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O Estado do Rio de Janeiro

No documento Coleção Jovem Jurista 2012 (páginas 190-196)

Capítulo I — Estado e administração pública

II. 2 — Agências Reguladoras

IV.3. O Estado do Rio de Janeiro

A judicialização dos casos de consumo no Rio de Janeiro é especialmente im- portante. Não apenas por suas características sociais, econômicas e até mesmo culturais, mas também pelo seu aspecto numérico.

A Figura a seguir demonstra os casos no Supremo Tribunal Federal de acordo com seu estado de origem. Fica claro que o Rio de Janeiro, apesar de ser o terceiro estado em número absoluto de processos, lidera com muita folga nas questões de consumo:

Gráfi co 02. Fonte: Supremo em Números.

A disparidade entre Rio de Janeiro e São Paulo, com mais de 38 mil pro- cessos para aquele contra cerca de 6,8 mil deste, deixa claro que existe alguma diferença profunda entre os Estados. Parte desta diferença pode ser explicada por questões internas ao Judiciário, como por exemplo o tempo de julgamento nos juizados especiais. O Rio de Janeiro é conhecido nacionalmente por sua celeridade e acessibilidade, ao passo que São Paulo leva a fama de moroso. Este, com certeza, é um aspecto, mas outros devem colaborar para essa diferença. E neste ponto entram os fatores culturais e econômicos de difícil mapeamento já citados: informalidade, violência, infraestrutura, renda etc.

Pode -se comprovar que o Rio de Janeiro provê um bom acesso ao Judici- ário quando se analisa quais os principais litigantes em questões de consumo e seu volume de processos nos Juizados do Estado do Rio de Janeiro, conforme o gráfi co a seguir:

Como se observa, a demanda nos Juizados Especiais Cíveis do TJRJ é bas- tante elevada, independentemente da empresa analisada. No entanto, ela se torna especialmente relevante quando focamo -nos em serviços essenciais, como o setor de energia elétrica.

No Estado do Rio de Janeiro existem duas empresas concessionárias de energia elétrica: a AMPLA e a LIGHT.

A Light Serviços de Eletricidade S.A. detém a concessão para a distribuição de energia elétrica em grande parte do Estado do Rio de Janeiro, incluindo a capital. A empresa está presente em 31 municípios do estado do Rio de Janeiro, abrangendo uma região com mais de 10 milhões de pessoas e somando 4 milhões de clientes. Apesar da área de concessão da Light abranger somente 25% do ter- ritório estadual, com a cobertura de uma área de 10.970 Km², suas vendas cor- respondem a 72% de toda a energia consumida no Estado do Rio de Janeiro.

Figura 05. A Light S/A no Estado do Rio de Janeiro. Fonte: CIDE (2002)

Este dado por si só já a torna especialmente interessante como empresa a ser analisada no estudo aqui pretendido. Só que mais que isso! A LIGHT ocupa 2º lugar na lista do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro denomina- da “TOP 30” das empresas mais acionadas, conforme a tabela abaixo:

Tabela 01. Top 30 TJ/RJ

Mais que isso! A LIGHT apresenta uma tendência constantemente cres- cente, enquanto as demais empresas apresentam uma tendência decrescente, embora após 2008 passem a ter curva crescente, conforme gráfi co a seguir:

Uma das possíveis explicações para tal fenômeno pode ser o fato de que o Rio de Janeiro é o Estado no qual a concessionária de energia elétrica responsá- vel pela capital enfrenta o maior “índice de complexidade social83”.

Gráfi co 01. Índice de Complexidade Social84

As características sociais do Rio de Janeiro se refl etem em aspectos impor- tantes e que normalmente passam à margem do raciocínio regulatório, só vindo a aparecer, de fato, quando na análise específi ca dos casos pelo Poder Judiciário.

Não por acaso é a Light a concessionária responsável pela capital do Estado do Rio de Janeiro, uma das empresas que enfrenta maiores problemas relativos às chamadas “perdas não -técnicas”. Ou, simplesmente, furto de energia.

Para efeitos comparativos, a quantidade de energia elétrica furtada apenas na área de concessão da Light equivale à produção de uma Usina de Angra I por ano. Ou, ainda, a todo o consumo do Estado do Espírito Santo durante o mesmo período. Em valores, tem -se aproximadamente R$ 1 bilhão por ano, representando uma perda arrecadatória de tributos de cerca de R$ 320 milhões/ ano (carga tributária de 32%).

83 Este índice, elaborado pela FGV — Fundação Getulio Vargas, é composto por uma série de indicadores sociais, como informalidade, violência, infraestrutura, renda, dentre outros. AMORIM, Fabio da Rocha.

As Irregularidades no Consumo de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: Synergia, 2010.

84 AMORIM. Fabio da Rocha. As Irregularidades no Consumo de Energia Elétrica. Rio de Janeiro: Synergia, 2010. p.4.

Ademais, tem sido recorrente a atuação de novos protagonistas no pro- cesso regulatório o Ministério Público, os órgãos de defesa do consumidor, os magistrados e advogados bons e, inclusive, os ligados à demanda estimulada e oportunista.

Exemplo disso são os chamados zangões, ou advogados que geram liti- gância artifi cialmente como forma de captar clientes e recursos. Não obstante a captação em si já seja uma violação das obrigações dos advogados, por vezes ela é ainda mais do que simples estímulo: ela é a própria geradora da demanda. Pode -se observar dos exemplos colhidos a seguir como atuam esses advogados:

Figura 01. Anúncios de advogados gerando litigância85

Por fi m, como se pode notar no gráfi co do Procon do Estado do Rio de Janeiro — órgão público de defesa do consumidor —, todas as reclamações envolvendo o setor de energia elétrica refl etem problemas relacionados à regu- lação, quais sejam, as de cobranças, contratos e prestação de serviço, como se vê abaixo:

Figura 06. Fonte: SINDEC — 02/12/2005* a 24/09/2011

Diante deste cenário, parece -nos claro que a análise do caso Light como representante de um setor regulado, fonte geradora de confl itos levados ao Ju- diciário pode trazer subsídios sufi cientes para uma análise crítica do embate objeto deste trabalho.

No documento Coleção Jovem Jurista 2012 (páginas 190-196)

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