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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLA

1 O CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO

1.2 ANÁLISE TEXTUAL DISCURSIVA

Essa pesquisa está alicerçada na Análise Textual Discursiva (ATD) (MORAES, 2003; MORAES, 2005; MORAES e GALIAZZI, 2007; MORAES e GALIAZZI, 2013) na qual, a partir de um conjunto de textos (citados anteriormente) produzi um novo texto descrevendo e interpretando os sentidos e os significados desses textos iniciais. Nessa perspectiva, a ATD

[...] pode ser compreendida como um processo auto-organizado de construção de compreensão em que novos entendimentos emergem de uma sequência recursiva de três componentes: desconstrução dos textos do corpus, a unitarização; estabelecimento de relações entre os elementos unitários, a categorização; o captar do novo emergente em que a nova compreensão é comunicada e validada. (MORAES, 2003, p. 192, grifo do autor).

Desse modo, nessa dinâmica, com o corpus definido e delimitado, teve início o processo de análise com a desconstrução e unitarização dos textos, onde, segundo Moraes e Galiazzi (2011, p. 118) esses “[...] são separados em unidades de significado9”. E, a partir dos significados atribuídos a essas unidades podem ser gerados outros conjuntos de unidades “[...] oriundas da interlocução empírica, da interlocução teórica e das interpretações feitas pelo pesquisador”. Assim, a partir da leitura crítica dos artigos selecionei excertos, os núcleos de sentido, tendo como referência o problema a ser investigado e os objetivos da pesquisa, assim como meus pressupostos teóricos que explicito ao longo do texto.

A unitarização é um processo que gera desordem, que torna caótico o que era ordenado e uma nova ordem surge a partir dessa desordem.

Para a leitura e significação dos textos é necessária atenção especial para os diversos sentidos que a análise permite construir a partir do texto. Segundo Moraes (2003)

Se um texto pode ser considerado objetivo em seus significantes10 não o é em seus significados. Todo o texto possibilita uma multiplicidade de leituras, leituras essas tanto em função das intenções dos autores como dos referenciais teóricos dos leitores e dos campos semânticos em que se inserem. (p. 192).

9Significados é o que se atribui ao texto analisado. 10Significantes são os materiais analisados.

Nessa perspectiva, Moraes (2003) pontua que, mesmo de forma inconsciente, sempre há uma perspectiva teórica que sustenta a leitura e análise efetuada. Isto é, o grande número de significados que é possível construir a partir de um mesmo conjunto de significantes pode ser explicado levando em conta os diferentes pressupostos teóricos que são utilizados nas leituras. O que demanda do pesquisador uma conscientização dos pressupostos que orientam sua análise e o contexto em que ele está envolto. Para esta pesquisa, adotei a perspectiva teórica freireana, produções ligadas à CTS e PLACTS, assim como a teoria crítica da tecnologia (NEDER, 2010b).

Desse modo, a unitarização é parte integrante do movimento de construir unidades de significado a partir da desconstrução do corpus, com a possibilidade da elaboração de uma grande gama de sentidos, a partir de uma leitura crítica mais aprofundada dos textos. Porém, embora com uma leitura feita dessa forma, muitos dos significados não são imediatamente percebidos, sendo necessário uma retomada nas leituras de forma mais sistemática, tanto nos textos quanto nos significados deles derivados.

Mas essa desconstrução não pode ser excessiva a ponto da fragmentação não ter o todo como referência. No processo da unitarização, os objetivos a serem alcançados com a pesquisa precisam sempre estar presentes, pois as unidades de significado (núcleos de sentido) devem refletir o fenômeno investigado. No entanto, isso não significa que os objetivos da pesquisa não possam ser modificados no transcorrer desse processo.

Assim, a unitarização pode ser resumida como a constituição de:

[...] um exercício de leitura intensa e rigorosa, capaz de fazer emergir múltiplos significados a partir de uma reunião de textos, um exercício de desordenação na procura de uma nova ordem. Para isso é necessário um investimento intenso, resultando do processo, além das unidades construídas, também uma impregnação aprofundada nos fenômenos investigados. [...] (MORAES e GALIAZZI, 2013, p. 71).

E, como a finalidade da construção de significados é a elaboração de textos interpretativos e descritivos, portanto, ter uma relação com os fenômenos investigados, esse processo de fragmentação do corpus converge para a categorização e ao objetivo final que é a construção dos metatextos, “textos que

pretendem apresentar novas compreensões dos documentos analisados e dos fenômenos investigados” (MORAES e GALIAZZI, 2013, p. 50).

