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4 ANÁLISE DO TEMA

4.5 ANÁLISE JURISPRUDÊNCIAL

O que se construiu durante muito tempo jurisprudencialmente acerca do tema, e de forma contraria ao que se tem trazido com maior ênfase neste estudo, é que por este ato se tratar de despacho não há conteúdo decisório e portanto impossível a recorribilidade como mostramos nos posicionamentos abaixo trazidos por Andrade e Romão (2014, p. 16):

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. DESPACHO QUE POSTERGA A ANÁLISE DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. IRRECORRIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 504 DO CPC. Hipótese em que a decisão agravada não possui cunho decisório, porquanto apenas posterga a análise da antecipação de tutela para momento posterior à manifestação do agravado. Despacho de mero expediente, irrecorrível, nos termos do art. 504 do CPC (RIO GRANDE DO SUL, TJ-RS, 2014a).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À SAÚDE. DECISÃO AGRAVADA QUE POSTERGA A ANÁLISE DOS PEDIDOS DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. DESPACHO DE MERO EXPEDIENTE. IRRECORRIBILIDADE. Despacho de mero expediente é irrecorrível. A eventual apreciação da questão pelo tribunal ensejaria supressão de grau de jurisdição e afronta ao princípio do duplo grau de jurisdição (RIO GRANDE DO SUL, TJ-RS, 2013).

No mesmo sentido o Tribunal de Justiça do Pará:

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA RECURSAL (fls. 02/17) interposto por CAITTO ARROYO VASCONCELOS, devidamente representado por advogado habilitado, com fulcro nos arts. 522 e ss. do Código de Processo Civil, em face da r. decisão interlocutória de fls. 25 destes autos recursais, proferida pelo MM. Juízo da 2ª Vara Cível da Capital, que, nos autos da AÇÃO ORDINÁRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, CONCOMITANTE COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA E DANOS MORAIS proposta em desfavor de PRIME RESIDENCIAL E ENGENHARIA LTDA. e CÍRCULO ENGENHARIA LTDA., se reservou à manifestação sobre o pleito de antecipação de tutela, tão somente, após a eventual oferta de contestação dos requeridos.

Este Juízo se manifestará a respeito do pedido de antecipação de tutela após a contestação (...) Pois bem. Tem-se que o presente recurso encontra-se fundamentalmente voltado ao questionamento sobre o teor de decisão que, sem deferir ou indeferir o pleito de antecipação de tutela, por razões de cautela, se reservou à manifestação posterior à contestação. Nesse sentido, é imperioso ressaltar que todo recurso deve preencher seus requisitos de admissibilidade, sob pena de não ser conhecido. Em regra, segundo o eminente professor NELSON NERY JÚNIOR (in Teoria Geral dos Recursos, 6 ed., 2004), são eles: o cabimento, a legitimidade para recorrer, interesse em recorrer, tempestividade, regularidade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer e preparo. Merece destaque, no caso

em apreço, a análise do cabimento. O recurso precisa de previsão legal para atacar determinada decisão judicial e, ainda, deve ser adequado para cada espécie de decisão. Para o ato judicial ser alvo de agravo, ele precisa ser, obrigatoriamente, uma decisão interlocutória [...]No caso em tela, não vislumbro decisão interlocutória impugnada, já que o ato do juiz de se reservar para apreciar o pedido de tutela antecipada após a resposta do réu é mero despacho, não sujeito, pois, a qualquer recurso. [...]Na confluência do exposto, o art. 504 do CPC é claro ao preceituar que Dos despachos não cabe recurso (PARÁ, TJ-PA, 2014a).

A argumentação girava em torno da ideia de que o magistrado tem discricionariedade para a postergação da análise do pedido com fundamento em sua melhor formação de convicção não havendo deliberação judicial (Andrade e Romão, 2014, p.16). Bem como, para que se possa manejar recurso através do agravo de instrumento precisaria necessariamente trata-se de decisão interlocutória de forma expressa.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. DECISÃO QUE PRORROGOU A ANÁLISE DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. DESPACHO DE MERO EXPEDIENTE. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO PELO TRIBUNAL. SUPRESSÃO DE UM GRAU DE JURISDIÇÃO. APLICAÇÃO DOS ARTIGOS 504 E 522 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. SEGUIMENTO NEGADO.

A decisão que posterga a apreciação de pedido de tutela antecipada para depois da contestação, é despacho de mero expediente e, portanto, torna-se decisão irrecorrível. Ademais, não tendo o juiz de primeiro grau apreciado o pedido, não pode este ser apreciado por esta Corte, sob pena de supressão de instância e afronta ao princípio do duplo grau de jurisdição. Situação que acarreta a inadmissibilidade manifesta do recurso (PARÁ, TJ-PA, 2014b, grifo nosso).

