• Nenhum resultado encontrado

2 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA ANÁLISE DAS REDES

2.2 Análise e governança das redes

2.2.2 Redes como forma de análise

2.2.2.2 Análise posicional das redes

A análise posicional considera os aspectos estruturais e relacionais das redes. Qualquer tipo de rede encerra uma estrutura e determinadas relações entre os atores12. A presença de regularidades nas relações é denominada de estrutura (WASSERMAN & FAUST, 1994).

A análise posicional das redes tem grande contribuição do conceito de

embeddedness. Segundo GRANOVETTER (1985) existem dois tipos de embeddedness: o

estrutural e o relacional. O primeiro enfatiza como a posição estrutural de um ator na rede afeta o seu comportamento e o segundo enfatiza a dependência do comportamento dos atores com a estrutura de mútuas expectativas.

ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT (2000) explicam o conceito de

embeddedness através de duas perspectivas. O embeddednes estrutural - através da perspectiva das posições - enfatiza o valor informacional da posição estrutural que o

parceiro ocupa na rede. O embeddedness relacional - através da perspectiva da coesão - emprega o papel dos elos coesivos diretos como um mecanismo de ganhar informações refinadas, confiança, legitimidade e consenso. O embeddedness estrutural e o relacional funcionam como um elemento de controle em termos do comportamento e cooperação dos parceiros de uma aliança (ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT, 2000).

A estrutura contém canais onde os atores trocam bens e serviços, transferem recursos e informações. Estão presentes na estrutura a relação de poder, a confiança, o oportunismo, o controle social, os sistemas de alinhamento de interesses, as formas de negociação e as formas de seleção de fornecedores, entre outros aspectos.

Quando se fala de estrutura da rede de fornecedores, todos os atores que têm relação direta com o ator central são considerados. Já quando se fala de relações, essas são compreendidas apenas entre pares de atores. Embora a estrutura e as relações sejam conceitos empregados em diferentes níveis de análise das redes, ambos são complementares para se entender a dinâmica das trocas entre os atores econômicos.

12

O posicionamento estrutural e relacional dos atores em uma determinada rede compreende diferentes configurações possíveis dos processos de troca. É possível participar de uma rede altamente conectada com relações de longo prazo, mas também é possível participar de uma rede difusa e conseguir informações novas. Dimensionar estas propriedades permite compreender qual é o posicionamento estrutural e relacional mais adequado ao contexto de uma organização. Assim, esses conceitos são essenciais para o estudo das redes de fornecimento e suas respectivas formas de coordenação.

Posicionamento estrutural – O posicionamento estrutural de um ator varia entre a rede densa e a rede difusa (continuum estrutural).

Uma propriedade estrutural da rede é a sua densidade. O conceito de densidade é entendido através da intensidade da interconexão entre os atores da rede – quanto maior a interconexão, maior a densidade (GNYAWALI & MADHAVAN, 2001). A interconexão nas redes de fornecimento realiza-se através dos contratos de longo prazo, dos mecanismos de coordenação complexos, das informações qualitativamente diferentes, da confiança dos atores e ainda de arranjos para resolução de problemas, entre outros aspectos. GNYAWALI & MADHAVAN (2001) definem três características das redes densas: (1) facilitam o fluxo de informação e outros recursos; (2) funcionam como sistemas fechados de confiança e normas divididas onde as estruturas de comportamento padrão desenvolvem-se mais facilmente; (3) facilitam a atribuição de sanções.

As redes difusas originam-se quando o grau de interconexão é relativamente menor. Um dos aspectos positivos da redes difusas para o desempenho das firmas está associado ao acesso às novas informações, pelo caráter não redundante das relações.13

A figura 6 ilustra um ator central em uma rede difusa e em uma rede densa. O grau de interconexão das relações é ilustrado através dos traços mais espessos nas redes densas.

13

Relações não redundantes caracterizam-se pela presença de informações novas e não dominadas pelos atores. Logo, as relações redundantes caracterizam-se pela presença de informações amplamente dominadas pelos atores.

Posicionamento relacional – Uma das formas de se entender o posicionamento relacional é através da coesão das relações entre os atores.

A coesão das relações é uma propriedade relacional dos pares de atores de uma rede e pode ser compreendida através da intensidade do relacionamento (forte ou fraco, estratégia de saída ou diálogo, relações de longo prazo, etc.). A coesão tem relação com a densidade, embora haja uma grande confusão dos termos. A densidade é uma variável da estrutura geral da rede e a coesão é uma variável relativa às relações entre os pares de atores da rede. Mesmo que a coesão seja fundamental para a maior densidade de uma rede, é possível que haja também, relações coesas dentro de redes difusas. Na visão de ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT (2000), a densidade e a coesão devem ser tratadas conjuntamente, uma vez que a intensidade de relacionamento (forte ou fraco) depende da estrutura da rede (densa ou difusa). Nas relações interorganizacionais, a estrutura pode ser compreendida pelo grau de densidade da rede e as relações podem ser compreendidas pelo grau de coesão entre os pares de atores.

