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Neste capítulo, serão apresentadas a estrutura do objeto de análise, os procedimentos utilizados para a obtenção dos dados e a análise dos dados coletados.

Segundo o MEC (1998), no Programa de desenvolvimento profissional continuado, a formação deve ser entendida como um processo contínuo e permanente de desenvolvimento, ou seja, o professor deverá continuar a aprender durante o exercício da profissão. Esse tipo de conhecimento é de grande importância para a sua formação, já que possibilita a eles fundamentar e refletir sobre sua prática, na medida em que fornece saberes que legitimam e sustentam sua função de educador, são conteúdos que transcendem os conteúdos e necessitam ser analisados e assimilados à luz do confronto com a realidade, o que necessita um esforço de reflexão crítica por parte do professor, para que ele mesmo faça uma síntese das informações e reconstrua sua prática.

3.1 – Estrutura do Programa de Formação para

Professores Alfabetizadores – Letra e Vida

O curso Letra e Vida totaliza 180 (cento e oitenta) horas. Dessas, 75% são de atividades presenciais em grupo, e 25% das horas destinadas a trabalhos pessoais. As aulas são semanais com duração de três horas e mantêm uma organização fixa: Leitura em voz alta realizada pelo formador (geralmente um professor coordenador pedagógico que realizou o curso anteriormente com as coordenadoras do programa), rede de idéias (que retoma atividades do último encontro e discute as questões do trabalho pessoal), desenvolvimento da pauta do dia (discussões, análises e

apresentação da fita de vídeo) e a entrega trabalho pessoal. Os temas são divididos em três módulos compostos por unidades de estudo.

O módulo I aborda temas de fundamentação teórica que se relacionam com a didática da leitura e da escrita. Tem como principal objetivo mostrar que a alfabetização se dá por um processo. São unidades desse módulo:

• Unidade 1 - Pra começo de conversa;

• Unidade 2 - Breve história das idéias sobre alfabetização;

• Unidade 3 (Partes I e II) - O que sabem sobre a escrita os que ainda não sabem escrever;

• Unidade 4 (Partes I e II) – Construção da escrita – primeiros passos; • Unidade 5 – Escrever para aprender;

• Unidades 6 – O que está escrito e o que se pode ler; • Unidade 7 (Partes I e II) – Como ler sem saber ler; • Unidade 8 – Ler para aprender;

• Unidade 9 (Partes I e II) – Alfabetização e contextos letrados; • Unidade 10 – Planejar é preciso;

• Unidade 11 – Sistematizando as aprendizagens - Avaliação sobre o módulo.

O módulo dois traz práticas didáticas da alfabetização, principalmente as relacionadas ao início da aprendizagem da leitura e da escrita. As unidades desse módulo são:

• Unidade Especial – Reflexão sobre a avaliação do módulo 1; • Unidade 1 – Para organizar o trabalho pedagógico;

• Unidade 2 – O que temos de igual é o fato de sermos diferentes; • Unidade 3 – O próprio nome e os nomes próprios;

• Unidade 5 (Parte I) – Textos que se sabe de cor; • Unidade 5 (Parte II) – A prática em discussão; • Unidade 6 – Aprender a linguagem que se escreve;

• Unidade 7 (Partes I e II) – Revisar para aprender a escrever; • Unidade 8 – Revendo textos bem escritos;

• Unidade 9 – O que, por que, para que: discutindo práticas tradicionais; • Unidade 10 – Sistematizando as aprendizagens – Avaliação sobre o

módulo.

