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APRESENTAÇÃO METODOLÓGICA DO OBJETO DE PESQUISA

FIGURA 07 SITE ANIME BLADE

7) Aníssina Keiko

Aníssina Keiko tem 33 anos, mora no Rio de Janeiro e é graduada em Sistemas de

Informação. Atualmente trabalha como auxiliar no Kumon, curso de japonês que traz uma metodologia de aprendizado individual, criado na década de 1950 no Japão e que conta com diversas unidades no Brasil. Desde 2008 atua como tradutora, revisora, timer, typessetter e karaokê maker no Sukinime, grupo dedicado a tradução de animes (fansub) e

117 mangás (scanlation) do gênero Yaoi, gênero preferido de nossa informante. Entretanto, sua história na comunidade fansubber data de 2004, bem antes de sua entrada no Sukinime. De acordo com a informante, tudo começou quando um amigo lhe apresentou o MIRC e o canal #OMDA na rede Rizon, onde costumava fazer downloads de animes. A partir daí, devido ao seu grande interesse pelos animes, foi conhecendo os caminhos para adquirir essas produções e também alguns membros ativos de grupos fansubs, até ser convidada para fazer parte de um projeto: “o Chrono me perguntou se eu queria fazer parte do

fansub (Oga fansub), mas como eu não sabia nada, ele me disse que não haveria problema, que ele me ensinava. Comecei só nesse fansub, como revisora, mas em dois anos eu já fazia parte de 40 canais no MIRC e estava envolvida em diversos projetos, aí o troço começou a ficar pesado”.

Devido a esse envolvimento intenso com o universo fansubber, a informante se deparou com diversos aspectos como a falta de tempo para executar outras atividade de seu cotidiano, optando por paralisar suas atividades nos grupos durante dois anos: “muita

parte do meu dia era só pra isso. Mas na época eu não tava trabalhando, estudando. Por isso eu cheguei e avisei pro pessoal que ia ficar sem tempo”. Seu retorno se deu em 2008

com o Sukinime, de uma maneira também não planejada de antemão ou como ela diz “sem querer ter entrado”. Anissina nos contou como se deu seu retorno na comunidade

fansubber através desse grupo:

[...] Um dia eu fui procurar um yaoi na net que eu queria ver, nessa eu acabei conhecendo o Sukinime. Entrei no canal e encontrei um amigo que era do primeiro fansub de yaoi que teve no Brasil, que eu também fiz parte [...] aí a Lisa viu que eu já tinha feito coisa de fansub e tal, aí ela me perguntou se eu não queria entrar no fansub [...] A minha primeira reação foi dizer “não, não quero mais essa vida pra mim” [...] Aí ela perguntou se eu não queria tentar traduzir, sem compromisso, daí eu fiz, pedi pra ela conferir se tava legal, porque meu japonês e meu inglês na época não era “grande coisa”, mas ela achou ótimo [...] Daí ela me colocou como OP do canal e aí foi. (Anissina Keiko)

Embora apresente uma trajetória semelhante a dos nossos demais informantes, tendo conhecido o mundo anime através da TV aberta (com a exibição de Yu Yu Hakusho, especificamente, ela ressalta), consumir avidamente mangás e animes, Anissina Keiko não se considera um otaku/otome por levar à risca o significado do termo no Japão:

Nunca me considerei otaku porque assim... otaku é uma palavra muito feia em japonês. Otaku é aquele viciado, fanático por qualquer coisa. Eu gosto de alguns animes e mesmo assim são extremamente restritos [...] Adoro yaoi mas não é todo yaoi que eu gosto de

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assistir. Sou muito seletiva com os animes que eu vejo [...] Sou fã de anime mas não me considero otaku, porque não consigo assistir qualquer coisa (Anissina Keiko).

Ao perguntar a Anissina sobre o tipo de relação que possuía com a audiência do

Sukinime, a informante nos revelou que atualmente pensa mais a nível de “fansub” do que

de “usuário”. A seu ver, é natural que com o passar do tempo certos questionamentos a nível de cobrança do usuário (seja com o próximo episódio de um projeto, ou com um projeto que esteja parado) tornem-se maçantes para aqueles que atuam a mais tempo na comunidade: “o pessoal acha que a gente tem obrigação, e Krystal, na boa, ninguém tem obrigação de nada, a gente não ganha [...] é o nosso tempo que não é pouco pra eles [...] o mínimo de respeito e paciência é o que esperamos deles” (Anissina Keiko). Ainda para essa informante, o mais prazeroso em realizar tal prática está no resultado final do trabalho concebido pelo grupo. Atualmente, Anissina Keiko disse se sentir bastante satisfeita com as dinâmicas de colaboração que envolvem o Sukinime e nos confessou não pensar mais em parar com a prática, por se tratar de algo firmemente adaptado ao seu cotidiano de lazer.

Como nossos outros informantes, Anissina também considera o mercado de animes local muito deficiente, principalmente em termos de qualidade da mediação e, por isso, não considera a atividade que desenvolve como pirataria. A informante aponta que ainda há muito a ser feito em termos de mudança no mercado brasileiro de animes:

Se eles não fizerem da maneira que fazem, colocando num linguajar a altura de suprir as relações entre os personagens (o chan, o sam, o Sama) até considero a posssibilidade de consumir por esses meios. Lá o tipo de relação é muito determinado e aqui não se respeita. Outro fato de adequação da linguagem que eles também não respeitam é quando o personagem fala numa linguagem histórica (tipo, o Samurai X) e substituem com uma simplificação, gírias dos dias atuais (Anissina Keiko)

Por isso, sempre que possível, a informante importa mangás e animes do Japão, por considerar o que está disponível no Brasil, não só de baixa qualidade, mas também pelo objetivo de consumir aquilo que ainda não foi licenciado, contribuindo assim para “o

verdadeiro mercado oficial” (Anissina Keiko). Embora reclame das altas taxas e custos

dessa importação, ela ressaltou valer “muito a pena” ter o material oficial original do Japão em mãos e, completa: “É outra experiência, outro cuidado”. Sendo assim, acredita que por mais que se invista num mercado local a longo prazo, não vê a possibilidade da prática acabar, por envolver uma dinâmica que consegue abarcar uma diversidade de títulos que seria difícil o mercado “simplesmente copiar”.

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CAPÍTULO IV

AS POLÍTICAS DE MEDIAÇÃO FANSUBBER NAS REDES

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