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Tirando a pena com letras: a construção de um importante início

No documento Luzes na escuridão: Narrativas no cárcere (páginas 90-93)

O livro Educação prisional e práticas pedagógicas: construindo experiências (2008), organizado pelos autores Gilson Porto Jr. e Sandoval Antunes de Souza, foi a principal fonte desta subseção. Sistematizado em sete capítulos, o livro traz um recorte histórico a respeito do surgimento da educação em prisões no Tocantins, ressaltando que o ponto de partida foi uma parceria realizada em novembro de 2004 entre a SEDUC-TO e a SECIJU-TO. Essa parceria resultou no convênio nº. 408/2004, publicado no diário oficial nº. 1847 de 21 de janeiro de 2005, por meio do processo administrativo nº. 2004/2700/003163.

Segundo o Plano Estadual de Educação nas Prisões (TOCANTINS, 2012), esse convênio concebeu, em 2005, o Projeto Ressocialização Educativa no Sistema Prisional do Estado do Tocantins, construído por meio de uma ação desenvolvida em conjunto pela SEDUC e pela SECIJU, com apoio do Ministério da Justiça e do Ministério da Educação e Cultura. O objetivo principal desse projeto foi o fortalecimento das ações educativas desenvolvidas na Casa de Custódia de Palmas (CPP), o que envolveu a participação de servidores das secretarias supracitadas, de professores universitários e de membros da sociedade civil.

Após dado o pontapé inicial, em 2005, foi designada uma equipe responsável pela elaboração do projeto de Ressocialização Educativa na CPP, composta pelos professores: Iolanda Felipe de Oliveira, Francisco Gilson Rebouças Porto e Laudinéia Rocha Monteiro da Silva e pelo advogado Francisco Silva. O convênio possibilitou uma coordenação que amparasse o projeto que, entre outros, tinha os seguintes objetivos:

· Oferecer o Ensino Fundamental e Médio, na modalidade Educação de Jovens

e Adultos (EJA), aos educandos da Casa de Custódia de Palmas, a fim de permitir a aquisição do letramento, da leitura, da escrita e da leitura de mundo que permita sua reinserção ao convívio social;

· Promover a capacitação e encontros pedagógicos para professores que atuarem

na unidade de custódia;

· Supervisionar as atividades pedagógicas, contando, para isso, com o apoio da

equipe da Delegacia Regional de Ensino-DRE-Palmas, inclusive capacitando-os através do programa de formação continuada destinado às Unidades Escolares (U.E.’s);

· Assessorar e suprir as necessidades inerentes ao desenvolvimento das

atividades pedagógicas do projeto, através da Gerência da Educação de Jovens e Adultos (SEDUC-TO);

· Fornecer materiais didático-pedagógicos necessários à manutenção das

atividades da EJA, Ensino Fundamental e Médio; (PORTO JR., 2008, p.18-19). A estrutura curricular do projeto foi organizada nos seguintes níveis de ensino: alfabetização (Programa Brasil Alfabetizado – 240 h/semestrais), ensino fundamental (1º e 2º

segmentos – 400h/semestrais) e ensino médio (3º segmento – 500h/semestrais), ofertados por intermédio da modalidade educativa EJA. Segundo Porto Jr. (2008), a estrutura curricular pensada inicialmente pelo projeto foi gradativamente adaptada, ao passo que professores e coordenações se aprofundavam no processo de oferta de educação nos presídios. A estruturada operacional do projeto é exposta na figura a seguir:

Figura 7 – Projeto Ressocialização Educativa na Casa de Custódia de Palmas - Tocantins (2005).

Fonte: DIARIO JR., 2008, p. 20

Ainda em 2005, é inaugurado o Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE) em Palmas e no ano seguinte é implantada a Escola Estadual Nova Geração na CPP, com o objetivo de garantir a oferta de educação básica, de nível fundamental, médio e educação profissionalizante aos seus reeducandos. É importante mencionar que, inicialmente, houve uma grande dificuldade em encontrar professores dispostos a trabalhar em uma educação ainda desconhecida e mal afamada, principalmente à época. Dificuldades que não desanimaram os idealizadores, que conseguiram, junto ao Centro Universitário Luterano de Palmas (ULBRA), a aprovação de um projeto de extensão intitulado Casa de Custódia de Palmas (CCP),

Coordenação Geral do projeto

(Composto por um representante de cada Secretaria conveniada) Projeto Ressocialização Educativa na CPP

Coordenação Pedagógica

Coordenador Pedagógico e Orientador Educacional Diretoria Regional de Palmas

Gerência de Educação Básica

Alunos Professores

coordenado pelo Prof. Gilson Rebouças Pôrto Junior, cujo principal objetivo era a oferta de formação continuada aos professores que atuariam no presídio da capital.

