• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. PLANEJAMENTO AMBIENTAL

2.1.3. Métodos empregados nas etapas do planejamento

2.1.3.1. Métodos ad hoc

2.1.3.6.6. Análise multivariada

Técnicas de análise multivariada vem sendo empregadas por diversos autores para o reconhecimento e análise das relações entre os vários elementos que formam a paisagem. Geralmente, a aplicação de procedimentos multivariados - basicamente métodos de classificação - auxiliam na criação de mapas ecológicos ou ambientais, nos quais as unidades de paisagem de características homogêneas podem ser identificadas contribuindo com o planejamento da paisagem e o manejo dos recursos naturais. Em outros casos, o objetivo pode ser o reconhecimento, a descrição e a cartografia de tendências da variação ecológica na área de estudo mediante o emprego de técnicas de ordenação (Calvo et al., 1992).

Agar et al. (1995) verificaram que, técnicas de classificação permitem que cada ponto do território seja designado por uma classe discreta da paisagem. Técnicas de ordenação permitem que os pontos do território sejam organizados de forma contínua, de acordo com a tendência ecológica identificada. As técnicas de ordenação são, portanto, úteis para mapear a variação espacial de variáveis contínuas.

Em ambos os casos, unidades ambientais e tendências ecológicas podem ser descritas a partir de um conjunto de parâmetros interrelacionados, sejam climáticos, geomorfológicos, biológicos e de uso pelo homem, conferindo uma característica multidimensional ao espaço ecológico-geográfico (González Bernáldez, 1981; citado por Calvo et al., 1992).

Além dos métodos baseados em ecologia da paisagem, há outros que empregam técnicas de análise multivariada, por exemplo, Bojórquez-Tapia et al. (1994) utilizam-nos para a verificação da capacidade de uso das terras.

Um exemplo da aplicação de métodos de análise multivariada para o mapeamento da estrutura ecológica de um território é representado na Figura 2.11. O procedimento foi desenvolvido por Agar et al. (1995) para a região de Madrid, na Espanha. Inicialmente foi feita uma amostragem regular das variáveis de importância ecológica, utilizando uma grade sobrepondo toda a região. Para cada célula, foi registrada a presença ou ausência de cento e quinze variáveis previamente selecionadas. Essas variáveis incluíam aspectos físicos, biológicos e referentes ao uso. Uma técnica de ordenação multivariada foi aplicada para facilitar o reconhecimento das principais dimensões do espaço ecológico a ser mapeado, indicadas pelos eixos do espaço ecológico multidimensional. Essas dimensões resultaram da análise da covariação espacial dessas variáveis. As feições ecológicas de cada observação foram indicadas pelas suas coordenadas em relação aos eixos. Uma técnica denominada análise de superfície de tendência (TSA - trend surface analysis) foi utilizada para obter o polinômio que melhor expressava a variação espacial da estrutura ecológica da área de acordo com as coordenadas geográficas das observações. Na Figura 2.11 são apresentados exemplos de mapas ecológicos obtidos a partir de diferentes polinômios, de grau igual a um e maior que um.

Figura 2.11. Diagrama do procedimento para mapear a estrutura ecológica de uma região. Fonte: Modificado de Agar et al. (1995), p. 348.

2.1.3.6.7 Geossistemas

Revendo a teoria de sistemas, Haigh (1985; citado por Christofoletti, 1999) define sistema como "uma totalidade que é criada pela integração de um conjunto estruturado de partes componentes, cujas interrelações estruturais e funcionais criam uma inteireza que não se encontra implicada por aquelas partes componentes quando desagregadas".

Para Tricart (1977), o conceito de sistema é o melhor instrumento lógico que se dispõe para estudar os problemas do ambiente. Ele tem um caráter dinâmico e por isso adequado a fornecer os conhecimentos básicos para uma atuação, o que não é o caso de um inventário, por natureza estático.