Estruturalmente, as redes podem ser densas ou difusas e, relacionalmente, as redes podem ter conexões fortes ou fracas (“strong or weak ties”). Conexões fortes e redes

Rede difusa Rede Densa

mais benéficas em ambientes incertos (ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT, 2000). Isso porque as conexões fortes e as redes densas são associadas à troca de informações refinadas e à confiança, enquanto que as conexões fracas e as redes difusas são associadas às novas informações.

Uma pergunta relevante é: qual a melhor forma de se conectar a uma determinada rede? ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT (2000) destacam que a posição de um ator é dependente do contexto da indústria.

A respeito de como uma organização deve estar conectada a outras organizações, ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT (2000) afirmam que ambos os tipos de posição são positivamente relacionados ao desempenho das firmas, porém, com diferentes tipos de benefícios e limitações. O grau de incerteza e a taxa requerida de inovações influenciam a configuração das redes. As redes densas com relações fortes envolvem significativos investimentos e estão presentes nas joint ventures de manufatura e projetos de pesquisa e desenvolvimento. As redes difusas com relações fracas são mais adequadas aos arranjos de treinamento e marketing (ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT, 2000)14.

Como destacado por GRANOVETTER (1973), as relações fracas e fortes são positivamente relacionadas ao desempenho das firmas. Ambas apresentam diferentes qualidades e são vantajosas para diferentes propósitos. As relações fortes, por exemplo, são mais adequadas às indústrias de aço, por apresentarem relativa estabilidade. As relações fracas são adequadas às indústrias de semicondutores, por apresentarem elevada dinâmica e assim propiciarem maior acesso às novas informações (ROWLEY, BEHRENS & KRACKHARDT, 2000).

A estruturação da rede de relações passou a ser uma questão estratégica relevante, porém extremamente complexa. Se uma organização estiver muito embutida (overembedded) em uma rede de relações, a adaptação à dinâmica ambiental se torna mais difícil, restringindo o acesso desse ator às novas oportunidades e às informações (UZZI,

14

Por necessitarem de maiores investimentos, cooperação, troca de informações, confiança entre outros aspectos, as joint ventures de manufatura, os projetos de pesquisa e desenvolvimento, os consórcios entre outros arranjos são denominados de redes densas. Já as trocas nas redes difusas envolvem menor intensidade de relacionamento e estão presentes nos arranjos de treinamento e de marketing, nas redes competitivas, entre outros arranjos.

1997). Segundo o autor, esta questão leva a um paradoxo, pois as mesmas relações fortes e coesas que levam uma organização a se diferenciar de outras organizações na arena competitiva podem reduzir a capacidade de adaptação.

A rede muito embutida (overembedded) tem relações fortes e coesas com todos os níveis de fornecedores. Já a rede pouco embutida (underembedded) tem relações de mercado15 com todos os níveis de fornecedores.

A rede integrada, segundo UZZI (1997), seria a maneira ótima de configuração de uma rede de fornecedores, pois combina relações coesas e relações de mercado. Na rede integrada não há uma dependência exclusiva de poucos fornecedores e ainda há possibilidades de receber informações não redundantes. Conforme destacado por UZZI (1997), o grau em que as relações fortes e fracas facilitam a ação econômica depende da qualidade das conexões, da posição e da arquitetura de rede.

15

Relações no mercado de commodities “em que os negócios se realizam com pagamento à vista e entrega Firma focal

Fornecedor de primeira nível Fornecedores de segundo nível

Rede integrada Rede overembedded Rede underembedded

Firma focal e fornecedores de primeiro e segundo nível com relações de mercado

Firma focal e fornecedores de primeiro nível com relações fortes. Fornecedores de primeiro nível e segundo nível com integração de relações de mercado e

Firma focal, fornecedores de primeiro e segundo nível com relações fortes e altamente interdependentes

Relações de mercado Relações fortes

A figura 7 ilustra esta situação através dos tipos de estrutura de rede que uma organização pode estar conectada. Cada rede é composta por um contratante (firma focal) que está ligado aos fornecedores de primeiro e de segundo nível. As linhas espessas representam um maior grau de reciprocidade, confiança, troca de informações refinadas etc., presentes nas relações fortes e coesas.