Nesse sentido, após a unitarização, é realizado o processo de categorização, onde são agrupados elementos com significados semelhantes. Esse conjunto de elementos compõe as categorias. Essas, à medida que vão sendo construídas, devem ser nomeadas e definidas com um grau de precisão cada vez maior. Durante o processo de categorização, as categorias adquirem diferentes níveis, onde admitem denominações, conforme Moraes, de iniciais, intermediárias e finais.

Moraes e Galiazzi (2011) indicam que o caminho para a categorização pode ser de três formas:

1ª) categorias a priori: de caráter dedutivo e mais objetivo, trazidas para a pesquisa antes de ocorrer a análise, advindas das teorias que fundamentam a pesquisa. Para os autores, nessa modalidade, pode ocorrer a perda de dados significativos para a pesquisa, os quais permitiriam uma melhor compreensão dos fenômenos investigados, por não haver onde encaixá-los;

2ª) categorias emergentes: de caráter indutivo e mais subjetivo, emergem à medida que os dados são analisados. Necessitam de organização de estruturas de vários níveis e as categorias são definidas gradualmente e o conjunto delas só se completa no final da análise. Na presente pesquisa, utilizei essa modalidade de categoria. 3ª) categorias mistas: inicia-se com as categorias a priori (fechadas) e durante o processo podem ser criadas subcategorias resultantes dos dados analisados.

A categorização é um momento, dentro do processo da ATD, que exige bastante do pesquisador, momento esse que acontece o que Moraes e Galiazzi chamam de criação, organização, ordenamento e agrupamento de conjuntos de unidades de análise, ou seja, é considerado um processo de classificação onde as unidades de significado são organizadas e ordenadas para a posterior discussão dos fenômenos investigados.

Ainda, para Moraes (2003),

As categorias produzidas por intuição originam-se por meio de inspirações repentinas, insights de luz que se apresentam ao pesquisador, por uma intensa impregnação nos dados relacionados aos fenômenos. Representam aprendizagens auto-organizadas que são possibilitadas ao pesquisador a partir de seu envolvimento intenso com o fenômeno que investiga. Esse processo tem seus fundamentos na fenomenologia aproximando-se do que Restrepo (1998) denomina abdução (p. 198, grifo do autor).

Para uma melhor compreensão, o esquema abaixo representa graficamente o processo da ATD.

Figura 01 – Sistematização do processo de análise textual discursiva

Fonte: (TORRES et al., 2008, p. 04).

Conforme o esquema, após a categorização, na terceira etapa da ATD, ocorre a validação e comunicação do novo emergente, em que são produzidos os metatextos analíticos a partir das categorias e subcategorias resultantes da análise. Esses metatextos são compostos de descrição e interpretação, representando o contexto de compreensão e teorização dos fenômenos que foram investigados. Torres et al. (2008, p. 5) defendem que “essa nova representação discursiva se caracteriza por delinear de forma sistematizada as compreensões alcançadas no processo analítico”.

Moraes (2003) apresenta a ATD como uma tempestade de luz que, surgindo do meio caótico e desordenado, formam flashes de luz que iluminam os fenômenos investigados e permitem expressar novas compreensões alcançadas com a análise. Uma metodologia que se localiza entre análise de conteúdo e análise de discurso, afastando-se mais da análise de conteúdo e aproximando-se de algumas modalidades da análise de discurso. Concebendo, assim, esse tipo de análise como

um processo auto-organizado de produção de novas compreensões em relação aos fenômenos examinados.

Ainda, Moraes (2003) destaca que a ATD é guiada pelos referenciais do pesquisador, assim como pelos objetivos por esse definidos. Em síntese, ela não é um movimento linear, contínuo, ela pode ser constituída em dois momentos que se retroalimentam, o de desconstrução e o de reconstrução, um processo em espiral que permite, a cada retomada, uma maior clareza do fenômeno estudado. Fenômeno, na presente pesquisa, constituído de práticas educativas CTS, no contexto brasileiro, que contemplam, que dão visibilidade à presença de valores, de interesses no direcionamento do desenvolvimento científico-tecnológico.

2 BUSCA DE UMA CULTURA DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM PROCESSOS