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QUADRO 2 TRAJETÓRIA DA EJA PÓS PERÍODO DITATORIAL DE

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O ENCAMINHAMENTO DA PESQUISA

4.4 ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA (ATD)

De acordo com Moraes (2003), as pesquisas qualitativas cada vez mais se utilizam da ATD quando pretendem aprofundar os fenômenos investigados, e não somente com o intuito de testar hipóteses para comprovar ou refutá-las ao final da pesquisa. De acordo com Moraes e Galiazzi (2011), a ATD pode ser compreendida como:

[...] um processo de desconstrução, seguido de reconstrução, de um conjunto de materiais linguísticos e discursivos, produzindo-se a partir disso novos entendimentos sobre os fenômenos e discursos investigados. Envolve identificar e isolar enunciados dos materiais submetidos à análise, categorizar esses enunciados e produzir textos, integrando nestes descrição e interpretação, utilizando como base de sua construção o sistema de categoria construído (MORAES; GALIAZZI, 2011, p. 112).

Sobre os materiais utilizados no processo da ATD, Lambach (2013) esclarece que podem ser pré-existentes ou originários de diferentes fontes, como entrevistas, registros de observações, depoimentos, gravações de aulas, discussões, dentre outros que, após a transcrição, serão submetidos a análise e transformados no corpus da ATD.

[...] a análise textual discursiva é descrita como um processo que se inicia com uma unitarização em que os textos são separados em unidades de significado. Estas unidades por si mesmas podem gerar outros conjuntos de unidades oriundas da interlocução empírica, da interlocução teórica e das interpretações feitas pelo pesquisador. Neste movimento de interpretação do significado atribuído pelo autor exercita-se a apropriação das palavras de outras vozes para compreender melhor o texto. Depois da realização desta unitarização, que precisa ser feita com intensidade e profundidade, passa- se a fazer a articulação de significados semelhantes em um processo denominado de categorização. Neste processo reúnem-se as unidades de significado semelhantes, podendo gerar vários níveis de categorias de análise. A análise textual discursiva tem no exercício da escrita seu fundamento enquanto ferramenta mediadora na produção de significados e por isso, em processos recursivos, a análise se desloca do empírico para a abstração teórica, que só pode ser alcançada se o pesquisador fizer um movimento intenso de interpretação e produção de argumentos. Este processo todo gera meta-textos analíticos que irão compor os textos interpretativos (MORAES; GALIAZZI, 2006, p. 118).

A Análise Textual Discursiva apresenta-se em três etapas: unitarização, categorização e comunicação. Na primeira etapa ocorre a fragmentação dos textos em unidades de análise, também denominada por Moraes (2003) de desmontagem

dos textos, que consiste em “examinar os materiais em seus detalhes,

fragmentando-os no sentido de atingir unidades constituintes, enunciados referentes aos fenômenos estudados” (MORAES, 2003, p. 191). Nesta etapa ocorre a delimitação do corpus, caracterizado como o conjunto dos documentos a serem analisados, e a posterior desconstrução, processo de desmontagem ou desintegração do texto, o que evidenciará as unidades de análise.

As unidades de análise, unidades de significados ou ainda unidades de sentido (GONÇALVES, 2009; LAMBACH, 2013), são definidas de acordo com os

objetivos da investigação e serão posteriormente categorizadas. Importante ressaltar que a unitarização não procura identificar um discurso explícito, sendo, dessa forma, primordial procurar o está implícito ou contraditório no texto (MORAES; GALIAZZI, 2006).

Moraes (2005) explica que na prática a unitarização pode ser agrupada em três momentos distintos: a) fragmentação dos textos e codificação de cada unidade; b) reescrita de cada unidade de modo que assuma um significado mais completo possível em si mesma; e c) atribuição de um nome ou título para cada unidade assim produzida.

A segunda etapa da ATD refere-se à categorização que, segundo Gonçalves e Marques (2016, p. 87), compreende um “processo de natureza classificatória em que as unidades de significado são agrupadas de acordo com suas semelhanças semânticas”. Nesta etapa emergem as categorias que se caracterizarão como a priori ou emergentes.

As primeiras são predeterminadas, em geral, a partir da teoria orientadora da investigação. Uma limitação sua é possibilitar a perda de informações qualitativas, importantes à pesquisa, por não se enquadrarem no conjunto de categorias predefinidas. As categorias emergentes se opõem às categorias a priori, pois o conjunto de categorias é construído a partir das unidades de significado que possuem algo em comum. Isso não significa que as categorias emergentes sejam construídas na ausência de teoria, pois caso contrário se valorizaria a neutralidade do processo de construção de conhecimento (GONÇALVES, 2009, p. 62-63).

Moraes (2003) esclarece que o essencial no processo não é a forma de produção, mas as possibilidades do conjunto de categorias construído para representar as informações do corpus, ou seja, de possibilitar uma compreensão mais aprofundada dos textos da análise e, em consequência, dos fenômenos investigados.

A última etapa do processo de ATD é a comunicação, também denominado por Moraes (2003) de Auto-organização, decorre da etapa de categorização na qual se produz o metatexto, as produções escritas de forma descritiva e interpretativa.

O terceiro estágio do ciclo de análise é a comunicação das novas compreensões atingidas ao longo dos dois estágios anteriores. É um exercício de explicitação das novas estruturas emergentes da análise. Concretiza-se em forma de metatextos em que os novos insights atingidos são expressos em forma de linguagem e em profundidade e detalhes. Muitos dos materiais iniciais são descartados, sempre na procura de um

texto com clareza e rigor. É preciso conseguir levar a nova compreensão dos fenômenos investigados para os interessados, mesmo que não tenham participado do processo de construção dela. O desafio é tornar compreensível o que antes não o era, e isso precisa ser feito com um texto de qualidade e sabor. Nisso pode desempenhar um papel importante o uso de metáforas. Eventualmente a própria compreensão já emerge em forma de metáfora. Também poderão ser úteis esquemas e figuras, mas entendemos que é essencial a construção de um texto em que cada uma de suas categorias ou partes sejam perfeitamente integradas num todo. Para isso é importante que haja uma “tese” ou argumento central, capaz de possibilitar o encadeamento das partes no todo (MORAES, 2003, p. 208).

Com isso, apresenta-se o ciclo da Análise Textual Discursiva tal qual sistematizado por Torres et al. (2008) no esquema da figura a seguir.

FIGURA 2 - SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE ATD

FONTE: Torres et al. (2008, p. 4).

Portanto, a característica dialógica da ATD, nas palavras de Lambach (2013, p. 166), “viabiliza a compreensão mais elaborada dos fenômenos investigados” ao mesmo tempo em que possibilita ao pesquisador e aos demais sujeitos da pesquisa a participação na reconstrução dos discursos. Essa característica da ATD, segundo Gonçalves (2009, p. 61), denomina-se de “qualidade política da análise textual discursiva”, conferindo a ATD uma possibilidade de “intervenção nos discursos culturais e sociais referentes aos fenômenos que se está investigando” (LAMBACH, 2013, p. 167). Assim, optar pela ATD é optar por um processo auto-organizado, reconhecendo nos sujeitos da pesquisa a capacidade de intervir na realidade reconhecendo-se como sujeitos históricos.

No próximo capítulo apresenta-se o desenvolvimento metodológico das ações realizadas para a constituição dos dados, bem como a análise dos resultados com o uso da ATD.

5 DESENVOLVIMENTO METÓDICO E ANÁLISE DAS ATIVIDADES