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CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA

2.3. Análise de dados

A análise dos dados teve caráter interpretativo e utilizamos a estrutura teórico- conceitual como orientadora. Como estratégia analítica geral, nos baseamos nas proposições teóricas formuladas previamente, ajudando-nos a colocar foco sobre algumas questões (MIGUEL, 2010; YIN, 2001). Em um segundo momento os conceitos da abordagem de CAEs orientaram a formulação de significados e explanações. A construção de explanação em estudos exploratórios, como observa Yin (2001), não tem como objetivo conclui-lo, sendo normalmente considerada como parte do processo de geração de hipóteses para novos estudos. Nesse sentido, a estratégia que utilizamos serviu para a confirmação, refutação das proposições iniciais e também para a elaboração de novas proposições.

Operacionalização da abordagem teórica

Para a operacionalização da abordagem teórica dividimos os conceitos segundo Minayo (2008) em “conceitos teóricos”, “conceitos de observação indireta” e conceitos de observação direta (quadro 6). Os primeiros dizem respeito aos que compõem e estruturam o discurso da pesquisa, permanecendo no nível da abstração (MINAYO, 2008). Consideramos os conceitos teóricos, assim, como equivalentes aos constructos operacionais, ou, como definido por Freitas (1994; p. 103), “elaborações ideativas (intencionais) criadas ou adotadas com determinada finalidade científica, de modo consistente e sistemático”.

Os conceitos de observação indireta são “os que fazem a relação do contexto da pesquisa com os conceitos de observação direta” (KAPLAN, 1972; apud MINAYO, 2008;

48 p.20). Estes últimos, por sua vez, sendo aqueles que definem os termos trabalhados em campo e nas análises documentais.

QUADRO 6 – Conceitos teóricos, de observação indireta e direta usados na análise.

Conceitos teóricos

(constructos) observação indireta Conceitos de observação direta Conceitos de

 Campos próximos  Campos distantes  Estado

 Redes (natureza, dependência,

intensidade)  Relações (existência ou não)

 Campo estável  Campos emergentes  Campos em transformação  Concepções de controle (existência ou não)

 Unidades internas de governança (existência ou não)

 Episódios de contenção (existência ou não)

 Crises (existência ou não)

 Relações (estabilidade ou instabilidade)

 Habilidade social

 Estratégias (coerção, competição e cooperação).

 Quadros (criação, manutenção e reorientação).

 Incumbentes

 Desafiantes  Posição  Recursos (domínio e mobilização)  Quadros (dominantes e concorrentes)

Fonte: elaboração própria.

É importante ressaltarmos aqui que, além de se inter-relacionarem, como pode ser observado, pensamos em tal operacionalização em termos de “níveis progressivos de abstração” (FREITAS, 1994). Isso significa que os mesmos conceitos podem ser categorizados de diferentes formas, dependendo dos objetivos da análise. Em uma pesquisa mais subjetivista no continuum de Morgan e Smircich (1980), um possível foco sobre a operacionalização dos “quadros” na ação poderia fazer deste um conceito teórico, em detrimento de observação direta, por exemplo. Em nosso caso, aprofundamos o olhar sobre o domínio e mobilização dos recursos para fins de comparação entre os casos, como explicamos a seguir.

Comparação entre os casos

Como parte do objetivo da pesquisa, nos detivemos mais detalhadamente na forma de comparação entre os casos. Quanto à estrutura das informações, enquanto que na análise do contexto comum aos casos, elaboramos uma narrativa (MIGUEL, 2010), optando pela disposição das informações em ordem cronológica; para o desenvolvimento dos casos, nos valemos de uma estrutura descritiva dos processos, organizada por tópicos, para facilitar a comparação. Além disso, caracterizamos os casos a partir de dois atributos: o domínio dos recursos importantes do campo e a mobilização dos recursos não dominados.

49 Consideramos “recursos importantes”, aqueles necessários para superar os quatro principais desafios na obtenção de um PMFS, denominada por Hajjar et al. (2011) como a “etapa de desenvolvimento do MFCF”: (i) regularização fundiária; (ii) aquisição de conhecimento; (iii) “capital adequado”; e (iv) capacidade organizacional. Complementarmente, identificamos tais recursos e os associamos a cada desafio (quadro 7), com base em estudos sobre o MFCF (AMARAL NETO et al., 2008; HAJJAR et al., 2011; PAGDEE, KIM, DAUGHERTY, 2006).

QUADRO 7 - Principais desafios da etapa do desenvolvimento do MFC e recursos necessários para superá-los.

DESAFIO Regularização fundiária conhecimentoAquisição de adequadoCapital organizacionalCapacidade

RECURSOS - Recursos fundiários - Recursos florestais - Recursos legais - Conhecimento e habilitação profissional - Entendimento sobre a burocracia - Recursos econômicos para a elaboração de um PMFS - Lideranças - Redes Fonte: elaboração própria

O desafio da “regularização fundiária” se relaciona ao reconhecimento formal da terra e seu direito de uso em nome dos atores. Como recursos necessários para superar este desafio, atribuímos os recursos legais (legislação e instrumentos específicos para sua implementação); os recursos fundiários (como a possa da terra e modalidade fundiária); e os recursos florestais, tendo em vista que nestes últimos reside o fim último do manejo. Para superar o desafio de “aquisição de conhecimento”, por sua vez, dois recursos são necessários (HAJJAR et al., 2011): conhecimento técnico e habilitação profissional, de acordo com a legislação; e o entendimento da burocracia necessária para a aprovação de um PMFS.

Quanto ao capital “adequado”20, os recursos são econômicos, sendo aqueles necessários para investimento em infraestrutura, equipamentos e atividades para a elaboração de um PMFS, incluindo a contratação de um profissional habilitado para tal, caso necessário. Por fim, a “capacidade organizacional” é definida por Hajjar et al. (2011) como a capacidade das comunidades se organizarem para o MFCF. Embora os autores não detalhem os recursos envolvidos nesse desafio, identificam a presença de lideranças como recurso para superá-lo. Somado a isso, identificamos as redes, também como outro recurso importante. Essa análise

20 O autor utiliza o termo “capital” no sentido econômico; e o termo “adequado” pode ser entendido como forma

de atribuir um caráter genérico ao primeiro, pois os recursos relativos à elaboração de um PMFS variam radicalmente de acordo com cada situação.

50 de recursos serviu para estabelecer parâmetros iniciais de comparação entre os casos analisados, aprofundada posteriormente com a operacionalização da abordagem de CAEs.

Dentre nossas limitações metodológicas, as principais foram a fragilidade do assunto, que acreditamos ter dificultado - e por vezes impedido – o acesso a informações importantes, quando não alteradas conscientemente pelos entrevistados; e a dificuldade de acesso a informação no caso dos assentados, devido à nossa pouca inserção anterior nesse processo. Tendo previamente essas limitações como probabilidade, a principal forma de contorná-las foi através da triangulação de dados. Foi a partir da metodologia aqui apresentada que chegamos aos resultados que apresentamos nos próximos capítulos.

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CAPÍTULO 3 – ESTUDOS DE CASO