Outro entendimento é de que o conhecimento do recurso importaria em supressão de instância e entraria em choque com o princípio do duplo grau de jurisdição uma vez que não ocorre, há a decisão da primeira instância para que haja uma segunda análise pelo Tribunal Superior.

Percebemos através de pesquisas que algumas poucas vezes, em busca de uma solução e havendo o desamparo legal sobre o tema, as partes desesperadas buscando uma solução impetram, inclusive, mandado de segurança, o qual as cortes entendem pelo não cabimento.

Assim vejamos:

MANDADO DE SEGURANÇA. POSTERGAÇÃO DA APRECIAÇÃO DE PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. PLEITO JÁ AGORA DECIDIDO NA ORIGEM. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO ALEGADO. IMPOSSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA EM SEDE DE MANDADO DE SEGURANÇA. ORDEM DENEGADA (RIO GRANDE DO SUL, TJ-SC, 2013).

O que podemos observar é que a maioria das cortes até meados de 2015 possuíam esse posicionamento de que o ato é adequado para a formação da convicção do magistrado para tanto que Andrade e Romão (2014, p. 17), trataram:

A maioria das cortes pesquisadas entende, ainda, que tal ato do magistrado singular se revela adequado pelo fato de visar a segurança jurídica, sendo prudente, diante da gravidade do pedido liminar, adiar a análise do requerimento de urgência. [...]Assim, segundo os tribunais nacionais, o ato judicial que posterga a análise do pedido liminar para momento ulterior, a fim de possibilitar a melhor captação da lide, não admite recurso, porquanto não se encontra presente caráter decisório, mas apenas ordenatório. [...]Dentre essas cortes, argumenta-se também que o condicionamento do juiz à apreciação do pedido liminar para momento posterior não induz ao seu indeferimento, sendo a sua concessão, através do manejo do agravo de instrumento, uma “inversão do processo”, pois o tribunal avocaria a competência que a legislação processual confiou, inicialmente, ao magistrado de primeira instância.

Assim sendo, se tratando meramente de despacho as cortes se manifestavam da seguinte forma, vejamos:

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul no ano de 2014:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TUTELA ANTECIPADA. DESPACHO ORDENATÓRIO. AUSÊNCIA DE CARÁTER DECISÓRIO. INADMISSIBILIDADE DO RECURSO. É inadmissível o recurso contra decisão de caráter meramente ordenatório. Na espécie, o despacho que posterga a análise do pedido de tutela antecipada para momento após a citação e prazo de resposta, não possui conteúdo decisório, pois serviu apenas para dar regular andamento ao feito. Inadmissibilidade do agravo de instrumento. NEGADO SEGUIMENTO ao recurso, por decisão monocrática (RIO GRANDE DO SUL, TJ- RS, 2014b).

No mesmo seguimento o Tribunal de Justiça de Minas Gerais em 2013:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - PRELIMINAR SUSCITADA DE OFÍCIO - DECISÃO RECORRIDA EM PARTE APENAS POSTERGA A ANÁLISE DO PEDIDO DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - DESPACHO MERO EXPEDIENTE - CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO - VEÍCULO ZERO KM - PEDIDO DE SUSPENSÃO DOS PAGAMENTOS E NÃO INCLUSÃO EM ÓRGÃOS RESTRITIVOS - IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA LIMINAR DESEJADA - REQUISITOS NÃO DEMONSTRADOS - PERIGO DA IRREVERSIBILIDADE DO PROVIMENTO ANTECIPADO - RECURSO NÃO PROVIDO.

- Se o juiz a quo apenas postergou a análise do pedido de inversão do ônus da prova para momento posterior à apresentação da contestação, tem-se que tal manifestação trata-se de despacho de mero expediente, sendo certo que a análise do pedido por este Eg. TJMG importaria em supressão de instâncias (MINAS GERAIS, TJ-

MG, 2013a).

