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LUZ DO TEMA GERADOR

5.5 SEGUNDO ENCONTRO

O segundo encontro iniciou com o primeiro momento dos Três Momentos Pedagógicos, denominado de Problematização Inicial (PI). “Organiza-se esse momento de tal modo que os alunos sejam desafiados a expor o que estão pensando sobre as situações” (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2009, p. 200). Desta forma, os educandos foram questionados com a seguinte problematização: Questões como educação, alimentação, habitação e trabalho influenciam diretamente na saúde da população. Reduzir as desigualdades nestas áreas irá reduzir as desigualdades em saúde?

[...] a problematização tem o papel de fazer o aluno pensar sobre a situação em estudo, porém, não mais somente a partir do seu conhecimento cotidiano, mas no sentido de construir um pensamento científico sobre o objeto de estudo. Em outras palavras, o que se pretende é que, a partir do momento em que o aluno começa a formular um pensamento científico sobre determinada temática, o conceito do cotidiano passe a caminhar no sentido da abstração e o conceito científico passe a vir em direção à concretude, conforme defendido na abordagem histórico-cultural (HALMENSCHLAGER, 2014, p. 252).

O encontro prosseguiu com os educandos se posicionando frente ao questionamento elencado.

Lucas, 21 anos: O que eu entendi da pergunta é que se a pessoa tem emprego ela vai ter dinheiro pra pagar um médico, não vai precisar ficar na fila pra ser atendido.

Carla 25 anos, Olha, você está perguntado também sobre educação, quem tem mais estudo claro que vai ter mais condições.

PP: Condições do que?

Carla, 25 anos: De ter uma vida melhor.

Maria, 38 anos: Mas olha, quanta gente com estudo está desempregada? Não tá tão fácil assim nem pra quem tem estudo.

As falas até então expressam uma visão “romântica” em relação aos estudos, quanto mais estudos o indivíduo tem, mais bem-sucedido ele será. Isso claramente denota uma referência à questão da meritocracia, ou seja, quanto mais ele se esforçar, seja no estudo ou no trabalho, mais bem-sucedido ele será, e assim: “ela vai ter dinheiro pra pagar um médico, não vai precisar ficar na fila pra ser

atendido”. Já a fala expressa por outra educanda, com mais idade, denota uma visão

de mundo mais realista frente aos problemas sociais: “quanta gente com estudo está

desempregada? Não tá tão fácil assim nem pra quem tem estudo”.

Após a explanação dos educandos acerca da Problematização Inicial, os educandos foram orientados a ir ao laboratório de informática. Dispostos em círculo, a PP levantou o seguinte questionamento. Alguém sabe o que são doenças negligenciadas? Já ouviram falar?

Segundo o Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, doenças negligenciadas são aquelas que “não só prevalecem em condições de pobreza, mas também contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 200). O objetivo deste momento consistiu em provocar nos educandos a curiosidade frente aos questionamentos propostos,

primeiro em torno da problematização inicial e depois a relação desta com os questionamentos realizados posteriormente, conforme as falas seguintes.

Claudia, 35 anos: Eu já ouvi falar, mas não sei o que é. PP: Onde você ouviu falar?

Claudia, 35 anos: Na televisão, eu acho. PP: Qual o significado de negligenciada?

Gustavo, 16 anos: Deixa eu pesquisar aqui rapidinho e já te falo (risos). PP: Certo, podem pesquisar então.

Em posse do significado do termo “doenças negligenciadas”, os educandos, além de conceituar o significado do termo, também estenderam a busca a fim de delimitar quais são as doenças negligenciadas.

Maria, 38 anos: Se eles não investem em pesquisas para acabar com essas doenças nunca vai acabar.

PP: Mas quem não investe?

Maria, 38 anos: O que eu li aqui é que não interessa para as empresas investir em remédios pra essas coisas.

PP: Vocês sabem me dizer porquê? Será que isso tem algo a ver com a questão da lucratividade?

Gustavo, 16 anos: Não é importante pra eles, porque eu acho que são doenças que atacam pessoas pobres e ai não é vantajoso, eu não sei explicar (risos). Por que nem era pra ter mais.

PP: Mas porque não é vantajoso para as indústrias de fármacos produzir esses remédios? Alguém saberia explicar?

Esse momento demostrou o quanto esse assunto é desconhecido pelos educandos. Foram questionados pela PP sobre a relação estabelecida entre pesquisa e desenvolvimento de remédios X lucratividade, presente no questionamento da PP: “Mas porque não é vantajoso para as indústrias de fármacos

produzir esses remédios? Alguém saberia explicar?”.

Quando questionados sobre as doenças encontradas na pesquisa os educandos demostraram breve conhecimento.

Bárbara, 36 anos: eu achei essas aqui, febre amarela, tuberculose, desnutrição, malária, leptospirose, diarreia.

PP: E vocês conhecem algumas delas?

Claudia, 35 anos: Todo mundo já ouviu falar, passa no jornal. Sempre tem essas notícias e só assistir.

Marlene, 61 anos: Leptospirose é a doença no rato, né? Um conhecido meu teve.

Fabiana, 38 anos: Essa a diarreia é mais comum. Essa acontece quando a gente come alguma coisa que esta estragada.

PP: Só quando come?

Fabiana, 38 anos: Não, quando as crianças entravam no miringuava, era só entrar e correr pro hospital, agora eu não deixo mais nem chegar perto.

Leonardo, 16 anos: E dengue professora, também é uma dessas doenças? PP: Você acha que é?

Leonardo, 16 anos: eu acho que é, mas eu não tenho certeza. PP: E qual é o papel do governo no combate a essas doenças?

Leonardo 16 anos: eu acho que o governo distribui os remédios pra população.

PP: Se o governo distribui os remédios pra população, porque essas doenças ainda matam pessoas por ai?

Leonardo, 16 anos: Mas não todo mundo que vai atrás dos remédios, que procura, né? Tem muita gente que não tá nem ai. É igual camisinha, eles distribuem, mas nem todo mundo vai lá (UBS) pegar, aí já viu, né? (riso). A partir da problematização inicial elencada no início desse encontro, configura-se assim um problema a ser superado a partir da apropriação do conhecimento científico. A etapa seguinte refere-se ao segundo momento dos Três Momentos Pedagógicos, a Organização do Conhecimento (OC), que se apresenta com o objetivo de selecionar os conhecimentos abordados necessários para resolução de problemas com vistas à função formativa. “As mais variadas atividades são então empregadas, de modo que o professor possa desenvolver a conceituação identificada como fundamental para compreensão científica das situações problematizadas” (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2009, p. 201).

Desta forma, para a organização do conhecimento, programada para o terceiro encontro, foram elencadas as seguintes doenças pesquisadas, conforme mencionado nas falas e sua relação com a questão geradora.

Dengue: “sempre há casos de dengues na região”, “minha irmã teve

dengue ano passado”.

Leptospirose: “Eu já ouvi falar, é a doença do rato né?” Eu soube que teve

gente que morreu dessa doença, mas eu não sei quem é”.

Diarreias e infecções: “Essa acontece quando a gente come alguma coisa

que esta estragada” “Quando as crianças entravam no Miringuava, agora eu não deixo mais, mas era só entrar e correr pro hospital”.

A questão geradora é: Questões como educação, alimentação, habitação e trabalho influenciam diretamente na saúde da população. Reduzir as desigualdades nestas áreas irá reduzir as desigualdades em saúde?