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Análises, organizações e categorizações

No documento Luzes na escuridão: Narrativas no cárcere (páginas 31-33)

Partindo do pressuposto de que a história oral somente é consolidada em fonte escrita após a transformação das verbalizações em documentos, a transcrição das falas é uma fase muito importante da pesquisa e “trata-se, portanto, de trabalho meticuloso, ao qual toda atenção deve ser dispensada, o que significa muitas horas de dedicação” (ALBERTI, 2013, p. 282). Esse viés orientou a transcrição integral das narrativas pela pesquisadora, que, ao pôr em prática o ato de converter o verbalizado em fonte documental, buscou, do mesmo modo que Meihy e Ribeiro (2011, p.107), “[...] estabelecer uma cópia escrita perfeita e fiel da gravação – ipsis litteris. Uma passagem completa dos diálogos e sons como eles foram captados, incluindo referências aos ruídos ou barulhos independentes da entrevista [...] e mantendo os erros linguagem”.

No que concerne à linguagem usada pelas alunas, estas apresentaram, em suas narrativas, um linguajar particular, com termos e gírias constitutivos do ambiente em que vivem, o que dá credibilidade às fontes orais colhidas. “Dessa forma, esse grupo estigmatizado pela sociedade acaba formando uma comunidade linguística diferenciada, como forma de identificação do grupo, de reação e luta contra a sociedade excludente”. (MATOS, 2014, p. 13). E foi por meio desse vocabulário próprio que se buscou dar crédito e voz às alunas e às suas professoras, a fim de entender o posicionamento desse grupo quanto à vida escolar dentro e fora da prisão, além de analisar a realidade do ensino ofertado, a partir da ótica de quem realmente convive nesse espaço.

Sobre as análises das entrevistas, estas foram feitas de forma qualitativa, Bardin (2009, p. 44) esclarece o que se entende por análise:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2009, p. 44).

Nessa conjuntura, uma análise de conteúdo requer a administração de técnicas no corpus das narrativas, sugerindo a utilização da categorização do material coletado. Corroborando com essa ideia, Bardin (2009, p. 101) considera que “o analista, tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos

objetivos previstos, ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas”. E, visando subsidiar a análise qualitativa da amostra pesquisada, recorreu-se a Gil (2008, p. 90) para explicar que, na pesquisa social,

são utilizados diversos tipos de amostragem, que podem ser classificados em dois grandes grupos: amostragem probabilística e não-probabilística. Os do segundo grupo não apresentam fundamentação matemática ou estatística, dependendo unicamente de critérios do pesquisador. (GIL, 2008, p. 90).

Ao utilizar a amostragem não probabilística aplicou-se na pesquisa o método de acessibilidade, por meio do qual o pesquisador “seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. “Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão” (GIL, 2008, p. 94). Dessa forma, no intuito alcançar certo de grau de generalização basilar, o método de amostragem escolhido foi a porcentagem simples, sendo que, no grupo de estudantes, a amostra da pesquisa é composta por seis alunas, o que corresponde a um percentual de 75%, de um total de oito que estudam. Com relação ao universo das professoras, foram entrevistadas todas as quatro que atuam na Unidade e que cumpriram os critérios estipulados previamente, perfazendo uma amostra de 100% do total.

E no intuito de melhorar tanto a identificação como a sistematização das informações coletadas, realizou-se a organização dos dados, que “é uma tarefa que auxilia o pesquisador a achar a informação de que precisa” (ALMEIDA, 2016, p. 82). Neste estudo, por exemplo, as transcrições foram organizadas em dois grupos, um destinado aos relatos de alunas e outro aos relatos das professoras. As transcrições são acompanhadas de todas as informações das participantes, bem como do local e duração da entrevista, data e horário de início e término.

As transcrições foram paragrafadas e numeradas em sequência, sendo também grafados gestos, olhares e demais expressões que foram julgados relevantes para a pesquisadora. Após a leitura criteriosa das transcrições, iniciaram-se as análises do conteúdo que tem, como características metodológicas, a objetividade, a sistematização e a inferência (BARDIN, 2009).

Segundo Minayo (2007, p. 316), “a análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifique alguma coisa para o objetivo analítico visado”. Assim sendo, este estudo utilizou esse tipo de análise por ser considerada uma das mais adequadas para as pesquisas qualitativas. Os temas a serem analisados, nesta pesquisa, são os mesmos que orientaram a construção dos roteiros de perguntas, no intuito de alcançar os objetivos anteriormente estipulados.

As falas, tanto das professoras como das alunas, foram agrupadas conforme as análises e de acordo com a identificação temática. Após a realização de tal procedimento, iniciou-se o processo de categorização, conforme esclarece Bardin (2009), ao definir que as categorias de análise exigem dois momentos diferentes. Sendo assim, a primeira categoria exige o isolamento de palavras-chave presentes nas narrativas, enquanto que a segunda trata do isolamento destes elementos em grupos a partir da organização de mensagens. Após o isolamento dos conceitos chaves, fez-se uma contextualização com os referenciais teóricos previamente estudados e com as observações e informações registradas no caderno de campo.

Portanto, as narrativas relacionassem, no corpo do texto, tanto aos suportes teóricos como aos eixos temáticas e aos aspectos de análise. As falas analisadas, categorizadas e relacionadas são apresentadas na íntegra e propiciam ao leitor visualizar e vivenciar a realidade em que estão inseridas as participantes da pesquisa. Ressaltando que a partilha de suas vivências, passadas e presentes, foi uma escolha das interlocutoras que aceitaram participar voluntariamente deste estudo. Conforme prevê o método utilizado, os arranjos relacionados à coleta de dados foram feitos previamente.

No documento Luzes na escuridão: Narrativas no cárcere (páginas 31-33)