O módulo três refere-se também a práticas didáticas de alfabetização, no entanto, trata mais especificamente sobre conteúdos da Língua Portuguesa que estão presentes na alfabetização. Os temas das unidades são:

• Unidade 1 – Avaliando a quantas andamos;

• Unidade 2 – (Partes I, II e III) – Projetos de leitura e escrita;

• Unidade 3 – (Parte I) – Alfabetização de jovens e adultos: Temas para reflexão;

• Unidade 3 – (Parte II) – Alfabetização de jovens e adultos: Questões didáticas;

• Unidade 4 – Todo dia é dia de ler;

• Unidade 5 (Parte I) – Como é que se escreve? Entendendo o erro ortográfico;

• Unidade 5 (Parte II) – Como é que se escreve? Ensinando ortografia; • Unidade 6 (Partes I e II) – O que é e para que serve a pontuação; • Unidade 7 – Usar a língua e falar sobre a língua;

• Unidade 8 – Sistematizando as aprendizagens – Avaliação sobre o módulo.

O programa utiliza como metodologia no desenvolvimento dos temas estratégias de resolução de situações-problema: leitura e discussão sobre o tema abordado na aula, análise de produções de alunos (que os professores cursistas desenvolvem com seus alunos e trazem para o encontro); simulações de atividades, planejamento de atividades para serem desenvolvidas com os alunos; comparação entre as atividades tradicionalmente desenvolvidas com os alunos e atividades preparadas sob o enfoque da concepção construtivista.

Há ainda todo um material de apoio que subsidia as aulas: Documento de apresentação do programa (para o formador e professor), guia de orientações metodológicas gerais (apenas para o formador do curso), guia do formador (também para o formador do curso) e coletânea de textos (para o formador e professor).

Existe ainda um material em vídeo que é fundamental às aulas, já que é a principal via de exemplificação das propostas do programa. Esse vídeo contém discussões sobre os temas das aulas (com um grupo referência de professoras que atuam na rede pública com crianças em fase de alfabetização e a responsável pelo programa – Drª Telma Weisz), entrevistas com pessoas ligadas à educação e aulas desenvolvidas por esse grupo referência.

3.2 – O Contexto da Pesquisa

As cidades de Poá e Itaquaquecetuba, na grande São Paulo, fazem

parte da chamada região do Alto Tietê. Possuem um total de 60 (sessenta) escolas estaduais, sendo que dessas, 26 (vinte e seis) abrangem o Ciclo I. São 389 (trezentos e oitenta e nove) professores lecionando do 1º ao 4º ano.

Talvez seja importante ressaltar aqui a não obrigatoriedade, por parte da Secretaria da Educação, dos professores em realizar o curso. É um aperfeiçoamento realizado fora do horário de trabalho e que traz como maior benefício justamente a oportunidade de atualização da prática pedagógica. O Programa para professores alfabetizadores Letra e Vida teve a sua primeira turma na região em 2004 e ainda mantém três turmas em curso. São 283 professores formados pelo programa. Inclusos nesse número também estão professores do Ciclo II, professores coordenadores, vice-diretores, diretores, supervisores de ensino e assistentes técnicos pedagógicos que concluíram o curso. Desse total de professores formados pelo programa, apenas 185 (cento e oitenta e cinco) continuam em sala de aula. Os demais professores saíram: estão na prefeitura, atuam como professores coordenadores, vice-diretores ou se aposentaram.

O grupo de amostragem dessa pesquisa é composto por 45 (quarenta e cinco) professores que concluíram o Programa para Professores Alfabetizadores - Letra e Vida – e continuam lecionando nas escolas públicas estaduais da região do 1º ao 4º ano do Ciclo I.

No mês de Maio de 2007, ao organizar uma sondagem nas 26 (vinte e seis) escolas, verificou-se que de um total de 8084 alunos, havia 49,26% de alunos com escrita alfabética, 14,97% de alunos com escrita silábica alfabética, 24,05% de alunos com escrita silábica e 11,72 % de alunos com escrita pré-silábica. Estes números revelavam ser de mais de 50% a porcentagem de crianças que não desenvolveram a escrita alfabética. As escolas oferecem, além do ensino regular, projetos de recuperação e reforço que visam à melhoria da qualidade do ensino, tentando atender a todos aqueles alunos que apresentam dificuldades.