Segundo Christofoletti (1999), sob uma perspectiva sistêmica, estuda-se as organizações espaciais englobando a estruturação, o funcionamento e a dinâmica dos elementos físicos, biogeográficos, sociais e econômicos. Dois componentes básicos entram em sua estruturação e funcionamento: o sistema sócio-econômico e o sistema ambiental físico. Os sistemas ambientais físicos são também denominados geossistemas.

Segundo o autor, os geossistemas representam a organização espacial resultante da interação dos elementos componentes da natureza (clima, topografia, rochas, água, vegetação, animais, solos) possuindo expressão espacial na superfície terrestre e representando uma organização (sistema) composta por elementos, funcionando por meio dos fluxos de energia e matéria. As combinações de massa e energia podem criar heterogeneidade interna no geossistema, expressando-se em mosaico paisagístico. Ao lado dos fluxos verticais de matéria e energia, há os fluxos na dimensão horizontal conectando as diversas combinações paisagísticas internas do geossistema.

A definição de geossistema está associada à definição de paisagem. Bertrand (1971), define paisagem e apresenta o geossistema como um dos níveis taxonômicos de paisagem. A paisagem, segundo o autor, "é uma porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável8, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente9

uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução" (traduzido por O. Cruz). O autor apresenta ainda um sistema taxonômico para a hierarquização das paisagens em função da escala temporal e espacial, apresentando seis níveis: zona, domínio, região, geossistema, geofácies e geótopo.

O conceito de geossistema foi introduzido por Sotchava (Sotchava, 1962; citado por Chrristofoletti, 1999). Para Sotchava (1977), os geossistemas são sistemas naturais, porém todos os fatores econômicos e sociais influenciando sua estrutura e peculiaridades espaciais são tomados em consideração durante o estudo e suas descrições verbais ou matemáticas.

Para Christofoletti (1999), numa perspectiva holística de análise dos sistemas ambientais não se pode excluir o conhecimento provindo dos estudos sobre os sistemas sócio- econômicos, considerando os seus componentes e processos. Os sistemas sócio-econômicos são controlados pelos atributos culturais, sociais, econômicos e tecnológicos do grupamento humano, da sociedade em seu conjunto ou de suas classes sociais. As interferências das atividades humanas são fatores que influem nas características e nos fluxos de matéria e energia, modificando os geossistemas.

_______________

8 O termo instável, neste caso, é empregado como sinônimo de dinâmico.

9 Para compreender o uso do termo dialeticamente por Bertrand, é útil a definição de dialética apresentada por Ferreira (1986):

O estudo dos geossistemas, envolvendo análises morfológicas, funcionais e dinâmicas, geram análises do potencial de uso, da degradação e recuperação, contribuindo com o manejo e o planejamento (Christofoletti, 1999).

Tricart (1977), utilizando o instrumental lógico dos sistemas, propôs um método para o estudo do ambiente que ele denominou de ecodinâmica. O autor salienta que a dinâmica se impõe em matéria de organização do espaço, e que estudar a organização do espaço é determinar como uma ação se insere na dinâmica natural para corrigir certos aspectos desfavoráveis e para facilitar a explotação dos recursos naturais que o meio oferece. Ele define tipos de ambientes segundo sua dinâmica. Considerando ainda que a morfogênese é o componente mais importante da superfície terrestre, o autor identifica três grandes tipos de meios morfodinâmicos em função da intensidade dos processos atuais: meios estáveis,

intergrades e fortemente instáveis. Os meios estáveis apresentam condições que favorecem os

processos pedogenéticos em detrimento aos morfogenéticos. Nos meios fortemente instáveis ocorre o contrário. E os meios intergrades representam uma transição entre os meios estáveis e os fortemente instáveis, onde os processos pedogenéticos e morfogenéticos ocorrem de maneira concorrente.

Ross (1997), afirma que a análise morfodinâmica proposta por Tricart passa, obrigatoriamente, pelo inventário do quadro ambiental, quer seja ele natural ou antropizado e se traduz objetivamente em um diagnóstico, à medida que as informações inventariadas são confrontadas e avaliadas integradamente.