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2.2 ‘Lá’ em Spec,TopP

A: Indica alvo, porque seria derivado de (1v, x) Neste caso, porém, ‘lá’ não rejeita o

2.2.5 A questão da inversão locativa

2.2.5.1 Conceito, exemplos e diagnósticos

De acordo com Levin & Hovav (1995, p. 218, tradução nossa), as construções com inversão locativa apresentam duas propriedades principais. Primeiro, caracteriza-se “por uma ordem não canônica, ‘PP V NP’ [(18a)], que parece ser o resultado da troca de posições do NP e do PP na ordem canônica ‘NP V PP’”73 (18b). Segundo, o PP pré-verbal é, de modo geral, um PP locativo ou direcional.

(18) a. “In the distance APPEARED the towers and spires of a town which greatly resembled Oxford.” (LEVIN & HOVAV, 1995, p. 218).

‘Na distância surgiam as torres e os ápices de uma cidade que muito se parecia com Oxford’.

b. “The towers and spires of a town which greatly resembled Oxford APPEARED in the distance.” (LEVIN & HOVAV, 1995, p. 218).

‘As torres e os ápices de uma cidade que muito se parecia com Oxford surgiam na distância’.

No inglês, também estruturas com there-insertion são consideradas construções com inversão locativa. Com efeito, embora não seja o consenso, estudos propõem que as

73 “it is characterized by a noncanonical word order, “PP V NP”, that appears to be the result of switching the positions of the NP and the PP in the canonical “NP V PP” word order” (LEVIN & HOVAV, 1995, p. 263).

construções com inversão locativa, como aquelas em (18a), seriam derivadas de construções com there-insertion, como em (18c), com a diferença de que o there teria sido elidido.

(18) c. “In the distance there APPEARED the towers and spires of a town which greatly resembled Oxford.” (LEVIN & HOVAV, 1995, p. 219).

d. “There APPEARED in the distance the towers and spires of a town which greatly

resembled Oxford.” (LEVIN & HOVAV, 1995, p. 219).

Na inversão locativa, o PP teria alçado de dentro do domínio do vP até o domínio do IP, para checagem de Caso ou de traços EPP. Contudo, apontaremos que, muitas vezes, o que se considera como inversão locativa pode ser, ao contrário, um caso de topicalização. Assim sendo, o locativo fronteado, em vez de sujeito, pode vir a ser analisado como tópico no PB.

Avelar & Cyrino (2008, p. 61) exemplificam a ocorrência de inversão locativa com diferentes tipos de verbos, tais como inacusativos (18e), inergativos (18f) e transitivos ergativizados (18g). Segundo esses autores (2008, p. 62), “os PPLoc estão licenciados no lócus comumente identificado como posição de sujeito”.

(18) e. “Na casa da Maria chegou algumas cartas” (AVELAR & CYRINO, 2008, p. 61). f. “Naquela fábrica trabalha muitos amigos meus” (AVELAR & CYRINO, 2008, p. 61).

g. “Naquele bairro aluga casa de todos os jeitos” (AVELAR & CYRINO, 2008, p. 61).

Para Nagase (2007, p. 77), “a inversão do LOC constituiria uma estratégia de preenchimento da posição de SUJ para não deixá-la vazia foneticamente”, como ocorre em (18h), com verbo existencial.

(18) h. “Na Anchieta tinha muito trânsito” (NAGASE, 2007, p. 77).

Avelar & Cyrino (2008, p. 62 - 64) aplicam testes para justificar a inserção do PP locativo em Spec,IP/TP. Segundo os autores, o PP Loc é obrigatório em contextos com DPs pós-verbais (19), deve ser alçado a Spec,TP/IP na presença de verbos de alçamento (20) e é coindexado em coordenadas (21).

(19) a. “(Naquele quarto) várias pessoas dormiram” (AVELAR & CYRINO, 2008, p. 62). b. “*(Naquele quarto) dormiu várias pessoas” (AVELAR & CYRINO, 2008, p. 62). (20) a. “*Parece na casa da Maria chegar muitas cartas” (AVELAR & CYRINO, 2008, p. 62).

b. “Na casa da Maria parece chegar muitas cartas” (AVELAR & CYRINO, 2008, p. 62).

(21) a. “[Naquela fábrica]i trabalha muita gente e ainda assim cvi vai contratar mais cem

funcionários até o final do ano” (AVELAR, 2009, p. 236).

Para questionarmos a agramaticalidade de estruturas como (19b), podemos imaginar a seguinte situação: suponhamos que um grupo de usuários de droga, menores de idade, foi pego pela polícia em flagrante. Eles foram levados para uma detenção provisoriamente. No dia seguinte, um agente social vai à penitenciária e pergunta o que ocorreu depois que eles chegaram. Então, o policial diz (19b’). Nesse caso, portanto, não parece obrigatória a presença do locativo.