Esse projeto de extensão promoveu assessoramento ao projeto Ressocialização Educativa na CPP, oficinas para elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) com professores e alunos, além da formação continuada dos professores que atuavam na prisão. Após a finalização do projeto gerido pela ULBRA, em 2006, a formação continuada de professores e agentes prisionais se mostrou como uma dificuldade. Felizmente, tal limitação foi superada devido à aprovação – e à ampliação, a nível estadual – do projeto principal pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/TO) e pelo Ministério da Educação (MEC) com a finalidade de

Favorecer as ações educativas desenvolvidas nas unidades do Sistema prisional, desencadeando um processo de reflexão sobre a humanização do Sistema, através da formação continuada integrada dos agentes educativos (professores e servidores do sistema penitenciário) (TOCANTINS, 2005).

Reformulado e ampliado, o Projeto Ressocialização Educativa no Sistema Prisional do Estado do Tocantins expandiu-se para outras quatro unidades prisionais: Palmas, Araguaína, Gurupi e Porto Nacional. A aprovação do projeto em questão concebeu financiamento para capacitar um público de 120 pessoas, das quais vinte eram professores da SEDUC e as outras cem pessoas eram agentes, profissionais e gestores das casas prisionais das localidades acima citadas. A formação continuada foi ofertada em Palmas e dividida em quatro módulos, com sessenta horas cada, além de dezesseis horas para momentos interativos (PORTO JR., 2008). E no intuito de consolidar o projeto já existente, realizou-se, ainda em 2006, o I Encontro de Gestores do Sistema Prisional do Estado do Tocantins, que contou com a participação de todos os gestores das casas prisionais participantes, os gestores da SEDUC e SECIJU, coordenadores pedagógicos das unidades prisionais e os consultores da formação continuada. A capacitação, em conjunto, dos agentes prisionais e dos professores propiciou que barreiras fundamentadas no preconceito e na individualidade fossem superadas, para que emergissem elementos propulsores do comprometimento em prol da transformação social (PORTO JR., 2008).

Impulsionadas pelos marcos legais regulamentários da oferta de educação em prisões no Tocantins e de acordo com as condições humanas e estrutura física disponíveis, aos poucos, outras unidades prisionais do Estado implantaram a oferta de atividades educacionais em seus espaços. Um dos primeiros documentos oficiais, no âmbito estadual, voltado à assistência educacional no cárcere, é o Plano Estadual de Educação em Prisões (PEEP/TO) do Tocantins; elaborado em 2012, definiu as linhas, bem como as práticas pedagógicas que devem ser desenvolvidas na educação escolar ofertada nas prisões do Estado, tendo

como parâmetro o planejamento das ações de educação em espaços de privação de liberdade que contemplará a oferta da Educação Básica: Alfabetização de Adultos, preparação para o trabalho através da Educação profissional, ensino técnico profissionalizante, ensino superior e educação não-formal (TOCANTINS, 2012, p. 7).

Outro importante dispositivo estadual no contexto educacional é o Plano Estadual de Educação (PEE/TO), aprovado pela Lei nº 2.977, de 08 de julho de 2015, com vigência de 2015 a 2025. Esse Plano se destaca pelo incentivo à oferta de educação escolar às pessoas que se encontram cauteladas pelo estado. Dentre as suas 24 metas, o documento se propõe, em sua meta 9, a “oferecer, no mínimo, 25% das matrículas da EJA, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional” (TOCANTINS, 2015, meta 9).

Após discorrer sobre o difícil começo e sobre a expansão da educação escolar no sistema penitenciário tocantinense – numa época em que o tema era um verdadeiro tabu sujeito a muitas críticas –, necessário se faz abordar, na próxima subseção, o quantitativo de pessoas encarceradas nas prisões do Tocantins, focando principalmente em seus percentuais referentes à oferta de atividades socioeducacionais.

No documento Luzes na escuridão: Narrativas no cárcere (páginas 90-93)