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A análise do Plenário nas PSVs internas

No documento Coleção Jovem Jurista 2012 (páginas 135-139)

na elaboração de súmulas vinculantes A DRIANA L ACOMBE C OIRO

3. A segunda fase — Requisitos formais analisados pela Comissão Conforme exposto no capítulo 1, em novembro de 2008 há um fato que obriga

3.2. As propostas Internas

3.2.3 A análise do Plenário nas PSVs internas

Ao analisar os debates realizados no plenário, há um dado que chama a atenção imediatamente: em 100% dos casos em que houve manifestação da Comissão de Jurisprudência, esta foi seguida pelo plenário do STF. Em regra, os ministros limitam -se a afi rmar que a Comissão já se manifestou pelo cumprimento dos requisitos formais. Assim, em todos os casos em que a Comissão se manifestou pela regularidade formal de uma súmula ela foi aprovada.

Ainda assim, há algumas exceções, dentre essas 17 propostas aprovadas54

em que algum dos ministros menciona brevemente a existência ou não de reite- 54 São as PSVs 7, 8, 21, 24, 25, 29, 30, 31, 32, 34, 35, 36, 37, 39, 40, 41, 42.

radas decisões da Corte, de uma posição jurisprudencial fi rmada no sentido da súmula. É o que se pode ver a partir da tabela abaixo:

PSVs internas: menção aos Requisitos Constitucionais no Plenário

Reiteradas decisões Controvérsia Atual Grave Insegurança Jurídica Multiplicação de Processos PSV 7 PSV 8 PSV 21 PSV 24 PSV 25 PSV 29 PSV 30 PSV 31 PSV 32 PSV 34 PSV 35 PSV 36 PSV 37 PSV 39 PSV 40 PSV 41 PSV 42

Quando se analisa em maior detalhe essas menções, na maior parte das vezes elas são simples listagem de precedentes, sem maior detalhe. Há alguns poucos casos, no entanto, em que se discute a matéria, embora brevemente, e embora essas discussões nunca levem à não aprovação da súmula.

Veja -se, por exemplo, o debate da PSV 25, que o Ministro Marco Aurélio manifesta preocupação por considerar que o enunciado sugerido é mais abran- gente do que os precedentes fi rmados da Corte, com o que o Ministro Eros Grau concorda:

Marco Aurélio:

O Ministro Peluso propõe verbete mais abrangente, que apanha ou- tras situações. Ocorre que devemos fi car presos, na edição do verberte — já que a Constituição requer reiterados pronunciamentos sobre a matéria, para ter -se a aprovação de verbete vinculante -, ao que realmente existe no mundo dos precedentes.

[…]

Ministro Eros Grau:

[...] adiro à observação do Ministro Marco Aurélio. É decisão reite- rada, julgada, decidida. Quero deixar essa observação a latere para que, no futuro, eu possa, quando já cá não estiver — quer dizer, não aqui;, por cá estarei sempre -, criticar o uso que, eventualmente, possa vir a ser dado às súmulas vinculantes.

Em resposta às preocupações de que o enunciado seja muito abrangente, o Ministro Ayres Britto diz entender os motivos para que o Ministro Marco Aurélio expresse sua preocupação com reiteradas decisões, mas afi rma que onde há a mesma razão de decidir deve -se aplicar a mesma deliberação, e afi rma que no fundo a matéria discutida nos precedentes é a que está sendo sumulada55.

O ministro, então, assim como a maioria do plenário, vota pela aprovação do enunciado.

A preocupação com a existência de posição fi rmada na Corte aparece tam- bém no debate de aprovação da PSV 29, em que os Ministros Marco Aurélio e Joaquim Barbosa consideram que o enunciado não trata de matéria pacifi cada:

Ministro Marco Aurélio:

As discussões levam -me a uma conclusão: a matéria não está pacifi - cada.

[…]

Vou me fi liar à corrente daqueles que creem que, em se tratandodo da edição de verbete vinculante, é preciso marchar com a maior seguran- ça possível, sob pena de desacreditarmos até mesmo esse instrumental. E sabemos que, depois de editado um verbetre, passa -se, às vezes, à lei do menor esforço, à observância que, em certas situações, mostra -se im- própria.