(19) b’. “Dormiram (-iu) vários deles, que já estavam dopados, mas alguns ainda permaneceram bem agitados e tivemos que controlar a situação”.

De acordo com Pilati (2006, p. 200), orações com ordem V(O)S do PB “não apresentam obrigatoriamente um PP em posição inicial”, conforme exemplos (19c, d) provindos de narrações de jogos de futebol e outros.

(19) c. “(Agora) ergue o braço o juiz” (PILATI, 2006, p. 200).

d. “(Nesse momento) pega a bola o goleiro do flamengo” (PILATI, 2006, p. 200). e. “Tomou posse o novo presidente dos Estados Unidos” (PILATI, 2006, p. 164). f. “Merece destaque o item (d)” (PILATI, 2006, p. 164).

g. “Tem a palavra a Senadora Heloísa Helena” (PILATI, 2006, p. 164). h. “Chegaram as cartas” (PILATI, 2006, p. 172).

A autora acrescenta ainda que “a presença de um elemento locativo na posição inicial não altera a interpretação das sentenças nem interfere na sua gramaticalidade” (PILATI, 2010, p. 200).

Por sua vez, para questionarmos a agramaticalidade de (20a), observa-se que sentenças como esta podem ser usadas em contextos contrastivos:

(20) a’. “Parece, na casa da Maria, chegar muitas cartas, mas não na casa do Pedro”.

Como em (19b’) e em (20a’), ‘lá’ não é obrigatório em (19c) e também não precisa alçar em (20c). Sendo assim, ‘lá’ não obedece aos testes de obrigatoriedade do locativo em construções com DP pós-verbal nem a restrições determinadas por verbos de alçamento.

(19) c. A: E o Pedro? Ele vem?

B: Vem o Pedro e toda a família dele.

(20) c. Parece lá (da sala) vir o Pedro (e não daí do quarto).

Por último, quanto a (21a), a pergunta que se faz é se realmente haveria uma coindexação entre o locativo e uma categoria vazia. Notemos que, se o DP pós-verbal fosse plural, haveria possibilidade de concordância do verbo com o DP.

(21) b. “Naquela fábrica proi trabalham [muitas pessoas]i e ainda assim proarb. vai contratar mais cem funcionários até o final do ano”.

Nesse caso, como seria possível justificar a posição do locativo singular em Spec,TP, se a checagem de traços phi ocorre com o DP pós-verbal? De fato, pro estaria coindexado a este DP pós-verbal e não a um locativo, como representamos em (21b).

Além disso, na segunda oração, o sujeito de “vai contratar” recebe interpretação arbitrária74, isto é, “eles vão/vai contratar mais cem funcionários”. Portanto, esta posição só

74 De acordo com Holmberg et al. (2009, p. 7), “It is important to make a distinction […] between generic and arbitrary null subject pronoun. By generic pronoun we mean a pronoun best translated into English as either ‘one’ or ‘you’, the semantic defining characteristic being that it denotes people in general including the speaker and the addressee. By arbitrary we mean a pronoun which is best translated into English as they, as They speak

poderia ser ocupada por um pro de referência arbitrária, isto é, menos determinada. O mesmo ocorreria na sentença (21c) com ‘lá’ no lugar de um PP Loc.

(21) c. Láproi tem [muitos funcionários]i e ainda assim proarb. vai contratar mais até o final do ano.

Vale ressaltar ainda que Duarte (1995, p. 65) exclui de sua análise o ambiente sintático em que se tem uma sequência de orações coordenadas, pois, segundo a autora, “uma estrutura como essa pode ter igualmente o sujeito nulo em línguas não-pro-drop, como o inglês, graças às propriedades de coordenação”, como no exemplo abaixo.

(22) “Ah, eu tou jogando bola com o Marcelo, elesi pegam vem, cvi tira a bola, cvi começa a

brincar” (NEGRÃO & MÜLLER apud DUARTE, 1995, p. 65).

Portanto, um teste de coindexação em coordenadas talvez não fosse o melhor diagnóstico para se definir o locativo como sujeito, pois a posição de sujeito em coordenadas é um ambiente de pro inclusive em línguas não-pro-drop e não um ambiente de expletivos ou locativos.

Com base nesta breve discussão dos testes usados para alocar o locativo em Spec,TP, pode-se alegar que os diagnósticos referentes à obrigatoriedade do locativo com DP pós- verbal, ao seu alçamento e à sua coindexação em coordenadas não são plenamente decisivos para se defender que o locativo estaria em Spec,TP.