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Os dados obtidos foram tratados utilizando-se o método da Análise Estrutural de Narração (AEN), proposta por Demazière e Dubar (1997), considerando-se os fundamentos de Barthes (1981), Barthes et al. (2008) e Greimas (1981). Trata-se de uma análise absolutamente qualitativa de conteúdo das falas do grupo, que se realiza de forma indutiva e que considera o valor do conjunto para serem

encontradas pelo pesquisador, as categorias finais e não somente partes do corpus, como ilustrações para a análise.

Na análise do conteúdo narrativo, como afirmam Laville e Dionne (1999, p 47), é necessário empreender um “estudo minucioso do conteúdo das falas dos entrevistados, das palavras e das frases que o compõem, procurar-lhes o sentido e captar-lhes as intenções, comparar, avaliar, reconhecer o essencial e construir as ideias principais”.

Segundo Bauer (2002), é por meio da reconstrução de representações que os analistas de conteúdo inferem a expressão dos contextos. O autor supracitado complementa que a análise de conteúdo nos permite desvelar valores, regras e atitudes, opiniões, preconceitos e estereótipos e compará-los entre grupos ou comunidades.

No que diz respeito à AEN, esse tipo de análise aplica-se a grande diversidade de materiais, permitindo a abordagem de diferentes objetos de investigação - atitudes, valores, representações, mentalidades, ideologias - além de esclarecer fenômenos sociais particulares. Nessa linha de pensamento Barthes et al. (2008, p. 112) afirmam que:

“Compreender uma narrativa não é apenas acompanhar o desenrolar da história, é também reconhecer ‘estágios’, projetar os encadeamentos horizontais do ‘fio’ narrativo sobre o eixo implicitamente vertical, ler (ouvir) uma narrativa não é apenas passar de uma palavra para outra, mas de um nível para outro”. Desta forma, na Análise Estrutural de Narração, o sentido não está no ‘fim’ da narrativa, mas a perpassa. Assim, faz-se necessário desvelar os traços enunciativos como uma ‘teia’ argumentativa que estrutura o discurso, já que o sujeito a constrói a partir de um ou de vários objetos e busca interpretá-la, esquematizando sua fala. A

Análise Estrutural de Narração parte dos dados coletados na fala do sujeito para a construção de categorias empíricas e não o contrário (DEMAZIÈRE; DUBAR, 1997). Assim, seguindo a base teórica de Demazière e Dubar (1997) e a técnica de leitura de dados qualitativos proposta por Blanchet e Gotman (2001), a análise dos dados coletados foi realizada em quatro etapas: as duas primeiras para cada entrevista separadamente, a terceira e a quarta para todo o conjunto das entrevistas, correspondendo à interpretação dos dados, com a discussão dos resultados à luz da literatura sobre os assuntos tratados. Dessa forma, possibilitou o surgimento das representações ligadas aos objetos das falas dos sujeitos entrevistados em cada grupo focal. As quatro etapas citadas são apresentadas com maior detalhamento a seguir:

Etapa 1 - Leitura Vertical: Buscou-se encontrar o sentido global do conteúdo das entrevistas por meio da identificação dos temas tratados. Nessa etapa busca-se responder: sobre o que trata o texto? O que ficou mais evidente para quem o está lendo?

Etapa 2 - Leitura Horizontal: Nessa etapa o texto é “desconstruído em sequências, da forma que foram apresentadas na narrativa”. Inicialmente, as sequências (S) de cada entrevista foram numeradas, identificando-se os fatos narrados (F), as justificativas apresentadas para eles (J), os sentimentos e personagens envolvidos na trama (P). Em seguida, as sequências que tratavam do mesmo objeto foram agrupadas, assim como as ‘justificativas’ sobre cada um e os respectivos personagens, com uma denominação provisória dada pelo pesquisador em torno

daqueles objetos encontrados de representação dos sujeitos. Ao fim dessa etapa, obteve-se a análise aprofundada de cada entrevista (APÊNDICE D).

Etapa 3 - Leitura Transversal: Nessa etapa foi realizada a análise transversal do conjunto das entrevistas, agrupando-se as categorias empíricas encontradas, que então, foram renomeadas pelas pesquisadoras, considerando-se os objetos que as centralizavam (APÊNDICE D).

Etapa 4 - Construção das Categorias Teóricas: Após o processo de “desconstrução” e “reconstrução” de todas as entrevistas (análise individual), foi possível comparar os resultados encontrados em cada uma e construir, pela análise do corpus (conjunto), categorias organizadas (APÊNDICE D). Para encerrar a análise, cada categoria encontrada foi cotejada com os resultados de outras pesquisas existentes na literatura, definindo-se, a partir dessa interpretação, as categorias teóricas das representações.

Assim, o tratamento dos dados coletados consistiu em um processo interpretativo que passa pela reconstrução das narrativas, desvelando elementos que esclarecem diferentes características, contradições e consensos e que explicitam as representações nelas contidas. A interpretação aprofunda-se para resultar em possíveis categorias teóricas, com o apoio das teorias encontradas na bibliografia pertinente.

Cabe destacar que algumas adequações foram necessárias na apresentação das falas, buscando proporcionar maior clareza e concisão textual. Foram eliminadas repetições excessivas e palavras soltas, além de vícios de linguagem. Foi

realizada adequação das conjugações verbais incorretas e palavras faladas erroneamente foram escritas de forma correta. Palavras suprimidas do discurso ou que estavam subentendidas aparecem entre colchetes. Ressalta-se que houve uma preocupação constante em zelar pelo sentido original do que foi dito, o que fez com que as falas sofressem sempre novas análises dentro do todo da discussão dos grupos para se certificar do sentido atribuído. Além disso, todas as entrevistas foram analisadas pela coordenadora da pesquisa e pela pesquisadora do presente estudo, cruzando-se essas análises com discussões e reorientações para se chegar aos resultados. Ressalta-se que os sujeitos não receberam pseudônimos, já que se considerou o discurso coletivo, do grupo de profissionais como um todo, e não de indivíduos específicos, para a análise. Uma breve síntese de cada um dos seis grupos focais está apresentada no Apêndice E.

CAPÍTULO 4: ANÁLISE DOS RESULTADOS