As comunidades em estão inseridas as escolas são carentes, as famílias são numerosas e a grande maioria dos alunos pertence a uma classe social muito baixa. Seus pais têm subempregos ou empregos que remuneram pouco mais que o salário mínimo. Há, ainda, grande quantidade de pais desempregados. As famílias dos alunos apresentam pouca ou nenhuma instrução e alegam não ser capazes de acompanhar a vida escolar dos filhos.

3.3 – Organização da coleta de dados

O questionário formulado pretendeu verificar o que os professores formados pelo programa entenderam sobre a concepção de aprendizagem defendida pelo programa, sobre o processo da alfabetização, sobre algumas das práticas desenvolvidas pelos professores antes e depois do curso, sobre letramento, sobre temas que gostariam de ver em outros cursos, sobre a motivação em trabalhar com alfabetização e sobre a forma como avaliam o curso.

O período estipulado para a aplicação dos questionários foi o segundo semestre de 2007. Ocorreu, principalmente, durante os horários de trabalhos pedagógicos (HTPC).

Para que os professores se sentissem à vontade e respondessem sinceramente ao questionário ficou acertado que não precisariam se identificar.

Por motivos alheios a nossa vontade, foram visitadas 20 (vinte) das 26(vinte e seis) escolas que possuem Ciclo I na região e apenas em uma escola quatro professores, por desentendimentos com a direção, recusaram- se a responder às perguntas.

O questionário é composto por 26 (vinte e seis) perguntas que se referem a dados pessoais, profissionais e, principalmente, sobre os temas desenvolvidos no curso.

Questionário

1)Idade:

a) até 25 anos b)de 26 a 35anos c)de 36 a 45 anos d) mais de 46 anos

2)Sexo:

a) masculino b) feminino

3)Formação:

a) magistério b)superior completo c) superior incompleto

4)Tempo no magistério:

a) até 10 anos b) entre 11 e 15 anos c) entre 16 e 20 anos d) 21 anos ou mais

5)Ano em que terminou o curso Letra e Vida:

a) 2004 b) 2005 c)2006 d)2007

6) Em 2007, você está lecionando no:

7)Segundo o seu entendimento, o Programa para professores

alfabetizadores – Letra e vida defende que concepção de aprendizagem?

a) Tradicional b) Construtivista c) Mistura das duas concepções

8) Existe(m) atividade(s) pedagógica que não utilizava antes do curso Letra e Vida e agora utiliza? Marque mais de uma se achar necessário.

a) Sondagem;

b) Ensino das famílias silábicas; c) Alfabetização por meio de textos; d) Uso do nome próprio;

e) Outras

9) Quais atividades utilizava antes do curso e continua utilizando:

a) Sondagem;

b) Ensino das famílias silábicas; c) Alfabetização por meio de textos; d) Uso do nome próprio;

e) Ensino do alfabeto; f) Cópia de textos.

10) Você acha que a cartilha deveria ser utilizada na alfabetização?

a) sim b) não

11) O ensino mais sistemático da ortografia deve acontecer quando o aluno estiver na hipótese:

a) pré-silábica;

b) silábica sem valor sonoro; c) silábica com valor sonoro; d) silábica alfabética;

e) alfabética;

f) a qualquer momento em que aconteça um erro;

12) A hipótese do aluno que não estabelece relação entre o oral e o escrito é a:

b) silábica sem valor sonoro; c) silábica com valor sonoro; d) silábica alfabética;

e) alfabética;

13) Quando uma criança escreve ora silabicamente, ora alfabeticamente está na hipótese:

a) pré-silábica;

b) silábica sem valor sonoro; c) silábica com valor sonoro; d) silábica alfabética;

e) alfabética;

14) Como você considera a afirmação de que para alfabetizar é certo começar com palavras ou frases para depois partir para o texto.

a) verdadeira b)falsa

15) Você acha que as crianças aprendem a escrever:

a) a partir de modelos dados pelo professor;

b) a partir de um processo evolutivo de aquisição da escrita;

c) a partir da junção de letras para formação de sílabas, depois palavras, frases e finalmente textos.

