimento, ou não, das ligações inter-regionais; iii) grau de detalhamento implícito nos fluxos inter- regionais de comércio; iv) as hipóteses assumidas para estimar os coeficientes de comércio.

A magnitude dos efeitos entre duas regiões, ou mesmo entre dois setores da economia de duas regiões, caracteriza o grau de interdependência econômica regional. Leontief (1986) define que a interdependência pode ser direta ou indireta. A interdependência é direta na medida em que os bens e serviços produzidos em uma

região são absorvidos por setores produtivos ou pela demanda final (DF) de outra região. A interdependência indireta ocorre quando a ligação entre tais regiões ou indústrias se dá por meio de setores produtivos de outras regiões, formando os padrões triangulares ou multilaterais de comércio.

O problema fundamental em um sistema insumo-produto de várias regiões é a estimação das transações entre as regiões, segundo Isard et al. (1998). As matrizes de comércio inter-regional dificilmente estão disponíveis no nível de detalhamento necessário. Desse modo, a obtenção dos fluxos comerciais intermediários entres regiões e setores, ou como estimá-los, transformou-se no principal desafio. Principalmente quando se considera que a necessidade de dados cresce exponencialmente com o número de regiões, conforme Miller e Blair (2009). Por exemplo, um sistema com 3 regiões possui 6 matrizes inter-regionais, já um sistema com 4 regiões possui 12 matrizes inter-regionais. Para o caso brasileiro, com 27 estados, demanda 702 matrizes inter-regionais.

Em classificação proposta por Round (1983), quando o sistema inter-regional é construído totalmente a partir de informações censitárias diretas, o método é classificado como “método com informação censitária”. Por outro lado, quando as informações utilizadas para construir o sistema inter-regional são estimativas das informações diretas requeridas, o método é classificado como “método não censitário”. Ainda conforme Round (1983), a utilização dos termos censitário e não censitário sugerem a existência de duas exclusivas e bem definidas técnicas de pesquisa. Todavia, na prática, as matrizes inter-regionais de insumo-produto são estimadas de forma híbrida, combinando várias técnicas, de acordo com a quantidade de dados primários disponíveis. Para esse autor, diante da dificuldade de se obter dados necessários para a estimação dos sistemas insumo-produto com várias regiões a partir de dados censitários, os chamados “métodos não censitários” ganharam popularidade acadêmica.

Dentre as diversas técnicas não censitárias utilizadas para a estimação de sistemas inter-regionais, pode-se citar: i) estimações baseadas em Quocientes Locacionais (QL) e suas variações; ii) Modelos Gravitacionais; e iii) Modelos Iterativos (RAS e suas variações). Contudo, de acordo com Montoya (1999), na prática, quando se desenvolve um sistema inter-regional de insumo-produto, é comum a utilização combinada dessas e de outras formas de estimação.

Diversos estudos descrevem combinações de métodos não censitários para a estimação de matrizes inter-regionais, tais como: Roy e Thill (2004), Sargento (2009) e Riddington, Gibson e Anderson (2006). Esses últimos, além da descrição, fazem análise comparativa entre o modelo gravitacional e o modelo QL tradicional. Para eles, o uso de tabelas nacionais ou tabelas nacionais modificadas para refletir especializações regionais apresentam limitações aparentes. O que levou ao desenvolvimento de métodos baseado em modelo de gravidade para estimar as tabelas locais de comércio e insumo-produto.

Por outro lado, Flegg e Tohmo (2013) elaboraram adaptação ao método QL, originalmente proposto por Flegg, Webber e Elliott (1995), onde demonstram que a abordagem convencional de produzir primeiro um modelo regional agregado e depois usar QL para ajustar os coeficientes provavelmente produzirá estimativas tendenciosas de multiplicadores regionais. Argumenta-se que seria mais sensato ajustar os dados antes da agregação.

Em artigo recente, Boero, Edwards e Rivera (2018) apresentaram método que integra a estimativa de tabelas regionais de insumo-produto e fluxos comerciais entre regiões. Tendência que começa a se estabelecer. O próprio método SUIT, criado por Guilhoto et al. (no prelo), não utiliza matrizes de comércio estimadas a partir da impedância comercial entre os pares origem-destino, embora as utilize na calibração final. Outro aspecto relevante é que o SUIT combina as abordagens bottom-up e top-

down. Assim, ao mesmo tempo em que o método garante a consistência com as

matrizes nacionais de Usos, Produção e com as Contas Regionais, também preserva as peculiaridades econômicas de cada região.

No que diz respeito ao Brasil, existem vários estudos que constroem sistemas inter-regionais. Eles podem ser agrupados em dois tipos: aqueles que constroem matrizes regionais parciais do Brasil, e os que constroem sistemas inter-regionais completos, que contêm as 27 unidades da federação do Brasil.

Do primeiro grupo, pode-se destacar: i) Guilhoto (2010) construiu um sistema inter-regional de insumo-produto para os estados do Nordeste brasileiro; ii) Domingues e Haddad (2002) desenvolveram um sistema inter-regional para Minas Gerais e o restante do Brasil; iii) Porsse, Peixoto e Palermo (2008) estimaram uma matriz inter-regional para o Rio Grande do Sul e o restante do Brasil; iv) Ichihara, Guilhoto e Imori (2008) estimaram um sistema intermunicipal de insumo-produto para os municípios do estado de São Paulo; e v) Guilhoto e Sesso Filho (2005) construíram

um sistema inter-regional para os 9 estados de atuação do Banco da Amazônia e o restante do Brasil para o ano de 1999.

Como exemplos de estudos que se enquadram no segundo grupo, como é o caso do presente estudo, as iniciativas são escassas e mais recentes, pode-se citar: Haddad, Júnior e Nascimento (2017) que utilizaram o método IIOAS para estimar um sistema inter-regional de insumo-produto para as 27 unidades da federação, com 68 setores e 128 produtos; e, Guilhoto et al. (no prelo) cujo método SUIT este estudo adapta com a utilização dos registros administrativos da Nota Fiscal Eletrônica - NFe6,

que se denominará a partir daqui SUITnf.

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