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2.2 ‘Lá’ em Spec,TopP

A: Indica alvo, porque seria derivado de (1v, x) Neste caso, porém, ‘lá’ não rejeita o

2.2.5 A questão da inversão locativa

2.2.5.2 Análises e controvérsias

Avelar (2009) propõe que ‘lá’, em sentenças como (23a, b), é movido de uma posição adjunta a vP para SpecIP a fim de checar traços de Caso.

many different languages in India, the semantic defining characteristic being that it denotes people in general (in some domain), but excluding the speaker and the addressee.”. Segundo Holmberg et al. (2009, p. 20), nas línguas de sujeito nulo, estes pros arbitrário e genérico estariam em Spec,vP e não em Spec,TP. Não discutiremos este ponto, apenas aproveitaremos a idéia de que esses autores consideram que o sujeito nulo (arbitrário ou genérico) é um pro.

(23) a. “Lá vende muitos livros” (AVELAR, 2009, p. 241).

b. “Lá no shopping vende muitos livros” (AVELAR, 2009, p. 241).

Segundo o autor, ‘lá’ é um item (pro)nominal.

Isso quer dizer que o núcleo do sintagma locativo não é a preposição à frente do PPLoc, mas o pronome adverbial que antecede a preposição: (aqui) na sala,

(aí) embaixo da mesa, (lá) na cidade. Se esta idéia estiver correta, o locativo preposicionado deve ser tratado como um constituinte nominal, dado que os pronomes adverbiais são (por óbvio) categorias nominais. (AVELAR, 2009, p. 241).

Sendo um item nominal, o locativo precisa receber Caso. Segundo Avelar (2009, p. 241), “Por corresponder à projeção de uma categoria nominal, o sintagma locativo (LocP/PPLoc) não deve causar nenhum estranhamento quando em uma posição destinada a

constituintes que precisam receber Caso.”.

Contudo, o próprio autor aponta para o fato de que o locativo pode também aparecer em posição final, como em (23c).

(23) c. “Vende muitos livros (lá) naquele shopping” (AVELAR, 2009, p. 241).

A justificativa apresentada pelo autor é que, nessa situação, o Caso do locativo seria checado à distância, mesmo estando o locativo em posição de adjunto a vP, conforme derivação abaixo.

(AVELAR, 2009, p. 242).

Perguntamo-nos, porém, se essa justificativa explicaria dados com verbos monoargumentais. Por exemplo, como ficaria a atribuição de Caso para os dois sintagmas pós- verbais em (23d)?

(23) d. Dorme muita criança lá.

Além disso, a idéia de atribuição de caso a locativo não é incontroversa. Segundo Pilati (2006, p. 207),

Loc […] é defectivo em relação a traços-phi, por causa disso, T não pode atribuir Caso a Loc (e nem poderia já que Loc geralmente é um sintagma preposicionado) e irá procurar em seu domínio DPs com os quais possa checar seus traços não interpretáveis, por meio de uma relação de probe-goal.

Outra justificativa apresentada por Avelar (2009) para se propor a posição Spec,TP como o lócus de locativos pré-verbais é que T no PB teria um caráter defectivo. Devido ao fato de haver uma simplificação no paradigma flexional do PB, T aceitaria, para o estabelecimento de Agree, apenas uma concordância em pessoa, sem ser necessária a concordância em número.

Essa simplificação no paradigma flexional resultaria, de modo geral, em uma redução do padrão flexional no PB que, de 6 flexões (24a) diferenciadas, passaria a ter apenas duas (24b).

(24) a. Eu falo. Tu falas. Ele fala. Nós falamos. Vós falais. Eles falam. b. Eu falo. Tu fala. Ele fala. Nós/A gente/ fala. Vocês fala. Eles fala.

As duas únicas flexões restantes, em (24b), seriam então diferenciadas apenas pelo traço de pessoa, isto é, 1ª ou 3ª pessoas do singular. Assim, prossegue o autor:

é suficiente para TDEF interagir com uma categoria que só apresente a marca

de pessoa. Esse é exatamente o caso dos pronomes adverbiais, que, pela minha hipótese, nucleiam o LocP/PPLoc: tais pronomes trazem codificado

(sic) apenas a marca de pessoa (a terceira), mas não de número [...]. (AVELAR, 2009, p. 246).

Assim sendo, ‘lá’, em (23a), repetido abaixo, estaria em relação de concordância com T[3ª p.].

(23) a. “Lá vende muitos livros” (AVELAR, 2009, p. 241).

Sabe-se que os “pronomes” locativos ‘aqui’, ‘aí’ e ‘lá’ codificam, de certa forma, traços de pessoa, mas pessoas diferentes, respectivamente, primeira, segunda e terceira. Diante disso, perguntamo-nos como se explicaria a relação de Agree entre T[3ª p.] e os locativos de

primeira e segunda pessoas.

(25) a. Aqui vende muito livro. b. Aí vende muito livro.