16) Você acha que uma criança pode ser considerada alfabetizada quando é capaz de :

a) Copiar qualquer texto que seja colocado na lousa;

b) Escrever de memória várias palavras ensinadas pelo professor;

c) Mesmo cometendo muitos erros ortográficos, escrever alfabeticamente. d) Conhecer todas as famílias: simples e complexas.

17) A maior dificuldade em alfabetizar, de acordo com as diretrizes do curso, consiste em:

a) Interpretar a escrita dos alunos no processo evolutivo de aquisição de escrita;

b) Alfabetizar por meio de textos, sem utilizar as famílias silábicas; c) Não tenho dificuldade em ensinar da maneira sugerida pelo curso.

d) Não considero que seja possível alfabetizar da maneira sugerida.

18) Para você, o termo letramento significa:

a) O termo utilizado para designar alguém que sabe ler e escrever;

b) O termo utilizado para designar alguém que já concluiu seus estudos no Ensino Fundamental;

c) O termo utilizado para designar alguém que lê muito;

d) O termo utilizado para designar alguém que faz uso da leitura e da escrita nas diversas práticas sociais.

19) O curso Letra e Vida para você:

a) Mudou completamente minha prática pedagógica; b) Mudou razoavelmente minha prática pedagógica; c) Mudou muito pouco a minha prática pedagógica; d) Não mudou minha prática pedagógica.

20) O módulo do curso mais significativo para você foi:

a) O módulo I b) O módulo II c) O módulo III

21) Na sua sala de aula:

a) Todos os alunos são alfabetizados;

b) Cerca de 10 a 20% dos alunos ainda não estão alfabetizados; c) Cerca de 30 a 40% dos alunos ainda não estão alfabetizados; d) Cerca de 50 a 60% dos alunos ainda não estão alfabetizados.

22) Como professor alfabetizador, você se sente:

a) Motivado, porque consigo atingir meus objetivos com os alunos. b) Desmotivado, porque mesmo fazendo o possível não consigo atingir

meus objetivos com os alunos c) Não sei avaliar

23) Qual o ano do Ciclo I em que mais gosta de lecionar?

24) Que tema(s) gostaria de ver desenvolvido no curso, se ele continuasse:

a) Tipos e gêneros textuais; b) Sintaxe;

c) Morfologia;

25) Você pretende realizar outros cursos de capacitação?

a) sim b) não

26)Como você avalia o curso Letra e Vida?

a) Plenamente satisfatório; b) Satisfatório;

c) Regularmente satisfatório; d) Insatisfatório

A partir desse questionário se faz necessário esclarecer alguns conceitos básicos sobre estatística para que a compreensão do trabalho esteja garantida.

Entendendo-se, segundo Bunchaft e Kellner (1997), a estatística como apresentação numérica tabular ou gráfica dos resultados da observação dos fenômenos de massa, sua concepção original traz como significação a descrição numérica dos dados tal como encontrados. É, assim, considerada como instrumento fundamental para o estudo quantitativo e qualitativo dos fenômenos aleatórios e coletivos, quaisquer que sejam seus campos de observação. Na análise dos dados, a estatística descritiva serve para se referir à ordenação, exposição e sumarização dos registros quantitativos, relativos aos fenômenos em estudo. A estatística inferencial levará a generalização do que foi estudado descritivamente, nas amostras.

De acordo com Bunchaft e Kellner (op. cit.) a amostra é todo o conjunto cujas propriedades se estudam a fim de generalizá-las para outro conjunto. Os dados coletados no questionário foram analisados com esse entendimento.

