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UF Intrarregional Inter-regional

2.4 UMA APLICAÇÃO DA MATRIZ ESTIMADA

2.4.1 Efeitos de transbordamento dos choques nos itens da demanda

Para avaliar os impactos positivos e negativos de tais choques de forma comparada, foram calculados seus efeitos de transbordamento. Trata-se de verificar, como o choque dado em cada região para cada tipo de demanda, impacta a própria região e as demais. Como pode ser observado, apesar de em todos os casos o

impacto maior ser sobre a própria região, há impactos em todas as outras e, consequentemente, no país como um todo. O efeito transbordamento mede então a proporção do impacto de cada aumento de demanda em cada região sobre o país, como proporção do impacto sobre ela mesma. Quando esse efeito de transbordamento ocorre em uma região desenvolvida, conforme já mencionado, ele pode ser visto como positivo. O efeito da demanda aumentada sobre a região desenvolvida se distribui para as demais gerando benefícios para regiões menos desenvolvidas, funcionando no sentido de reduzir os hiatos de desenvolvimento entre as regiões.

Contudo, quando o efeito transbordamento ocorre nas regiões menos desenvolvidas, ele indica que, embora se esteja dando o choque de demanda com o objetivo de ampliar os seus níveis de desenvolvimento, grande parte do choque vaza para outras regiões mais desenvolvidas sob a forma de compra de insumos ou mão de obra, por exemplo, originárias de outras regiões. É o que pode ser avaliado no Quadro 5. Ele apresenta os efeitos de transbordamento de cada choque, em cada região e para cada variável analisada.

Observe-se que em qualquer caso de aumento de demanda, e em qualquer das variáveis analisadas, os efeitos transbordamento da região Sudeste, a mais desenvolvida, são os menores, mostrando que qualquer aumento de demanda em qualquer lugar do Brasil tende a beneficiá-la no sentido de que ela consegue reter melhor os benefícios do que as demais.

Os maiores efeitos de transbordamento, por sua vez, estão nas regiões menos desenvolvidas, Norte, Nordeste e Centro-Oeste, variando a ordem em que aparecem nas variáveis analisadas, mostrando o vazamento dos efeitos benéficos dos choques para regiões mais desenvolvidas. Este tipo de conclusão mostra que os vazamentos dos choques são relativamente maiores do que os efeitos benéficos do transbordamento do desenvolvimento das regiões desenvolvidas para as menos desenvolvidas, o que requer que as políticas regionais sejam discricionárias, no sentido de escolher onde e como os estímulos deverão ser dados, para reduzir tais vazamentos e tornar a política de desenvolvimento regional mais efetiva, reduzindo desigualdades.

Nas demais regiões menos desenvolvidas, quais sejam o Nordeste e o Centro- Oeste, a demanda de consumo divide com as exportações o menor potencial de vazamentos ou o melhor papel de retenção na região dos efeitos do desenvolvimento,

com os menores indicadores de transbordamento. No caso da região Nordeste, as exportações mostram menos vazamentos no valor adicionado, nas ocupações e nas remunerações, enquanto o consumo é mais eficiente para reter os benefícios de salários e EOB. No caso da região Centro-Oeste, as exportações permitem reter melhor nas regiões os benefícios em termos de Produção e EOB, enquanto o consumo permite tal retenção de benefícios do aumento de demanda no valor adicionado, nas ocupações e nos salários.

Por outro lado, são os choques sobre o investimento que são mais importantes para distribuir os frutos do desenvolvimento das regiões mais desenvolvidas Sudeste e Sul com as regiões menos desenvolvidas, porque eles proporcionam os maiores efeitos de transbordamento.

Quadro 5 - Efeitos de transbordamento de cada choque (%)

Efeitos de transbordamento

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Choque – Exportações Valor Adicionado 18,8 26,1 6,8 21,5 27,5 Ocupações 22,2 9,4 11,4 22,4 34,5 Remunerações 18,0 26,3 7,0 21,3 26,4 EOB 13,1 33,5 6,0 23,3 27,7 Salário 27,0 22,0 6,4 21,7 34,0 Produção 23,8 22,8 7,4 21,2 30,8 Choque – Consumo Valor Adicionado 33,2 26,8 10,5 24,7 23,6 Ocupações 32,9 20,2 15,5 23,1 25,8 Remunerações 33,5 27,1 10,9 24,8 24,1 EOB 37,0 30,8 11,3 27,7 28,9 Salário 28,0 21,8 7,9 22,0 19,1 Produção 43,9 34,9 13,3 29,3 31,2 Choque – Investimento Valor Adicionado 48,4 37,4 14,7 31,9 45,0 Ocupações 37,4 22,9 17,5 27,3 37,8 Remunerações 47,7 36,7 14,8 31,8 44,3 EOB 49,3 39,0 15,8 34,8 47,6 Salário 51,1 39,1 13,8 32,0 47,2 Produção 52,0 42,7 15,7 32,5 50,4

Fonte: Elaboração própria

Os choques de investimento, além disso, são os que produzem os maiores efeitos de transbordamento em termos absolutos, em todas as variáveis, e em todas as regiões. Se isso é uma boa qualidade quando se trata das regiões Sudeste e Sul, mais desenvolvidas, justificando priorizar os investimentos nelas, nas demais regiões isso mostra que elas perdem parte dos efeitos do aumento de demanda para os mais

desenvolvidos. São, neste sentido, os choques que mais punem com vazamentos as regiões menos desenvolvidas, dados os efeitos de transbordamento no sentido de vazamento maiores em todas as variáveis analisadas, ou seja, valor adicionado, ocupações, salários e outras remunerações e produção. Isso, entretanto, não significa que os investimentos não precisam ser feitos, já que são fundamentais para aumentar a capacidade produtiva e, então, a produção e ocupações e remunerações futuras. Mas requer análises mais detalhadas de onde investir, em que setores, de forma a minimizar tais vazamentos. Esta análise, porém, passível de ser feita com a Matriz de Insumo-Produto Inter-regional aqui descrita, acha-se fora do escopo deste artigo.

Observe-se, finalmente, que com exceção dos efeitos de transbordamento do aumento das exportações para a região Norte, o aumento de demanda de consumo é o que proporciona menores efeitos de transbordamento ou vazamento quando comparados com os aumentos de investimento e exportações para todas as demais regiões e todas as variáveis analisadas. Nesse sentido, quando o objetivo do desenvolvimento regional é ampliar a inclusão social, por meio de ocupações e salários, e de impactos de desenvolvimentos que sejam retidos nas regiões mais pobres, é preferível contar com choques de consumo para o Nordeste e o Centro Oeste, e de exportações para o Norte. Isso porque é este tipo de aumento da demanda que produz os menores efeitos de transbordamento ou vazamento, seja no que se refere a valor adicionado, ou ocupações, salários e outras remunerações e produção.

Esse tipo de resultado, nos efeitos de transbordamento/vazamentos, mostra que a política de desenvolvimento regional requer discricionariedade na escolha do tipo de demanda a estimular em cada região. Além disso, mesmo que o investimento não tenha aparecido como importante para garantir a retenção dos benefícios do desenvolvimento nas regiões menos desenvolvidas, ele é responsável pelo aumento da capacidade produtiva, da produção e de empregos futuros e precisa ser estimulado.

Outros estudos poderão usar a matriz aqui estimada para, calculando os efeitos de encadeamento para frente e para trás dos vários setores em cada região, determinar em que setores estes investimentos devem predominar, de forma a reter melhor na região os benefícios do desenvolvimento.

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