[…]

Ministro Joaquim Barbosa:

O que entendo é que a súmula há de refl etir a jurisprudêncua da Cor- te. E esta proposta de súmula não refl ete. É uma proposta incompleta.

Com relação aos demais, casos, há três situações em que os Ministros demonstraram uma preocupação expressa com estar seguindo precedentes: o Ministro Marco Aurélio na PSV 35, e a Ministra Ellen Gracie na PSV 31 e o Ministro Ricardo Lewandowski na PSV 39:

Marco Aurélio:

Com isso fi camos fi éis ao que assentado pela Corte, já que, quando da formalização do leading case, não houve exame da matéria quanto à conjugação “locação de bem móvel e serviço”.

Ministra Ellen Gracie

Sr. Presidente, a proposta está de acordo com a jurisprudência con- solidada da Corte, e eu aprovo.

Ministro Ricardo Lewandowski

[...] essa matéria está extremamente pacifi cada nesta Corte. E eu, na proposta que encaminhei de símula vinculante, cito inúmeros prece- dentes dos Ministros Carlos Velloso e Cezar Peluso, da Ministra Ellen Gracie dos Ministros Sepúlveda Pertence e Ilmar Galvão. (PSV 39) Este é o máximo que os Ministros chegam a mencionar os requisitos cons- titucionais. Vê -se nos debates, também, que ainda que não considerem expres- samente os requisitos constitucionais, alguns ministros se preocupam com o al- cance das Súmulas Vinculantes, com seu impacto e suas consequências, como se depreende das manifestações dos Ministros Eros Grau e Ellen Gracie, in verbis:

Ministro Eros Grau

Eu tenho, Senhor Presidente, me contido um pouco com relação, talvez, ao número largo que nós temos produzido de súmulas vincu- lantes, mas eu não tratarei disso nem agora, nem no futuro, em lugar nenhum. Eu acho que nós deveríamos, às vezes, pensar mais em deter- minados casos, em determinados processos. (PSV 39)

[…]

Ministra Ellen Gracie

E nem a súmula pode surgir com a vocação de ser alterada. Se o seu objetivo é justamente a segurança jurídica, ela deve, na medida do possível, ser escrita em mármore para ser permanente, perene, para de- monstrar rumos para o futuro. (PSV 29)

E, em contraste, pode -se ver a despreocupação expressa com a edição de súmulas vinculantes, manifestada em mais de uma ocasião pelo Ministro Ricar- do Lewandowski, como na PSV 52:

Depois, eu gostaria de observar, também, que a lei 11.417/2006 per- mite, se for o caso, a revogação ou a modifi cação da súmula. A símula hoje é aprovada sic stantibus, ou seja, se as coisas permanecerem como estão, ela refl ete o atual pensamento desta Corte. […] as súmulas vin- culantes não são cláusulas pétreas, elas têm mecanismos de reforma que estão previstos na Constituição e a lei. O que ocorre é que as súmulas vinculantes refl etem o pensamento dominante da Suprema Corte num determinado momento. É apenas isso, é para racionalizar o trabalho da Suprema Corte e evitar o afl uxo desnecessário de processos repetitivos. É esse o papel da súmula vinculante.

A leitura dos debates, assim, mostra que uma vez analisado o caso pela comissão, os ministros se limitam a discutir o mérito, em especial a redação do enunciado, debatendo se o verbete deve ser começado com “não é constitucio- nal” ou com “é inconstitucional”. O plenário, dessa forma, quase sempre aceita sem questionar o parecer emitido pela Comissão quanto aos requisitos.

Veja -se, então: quando a Comissão considera haver ilegitimidade da parte ou falta de pertinência temática, o caso nem mesmo passa pelo plenário, sendo enviado direto para a presidência, para então ser arquivado. Tal postura poderia levar à hipótese de usurpação de competência do Plenário, uma vez que, de acordo com a Constituição e com a Lei nº 11.417, cabe a ele realizar a análise das súmulas.

Já quando a Comissão considera os requisitos formais atendidos, a lei- tura do posterior debate no plenário mostra que os ministros não os avaliam individualmente. Em regra, não os avaliam de forma alguma, havendo apenas esporadicamente uma preocupação com a existência de uma posição fi rmada da corte, que aparece com o cumprimento dos requisitos de reiteradas decisões.

No documento Coleção Jovem Jurista 2012 (páginas 135-139)

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