Com base nesta breve discussão, observa-se que as justificativas usadas para alocar ‘lá’ em Spec,I/TP podem gerar dúvidas. Como vimos, atribuição de Caso a item em posição de adjunto e estabelecimento de concordância entre T[3ª p.] e locativos de primeira e segunda

Acrescido a isso, é importante mencionar que nem sempre é fácil distinguir inversão locativa de topicalização. Kempchinsky (2002, p.2, tradução nossa) afirma que, no espanhol, por exemplo, “não há distinção óbvia entre ‘inversão locativa’ e ‘topicalização de PP’”75. Também ressalta que, no italiano, “‘inversão locativa’ é ou topicalização de PP ou alçamento de sujeito locativo, mas não movimento de um argumento locativo PP a [Spec,TP]”76 (KEMPCHINSKY, 2002, p.3, tradução nossa). Por sua vez, no inglês, “Isso deixa aberta a questão de saber se o PP se move para uma posição topicalizada depois do movimento para Spec,TP, como proposto por várias análises”77 (KEMPCHINSKY, 2002, p.3, tradução nossa). Com relação ao inglês, Landau (2010, p. 123) mostra que “o locativo fronteado no inglês exibe um comportamento misto típico tanto de sujeito quanto de tópicos sintáticos [...] Como sujeito padrão, o locativo passa por alçamento a sujeito ou a objeto e engatilha efeitos de that-trace.”78

(26) a. “[In these villages]i are likely ti to be found the best example of this cuisine”

(LANDAU, 2010, p. 123).

‘Nestas vilas, é provável encontrar os melhores exemplos desta culinária’.

b. “[On this wall]i I expect ti to be hung a portrait of our founder” (LANDAU, 2010, p.

123).

‘Nesta parede, eu espero ser pendurado um retrato de nosso fundador’.

c. “It’s in these villages that we all believe (*that) ti can be found the best examples of

this cuisine” (LANDAU, 2010, p. 123).

‘É nestas vilas que nós todos acreditamos que podem ser encontrados os melhores exemplos desta culinária’.

75 “There is no obvious distinction between ‘locative inversion’ and ‘PP topicalization’” (KEMPCHINSKY, 2002, p.2).

76 “Italian ‘locative inversion’ is either PP topicalization or fronting of a locative subject, but not movement of a locative argument PP to [Spec,TP]”. (KEMPCHINSKY, 2002, p.3).

77

“This leaves open the question of whether the PP moves to a topicalized position after movement to [Spec,TP], as proposed by several analyses” (KEMPCHINSKY, 2002, p.3).

78 “the fronted locative in English exhibits a mixed behaviour, typical of both subjects and syntactic topics […] Like standard subjects, the locative undergoes raising to subject or object and triggers that-trace effects.” (LANDAU, 2010, p. 123).

“Contudo, diferentemente de sujeitos padrão e como tópicos, o locativo fronteado não pode coocorrer predicativamente com uma relativa reduzida de particípio, não inverte com auxiliares em interrogativas e não pode ser controlado.” 79 (LANDAU, 2010, p. 123).

(27) a. “She stood on the corner *(on which was) standing another woman” (LANDAU, 2010, p. 123).

‘Ela parou em pé na esquina na qual estava parada uma outra mulher’. b. “*Did in the corner stand your friend?” (LANDAU, 2010, p. 124). ‘Seu amigo parou em pé na esquina?’

c. “*[On the top of the page]i was stated the methodology of the research [without

PROi being stated its purpose]” (LANDAU, 2010, p. 124).

‘No topo da página, foi informada a metodologia da pesquisa [sem ser informada a sua proposta]’.

Além disso, para o autor, “Que o locativo fronteado é de fato um sujeito movido a uma posição de tópico é corroborado ainda pela sua incapacidade de ficar na posição de sujeito”80 (LANDAU, 2010, p. 124, tradução nossa), como se pode comparar (26b), repetida abaixo, e (28).

(26) b. “[On this wall]i I expect ti to be hung a portrait of our founder” (LANDAU, 2010, p.

123).

‘Nesta parede, eu espero ser pendurado um retrato de nosso fundador’.

(28) “*I expect on this wall to be hung a portrait of our founder” (LANDAU, 2010, p. 124). ‘Eu espero nesta parede ser pendurado um retrato do nosso fundador’.

Portanto, para Landau (2010), a análise atribuída para a inversão locativa no inglês seria a que se segue, com o locativo no domínio do CP e não do domínio do TP:

79

“Nonetheless, unlike standard subjects and like topics, the fronted locative cannot combine predicatively with a participial (reduced) relative, does not invert with auxiliaries in questions, and cannot be controlled.” (LANDAU, 2010, p. 123).

80 “That the fronted locative is actually a subject moved to a topic position is further corroborated by its inability to stay in the subject position” (LANDAU, 2010, p. 124).

(29) “[CP [In the corner]i [TP ti stood a woman]]” (LANDAU, 2010, p. 124).

Nesse mesmo tom, também Levin & Hovav (1995, p. 263, tradução nossa) deixam claro que “há uma diferença de opinião no que concerne a se o PP pré-verbal em uma inversão locativa está realmente em uma posição de sujeito [...] ou se ele está em alguma outra posição inicial da sentença”81.

Visto esse impasse, arrematamos esta subseção com um apontamento de Kempchinsky (2002, p. 14). Segundo a autora, ainda é preciso desenvolver um exame aprofundado para se poderem distinguir os efeitos do movimento dirigido por traços EPP e do movimento dirigido por traços P(eriféricos)82. No caso das sentenças estudadas nesta seção, como aquelas repetidas abaixo, acreditamos que a posição pré-verbal de ‘lá’ não se justifica pela necessidade de checagem de traços EPP, mas sim por uma demanda discursiva que é, como se espera, codificada na periferia esquerda.

(1) a. Lá vem a Maria. w. Lá vai o ônibus.

(2) a. “Lá tinha um trem lá” (BUTHERS, 2009, p. 73).