O Superior Tribunal de Justiça em 2006:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART. 544. ART. 539, II, "b", § ÚNICO DO CPC (...) DESPACHO QUE DETERMINOU A CITAÇÃO EM AUTOS DE AÇÃO CAUTELAR. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO. DESPACHO DE MERO EXPEDIENTE. IRRECORRIBILIDADE. 1. O ato do juiz que posterga a concessão da liminar para após a citação e resposta do réu equivale aquele proferido no writ e que condiciona o provimento de urgência ao recebimento de informações. É que a concessão de tutela inaldita é excepcional no nosso sistema à luz da cláusula pétrea constitucional do contraditório (art. 5º, LV, da CF e art. 798 do CPC). 2. Desta sorte, esse ato de determinar a citação em regra não é recorrível. Isto porque, conforme segue a jurisprudência da Corte: não ostenta natureza decisória, na configuração que lhe

empresta o art. 162 do CPC, o que revela sua irrecorribilidade. Precedentes jurisprudenciais desta Corte: (RESP 141592/GO, Relator Ministro Cesar Asfor Rocha, DJ de 04.02.2002; (AG 474.679/RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJ de 21.11.2002). 3. Deveras, nos termos do art. 162, §§ 2º e 3º do Código de Processo Civil, "decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente" e "são despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.". 4. Consequentemente, na forma do art. 504 do Código de Processo Civil, não é cabível recurso de despachos de mero expediente. In casu, o despacho que fundamentou decidir a liminar após a manifestação do ora agravado, devidamente citado, não possui qualquer conteúdo decisório, não causando gravame, tanto mais que o próprio agravante noticia que a licitação ultimou-se. [...] 6. Agravo Regimental desprovido (BRASIL, STJ, 2006).

Por fim, nesse mesmo seguimento o Tribunal de Justiça de Santa Catarina em 2012: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INTERDIÇÃO. CURATELA PROVISÓRIA. MAGISTRADO A QUO QUE POSTERGA A ANÁLISE DO PEDIDO LIMINAR. IRRESIGNAÇÃO DA AUTORA. DESPACHO SEM CUNHO DECISÓRIO. ATO DE MERO EXPEDIENTE. IRRECORRIBILIDADE. AUSÊNCIA DE URGÊNCIA E PREJUÍZO NA ESPERA DO EXAME DA MEDIDA PLEITEADA. INTERDITANDO QUE RESIDE COM A AGRAVANTE E VEM SENDO ASSISTIDO E GERIDO PELA MESMA. POSTERGAÇÃO QUE SE MOSTRA, ALIÁS, CORRETA NO CASO CONCRETO.

1. "O ato judicial que posterga a análise do pedido de antecipação dos efeitos da tutela possui natureza jurídica de despacho de mero expediente e, por isso, não comporta a interposição de recurso" (AI n. 2008.066028-8, de Itajaí, Rel. Des. Fernando Carioni, j. 3.2.2009).

2. A ausência de apreciação da tutela antecipada pelo juízo singular, que remete sua análise para momento ulterior, não viabiliza que a Superior Instância[...] (SANTA CATARINA, TJ-SC, 2012).

No entanto, o que se nota é que com as diversas circunstâncias que o processo traz houve necessidade em alguns casos excepcionais de tratar o ato como decisão.

Para tanto, observa-se ampla variedade de jurisprudência acerca do tema controverso. Assim vemos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - BUSCA APREENSÃO DECRETO-LEI 911/69 - DECISÃO POSTERGA APRECIAÇÃO LIMINAR - CONSTITUCIONALIDADE ART. 3º. RECURSO PROVIDO. 1. A decisão que posterga a análise de pedido de tutela antecipada pode causar grave lesão à parte, razão pela qual se equipara ao indeferimento tácito da pretensão desta e desafia a interposição do recurso de Agravo de Instrumento (MINAS GERAIS. TJ-MG. 2014).

Neste contexto, que o tribunal quando do ato de postergação tratou-o como decisão interlocutória por vislumbrar prejuízos à parte.

Podemos observar também em sede de recurso especial através da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. REAJUSTE DE 84,32%. EXECUÇÃO. ATO JUDICIAL COM CONTEÚDO DECISÓRIO. POSSIBILIDADE DE CAUSAR PREJUÍZO A UMA DAS PARTES. RECORRIBILIDADE. DESPACHO DE MERO EXPEDIENTE. DESCARACTERIZAÇÃO. 1. Constatada a possibilidade de prejuízo aos interesses de algum dos litigantes, o ato judicial é portador de conteúdo

decisório, sendo impugnável, portanto, mediante recurso. Cabimento, na espécie, do agravo de instrumento, pois caracterizada a decisão interlocutória - e não o despacho de mero expediente (BRASIL, STJ, 2013).

Ainda:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. DESPACHO MERO EXPEDIENTE. CONTEÚDO NITIDAMENTE DECISÓRIO. GRAVAME À PARTE. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CABIMENTO.

PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. [...] Dou provimento ao

recurso especial para anular o acórdão recorrido, determinando o retorno dos autos ao Tribunal de origem, para que aprecie o mérito do agravo de instrumento interposto [...] (BRASIL, STJ, 2007).