3.4 – Análise dos dados

1ª Questão: Idade 2ª Questão: Sexo 3ª Questão: Formação 2,22% 97,78% Masculino Feminino 6,67% 15,56% 60,00% 17,78% Até 25 anos De 26 a 35 anos De 36 a 45 anos Mais de 46 anos

15,56% 71,11% 13,33% Magistério; Superior completo; Superior incompleto;

4ª Questão: Tempo no magistério

As primeiras questões revelam que as mulheres compõem a grande maioria dos profissionais do Ciclo I, suas idades variam, principalmente, entre 36 e 45 anos e que ao contrário do que se pode pensar elas têm o nível superior completo. A pesquisa revela ainda que o tempo de trabalho no magistério é, na sua maioria, superior a 10 anos e que, portanto, não são professores inexperientes.

5ª Questão: Ano em que terminou o curso Letra e Vida

26,67% 28,89% 28,89% 15,56% Até 10 anos ; Entre 11 e 15 anos; Entre 16 e 20 anos ; 21 anos ou mais ;

O fato de terem os professores concluído o curso em 2005 ou 2006 assegura que as informações de nível conceitual ou prático que receberam ainda não se perderam. Há entre o término do curso e a pesquisa um tempo que pode-se considerar pequeno.

6ª Questão: Série em que está lecionando em 2007

33,33% 22,22% 22,22% 22,22% 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano

Os professores entrevistados estão proporcionalmente distribuídos entre os anos/séries no Ciclo I.

7ª Questão: Da concepção de aprendizagem defendida pelo curso.

31,11%

68,89%

Embora a grande maioria dos professores tenha demonstrado ter entendido a concepção de aprendizagem defendida pelo curso, sequer considerando a opção pela concepção tradicional (empírica), muitos entenderam que o programa mescla as duas abordagens.

Esta fala é comum entre os professores na rede estadual e parece estar inserido neste pensamento um desconhecimento do que seja o ensino desenvolvido a partir deste ângulo.

As tecnologias de ensino, baseadas nas teorias de aprendizagem S-R(empirismo-associacionismo), considerando que o ensino é questão apenas de estimulação externa, assumiram uma postura autoritária de controlar as emoções as reações e os conhecimentos dos alunos. Pelo contrário, a prática construtivista não é autoritária: não impinge conhecimentos de fora para dentro, por estimulação.(MATUI, 1995,p.186)

O papel do professor que se diga construtivista é o de democratizador do saber humano, vem deste papel a visão interacionista da construção da mente e do conhecimento. Cabe, na escola, a ação docente promover a interação aluno – objeto de conhecimento para que se diga tratar-se de uma ação construtivista. Neste modelo, a aprendizagem é mediada pelo professor

66,67% 33,33%

Construtivistas;

que age como um elo entre o objeto de conhecimento, sempre cultural e histórico, e o aluno, sujeito da aprendizagem.

Não há assim, possibilidade de composição entre uma concepção e outra, o que pode haver aí é um mascaramento de uma prática sabidamente ultrapassada.

As questões oito e nove do questionário referem-se a práticas difundidas, principalmente pelo curso e que, de certa forma, deixam entrever o entendimento que os professores tiveram sobre os temas desenvolvidos.

Dos (45) quarenta e cinco professores entrevistados, 38 (trinta e oito) disseram fazer uso da sondagem (procedimento utilizado para saber em que nível está o aluno na aquisição da escrita) a partir do que aprenderam no curso.

Este número pode revelar um avanço, no sentido em que passaram a se preocupar com os conhecimentos prévios sobre a escrita trazidos pelos alunos quando chegam à escola e também uma inquietação a cerca do progresso dos alunos no processo de alfabetização.

O fato, entretanto, de se mostrarem preocupados com o avanço das crianças na aquisição da escrita, não significa que saibam o que fazer pedagogicamente com as crianças que não avançaram. E é este despreparo que se tem visto nos resultados apresentados quando muitos alunos concluem o Ciclo I sem terem dominado a escrita alfabética.

