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4 PRINCÍPIOS DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA E DA PROBIDADE

5.3 Análise jurisprudencial do tema

A relação entre o Direito Eleitoral e os princípios da moralidade e da probidade administrativas constitui tema pouco explorado pela doutrina, que se debruça, principalmente, em estudar tais princípios para o Direito Administrativo, cujos conceitos relativos ao tema, como já visto, são plenamente aplicáveis ao Direito Eleitoral.

Nesse sentido, verificados os princípios da moralidade e da probidade administrativas, de acordo com a Constituição Federal de 1988, bem como trazida a moldura jurídica que circunscreve o Direito Eleitoral no país, entendemos que, para o melhor estudo do tema — moralidade administrativa e elegibilidade —, ideal que se realize a sua análise jurisprudencial, tendo em vista os palpitantes julgados que vêm discutindo a matéria.

Tal medida possibilitará que se verifique o atual panorama da aplicação do princípio da moralidade no Direito Eleitoral, especialmente no que se refere à impossibilidade de candidatura, seja por violação à moralidade, seja por improbidade administrativa.

O estudo abordará, especialmente, os julgados do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral, órgão mais graduado dentro da organização da Justiça Eleitoral (artigo 118, CF/88), tem como uma de suas competências uniformizar a jurisprudência em Direito Eleitoral (artigo 276, I, b,247 do CE), sendo suas decisões irrecorríveis (salvo as hipóteses do artigo 281 do CE248). Já o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição Federal, corresponde ao órgão máximo do Poder Judiciário

247 “Art. 276. As decisões dos Tribunais Regionais são terminativas, salvo os casos seguintes em que cabe recurso para o Tribunal Superior: I - especial: [...] b) quando ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais.”

248“Art. 281. São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo as que declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as denegatórias de “habeas corpus” ou mandado de segurança, das quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de 3 (três) dias.”

nacional, conforme competências previstas no artigo 102 da CF/88, tendo, conforme destacou Rui Barbosa “o direito de errar por último, de decidir por último”, conforme reconhece o próprio Ministro do STF, Celso de Mello.249

Vale destacar que a Lei Complementar nº 135/2010, chamada “Lei da Ficha Limpa”, que alterou a Lei de Inelegibilidades, constitui, sem dúvida, o instrumento normativo que mais contribuiu para a efetivação dos ditames contidos no artigo 14, § 9º, da CF/88, concernentes à probidade administrativa e à moralidade para o exercício do mandato, motivo pelo qual possuirá maior destaque no presente estudo, até pela riqueza dos argumentos jurídicos contidos nos recentes votos que trataram de sua constitucionalidade, sendo dedicados dois capítulos para tratar a seu respeito, um sobre as matérias concernentes à sua constitucionalidade e outro sobre as inovações à Lei Complementar nº 64/90 relacionadas à improbidade administrativa.

Cabe salientar que a Lei Complementar nº 135/2010 será plenamente aplicada, pela primeira vez, nas eleições de 2012, tendo em vista a decisão do Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 633.703, que, em respeito ao princípio da anterioridade, previsto no artigo 16, da Constituição Federal, afastou a sua aplicação para as eleições de 2010, fato que certamente trará muitos outros debates a respeito de seu cumprimento.

Há diversas disposições legais, além daquelas contidas na Lei Complementar nº 135/2010, que reforçam a aplicação do princípio da moralidade no Direito Eleitoral, tais como as restrições à propaganda eleitoral, a vedação à captação ilícita de recursos e ao abuso do poder econômico, a disciplina a respeito da arrecadação e gastos em campanha, entre outros, tendo em vista que, conforme já ressaltado, o princípio da moralidade sobrepaira as regras de Direito Eleitoral, conferindo-lhes o correto significado, estando presente, portanto, explícita ou implicitamente, nas normas que regulam as relações na esfera eleitoral, motivo pelo qual não caberia que fossem aqui analisadas uma a uma.

A interpretação acerca do princípio da moralidade no Direito Eleitoral foi conferida pelos julgados que trataram da Lei nº 135/2010, entendimento que se aplica a toda disciplina

249 SUPREMA CORTE BRASILEIRA E O EXERCÍCIO DE SUAS ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=165752>. Acesso em: 10 abr. 2012.

em matéria eleitoral, salientando-se que antes de tais julgamentos jamais havia sido enfrentado, de forma tão direta, o conteúdo e o alcance do princípio da moralidade para o Direito Eleitoral.

Por outro lado, as hipóteses que tratam de improbidade administrativa no Direito Eleitoral, por serem taxativas, serão analisadas separadamente, de modo específico, não obstante também tenham sido discutidas nos julgados da Lei Complementar nº 135/2010.

A fim de demonstrar a importância do estudo dos casos concretos para a compreensão do princípio da moralidade na política, trazemos os ensinamentos de Joseph Raz, que destaca que os limites concernentes à moralidade política serão verificados de acordo com as experiências concretas tidas por uma sociedade e suas instituições:

A teoria política pode ser convenientemente dividida em duas partes: uma moralidade política e uma teoria das instituições. A moralidade política consiste nos princípios que devem guiar a ação política. Ela fornece os princípios em cuja base a teoria das instituições constrói argumentos em defesa de instituições políticas desta natureza e não de outra. A moralidade política também estabelece objetivos bem como limites às ações daquelas instituições políticas. Mas os próprios princípios de moralidade política crescem da experiência concreta de uma sociedade particular com as suas próprias instituições. A sua validade é limitada pelo seu contexto (“background”).250

Portanto, será observado a seguir como se dá a aplicação do princípio da moralidade administrativa perante os tribunais pátrios, especialmente no que diz respeito aos direitos políticos passivos.

250 RAZ, Joseph. Op. cit., p. 3.

6 VIDA PREGRESSA DO CANDIDATO, PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, SEGURANÇA JURÍDICA, IRRETROATIVIDADE DAS LEIS E ANTERIORIDADE ELEITORAL