Vejamos, o Superior Tribunal de Justiça ao se deparar com recurso nesse sentido e verificar o perigo de demora que irá acarretar à parte, conhece o recurso sem analisar o mérito entendendo incorreta essa análise devido a supressão de instância – uma vez que o juízo a quo não fez a análise do pedido em primeira instância – conhece o recurso e solicita a devolução dos autos à primeira instância para que aprecie o mérito. Esse tem sido o posicionamento que vimos ser mais adotado pelas cortes a fim de evitar a supressão de instância.

Ao longo do tempo e com o advento do novo Código de Processo Civil em 2015, que deixou de tratar da decisão interlocutória como ato do juiz que resolve questão incidente no processo (BRASIL, CPC, 1973), e passou a tratar como todo o pronunciamento judicial de carga decisória que não se enquadre como sentença (BRASIL, CPC, 2018) o entendimento foi modificando e cada vez mais vem surgindo posicionamentos em consonância com a ideia de que tal ato pode se tratar de uma decisão.

Vejamos as palavras de Barros (2017, p. 1):

E essa linha de pensamento parece ter ganhado consistência com o novo CPC, cujo art. 203, ao diferenciar despacho de decisão, não mais alude à resolução de questões incidentais, como fazia o art. 162 do CPC/73, limitando-se a pontuar, de maneira tautológica até, que decisão interlocutória é o pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadra no conceito de sentença. Assim, até que se desenvolva doutrinariamente uma diferenciação técnica entre decisões e despachos, estes últimos irrecorríveis, o âmbito de cabimento do agravo de instrumento não encontra nisso um redutor.

Podemos ver um contexto de manifestações jurisprudenciais diversas para cada corte e para cada caso.

Há cortes, por exemplo, que por entenderem a postergação como indeferimento tácito do juízo de primeiro grau, não vê impasse para a análise do mérito.

AGRAVO DE INSTRUMENTO - TUTELA DE URGÊNCIA - DECISÃO QUE POSTERGA A SUA ANÁLISE PARA APÓS A FORMAÇÃO DO CONTRADITÓRIO - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - INDEFERIMENTO TÁCITO - IMPOSSIBILIDADE - REQUISITOS - ART. 300 DO CPC/15 - CONFIGURADOS - RECURSO PROVIDO. A decisão que posterga a

análise da tutela antecipada requerida liminarmente e inaudita altera pars equivale a uma negativa de prestação jurisdicional, podendo também ser interpretada como um indeferimento tácito, já que, por ora, a pretensão não foi alcançada. Para a antecipação de tutela devem estar presentes os requisitos do art. 300 do CPC/2015, quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco de resultado útil do processo, aliado à reversibilidade do provimento. Restando evidênciado nos autos os pressupostos, mormente o fato de o valor da dívida estar depositado em juízo, deve ser deferido o pedido de retirada do nome da parte dos cadastros de inadimplência. Recurso provido.

Frise-se que a matéria emergencial sequer chegou a ser examinada na instância primeva, propriamente, deixando o MM. Juiz a quo de indeferir ou conceder a medida requerida. Ou seja, não houve análise da existência do fumus boni iuris e periculum in mora, nem do contexto fático dos autos.

Registro, ademais, que além de equivaler à negativa de prestação jurisdicional, a decisão proferida também pode ser interpretada como um indeferimento tácito do pedido, já que, momentaneamente, a parte não alcançou a prestação jurídica requerida.

Deste modo, entendo como possível o exame do pleito em sede recursal sem que isso configure supressão de instância ou ofensa ao contraditório (MINAS GERAIS, TG-MG, 2017, grifo nosso).

Porém, para a maioria das cortes a análise da matéria configura supressão de instância, por esse motivo conhecem o recurso sem que analisem o mérito.

Neste sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PEDIDO LIMINAR. DECISÃO QUE POSTERGA A ANÁLISE DO PEDIDO LIMINAR PARA APÓS O OFERECIMENTO DA DEFESA. IMPOSSIBILIDADE DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. ANÁLISE RECURSAL RESTRITA À EXISTÊNCIA DE URGÊNCIA DO PLEITO A JUSTIFICAR O CONHECIMENTO IMEDIATO PELO JUÍZO "A QUO". AUSÊNCIA DE PERIGO DE DANO. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. A decisão que posterga a análise de tutela antecipada ou medida liminar para o momento posterior à manifestação da parte contrária possui natureza de verdadeira decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento, uma vez que se baseia na ausência do risco imediato que a demora no provimento jurisdicional pode causar à parte.