Como já foi dito no capítulo I, muitos professores, por desconhecimento, culpam o chamado “método Emília Ferreiro de alfabetizar” pelos atuais fracassos na alfabetização da rede pública, não percebendo que se trata de

uma psicóloga que desenvolveu estudos cognitivos para saber como as crianças aprendem e não de um procedimento didático para alfabetizar.

Outro dado que merece atenção é quanto ao uso das famílias silábicas. Na questão nove, que pergunta sobre as práticas utilizadas antes e depois de conclusão do curso, apenas doze professores admitiram utilizar esta forma de alfabetização.

No entanto, ao visitar as escolas se pôde observá-las e constataram-se alguns fatos. Em praticamente todas elas havia salas com cartazes de famílias silábicas na parede e exercícios desse tipo nos cadernos dos alunos. É, pois, de estranhar esse resultado e o fato de se dizer que as escolas estão voltando ao método fônico, uma vez que parecem nunca tê-lo abandonado.

10ª Questão: Do uso da cartilha

Aqui os professores demonstram não acharem que o uso da cartilha seja necessário na alfabetização, no entanto, o que se revelou na questão anterior

24,44%

75,56%

Sim Não

pode desmentir esse dado, visto serem nesses livros que se pratica o método fônico.

Parece que os professores adotaram um discurso que julgam ser o correto, mas que não condiz com a prática em sala de aula. Esse discurso pode demonstrar certo receio em admitir suas dificuldades com os alunos ou também uma espécie de medo de punição, não justificável, haja vista a atual estrutura da educação na rede pública do estado de São Paulo.

11ªQuestão: Do entendimento do erro

2,22% 6,67% 17,78% 37,78% 35,56% Pré-silábica

Silábica com valor sonoro Silábica alfabética Alfabética

A qualquer momento em que aconteça um erro

Ultimamente, vários professores preocupam-se quando o tema é erro e mais ainda quando se trata do erro ortográfico. Dúvidas como: Deve-se ou não corrigir os erros ortográficos dos alunos? Deve-se ou não ensinar ortografia? São questões consideradas por alguns docentes como tradicionais e que por isso, não deveriam fazer parte do discurso pedagógico moderno.

A maioria dos professores pesquisados disse que o ensino sistemático da ortografia deve ocorrer quando o aluno já atingiu, no processo evolutivo de aquisição de escrita, o nível alfabético, ou seja, no período em que se está

compreendendo o sistema alfabético o erro deve ser considerado como construtivo e necessário para que as crianças se apropriem cada vez mais desse sistema. A ortografia é uma convenção social, composta por regras e princípios orientadores que, se entendidos, permitem prever com segurança a grafia correta das palavras.

Na fase inicial da aprendizagem as crianças compreenderam o sistema, mas cometem muitos erros de ortografia. Dessa maneira, para que a convenção da escrita seja adquirida, os professores precisam sistematicamente levar os alunos à gradativa reflexão sobre a escrita. Não se trata, portanto, de deixar de ensinar como muitos pensaram.

Ao tratar o ensino da ortografia como objeto de reflexão, o docente precisará buscar por situações em que a comunicação escrita é respeitada e não fonte de punições. Nesse sentido, ensinará além das regularidades e irregularidades da grafia os procedimentos de reescrita, revisão de textos e todos os comportamentos desenvolvidos por quem adquire a competência escritora.

12ª e 13ª Questões: Do conhecimento da hipótese em que está o aluno no

processo aquisição da escrita.

71,11% 24,44%

2,22% 2,22% Pré-silábica;

Silábica sem valor sonoro Silábica com valor sonoro; Silábica alfabética;

A aprendizagem da escrita é um longo e complexo processo que requer uma intervenção educativa sistemática, mas para que essa intervenção seja feita de maneira a fazer progredir os alunos que estão nesta construção é necessário que o professor se aproprie dos conhecimentos inerentes ao tema

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