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Análise jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho (TST)

3 AS CONSEQUÊNCIAS JURIDICAS DA UTILIZAÇÃO DA INTERNET NAS

3.3 Análise jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho (TST)

Como já mencionado no trabalho, diante da implantação contínua de novas tecnologias, surgem imperativas alterações na forma de prestar o trabalho e também novos contextos que precisam ser recepcionados pelo Direito. Se não pela via legislativa, ao menos a jurisprudência está se vendo, muitas vezes, forçada a interpretar novos cenários e novas relações de trabalho, pois precisam decidir lides que envolvem essa temática. Nesse sentido são trazidas as palavras de Sako (2014, p. 91-92), que salienta que todo esse conjunto de transformações sociais trazidas pelas novas tecnologias,

[...] implicaram mudanças significativas no mundo do trabalho, mudaram seus eixos de sustentação, o que tem exigido dos intérpretes um grande esforço cognitivo na concretização dos direitos expressos, partindo do pressuposto que a Constituição do Brasil, ao inserir em seu texto os direitos

dos trabalhadores, conferiu-lhes o status de direitos laborais fundamentais, de titularidade ampla, ou seja, de todos os trabalhadores, independentemente da natureza do vínculo de trabalho estabelecido.

O âmbito judiciário, ao se deparar com conflitos envolvendo o segredo de comunicações e privacidade nos ambientes de trabalho, têm manifestado entendimento divergente. A par da decisão citada anteriormente, envolvendo o HSBC, onde o TST considerou legítima a conduta empresarial de obter provas para justa causa com o rastreamento do e-mail do empregado, e que relativiza consideravelmente o direito fundamental de intimidade, outras em similar visão forma tomadas.

Outra decisão emanada pela 7ª Turma do TST relativizou os direitos fundamentais de segredo das comunicações e intimidade ao declarar que o empresário “pode acessar as mensagens do e-mail do trabalhador, por se tratar de ferramenta de trabalho fornecida pela empresa”. (SAKO, 2014, p. 130).

Como se verifica, há várias formas de interpretação do direito do trabalhador e do empregado no tocante a seus direitos de uso da internet no trabalho.

CONCLUSÃO

O avanço da tecnologia, especialmente da internet, facilitou a vida das pessoas, mas também acarretou discussões em vários âmbitos, como no caso presente, nas relações entre empregatícias.

Com a pesquisa intitulada “O impacto da internet nos contratos de trabalho e a sua interferência nas relações de emprego”, foi possível analisar várias questões relacionadas ao uso da internet no ambiente de trabalho, voltando o olhar para a interferência nas relações de emprego, bem como verificar os reflexos positivos e negativos na relação empregado e empregador.

No capítulo inicial da pesquisa, apresentaram-se aspectos gerais da internet no mundo e seu nascedouro no Brasil, especialmente sobre a implantação da rede mundial de computadores, sua evolução e alguns fatos que marcaram a trajetória da internet em nível nacional.

O ponto seguinte da pesquisa, qual seja, o segundo capítulo, versou basicamente sobre a utilização da internet nas relações de emprego. Apresentou o direito à desconexão do trabalho e o necessário olhar para evitar abusos de ambos os lados – tanto do poder diretivo do empregador, como do livre acesso que tem, muitas vezes, o empregado no ambiente de trabalho, e que pode desvirtuar suas funções, ocasionar problemas à empresa e insegurança no ambiente de trabalho.

No terceiro capítulo, abordaram-se as questões jurídicas. O olhar para ambos os polos da relação empregatícia e questões legislativas e jurisprudenciais sobre o tema. Percebe-se que não obstante o arcabouço consolidado e constitucional

disciplinar, muitas garantias e direitos fundamentais ao trabalhador, a questão da intimidade e da privacidade se vêem, inúmeras vezes, colocada de lado em prol do mérito da questão e da força empresarial.

Em suma, a realidade virtual e a utilização de meios tecnológicas em todas as esfera da vida humana tem sido uma realidade que não se pode mais evitar. Conviver com essas modernidades e tecnologias, inclusive nos ambientes de trabalho, tem representado um facilitador, em muitos aspectos, mas também um desafio, em tantos outros. Esse paradoxo está presente também nos ambientes de trabalho, representando, inclusive, um desafio para a ordem jurídica, que não encontra amparo legal para todas as situações e, muitas vezes, desemboca no Judiciário a fim de dirimir conflitos e interpretações acerca de seus limites. A pesquisa mostrou, contudo, forte divergência em torno da questão. Mostrou ainda que o avanço da tecnologia e, consequentemente, a incorporação da internet no Brasil, mudou significativamente a vida das pessoas em todos os aspectos, como, no caso estudado, nas relações de trabalho. Nessa seara, é preciso pautar as relações de emprego com cautela e ética. O poder disciplinar existe, mas o direito à privacidade e intimidade também.O respeito aos direitos fundamentais do trabalhador são parte integrante das relações de trabalho e impõem limites ao poder de direção empresarial.

O princípio da razoabilidade permite aferir que, se por um lado não é permitido ao empresário controlar, ao seu livre arbítrio, a comunicação realizada pelo trabalhador a partir do computador da empresa, também não é justo despojá-lo de seu poder de direção e controle, em todos os casos, pois a privacidade não pode ser invocada para justificar o maltrato da propriedade.

O princípio da proporcionalidade, portanto, a embasar muitas das ações judiciais, talvez seja o caminho. Além disso, reformulações legislativas a englobar situações ligadas ao uso e aos limites da internet também sejam necessárias, pois, diante de tantas lacunas, é mesmo o Judiciário a única via, muitas vezes, capaz de dirimir conflitos dessa ordem.

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