2. Não adentrando a decisão recorrida na análise dos requisitos atinentes à concessão da medida liminar requerida pelo autor - fumus boni iuris e periculum in mora -, a apreciação do pleito recursal deve ser limitada à necessidade de a magistrada a quo proceder ao exame imediato da tutela pretendida, sem aquilatar o preenchimento dos demais requisitos para o deferimento da medida, sob pena de supressão de instância.

3. Hipótese em que não restou demonstrado o iminente risco de dano irreparável ou de difícil reparação que justifique o exame imediato da medida liminar pela julgadora primeva.

4. Recurso a que se nega provimento (MINAS GERAIS, TJ-MG, 2013b, grifo nosso). Vejamos o que diz Barros (2017, p.1):

Já no que concerne ao juízo de provimento do recurso, é certo não compete ao órgão ad quem conhecer diretamente do pedido de tutela provisória, mas apenas determinar, sem avançar nos seus pressupostos, que o magistrado de piso aprecie imediatamente o pedido, seja para deferi-lo, seja para indeferi-lo, hipóteses em que se abrirá nova possibilidade de recurso.[...] Com efeito, no sistema processual brasileiro, à instância recursal é reservada a função de controle da correção da decisão proferida no órgão a quo, e não a de exame irrestrito da causa. Em linhas gerais, ao tribunal não compete construir originariamente a decisão do caso ou, tampouco, reconstruí-la com materiais

que não foram postos à disposição do juízo inferior. A função do órgão ad quem é rejulgar a matéria decidida pelo pronunciamento recorrido com os elementos já carreados ao processo, procedendo, assim, à averiguação de eventuais vícios (errores in procedendo ou in iudicando) cometidos no primeiro grau de jurisdição.

Vejamos, nas demais jurisprudências posicionamentos a favor da possibilidade de recurso.

Para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 2018:

EMENTA – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADO COM INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA, AUTORIZAÇÃO DA OPERADORA DE SAÚDE PARA CIRURGIA BARIÁTRICA. PRONUNCIAMENTO JUDICIAL QUE POSTERGA A ANÁLISE DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA PARA DEPOIS DO CONTRADITÓRIO – DESPACHO DE RESERVA.CONTEÚDO DECISÓRIO. AGRAVANTE QUE BUSCA A REFORMA INTEGRAL DA DECISÃO AGRAVADA PARA QUE O ÓRGÃO REVISOR POSSA ANALISAR O PEDIDO DA TUTELA DE URGÊNCIA E COMO COROLÁRIO BUSCA QUE LHE SEJA CONCEDIDA A TUTELA DE URGÊNCIA NOS TERMOS DO SEU PEDIDO.

[...]

Quanto ao juízo de admissibilidade do agravo, tem-se no âmbito do Superior Tribunal de Justiça orientação no sentido de que o denominado despacho de reserva não revela conteúdo decisório, sendo, por força do art. 1.001 do CPC (correspondente ao art. 504 do CPC revogado), irrecorrível (cf., a propósito, AgRg no REsp 1357542/ES, rel. min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª Turma, DJe de 06/08/2014 e AgRg no Ag 725.466/DF, rel. min. Luiz Fux, 1ª Turma, DJ de 01/08/2006, p. 375). No, entanto, há posicionamento em sentido contrário, o que se faz também com base na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (cf. REsp 814.100/MA, rel. min. Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJe de 02/03/2009 e AgRg no AREsp 16.391/RR, rel. min. Benedito Gonçalves, 1ª Turma, DJe de 13/12/2011), bem como em referências doutrinárias bastante atuais (NEVES, Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 8ª ed., 2016, p. 1.508 e DIDIER, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 13ª ed., 2016, v. 3, p. 212). Não é preciso a denegação expressa do pedido para se nascer o direito de recorrer ou o interesse recursal, pois ao proferir decisão que posterga a apreciação, em verdade, há negativa ao pedido em si, pois o mesmo requer a concessão da tutela sem a oitiva da parte contrária. Destaco que tal pronunciamento contém, carga decisória, que inclusive, pode acarretar dano irreparável ao Agravante (RIO DE JANEIRO, TJ-RJ, 2018). Para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 2018:

DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE GUARDA E RESPONSABILIDADE DE MENOR AJUIZADA PELA GENITORA. ALEGAÇÃO DE QUE O GENITOR NÃO ENTREGOU-LHE O MENOR - QUE ATÉ ENTÃO ESTAVA SOB SUA GUARDA DE FATO - APÓS O PERÍODO DE VISITAÇÃO. DECISUM QUE POSTERGA A ANÁLISE DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA PARA APÓS

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