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ANÁLISE PRÁTICA DAS PRESTAÇÕES DE CONTAS A ÓRGÃOS

CAPÍTULO 5 ANÁLISE DO RESULTADO DAS PESQUISAS

5.1 METODOLOGIA

5.2.5 ANÁLISE PRÁTICA DAS PRESTAÇÕES DE CONTAS A ÓRGÃOS

Na Tabela 5, mais adiante, pode-se observar de forma analítica um demonstrativo das principais prestações de contas aos órgãos reguladores,

considerando-se as certificações que a entidade possui e efetuando-se uma comparação destas certificações com o volume de prestação de contas.

Tabela 5: Prestações de Contas aos Órgãos Reguladores

Título ou registro Quantidade

%

Quantidade de Prestações de

Contas

Sem fins lucrativos 195.591 100 2 A

OSCIP 4.680 2,4 3 B

UPF 12.227 6,2 8 C

CEAS 5.630 2,9 9 D

INSS 5.687 2,9 11 E

Fonte: Tozzi Associados181.

As notações alfabéticas na quinta coluna da Tabela 5 dizem respeito aos seguintes termos:

A - Prestações de contas, internas, ao Conselho Fiscal e à Assembleia de

Associados;

B - Item A mais a prestação de contas de OSCIP;

C - Item A mais três utilidades públicas e três registros nas esferas federal,

estadual e municipal;

D - Item C mais CNAS;

E - Item D mais relatório de planejamento e relatório de atividades.

Salienta-se que, neste caso, foram consideradas apenas as prestações de contas obrigatórias em função das certificações, não tendo sido levadas em consideração as prestações de contas a órgãos tributários, por serem comuns a

181 TOZZI ASSOCIADOS. Agenda do Terceiro Setor. São Paulo: Tozzi Associados, 2008.

todas as entidades, e as prestações de contas a órgãos fiscalizadores e investidores sociais, pois dependem de caso a caso.

Observa-se de igual forma que, caso seja uma fundação com isenção do INSS, a quantidade aumenta para 12, uma vez que estas entidades devem prestar contas anuais à Curadoria de Fundações do Ministério Público.

De modo informativo, esclarece-se que no site do Ministério da Justiça existe uma área denominada CNE – Público – (Cadastro Nacional de Entidades), que pretende divulgar publicamente as prestações de contas das entidades com o título de Utilidade Pública Federal e OSCIP. Por outro lado, no site da Controladoria Geral da União (CGU), são encontrados todos os convênios feitos pelo governo federal com estados, municípios e entidades.

No que tange às informações, considera-se que por meio do confronto de dados contidos no site do Ministério da Justiça e da Controladoria Geral da União (CGU), que são de domínio público, é possível verificar se os recursos obtidos pelas entidades em convênios com o governo federal estão contidos nas informações de prestação de contas. Cabe ressaltar que no site da CGU está aberta a qualquer cidadão a possibilidade de fazer denúncias sobre a utilização inadequada dos recursos públicos.

Desta feita, a análise dos dados e informações acima nos leva às seguintes e principais constatações:

a) Mais de 90% das entidades sem fins lucrativos no Brasil podem prestar contas apenas internamente, ou seja, para seus associados. É sabido que parte dessas entidades deve prestar contas aos Conselhos Municipais de Assistência

Social e a outros Conselhos a que eventualmente estejam vinculadas e/ou também para seus investidores sociais de quem receberam recursos.

b) Por outro lado, observa-se que o caminho da filantropia com isenção de quota patronal exige um grande volume de prestação de contas para o qual nem sempre as entidades estão preparadas por meio de um processo integrado de informações.

c) As informações constantes das prestações de contas exigidas são diferentes e dispersas, não obedecendo a um padrão único que facilite a apuração e divulgação dos resultados aos diversos órgãos.

d) A despeito dos conceitos legais de entidade privada, que não é objeto de nosso estudo, entende-se que uma entidade de interesse público tem a obrigação de prestar contas de suas atividades e está sujeita a eventuais questionamentos e explicações à sociedade, considerando os princípios de boa governança, transparência e ética.

Já em 1972, Custódio182 havia constatado:

Tendo em vista a multiplicação de associações em todos os setores, umas bem intencionadas em suas finalidades, outras de objetivos duvidosos, uma vez que, sob a aparência de altruísmo, educação, assistência social, desempenham tão somente atividades de interesse particular, ocasionando frequentemente abusos prejudiciais ao erário, necessário se torna o incremento da fiscalização dos seus atos por parte do Estado.

Ainda segundo a mesma autora183, no Brasil,

182 CUSTÓDIO, Helita Barreira. Associações de Utilidade Pública. 1972. Tese (Doutorado em

[...] o sistema de fiscalização das entidades pleiteantes da imunidade é, frequentemente, superficial, baseando-se simplesmente em dados apresentados de forma abstrata, sem se realizar um exame mais concreto da realidade prática [...] assim, no sentido de salvaguardar os interesses públicos e, consequentemente, os interesses sociais, a interferência da Administração perante as associações, que invocam a imunidade, deve ser incrementada através de seus órgãos competentes, tornando-se imprescindível a severa fiscalização de forma contínua e direta sobre seus atos, suas prestações de contas e seus reais serviços prestados à coletividade.

Portanto, não é por acaso que a Lei nº. 9.790/99, que trata da criação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, estabelece em seu Artigo 4 item VII que as normas de prestação de contas e sua divulgação devem, obrigatoriamente, estar previstas no estatuto social da entidade. Porém como vimos anteriormente, apenas 2,4% das entidades (4.680 OSCIPs e 195.591 entidades) estariam obrigadas a esta norma, mesmo assim não se tem observado o seu cumprimento na íntegra pelas entidades qualificadas.

Na conclusiva, concorda-se com Olak e Nascimento184, os quais asseveram que “por muitos motivos, as entidades sem fins lucrativos no Brasil não cultivam a transparência”. Entretanto, segundo Falconer185, “este cenário tende a mudar”, pois, “em um contexto onde as organizações passam a competir de forma mais direta por

183 Ibidem, p. 114.

184 OLAK, Paulo Arnaldo; NASCIMENTO, Diogo Toledo do. Contabilidade para Entidades sem Fins

Lucrativos (Terceiro Setor). São Paulo: Atlas, 2006, p. 23.

185 FALCONER, Andrés Pablo. A Promessa do Terceiro Setor: um Estudo sobre a Construção do

Papel das Organizações sem fins lucrativos e do seu Campo de Gestão. São Paulo: Centro de Estudos em Administração do Terceiro Setor, 1999, p. 133.

recursos públicos e privados, deverá ser com a capacidade de demonstrar posições claras e resultados concretos que as organizações conseguirão se destacar”.

Nesse sentido, a transparência tende a estabelecer-se como estratégia competitiva, visto que, conforme já se considerou, a expressiva maioria das entidades no Brasil (mais de 90%) não tem regulamentos estabelecidos para prestação de contas públicas das suas atividades. Por outro lado, o pequeno percentual restante presta um grande volume de contas aos diversos órgãos, porém sem um padrão estabelecido, gerando sérias dificuldades burocráticas para as entidades.