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No registro da retrospectiva da quarta iteração, final do segundo mês, a equipe refletiu sobre seus últimos aprendizados, práticas e projeções, novamente ficou claro um aumento da maturidade e entendimento dos princípios que sustentam o método. A equipe vem entregando valor acima das expectativas do cliente desde a primeira iteração. Os erros ocorridos foram restritos a falta de experiência nas estimativas.

A equipe percebeu e começou a envolver mais os stakeholders ao final de cada iteração, prática que uma vez iniciada teve um aceite imediato. O planejamento e projeção em número de iterações continuam adequados após o acréscimo realizado no primeiro mês, mantendo-se a projeção que em sete iterações o projeto estará concluído. As dificuldades encontradas no transcorrer das duas iterações do segundo mês foram contornadas com segurança, falhas de qualidade e de processo vêm sendo percebidas e todos vêm buscando as melhores soluções e contornos necessários.

As entrevistas trouxeram muito de percepções de aprendizado vicário, melhoria contínua e a práxis da auto-organização do time, além de estabelecer claramente uma visão da qual é possível visualizar a aceleração do período de storming, na evolução das diferentes fases da curva de Tuckman (1965).

7.3.1 Análise das características do trabalho em B.T2

Passados dois meses de trabalho usando SCRUM, a equipe do caso B relata claramente o que a Curva de Tuckman propõe. O primeiro mês exigiu muita energia, cometeram erros por falta de experiência no método, mas no segundo mês o time começou a atender os padrões necessários para que o método funcione cada vez melhor.

Auto-organização começa a fazer sentido prático, os papéis e timeboxes começam a gerar cada vez melhores resultados. Com isso, a pressão começa a estabilizar em patamares realistas e positivos, ao mesmo tempo proporcionando desafio e sustentabilidade.

Assim como no Estudo de Caso A, neste também percebe-se a manutenção de alta demanda real, com diminuição de pressão, também ocorrendo uma queda inicial de controle seguido de aumento gradual, gerando cada vez mais satisfação. O Quadro 37 apresenta os principais trechos das entrevistas sobre este constructo:

Quadro 37 Demanda do trabalho em B.T2

O primeiro contato que tivemos com pressão ao invés de termos uma atitude sensata, bateu o desespero, caiu à qualidade, porque tentamos trazer o gráfico para baixo a todo custo e a qualidade e todas as outras coisas foram para o espaço. (R7)

Inicialmente tínhamos uma demanda e não conseguíamos ter noção de como ela estava indo, como se desenrolava, como resolver um problema que aconteça. (R7) A gente começou a aprender a estimar e a pressão diminuiu. O que a gente aprendeu também foi cadência, porque antigamente um trabalhava em uma velocidade e outro em outra, nas primeiras iteraçõies cada um tinha a sua velocidade. Mais sustentável, o que era pressão acabou se tornando uma coisa organizada metodologicamente. (R5) Diminuiu bastante a questão da pressão, com auto-organização a gente já teve maturidade para organizar e não ficar pesado na hora do teste, na hora do desenvolvimento, na liberação. Eu acho que está bem menos, acho que a pressão diminuiu muito porque está muito mais organizado, mais distribuído. (R8)

Mas é aquela história, estamos sempre com a corda curta, sempre com a rédea curta, a equipe está sempre com a corda esticada para não perder o objetivo da iteração. (R9)

Fonte: Elaborado pelo autor

O objetivo do SCRUM não é baixar a demanda, mas trazê-la para um patamar sustentável e realista, onde a equipe possa entregar valor e qualidade naturalmente. Todos os integrantes entenderam esta premissa, existente também no modelo JSM de Karasek, base do modelo JCCM, onde trabalho ativo é aquele com alta demanda e alto controle. A Tabela 28 apresenta as respostas ao instrumento sobre este constructo:

Tabela 28 Demanda do trabalho em B.T2

Variáveis R5 R6 R7 R8 R9 ∑

Eu tenho que trabalhar rápido. 5 5 4 6 3 23

Eu tenho muito trabalho a fazer. 6 6 4 6 5 27

Eu tenho que trabalhar duro para terminar uma tarefa. 4 6 5 5 4 24

Eu trabalho sob pressão de tempo. 3 5 3 6 3 20

Se a demanda mantém-se em patamares altos, um maior controle sobre ela permite uma percepção de demanda mais organizada e aceitável. Um maior protagonismo de todos em relação à auto-organização do time proporcionou nestes dois meses um maior senso de grupo e melhor poder de negociação na procura das melhores alternativas para o que precisa ser feito. O Quadro 38 apresenta os principais trechos das entrevistas sobre este constructo:

Quadro 38 Controle do trabalho em B.T2

Se eu estou vendo que esta semana vou ter um problema em tal ponto, que não consigo por falta de conhecimento, eu peço ao R8 que trabalha comigo: se tu me deres uma mão aqui ... ou até mesmo fazer uma solução de proposta no planning. (R7)

Nós conseguimos evoluir em vários aspectos, desde ver a necessidade até a maneira que trabalhamos, conseguir um alto gerenciamento em controlar as tuas atividades, definir o que vai ser prioridade e o que não. É um controle maior, a gente consegue ter a visão, priorizar, dizer o que é importante, e não sendo possível, saber trabalhar com isso, jogar isso mais para a frente, ter essa flexibilidade ajuda bastante. (R8)

A gente ganha poder junto ao analista e ao usuário, nem sempre o que a gente acha que é a melhor forma de fazer realmente é, então esse processo de discussão as vezes nos mostra que aquela forma que a gente estava pensando em fazer as vezes realmente não é a melhor. Isso traz muito aprendizado. (R6)

Agora se participa desde o início da concepção, daquilo que vai ser construído, já conseguimos contribuir desde o momento de descoberta do projeto. Quais são os requisitos que serão desenvolvidos, toda a equipe fica envolvida. (R9)

Fonte: Elaborado pelo autor

Dois meses significam quatro plannings, quatro reviews e quatro retrospectivas, além é claro do desenvolvimento de software de forma colaborativa, tempo suficiente para o time encontrar um ponto de equilíbrio entre demanda e controle que seja desafiador e ao mesmo tempo sustentável. Os relatos das entrevistas demonstram uma maturidade maior no método, uma reversão da curva de storming em direção ao norming. A Tabela 29 apresenta as respostas ao instrumento sobre este constructo:

Tabela 29 Controle do trabalho em B.T2

Variáveis R5 R6 R7 R8 R9 ∑

Eu planejo meu próprio trabalho. 7 6 5 5 6 29

Eu posso variar como eu faço meu trabalho. 6 7 4 6 6 29

Eu decido quando terminar um trabalho. 5 4 4 4 4 25

Meu trabalho permite a mim organizar meu trabalho sozinho.

6 7 5 6 4 28

Fonte: Elaborado pelo autor

As respostas identificam bem os relatos das entrevistas quanto ao controle crescente desde o treinamento e as vivências no método nos últimos dois meses. Nas características de

trabalho é possível perceber a existência de trabalho ativo, com alta demanda e alto controle, devido à intensidade de interação a cada iteração.